segunda-feira, 2 de julho de 2018

Da sua voz

Se geralmente escrevo palavras pesadas de dor e sofrimento essas que agora deposito aqui devem ser lidas com a leveza de uma pena, e com a mesma delicadeza que uma brisa de primavera acaricia as pétalas de uma flor no jardim.

Tenha em mente o leitor que se trata do relato de um momento de encanto, e sinta-se confortável para imaginar-se como uma criança que, ao ver um novo brinquedo, sente seu coração aquecer e põe-se a rir gostosamente como se aquele brinquedo fosse fazer-lhe feliz para sempre. Pois bem, relatemo-no:

Nossos olhares se cruzaram novamente, e nossas vozes se uniram numa só novamente.

Tinha saudades do seu olhar, saudades de contemplar aquele abismo glacial que tanto amo. Saudades de sentir a frialdade simples de seus olhos me tocarem a alma e me despirem o coração. Pode ter sido por um breve instante, mas bastou para acalmar a tempestade que no meu íntimo se fazia, resultando na calmaria de um doce sorriso. 

Foi como a declaração de que nosso mundo chegou a existir. Como uma estrela brilhamos por um instante antes de explodirmos iluminando tudo ao nosso redor. Foi saber que era real. Foi real. 

Por um breve instante, um ínfimo momento na imensidão do tempo em que estamos, nossas existências se tocaram levemente nas vibrações do ar de nossas vozes. Como se as nossas  cordas vocais se unissem num laço imaginário e, naquele momento, me senti um só contigo. Foi como se nossas vozes se estendessem para além de nós, e se unissem numa terceira, única e poderosa, que como um trovão estremeceu a terra e fez calar os pobres e pequenos que se admiraram com tamanha demonstração de poder.

Acho que não pode notar o quão poderosa é sua influência sobre mim. Espero que nunca se dê conta desse poder...

Queria eu ter palavras poéticas o suficiente para expressar o quanto o encontro de nossos olhares significou pra mim. Mas penso já ter chegado naquele limiar da expressão humana, onde as palavras não conseguem mergulhar no oceano de experiências e o resultado é como o balbuciar de uma criança, que emitindo grunhidos pensa se comunicar com a mais alta exatidão.

Sabe, tenho estado feliz com tudo isso. Já fazem alguns dias desde que essas cosias se passaram e na minha alma se imprimiu uma tranquilidade que há muito eu já não tinha. Estou com um sorriso leve no rosto, reflexo do que se passa no meu coração.

Isso é bom não é? Saber que nem só de dores são feitos meus ossos, e que sendo eu o osso da minha espada* posso lutar por coisas tanto alegres quanto difíceis.

Vejo então agora a beleza desses pequenos momentos dos últimos dias, momentos que me deram de volta um pouquinho de cor ao rosto que andava apático, e talvez tenha devolvido uma centelha de vida a casca vazia que eu havia me tornado.

Por isso eu o agradeci, ainda que não tenha explicado o motivo, mas penso que tenha entendido, de qualquer maneira. E por isso também agradeço pela tranquilidade deixada no meu coração, que me permitiu dormir em paz, e acordar sorridente e disposto para um novo dia. Obrigado!

~

*Nota - "I am the bone of my sword" (Fate/Stay Night - Unlimited Blade Works)

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