terça-feira, 24 de julho de 2018

Prece na aflição

Perdido dentro de uma nuvem de destroços. 
O que são essas coisas que pairam no ar ao meu redor? 
Metal e pólvora? 
Ou são os pedaços do meu eu que se desfizeram? 

Onde estou? 
Esse lugar parece meu quarto, mas não reconheço essas paredes.
Teto não familiar. 
Onde vim parar?

 Onde meus pés me levaram senão que foi para a beira de um abismo? 

Olho para as minhas mãos e não as reconheço. 
Me olho no espelho e não sei quem é esse que me encara. 
Nem sequer essas palavras parecem ser ditas por mim, mas por um completo estranho. 

Não sinto outra coisa senão dor. 
Nada faz a dor passar. 

Os remédios não funcionam, apenas me deixam preso numa casca de torpor, enquanto meu ser se consome em chamas. 

Mas onde dói? 
Quando dói? 
Dói tudo o tempo todo! 

Tenho existido apenas pela simples aglutinação de dores e temores. 
Até mesmo os breves lampejos de esperança que tenho não são mais do que armadilhas para meu coração já despedaçado.

Tenho me assustado com facilidade. 
Chorado com facilidade. 

Mas preciso ser forte, não posso chorar na frente dos outros, não daqueles que esperam de mim fortaleza. 

Preciso ser bom, mas ser bom não é suficiente. 
Preciso ser o melhor. 

Preciso cuidar das músicas. 
Preciso cuidar da liturgia.
Preciso cuidar da sacristia. 
Preciso cuidar da minha cabeça. 
Preciso cuidar da minha saúde. 
Preciso cuidar da minha vida. 

Mas eu não consigo fazer nada disso, eu sou fraco Deus! 
Por favor, ajude esse seu filho que não sabe o que fazer...

Meu corpo todo dói, como se tivesse corrido por horas sem parar. 

Meus cabelos caem, minha pele se estraçalha. 
Estou em pedaços, e não faço ideia do que fazer para mudar isso. 

O que devo fazer Deus? 
O que quer de mim? 
Onde esse sofrimento me levará? 

Já não tento mais entender, sei que não sou capaz disso. 

Apenas quero de algum modo sobreviver. 
Se há algum propósito para isso, me mostre o que quer de mim, o que espera de mim, meu Senhor. 
Pois estou nos limites de onde minhas forças poderiam me levar. 
A partir de agora não posso mais dar um passo sequer sem que seja por ti arrastado. 
E se não for levado a nenhum lugar, ficarei aqui, até ser devorado pelos abutres e pelos vermes das ruínas. 

Essa é a minha pequena prece na aflição, meu Deus.

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