quinta-feira, 29 de junho de 2017

Poema do Rei

Medo de falhar.
Vontade de gritar.
Tendência a desitir.
Começando a chorar.
Sem forças para levantar e andar.  

Incrivelmente perdido.
Soterrado em expectativas e obrigações. 
Elas se sobrepõe e muito a minha capacidade de realizá-las.
Com o mínimo de sanidade mental ao seu término. 
Muita coisa para realizar, pouca disposição, quase nenhuma animação. 

Medo de falhar.
Vontade de gritar.
Tendência a desitir.
Começando a chorar.
Sem forças para levantar e andar.  

Soterrado pelos milhares de pensamentos.
Soterrado pela expectativas dos outros.
Soterrado pelas expectativas que eu mesmo criei.
Soterrado pelo amor que eu mesmo inventei.
Soterrado pelos ciúmes que nasceu e eu nem mesmo notei.

Como um terremoto veio para abalar
Abalou as estruturas já enfraquecidas pelo passado
Só resta então ao Rei contemplar sua terra devastada pela dor
Seu povo chora de fome e seu exército é derrotado em todas as frentes
O Rei de joelhos implora ao céu clemência.

E eu pobre que farei? 
Que patrono invocarei?
Quem virá a mim em sua misericórdia
Em seu silêncio o céu pede ao Rei por paciência.
Mas o Rei ainda tem medo.

Medo de falhar.
Vontade de gritar.
Tendência a desitir.
Começando a chorar.
Sem forças para levantar e lutar.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Na multidão

O Destino parece realmente querer me desafiar a te esquecer, e hoje foi prova disso. Dias depois de minha decisão de me afastar de você eu percebo que falar é mais fácil do que fazer... Mas o que eu esperava? Ir dormir e amanhecer sem pensar em você? 

Tentei ocultar minha presença, esconder-me em meio a multidão, mas foi em vão, pois pela primeira vez eu vi seus olhos encontrarem os meus quando minha voz se projetou no sistema de som da igreja. Logo desviei o olhar, afinal a lembrança daquele dia ainda enrijece a minha espinha e me faz ter vontade de chorar, até expurgar do meu corpo a lembrança do seu olhar gélido.

Tentei em vão me ocultar longe de você no meio das pessoas, mas a sua figura ainda se erguia imponente, branca e majestosa em meio a multidão. Um idílio, um deleite para os olhos mas, como a arvore do bem e do mal se erguia no meio do Éden, você também guarda consigo uma maldição. Ainda desejo provar do fruto proibido, e meu corpo grita em desespero por isso, mas meu coração teme a maldição, pois não crê que seja ele capaz de mudar você. 

Eu estava no meio daquela multidão, e me sentia sozinho. Mas você estava ali também, e isso fazia eu me sentir mais sozinho ainda. Só estávamos separados por alguns poucos bancos, e no entanto eu senti que nunca poderia sequer me aproximar de você. Tão perto e ao mesmo tempo tão distante. 

Para mudar o seu coração eu precisaria de uma espada de fogo, algo que pudesse degelar o seu olhar, como as chamas do meu coração. Mas no meu estado atual tudo o que conseguiria seria extinguir as chamas com as minhas próprias lágrimas. 

Não estou dizendo que em seu coração não existem chamas, e nem que seu olhar é sempre assustador, aliás poucas coisas nesse mundo são tão belas quanto seus olhos, mas o olhar daquele dia foi capaz de tocar a alma, e não de uma forma boa. Em seu coração pulsam labaredas grandiosas, mas não são para mim. Apenas aqueles que gozam da sorte de poder fitar seu coração é que podem vê-las... A mim só é dado imaginar o quão belo pode ser o seu interior, bem como o quão assustador pode ser também.

Não adiantou me esconder no meio da multidão, a sua figura é especial demais para que seja ofuscada por uma multidão qualquer. Imagino se os anjos do céu conseguiriam ofuscar-te aos meus olhos e acredito que não. Devo tentar então não esquecer, mas aprender a conviver com o sentimento que tenho por você, e a conviver com a dor que é não ser correspondido. Pensando por esse lado não deve ser tão difícil assim, afinal o que são mais alguns anos para alguém que viveu a vida toda tentando se acostumar com a dor?

Acompanhando

Mais uma vez as minhas constantes variações de humor me deixam exausto... 

Amanheci hoje estranhamente contente, talvez pelo fato de ter conseguido boas notas nas provas desse semestre. Passei a maior parte do dia agitado, alegre mesmo, cantando, dançando... No entanto a felicidade não deve ser algo permanente na minha vida, ao menos é o que parece.

A noite veio chegando e com ela a solidão mais uma bateu a minha porta, e trouxe consigo os pensamentos daqueles que tanto tento esquecer. O frio só torna tudo pior, e não consigo sozinho superar os pensamentos que pululam em minha cabeça.

Me vem tudo a mente sabe? O que poderia ter sido e não foi... As possibilidades que tenho hoje... E as que não tenho também... E são essas que me fazem pensar mais, desejar o que não posso ter e desdenhar o que posso.

É, a vida é uma lição cruel, e aprender não significa conseguir colocar em prática. Até mesmo agora eu consigo olhar para o meu passado e dizer exatamente onde errei, mas quem disse que consigo fazer diferente agora no presente?

X

E as mudanças continuam... Ontem dormi cansado, chateado e bem pra baixo, e hoje já acordei animado de novo, mas um pouco mais sentimental ainda.

Talvez tenha sido a terapia que me fez refletir e os resultados da reflexão tenha sido a introspecção, e eu tenha confundido com tristeza...

O fato é que acordei contente, meio otimista, o que convenhamos é bem raro, e muito amorzinho. Ok, talvez o termo certo seja romântico, mas acho que os dois se encaixam direitinho aqui...

Engraçado notar essas mudanças. Será que serei sempre assim? O lado bom é que dificilmente fico entediado, já que meu tédio vem quando fico muito tempo sentindo a mesma coisa... Mas será que daqui 10, 20 anos ainda serei essa grande montanha russa emocional?

Acompanhando...

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Como ser

Somos feitos de camadas, repletos de aspectos que só aparecem em determinados momentos de nossa vida. Aspectos de nossa personalidade que muitas vezes gostaríamos de esconder de todos os outros, e aspectos que gostaríamos que todos conhecessem mas que jazem esquecidos no interior de nossos corações.

Somos complexos, cheios de surpresas e facetas, e não unilaterais como muitas vezes aparentamos. Somos complexos, cheios de pormenores e as vezes nem mesmos nós nos conhecemos realmente. 

Estamos em construção, em permanente evolução!? Será mesmo? Será que o homem tem uma forma final a alcançar, um último estágio do processo evolutivo a ser atingido? 

Nem sempre estou seguro com essa afirmação, embora muitos defendam a tese de que estamos caminhando para um aperfeiçoamento constante. Considero tal afirmação completamente questionável, afinal quem é que decide o que é o bom, o perfeito estágio da evolução? 

Pois bem, disto isto, me pergunto ainda se somos nós capazes de julgar o que é de fato o melhor para cada um de nós. Se assim fosse creio que ninguém tomaria decisões erradas, daquelas que podem arruinar toda uma vida, mas apenas tomaríamos decisões certas, que nos levassem onde quer que quiséssemos. Então acredito que não sabemos o que é bom para nós, nem sempre.

Eu posso não saber o que é melhor para mim, e muitas vezes tomo decisões erradas, equivocadas ou incompletas. Mas tudo o que quero, o que tento fazer é viver conforme manda meu coração, sem ser aprisionado aos preceitos que outros criaram para mim, sem precisar corresponder as expectativas que os outros criaram para mim. 

Isso significa que sempre serei questionado quanto as minhas atitudes, quanto ao meu comportamento. Isso é bom até o ponto em que pode contribuir para que eu melhore em alguma coisa. Mas e quando apenas querem mudar quem somos, o que sou, por não gostarem do que veem? 

Tento impressionar, tento fazer com que gostem de mim, com que me achem fofo, interessante, agradável, mas toda vez que eu tento acertar acabo errando ainda mais... Sei que eu erro tentando acertar, mas tudo o que eu faço é pensando em agradar. As vezes, quase sempre, é difícil ver, mas tudo o que faço é pensando em atrair alguém, em mostrar que posso ser uma boa pessoa, mas todas as vezes que faço isso, acabo afastando ainda mais os outros de mim. 

Acho que a culpa disso então é a minha personalidade. Devo ser chato demais para que queiram ficar próximos de mim, chato demais para que gostem de mim, chato demais para alguém se esforçar por mim...

Por fora adoto então essa postura de que tudo o que faço é para me agradar, e somente para ser feliz, mas não é verdade. Quase sempre quero chamar atenção, impressionar, dizer aos outros "Ei, eu estou aqui!"Só quero ser notado, não passar despercebido pela multidão, pela vida... Mas parece que não tem como fazer isso sem despertar a desaprovação de todos. Não consigo agradar a todos ao mesmo tempo, e passei tanto tempo tentando agradar a gregos e troianos que já nem sei o que fazer para agradar a mim mesmo... 

Me sinto mais uma vez perdido, sozinho, sem saber o que fazer, nem como agir... E tudo o que eu queria era alguém que me guiasse, que me dissesse o que fazer, para onde ir, como ser...

domingo, 25 de junho de 2017

Quem poderia o teu sorriso superar?

Quem poderia o teu sorriso superar? Mas não quero olhar novamente o seu sorriso se algum dia tiver de olhar novamente o seu olhar frio de desprezo. Esse olhar não supera o seu sorriso, mas o torna perigoso demais para que eu me aproxime novamente... 

Quem poderia imaginar que algum dia eu iria desejar não estar perto de você? Logo eu que a todo instante inventava um pretexto para conversar, ouvir sua voz ou apenas saber que por um instante que fosse estava pensando em mim...

Quem poderia o teu sorriso superar? Nada no mundo deve ser tão brilhante e belo quanto seu sorriso iluminado, doce, combinado com seus olhos claros como numa pintura que nem sequer os maiores mestres de todos os tempos poderiam plasmar. Mas os mesmos olhos que me encantam também guardam em si maldade e uma frialdade quase inorgânica. É um olhar mortal, fatal, e naquele momento em que o vi foi como se uma espada de gelo tivesse transpassado minha alma, fazendo-a acender aos céus gelados e depois retornar para a realidade cruel em que me colocaram seus olhos. 

Gostava quando me mandava mensagens antes de dormir e ao acordar, pois em minha mente acreditava que era eu seu último pensamento antes de dormir e o primeiro ao acordar.

Quem poderia o teu sorriso superar? Ainda não vi nada no mundo capaz de me fazer esquecer seu sorriso, ou seu cheiro na minha roupa depois de um longo abraço... Não sei se posso superar, mas posso evitar ser lançado novamente no precipício ao contemplá-lo. 

Quem poderia imaginar quem algum dia eu iria preferir não ver você, e que mudaria minha agenda para que não precisasse olhar o seu rosto novamente. Pois sei que se o fizer, irei cair novamente no sentimento que venho tentando destruir. 

Quem poderia o teu sorriso superar? Mas a lembrança dele eu quero destruir. E vou destruir! Ainda que morra uma parte de mim junto a ele, e ao lado de meu féretro surja uma rosa dizendo que te amo, será um amor enterrado, que não pode mais ser visto ou acessado, terá passado... E ali, naquele catafalco, espero que seja a última vez em que meu amor por você será visto por qualquer um, pois depois então dele restará apenas a lembrança, enquanto é devorado pelo verme, este pequeno operário das ruínas... 

sábado, 24 de junho de 2017

Sereia

Engraçado como quando nos decepcionamos com algo ou alguém sempre culpamos o algo ou o alguém, mas nunca colocamos a culpa da decepção em nós mesmos, que de fato somos os culpados. Não é a primeira vez que me debruço acerca desse assunto, e certamente não será a última, já que o homem é, ao meu nada humilde ver, um ser que vive de decepções. Estamos a todo tempo decepcionando os outros, e sendo decepcionados por eles. 

A lógica das decepções é até bem simples: depositamos em determinada pessoa uma confiança, uma expectativa de que ela corresponderá aos nossos valores e conceitos, e então quando ela demonstra sua verdadeira face, nos decepcionamos. 

Acabei de notar que essa é uma abordagem um tanto quanto Kantiana da decepção, em que a culpa da mesma está no decepcionado e não em quem causou a decepção, mas não é bem assim, ambos tem culpa... Claro que uma parcela é culpa de quem decepciona, as pessoas sabem ser bem ruins quando querem, e não é pouco, elas são ruins pra valer. Mas acredito que na maioria das vezes a culpa é nossa, por depositar uma expectativa que tal pessoa não seria capaz de corresponder. 

Recentemente (no fim de semana passado, para ser mais específico) passei por uma experiência que me fez refletir sobre isso. Decepcionei alguém e fui decepcionado também...

Ele esperou demais de mim, e eu não chego aos pés do que ele espera como pessoa, e nem como amigo, muito embora tenha motivos para acreditar que ele assim me chama apenas por educação, e não por considerar de fato a minha amizade. Esperava que fosse um religioso intelectual, mas ele viu que meus pecados são ainda mais escandalosos do que ele acreditava que fosse, e isso o assustou. Ele queria alguém equilibrado, inteligente, que fosse discreto... Mas eu não sou assim, nem de longe. Decepcionou-se então comigo quando descobriu que na verdade sou apenas um desequilibrado, carente... Um esquizofrênico psicótico com uma patológica necessidade de atenção, que constantemente passa por surtos de depressão e ansiedade, implorando pelo amor e o carinho dos outros...

Também esperei demais dele... Acreditei tão devotamente em sua santidade que teci com minhas próprias mãos um véu de perfeição que encobria sua verdadeira face, não tão perfeita assim. Busquei um amigo compreensivo, carinhoso e amável e encontrei na um monstro violento, de olhos frios e cruéis, se escondendo na armadura dourada do cavaleiro de meus sonhos. O cavaleiro que eu acreditava que iria me resgatar da escuridão na verdade me apunhalou por trás, e me lançou de volta a mesma escuridão.

Só escuto agora os seus passos distantes, enquanto ouço também a chuva cair no chão, tornando em lama o lugar onde caí, e essa mesma chuva se mistura com meu sangue, espalhado pela podridão da confiança que depositei nele.

Reconheço que a culpa é também minha, embora não o seja inteiramente. Reconheço que errei, em confiar demais, em acreditar demais. Também errei em sentir demais, em querer demonstrar demais, e foi isso que o enfureceu e o fez se voltar contra mim... Como me arrependo de tudo isso! Nesse momento me arrependendo de tanta coisa, mas especialmente de não ter tirado minha vida quando tive coragem, e de ter ouvido sua doce voz, que não queria me salvar mas me conduzia para o abismo do sofrimento. Como uma sereia ele me fez segui-lo até o local onde me acorrentaria, e onde me torturaria... A morte agora não é mais uma possibilidade, pois fui contaminado pela esperança que seus olhos injetaram em minha alma, esperança essa que agora jaz apodrecida em meu coração. 

Por um lado estou contente de ter visto sua verdadeira face, pois poderia ter sido ainda pior, se nossa amizade de fato tivesse se tornado estreita, próxima, o que felizmente não aconteceu. Mas não poderia ser diferente, e a decepção imprimiu em meu ser um profundo sentimento de dor, de culpa, e de desesperança. 

Meu Cavaleiro Dourado morreu, restou apenas a Sereia, o demônio que me seduziu e que me prendeu nos abismos de seus infernos para ali me torturar. Me fez crer estar mergulhando em um mar de amores quando caia num oceano de terrores. O que farei agora eu não sei... Não há ninguém que possa chamar, nem sequer para o meu anjo eu posso rezar... Só me resta ficar aqui, contemplando a escuridão e a frieza do coração que amei, e esperar, pelo dia em que a morte de fato venha me visitar...

Nem eu sei o que quis dizer aqui

Não consegui escrever nada ontem, fruto de uma infeliz e curiosa série de acontecimentos que me deixaram o dia todo ocupado e ou entediado demais para isso, e quando enfim chegou a noite eu só queria saber de dormir, já que hoje tinha algumas provas na faculdade logo cedo. Sabe aqueles dias que quando anoitece você só quer tomar um Diazepam e dormir igual uma pedra? Pois bem...

Claro que, além de ter passado metade do dia no banco com meu pai, quase ter mudado todo o nome da minha família devido a uma confusão nesse mesmo banco e nos documentos do meu progenitor, de ter sido obrigado a fazer sala para um primo que nos visitava e ainda ouvir uma aula de quase duas horas sobre a filosofia de Kant e a de Hegel (muito embora eu não tenha entendido direito a segunda) eu ainda estava me sentindo deveras vazio demais para escrever sobre o que quer fosse. 

Afinal de contas o que Hegel fez de tão importante eu ainda não entendi, mas deve ter sido bem legal, já que eu passei a porcaria do semestre inteiro ouvido o nome dele sem encontra eco em absolutamente nada que eu já tivesse estudado, exceto por alguns artigos da Instrumentalidade Humana, que para variar eu também não consegui relacionar com nada me pudesse ser útil nas provas, mas apenas com minha vontade de explodir a cabeça de todas as pessoas do mundo para preencher o vazio da minha existência (me imagine dizendo isso com uma carinha fofinha aqui, grato!)

Obviamente o costume falou mais alto e eu fiquei com peso na consciência por isso, o que resultou numa reflexão sobre os motivos de eu não estar fazendo o que gostaria de estar fazendo, além de preguiça e desmotivação. Devo dizer que não cheguei a nenhuma conclusão pois o Diazepam bateu e eu dormi lindamente acordando super disposto para escrevr 7 folhas nas provas de Didática do Ensino Superior, Filosofia da Educação e Seminários Avançados de Filosofia I. 

Essa última era meu maior medo inclusive, revi boa parte da disciplina na última semana lendo novamente o Caderno de Referência de Conteúdo (Uma apostila mal escrita que traz referências da Wikipédia no próprio Glossário e nem sequer cobre todo o conteúdo da disciplina. Não que eu tenha algo contra a Wikipédia, mas se eu colocar algo dela no meu TCC certamente serei reprovado), alguns artigos e ouvi alguns do Olavo de Carvalho no Youtube, que pra ser sincero, foram muito mais uteis do que o semestre inteiro de estudo. 

Mas por quê estou dizendo tudo isso? Eu sei lá...!? Só sei que enquanto vinha para casa, ouvindo o terceiro álbum do Akeboshi "After The Rain Clouds Go", e lia "O Amor Divino Encarnado -  A Sagrada Eucaristia como Sacramento da Caridade" do Cardeal Raymund Burke a minha mente pululava de mil e uma ideias acerca da Liturgia e do seu papel na vida da Igreja, e me vi isolado nesse mundo, pois senti a falta de um grupo na igreja onde esses assuntos possam ser debatidos. 

Um sonho distante, claro, já que hoje o máximo que posso conseguir é uma pastoral da internet que muitas vezes pouco ou quase nada tem a contribuir com a vida da Igreja em si senão por excessivas reclamações não sem fundamento, mas que já estou farto de conhecer e de nada poder fazer a respeito. Vida que segue. Até o dia em que as comunidades brasileiras acordem para a necessidade de uma discussão acerca desse aspecto tão importante da Igreja eu continuarei em silêncio, a espera, ansioso pelo momento em que Jesus volte a ser devidamente reverenciado em nossos altares, sem ser relegado ao segundo plano de nossas celebrações, ofuscado por sacerdotes estrelas que nada dizem da doutrina ou por heresias e sacrilégios provenientes da criatividade maligna de nosso mal formados sacerdotes e de nossas más intencionadas pastorais.

Dito isto, que em nada se relaciona com o que disse no início dessa breve reflexão sobre sabe-se lá o quê, eu começo a me perguntar se estou em plenas posses de minhas faculdades mentais ou se estou apenas excessivamente agitado graças a quantidade absurda de açúcar que tenho ingerido desde cedo para não ficar com sono e nem irritado durante a prova. Mas admito que tenho pensado no almoço com a mesma preocupação. De qualquer forma, como nada mais tenho a dizer, e como não disse nada realmente, prefiro deitar um pouco, e comemorar de forma solitária o início das férias com uma boa seleção de musicas românticas tailandesas e um comprimido sublingual de Hemitartarato de Zolpidem, o mais novo membro de minha família hipocondríaca, enquanto tento (inutilmente) cultivar um desprezo pelo meu cavaveiro dourado que tanto me decepcionou no fim da semana passada. Vida que segue.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Devaneio sob a luz da lua

O momento é propício a uma reflexão sobre o amor, ainda que breve e comedida, pois minhas experiências nessa área ainda são demasiado parcas... 

O clima frio, a minha reprise de Reply 1994 em plena semana de provas... Tudo me fazendo pensar no amor... Me fazendo pensar quando chegará minha vez, quando irei viver também um amor, será um dia viverei uma paixão bonita como essa retratada na TV?

Sei que é um excesso de inocência pensar nisso, mas permita-me o devaneio, pois em meio tantas desilusões, ainda quero sonhar, ainda quero ser feliz!

Meu príncipe se foi, assim como meu anjo, e meu cavaleiro me traiu e me apunhalou pelas costas. Agora caído e coberto pelo meu próprio sangue eu contemplo a luz do luar, e fico a sonhar, pensando se em algum lugar distante, ou quem sabe próximo, esteja o meu amor a me esperar, e a pensar em mim como eu penso nele...

Depois de tudo, de ter sido abandonado, pisoteado, traído e esquecido, ainda desejo ser feliz, ainda desejo ser amado, e por isso me perco nessa noite fria a pensar na solidão do meu amor que ainda não existe, ou se existe, ainda não conheço.

Será que um dia serei feliz? 

Será que viverei um grande amor eterno?

Será que um dia pensarei nesse momento e com alívio direi a mim mesmo que tudo terminou bem?

Ou continuarei apenas a sonhar, sob a luz do luar, com o meu distante amor não correspondido, não encontrado, não vivido? 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Contemplo o devir

 
“Contemplo o devir”

"Diz Heráclito, e nunca alguém contemplou com tanta atenção o fluxo e o ritmo eternos das coisas" disse Nietzsche acerca do pensador antigo... E o que isso tem em relação ao jovem estudante de filosofia da educação que séculos mais tarde estuda os pensamentos de tão grandes homens numa tarde fria de junho? Tudo!

Pois me escondo do mundo onde creio eu estarei livre dos perigos das traições e decepções dos homens para contemplar o devir no meu interior. Não o faço de forma ampla como fizeram meus antecessores mas atrevo-me a incluir-me no mesmo séquito pois assim como eles também busco compreender o que é tão imensamente maior do que eu que nem décadas de reflexão ininterruptas poderiam trazer alguma conclusão. Heráclito não encerrou os questionamentos acerca da origem das coisas, e do conhecimento sobre elas, pelo contrário, apenas deu aos seus sucessores mais material a ser estudado, discutido, avaliado, reestruturado. Assim como eu faço com meu próprio eu, com meu próprio pensamento...

Dizer que estou em constante transformação, em constante mudança, é mais do que uma afirmativa banal, me assusta que precise ser dita, pois creio eu estar incluso no grupo das coisas que existem e que estão em constante mudança, todas elas deixando de ser o que eram e vindo a ser outras coisas. Me ocupo então em questionar o meu próprio eu acerca do que eu serei, do que sou, do que fui e do que poderia ter sido... Começo então minha reflexão perguntando-me o que sou. 

O que sou? 

Quem sou? 

Dei início a uma infantil tentativa de resposta pensando então em características que possam ser usadas para definir a minha essência como pessoa. Definindo então minha essência, definiria minha existência, mas não consegui fazê-lo. Tudo o que me surgiram foram adjetivos e conceitos que hoje possuo ou que um dia tive a graça ou o infortúnio de possuir, mas nenhum deles foi capaz de abarcar a totalidade da minha existência.

A definição de pessoa humana é excessivamente genérica. Sou eu apenas mais um dentre tantos milhões que já existiram e de tantas outras miríades de pessoas que virão a existir? 

Tentei buscar minha essência nas coisas que fiz, mas encontrei uma centena de outras pessoas que poderiam e fazem tudo o que faço, de forma ainda melhor. Ainda que diga que nenhuma delas faz tudo o que faço da forma como faço, cairia novamente numa definição genérica que pouco ou quase nada diz sobre mim. 

Não descarto, no entanto, essas primeiras informações, pois penso que possam elas me ser úteis num futuro próximo, quando penso em unir a ambas as categorias, a de pessoa humana e as características de tal pessoa humana, e o resultado me é mais satisfatório do que quando as observo isoladamente.

O fato é que costumamos (no caso eu mesmo, apenas colocando a culpa no todo para me eximir de tal pecado) a considerar a totalidade da existência humana como infinitamente complexa por preguiça de considerar tal totalidade. O mesmo para o universo. 

Admito que a escolha da palavra "preguiça" seja resultado da preguiça de buscar uma mais adequada, ou talvez da incapacidade de fazê-lo. Mas percebi que os filósofos tendiam a criar conceitos demasiado complexos apenas pelo fato de lhes seria excessivamente dispendioso, para não dizer impossível, debruçar-se sobre o todo, daí se explicaria a necessidade constante que os pensadores tem de esmiuçar as coisas todas do mundo na tentativa de abarcar a sua totalidade. 

Não acho que seja errado fazê-lo, até porque não consigo pensar numa mais eficaz de o fazer, mas penso ser também uma maldição a perseguir os pensadores por limitar os sucessores as amarras criadas pelos predecessores. 

Observo então com cuidado as pétalas da flor da minha existência se partirem a minha frente, e observando os fragmentos tento entender o funcionamento do todo. Uma semente foi lançada a terra, e veio a ser flor, a rosa então existiu o tempo que deveria existir como tal, e então se despedaçou lentamente, voltando a terra, sendo levada pelo vento, e comida pelos vermes, que nutriram a terra e deu origem a uma nova flor...

Seria eu então complexo demais para que eu mesmo possa vir a compreender-me? Ou apenas estou tentando buscar uma maneira mais cômoda de me eximir de tal obrigação? Mas não fui eu mesmo a querer embarcar em tal empreendimento? 

O fato é que a contemplação do meu devir continua! Permaneço imóvel então em meu interior observando as mudanças sofridas pelo meu exterior. Mas não me refiro apenas ao fato de estar envelhecendo, mas agora faço alusão a totalidade do meu ser, o que vive, e não apenas a parcela que pensa, ou a parcela que contempla, mas a totalidade que vivendo, pensa, reflete e contempla. 

Traição

Constantemente preciso do chamado "tempo para mim mesmo"... Geralmente quando me acontece algo que me chateia, e que por esse motivo me faz vestir um manto reflexivo, que na verdade nada mais é do que uma desculpa para que eu possa lamber minhas próprias feridas.

Essencialmente sensível, quase tudo me afeta com uma força que não seria saudável para nenhum ser humano normal, mas nem de longe me vejo como um ser humano normal, mas provavelmente sou tão suscetível a ataque quanto um, ou até mesmo mais, já que essa sensibilidade latente me torna mais exposto do que aqueles que se protegem.

Eu sempre me exponho a situações de perigo, não físico, mas principalmente perigo mental ao abrir meus sentimentos e pensamentos aos outros com facilidade, ficando portanto suscetível aos pensamentos e comentários de todos, sendo que esse conjunto dos que me cercam dificilmente compartilham da sensibilidade que tenho, ficando eu portanto taxado com adjetivos como dramático, exagerado, e toda sorte de sinônimos que no atual momento não me dou ao trabalho de pensar. 

Não nego tais adjetivos, muito embora a atual conjuntura me machuque muito já que os mesmos vieram de onde menos esperava. Dizem que a traição dói por vim de quem menos se espera, bem como a decepção advinda da mesma. Pois bem, como alguém excessivamente infectado por um romantismo estranho a época em que vivo seria de estranhar se não tratasse da traição, seria de se estranhar se não fosse traído e humilhado por aqueles que mais amo. 

Pois bem, experimentei na pele o fogo abrasador da decepção, do confiar e ser traído, de ter confiado a tal pessoa um local especial nos altares do meu coração, sendo eu usado como oblação nesse mesmo altar, oferecido ao demônio como libação pelos meus pecados de ter confiado no homem que me apunhalou por trás.

De fato o que vem de frente podemos evitar, recuar, ou ainda que sejamos atingidos podemos ainda tentar revidar, mas o que marca a traição, a decepção, mais do que a dor do golpe, é o fato de quem golpeia. O que mais a torna terrível é o fato de que não raramente nos expomos aqueles que querem nosso mal, e mais do que expor nossas costas, em sinal de confiança, é que expomos nossos sentimentos, e pior do que ter as costas feridas é ter o coração estilhaçado por alguém que acreditávamos que iria nos fazer bem...

Oh, então damos as costas para aqueles que acreditamos iria proteger nossa retaguarda, mas logo sentimos o golpe certeiro do punhal que pelas costas atravessa nosso coração. Ai cair, deixando morta ao nosso lado a espada e o escudo, levantamos o olhar com a pouca força que nos resta, já sendo esta sugada pela morte que se aproxima como o sangue que jorra de nossas feridas. Fitamos então o olhar do assassino, que veste a armadura do cavaleiro que um dia acreditamos que iria nos conduzir a vitória, e que pensamos ser merecedor de todo nosso reino.

No chão então nossas forças se vão, e tudo o que conseguimos ver antes de ter a face coberta pelo manto enevoado da morte é o sorriso macabro do traidor, que impiedosamente apunhalou aquele a quem um dia lhe jurou fidelidade eterna...

Mas o que eu espero ao voltar-me para dentro de mim mesmo e pensar na traição que me ocorreu? Não sei que conclusão eu busco, ou se talvez busco amenizar a dor que agora me esmaga, mas sei que não sou capaz de sair de dentro de mim mesmo agora para encarar de frente os que me traíram e tramaram para me matar... 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Boneco de Neve

O dia amanheceu nublado, literal e figurativamente... O dia amanheceu cansado, literal e figurativamente também...

O fim de semana foi cansativo, física e mentalmente, mas posso dizer que apreendi deles algumas lições importantes. 

Entendi que muitas vezes deixamos de viver experiências interessantes e enriquecedoras devido nosso costume de reclamar de tudo, antes mesmo de experimentar. Passamos tanto tempo focando as coisas ruins e desagradáveis que não percebemos as coisas boas que essas mesmas experiências podem nos proporcionar. É como reclamar do frio mas esquecer de fazer os bonecos de neve, ou reclamar do calor ao invés de ir a praia. 

Essa foi a primeira lição, a de que viver a experiência é melhor do que apenas reclamar dela, e acabar perdendo as coisas boas que dela podemos tirar. A segunda lição foi, e tem sido, bem mais dolorosa de se aprender... Sabe quando dizem que é apenas no fogo que se prova o ouro? Pois bem, é assim que tem sido, quente como o fogo e dolorosa como um espinho, no entanto eu preciso aceitar os espinhos se quiser apreciar a beleza da rosa.

Reconhecer os próprios erros é essencial no processo de amadurecimento, e é isso que tenho tentado fazer, aceitar e reconhecer que sim, meu temperamento e minha personalidade não são os mais fáceis de se conviver e nem de longe os mais agradáveis, o que se explica como o motivo por detrás de tão poucas amizade: eu sou insuportável!

Aceitar isso é então o primeiro passo para mudar e me tornar alguém mais agradável. Claro que aqui cabem algumas discussões sobre a necessidade da mudança. Mudar é essencial, do contrário permanecemos com o pensamento fechado sobre todas as coisas, mas será que algo tão particular quanto a personalidade deve ser modificado? Será mesmo que isso se faz necessário apenas para se adequar a um grupo ou ser aceito por determinada pessoa? 

Creio que não exista uma resposta definitiva a essa pergunta, portanto devo agir com cautela, avaliar com cuidado os elementos que tem sido desagradáveis ao outro e tentar mudar aquilo que puder ser mudado sem que me desfigure por isso. 

Equilíbrio é palavra. Então agora um pouco mais calmo eu posso notar que não há motivos para me preocupar... Preciso sim, observar o que precisa e pode ser mudado e mudar, não para ser o que querem que eu seja, mas para me tornar melhor para mim mesmo. Quem sabe a solidão que sinta não seja reflexo de uma personalidade desagradável? Logo não seria ruim ter um pouco mais de amigos, ou quem sabe encontrar alguém especial se me tornar alguém especial também?

As palavras que me fizeram perceber isso doem, e ainda vão doer por um bom tempo, bem como a vergonha que se sucedeu com as mesmas, mas como disse, preciso dos espinhos se quero ver a beleza das rosas... 

domingo, 18 de junho de 2017

Não quero

Hoje eu não vou te chamar, então não espere meu boa noite, nem um poema, ou sequer que eu o procure para saber como estava. 

Não quero que a história se repita e que eu vá atrás de você apenas para que possa me esnobar de novo. 

Não quero. 

Não quero me humilhar sabendo que não terei nenhum resultado. Não quero.

Não quero derramar o meu amor sabendo que ele apenas seria jogado no chão, sem que toque seu coração. 

Não quero.

Eu quero ficar quieto, esperar por você, ainda que você nunca venha.

Eu quero esperar que se derrame um pouco também, ainda que para mim você esteja completamente fechado.

Eu quero fazer com que me ame, mesmo sabendo que me afastando apenas irei dar motivos para que nenhum sentimento nasça em você. 

Mas eu não quero ver de novo aquele olhar. 

Não quero.

Não quero ser desprezado.  

Não quero.

Eu quero amar e ser amado, eu quero ser desejado.

Eu quero sorrir e ver seu sorriso em resposta.

Eu quero um amor que não seja uma via de mão única.

Eu quero que a reciprocidade seja na minha vida mais do que uma página no Facebook.

Não quero mais sofrer por você. 

Não quero. 

Não quero mais amar se não for amado por você. 

Não quero.

Eu quero descobrir o que é o amor.

E ao menos uma vez viver esse amor.

E ao menos uma vez conseguir vencer no amor. 

Hoje eu não vou te chamar, então não espere meu boa noite, nem um poema, ou sequer que eu o procure para saber como estava. 

Mas ainda assim irei dormir olhando o celular esperando o seu 'olá'

Isso porque eu não quero mais sofrer, mas ainda quero te amar.

sábado, 17 de junho de 2017

Medo daquele olhar...

Sabe quando o dia é simplesmente incrível mas apenas uma frase é capaz de acabar com tudo? Ou quando algo tem tudo pra ser a experiência mais incrível de todas mas acaba sendo incrivelmente frustrante? 

É assim que me sinto hoje...

Ontem fui ao lançamento do livro de um homem que admiro muito, o Cardeal Raymond Burke, e esperei ansiosamente para esse evento por dias. No entanto, minha ansiedade me sabotou mais uma vez quando convidei um garoto especial para ir comigo. Além de ver vossa eminência reverendíssima eu também queria passar um tempo com ele, quem sabe conhecê-lo melhor, me aproximar mais... No entanto lá ele se mostrou extremamente frio comigo, e em alguns momentos até mesmo ríspido. 

Nem preciso dizer o quanto isso me abalou, e o quanto me arrependi de ter ido. Na verdade em certo momento, quando já tinha recebido várias respostas secas e frias, eu só queria sair daquele lugar, correr para longe, bem longe, e me esconder do mundo o mais distante que pudesse, e ali chorar, chorar até expurgar de dentro de mim todo sentimento que tenho por ele... Fiquei com nojo de mim mesmo por sentir tanto por alguém que sequer queria estar comigo. 

Ele deixou claro, bem claro que não gostaria de estar comigo, e isso me matou... Não consigo pensar numa forma melhor de expressar o que senti naquele momento, quando seu olhar, geralmente calmo e gentil, se mostrou frio e distante ao me fitar. 

Eu só queria morrer... 

Hoje o encontrei brevemente, muito embora mais de uma vez me tivesse surgido a oportunidade de me aproximar, eu preferi não o fazer. Fiquei com medo de receber novamente aquele olhar, que parecia querer me matar... Era selvagem, animalesco... 

Tive medo, estou com medo... 

Ele por outro ao se despedir de mim pediu-me desculpas pelo comportamento, e muito embora seu olhar gentil e seu abraço acalorado tivessem retornado, aquele olhar ainda está marcado no meu peito como fogo, e tem doido como fogo... Não me desmanchei em seu abraço, mas apenas acenei que estava tudo bem. Uma grande mentira. Sei que hei de ter pesadelos com aquele olhar ainda por muitos dias... 

E eu só queria esquecer, fingir que não conheci aquele lado frio dele. Mas isso é culpa minha, que em minha mente distorcida concebi um homem perfeito que nunca existiu... 

Queria dizer com mais detalhes o que sinto nesse momento, mas creio que tenha ficado tão abalado que não conseguiria expressar em palavras esses sentimentos. Posso apenas balbuciar o medo que senti a fitar aquele olhar assassino e aquela voz cortante no corpo do meu amado.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Ledo engano

Hoje eu só queria ouvir sua voz, ouvir seu riso, ver os seus olhos brilharem... Só queria passar um tempo com você, estar com você de verdade, sem preocupações, sem interrupções, sem obrigações, só estar ali...

Mas você não estava ali. Ao menos não completamente. Você estava comigo, mas não estava comigo. Sua mente vagava longe, e não sei que paisagens ela via...

Eu não sabia o que fazer, não sabia como agir. Queria sair correndo dali, e ao mesmo tempo queria te tomar pelos ombros e exigir uma reação verdadeira... Queria gritar, espalhar ao mundo que te amo, dizer o quanto é importante para mim, mas tudo o que fazia era tentar quebrar o clima tenso que havia entre nós. Naquele momento eu percebi que todos os sinais que eu tinha visto não passarem de um ledo engano... E tudo o que eu consegui como respostas foram algumas palavras vagas, mínimas, parcas... Me senti mal, senti que incomodava, que não deveria estar ali, que você não gostaria de estar comigo. 

Você não disse isso, mas sua expressão disse... Eu o incomodei, eu o chateei, e isso acabou comigo, pois tudo o que eu queria era que me ouvisse, que me amasse... Só que ao invés de confessar a ti o meu amor eu apenas fiquei impassível frente a muralha que ergueu entre nós...

O que eu poderia fazer para ser diferente? 

O que poderia fazer para que me notasse, para que me amasse? 

Ainda penso nisso mas sei agora o quanto essa realidade é distante, o quão impossível é fazer com que me ame...! Uma pena, realmente uma pena, pois enquanto isso, meu amor por você continua sendo derramado no chão, sem que chegue ao seu coração...

Discursos

Parece que no fim das contas não somos mais do que dita nossa carga genética. Um homem será sempre um homem e nenhum valor, nenhum código de conduta moral pode mudar isso. 

Apesar de todos os discursos, você ainda é só um homem certo? Igual a milhares de outros homens, todos movidos e governados em todos os aspectos de sua vida pelos seus hormônios e instintos. Depois de tudo os discursos se tornaram apenas palavras vazias, e suas atitudes é que mostram quem é você de verdade: um animal governado pelos seus instintos mais primitivos... Como todos os outros.

Nota-se então que todo discurso pode ser facilmente desconstruído, não por um discurso superior, mas apenas por ações que colocam a prova tudo o que foi dito, e nos ensina que palavras são apenas conceitos lançados ao vento, que inebriam o coração do homem, mas são suas ações que de fato ditam quem ele é de verdade.

E a verdade nem sempre é bela, a verdadeira face de um homem nem sempre é bela, é quase sempre distorcida, deformada pela vida e cruelmente se mostra de forma diferente dos conceitos morais, esses quase sempre cobertos por uma máscara romantizada de honra e respeito... Patético.

Os homens se escondem então por detrás dessas palavras enquanto suas verdadeiras faces animalescas destroem e apodrecem a carne na escuridão onde a verdade não é revelada.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Estilhaços

Sentimento de impotência, incapacidade total... 

Sentimento de ser hoje mais inútil do que nunca...

Sentimento de ver um amigo querido caminhando rumo ao precipício sem poder evitar... E o pior de tudo é que eu mesmo o levei até o precipício, e nada posso fazer para evitar que ele tire a própria vida. 

Se eu fosse beber de uma garrafa com veneno você deixaria? Então por qual motivo me pede pra ficar sentado observando enquanto você amarra a corda que usará para se enforcar? 

Não posso ficar apenas vendo você destruir ainda mais sua vida depositando sua esperança numa falsa oferta de felicidade. Você está cego, cego pela dor e por isso segue qualquer sinal de luz que apareça em sua frente, mas acredite, você só se destruirá ainda mais, e me destruiria junto.

Mas isso não importa não é mesmo? Nada disso importa... Já se deixou encantar pelo charme do demônio que o rodeia. 

Só não quero ter de ver isso, nem de compactuar com tal abominação... Tudo o que desejo é te ver bem, mas não posso ordenar que abandone seus planos, só posso agora chorar por saber como isso vai acabar, com seu coração destroçado novamente, e eu tendo de remendar os seus estilhaços.

Não quero que sofra novamente, sem nem ter se recuperado totalmente... Não quero que sofra, mas é isso que vai acontecer não é? Sei como tudo isso vai acabar... 

Vão sair, você vai se apaixonar, e se entregar completamente, vai embarcar de cabeça, e vai ser assim até o dia que o sol se fechar novamente, e nesse dia você vai ver que na verdade estava segurando em suas mãos uma serpente, acreditando ser uma rosa perfumada... E então você vai novamente se entristecer, e vai ser como se seu coração fosse completamente destruído de novo, mas como você ainda não se recuperou, não vai sobrar nada para recuperar, nada! E é assim que tudo vai acabar... 

Tudo vai desmoronar, e tudo vai voltar ao nada!

Você vai desmoronar, e vai voltar ao nada!

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Pequena lição de Corpus Christi

Gostaria de começar minha reflexão com um ditado que os mais velhos sempre usam para nos convencer a não duvidar da sabedoria divina: "Deus nunca dá ponto sem nó!" Isso significa dizer que tudo que ele faz tem um propósito, uma razão de o ser. 

Por esse motivo não deveríamos nos lamuriar das tristezas e dificuldades da vida, pois elas nunca são sofrimento gratuito que nos é ofertado, mas sempre fazem parte de um objetivo maior, e quase nunca somos capazes de ver ou compreender as razões que Deus tem em seu coração para permitir nosso sofrimento.

É importante notar então como a pedagogia divina é infinitamente superior ao limitado entendimento do homem, que sempre encontra uma maneira de reduzir tudo ao seu eu. Deus nos ensina a todo momento, em pequenas e grandes lições, algumas dolorosas, outras quase imperceptíveis mas de igual importância. 

Infelizmente são poucas as vezes em que no atentamos aos valores que Deus quer nos ensinar, pois estamos ocupados demais olhando para o nosso interior. Nos esquecemos de ver Deus em sua criação e o buscamos apenas em nossas vontades, e nem sequer percebemos que estamos assim criando nosso próprio deus, ao invés de ir ao encontro do Deus verdadeiro.

A Liturgia é a "sala de aula" de Deus por excelência. É nela que ele diariamente nos ensina a mais valiosa das lições, que ele também nos legou em mandamento: "Amai-vos uns aos outros." 

O professor escreve a lição no quadro para que visualizando-a, os alunos a aprendam. Deus entrega-se a si mesmo no Santo Sacrifício do Altar diariamente, para que vendo façamos o mesmo: que nos entreguemos inteiramente a ele. 

Essa entrega é diária, como as infindáveis Missas celebradas por sobre a terra. E quando o homem se entrega ao próximo, servindo-o, como fez Jesus, ele dá o exemplo para que o outro também sirva seu próximo, e dessa forma, como uma grande corrente de amor, a lição que Deus tem para nós vai se espalhando pelo mundo. 

Tive essa pequena compreensão hoje, enquanto de joelhos no asfalto usava serragem para cobrir uma figura desenhada em tecido no chão. Tratava-se da preparação para a grande Solenidade de Corpus Christi, uma das minhas celebrações litúrgicas favoritas, por sua beleza e pela riqueza de significados.

É Deus que caminha com seu povo. Não é o povo que caminha em direção a um deus estático, que espera em seu trono para ser adorado, mas um Deus que vai ao encontro do seu povo e com ele percorrer todos os caminhos, sejam eles longos ou agrestes escarpados. Deus caminha com seu povo. Deus caminha conosco. 

Então ali, de joelhos, enquanto ria e sorria em meio a tintas, serragens e ovos picados eu percebi o que Deus queria de nós: que todos vivessem como um só. 

Quando vi a área separada para a confecção dos tapetes, me preocupei com o tamanho, mas tão logo começamos a já havíamos acabado, pois várias mãos fizeram em pouco tempo o que uma única pessoa demoraria uma noite para fazer. 

Pode parecer que a única lição aqui foi a do trabalho em equipe, também, mas não é apenas isso, a lição é a de viver em comunidade, assim como Deus se deu a nós, nós devemos nos dar uns aos outros, e assim estaremos fazendo sua vontade, seguindo seu exemplo.

"Ó Senhor como é bom ser teu povo, ser Igreja e viver como irmãos. Pelo amor que nos tens eu te louvo por te dares a nós este pão!" 
(Hinário Litúrgico da CNBB)

O que restou então?

Alguns momentos da vida fazem com que eu perca toda e qualquer vontade de viver, de existir. São esses momentos em que tudo dá errado, em que nada sai como planejado, e que não sei como lidar com as contradições da vida, pois parece que é só isso que a vida tem para mim:

Desilusão

Desamor

Desesperança

Decepção

Sei que meu discurso soa excessivamente vitimista e demasiado pessimista, mas o que posso fazer? O poeta canta sobre seus amores quando ama, o pintor coloca em tela as belas flores que viu ou imaginou. Tudo o que consigo fazer é escrever sobre o que há em meu coração, e isso é tudo o que existe em meu ser agora.

Desilusão

Desamor

Desesperança

Decepção

Não posso escrever sobre o que não vivi, nem consigo imaginar coisas tão distantes de mim como o amor ou a felicidade.

Pra dizer a verdade esses conceitos são nesse momento para mim abstratos demais até mesmo para conceituá-los. Tudo o que consigo conceber é que são palavras sem nenhum sentido para mim. Não os conheço, por isso não os sinto.

Alguns se entristecem por terem suas alegrias sido retiradas deles, como amores que se foram, mas eu não, nunca perdi nada disso pois nunca tive nada disso. Nunca perdi um amor pois nunca amei de verdade, nem fui amado de verdade.

A vida nunca me deu nada, portanto não pode tirar nada de mim, pois tudo o que há em mim são os resquícios de uma existência patética, desprezível e que apenas continua a existir, sem nenhum propósito ou razão para o ser.

Constantemente a vida me dá ilusões... E logo eu embarco nelas, a vida as tira de mim...

Sinto como se vivesse num plataforma ferroviária, passando meus dias a observar os trens indo e vindo carregado de pessoas, cada uma delas com seus sonhos e esperanças, mas nenhuma delas permanece ali, todas se vão. E ali, dia após dia, as pessoas vêm e vão. Os meus amores vêm e vão. As minhas esperanças vêm e vão. E eu? Eu fico ali, sozinho, observando, esperando alguém aparecer do outro lado da plataforma, mas eu sei que ninguém apareceria num lugar como esse...

Constantemente a vida me faz crer no amor, e tão rápido quanto um golpe de foice ela o tira de mim.

Constantemente a vida me dá esperança, de que as coisas podem ser boas, de que posso ser feliz, de que um dia posso ser amado... E então ela tira essa esperança de mim.

Constantemente ainda a vida me dá pessoas que me fazem crer em tudo isso, e logo elas me decepcionam. Tiram de dentro de mim o amor, a esperança... Tudo o que já não tinha, mas que as ilusões da vida me levaram a crer que tinha... E o que restou então? 

Desilusão

Desamor

Desesperança

Decepção.

terça-feira, 13 de junho de 2017

A lembrança do seu olhar

Você ficou bonito naquela foto... Destacou seu olhar marcante, e eu sempre digo o quanto seu olhar é belo, embora você não concorde comigo. 

Mas é verdade. Seu olhar é quente, não faz os outros viajarem, mas apenas nos prende nele fixamente. Isso é bom sabia? Dificilmente conseguem mentir para quem tem esse olhar, isso porque ele aprisiona também a verdade da alma.

Fiquei feliz em ver seu olhar na tela do meu celular. Mas também fiquei triste por lembrar que não mais verei esse olhar pessoalmente, e se o vir, ele não será voltado para mim. Recordo-me de quando olhava para mim, e seu olhar era doce, assustado. Eu sorria, pois gostava do que via, e sentia que podia olhar para você por muito tempo.

Seria um bom desejo sabe? Um objetivo de vida, olhar para sempre em seus olhos. Mas não tenho mais nenhum objetivo, por isso apenas me recordo do seu olhar.

Já diriam os orientais que "as lembranças são romantizadas, as memórias não!" E eu tenho comigo uma doce lembraça do seu olhar, que trazem a mente outras tantas lembraças, como seu toque, seu sorriso, seu medo, você...

Esse tempo passou, não adintar lembrar, nem recordar, são momentos que não se repetirão, e não digo isso com pesar, mas com alegria no coração. São apenas os breves devaneios de minha mente, que decidiu se lembrar. Se lembrar do seu olhar. 

Crueldade

Um pouco mais calmo hoje, mas não completamente... 

Durante uma batalha, existem aqueles breves momentos de silêncio entre um disparo de canhão de outro. Para os soldados exauridos da batalha eles podem ser um momento onde a faísca da esperança pode vir aos seus corações, mas estão errados, o silêncio não significa sua vitória, não significa que suas vidas estão salvas, significa apenas que há um breve silêncio antes de suas vidas serem despedaçadas pela pesada bola de fogo que vem do céu. 

Antes de a bola de canhão atingir o chão, ela produz um som alto no céu, como um silvo de prenúncio da morte que há de vir com sua queda. E isso é tudo o que pode vir com sua queda: morte! O silvo no céu é como a trombeta gloriosa que convoca os mortos ante o trono do Criador. É um convite a presença daquele que o criou, e que ali o convocou. 

Essa não é aquela calmaria antes da batalha. Aquela se caracteriza pela calma completa, pelo total desprendimento do horror, do medo, mas que no fundo se prenuncia uma nova batalha, uma nova guerra, uma nova morte. 

Quanto sofrimento uma pessoa precisa ter passado em vida para desejar a morte? Tolo, acredita que fugindo da vida fugiria de seus tormentos, mas entrega-se a tormentos ainda piores. 

No entanto isso é compreensível, o negar a dor é compreensível. Seria então tão ruim assim culpar aqueles que não querem mais sentir dor? 

O mundo nos dá dor, tudo o que o mundo nos oferece a dor, e até mesmo aquelas alegrias que temos são como os silvos dos canhões nas guerras: apenas momentos de silêncio e calmaria antes da morte que oblitera toda a existência.

Podemos então exigir do homem que sofre que deseje continuar a sofrer? Pedir que um homem que sofre continue a sofrer é prolongar sua morte, não é um ato de misericórdia, é crueldade.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Outros

Os últimos dias tem sido para mim um verdadeiro teste cardíaco. Minhas emoções estão afloradas como há muito eu já não via, e nem me recordava ser possível sentir tanta coisa e com tanta intensidade ao mesmo tempo... 

Além de numerosos os sentimentos vem e vão em diferentes frequências o tempo todo, se misturando entre si e trazendo a tona novos sentimentos que nem sequer lembrava que existia. Também tenho me surpreendido com algumas sensações novas, que por serem quase completamente estranhas me mostraram uma face de mim que eu mesmo desconhecia. 

Não sabia que era capaz de sentir ódio, ao menos não com tanta intensidade... 

Intensidade

Ta aí, se tem uma palavra capaz de me definir é essa! Tenho sentido tudo com muita intensidade, no nível máximo. Mas tudo o quê? Todos os sentimentos possíveis que uma pessoa poderia imaginar... 

Tudo tem me estressado, e todos parecem estar se esforçando pra ver o meu limite chegar... E olha, não falta muito... 

Parece que meus amigos resolveram fazer uma reunião pra tomar medidas que possam me tirar a paciência, francamente todo mundo ta trabalhando em prol de me irritar? 

Tanta conversa inútil, fútil... Gastam meu tempo com suas asneiras como se fosse obrigado a tolerar os desvarios alucinados de todos quanto se autointitulam meus amigos. E que grande porcaria tem se mostrado! Fico sozinho tentando resolver os meus problemas e ainda tenho de arranjar tempo pra resolver os de todos os outros, pois o mundo todo precisa que eu resolva seus perrengues com calma e tranquilidade, enquanto meu mundo desmorona e eu sou obliterado pelos meus próprios pensamentos.

A vontade que tenho é de desaparecer, mandar todos pra bem longe de mim e viajar na direção oposta.

Nada coopera. 

Ninguém coopera. 

Nada dá certo. 

Nada funciona. 

Eu não consigo fazer nada, pois estou ocupado demais com os problemas dos outros, ocupado demais me preocupando em agradar os outros, em fazer os outros não se matarem, em curar os outros, em não fazer os outros chorarem, em enxugar as lágrimas dos outros...

Os outros

Os outros

Os outros

Sempre os outros, nunca eu!

E eu? 

E quanto aos meus problemas? 

E quanto a minha vontade de morrer? 

E quanto as minhas lágrimas?

Essas não têm importância... 

Afinal, não faço parte dos outros...!

Enquanto isso fico aqui, sozinho no chão frio, no quarto escuro, enquanto tento resolver problemas que não são meus, e enquanto os meus próprios problemas crescem e me sufocam, me matam aos poucos..

E aqui sozinho eu grito, eu choro, eu soluço, mas ninguém vem ao meu encontro, ninguém se importa com os meus sentimentos que uivam raivosamente para mim e ameaçam cortar minha jugular com suas presas frias e fatais...

E aqui sozinho eu grito, eu choro, eu soluço, mas ninguém vem....

Ninguém vem...

Ninguém vem

Ninguém.

domingo, 11 de junho de 2017

Minha música

Hmm, a música... Aprendi nas primeiras lições das aulas de violino que se trata da "arte de expressar os afetos da alma mediante os sons." Alguns discordam dessa definição, que nem sei de quem é aliás, por considerarem-na demasiado simplória... Eu não, penso que ela consegue sim, sintetizar em poucas palavras, o que é a música, ao menos para mim.

Particularmente sempre tive uma íntima ligação com a música, bastante íntima mesmo. Desde muito pequeno eu chorava ouvindo rádio, ou pulava de alegria por horas cantando algum tema de abertura dos muitos desenhos que eu via... 

Desde pequeno também aprendi a não diferenciar estilos musicais. Não tinha preconceito, e tudo era capaz de me tocar. Com o tempo isso foi mudando, e chegou o tempo em que meu estilo musical se resumiu muito. Hoje percebo o quanto isso foi prejudicial, pois quanta coisa boa eu perdi por bobagem!

Atualmente eu busco viver com os horizontes sempre abertos, e busco não ter muito preconceito, sempre que posso. Admito que ainda enfrento fortes barreiras em ouvir determinadas coisas, como o nosso excessivamente apelativo sertanejo universitário, que parecer ser obrigatório nos cartões de memória de todos que tenham o mínimo de vida social. Não consigo, simplesmente tenho asco em ouvir quase todos os nomes da atualidade, excetuando um ou dois que não sejam tão absurdamente impostos as massas como os outros. 

Também tenho dificuldades em ouvir Rock. Sei que é apenas ignorância de minha parte mas só o fato de a palavra me remeter a fortes guitarras e baterias intermináveis ao lado de vocais ensurdecedores me faz ter calafrios. Tenho ciência que essas características se aplicam a apenas uma parcela de toda uma cultura do Rock, mas me conforta saber que o meio já possui um séquito bastante nutrido para precisar do meu ouvido também. 

Quanto ao Funk (o nacional) nem me atrevo a dizer que tenho vontade de conhecer. Estou muito bem, obrigado!

Me lembro com graça de anos atrás, quando torcia o nariz para estilos musicais que hoje figuram entre meus favoritos. Ah, se eu soubesse que um dia seria um amante tão inveterado da musica erudita, pensaria muitas vezes antes de dizer que não tinha paciência para as orquestras. 

Mas também percebo que minha vida musical pode ser assim chamada pois também passou por um processo de amadurecimento, um crescimento por teve de ser nutrida pacientemente até chegar ao seu estágio atual, que não é nem de longe o final.

Gosto de notar que sempre tive apego a música internacional. Talvez movido por um preconceito forte em mim de que tudo que é estrangeiro é melhor, e admito que ainda não o quebrei totalmente. Pouco daquilo que consumo é de fato brasileiro, ainda que a cultura brasileira em si seja toda derivada do estrangeiro, logo penso que valorizar nossa cultura seja valorizar também o estrangeiro, afinal é nossa primeira fonte. Claro que acredito existir ai uma diferença entre valorizar nossa cultura, que é derivada do estrangeiro, e valorizar nossa produção, mas isso talvez seja assunto para um artigo e não para um blog. 

De qualquer forma, ainda me agrada pensar na música como uma forma de expressar o que se passa na alma. Como já disse muitas outras vezes, a alma é como um largo rio, de águas revoltas ou límpidas, e que pode ser acessada de várias formas, e algumas dessas formas permitem ainda a expressão dessa correnteza aqui no plano exterior. Assim seriam as artes, que trariam para fora, de diversas formas, o que se passa na alma. Seja ela a música, a poesia, a arquitetura... Tudo exprime no exterior o que se passa no interior, e como isso é belo!

Por esse motivo, quando penso em música, penso em muitos aspectos da alma, e percebo o quanto ela pode ser rica e grandiosa. Infinitas são as possibilidades que a alma nos dá para se expressar. 

Cada música que escuto me diz isso. Cada acorde, cada compasso... Tudo aponta para um mundo infinitamente maior e mais belo do que esse, um mundo de ideias perfeitas, e a música, são para mim a mais perfeita manifestação das ideias perfeitas, ao passo que as outras artes não conseguem se aprofundar tanto quanto ela... 

Sei bem disso pois uso a letra para me expressar, não a música, e sei o quanto esse meio é limitado. Quantas e quantas vezes fiquei sem palavras mesmo tendo muito a dizer? Com a música não, para ela não há limites, exceto o conhecimento daquele que a invoca, e grandes obras me mostram pessoas que conseguiram abarcar quase a totalidade de suas almas em suas músicas.

Como não pensar, por exemplo, no Concerto para Piano N° 2 do Rachmaninoff? Quem ousaria contestar que trata-se de uma obra de profunda sensibilidade, capaz de dobrar os corações mais duros a tristeza, a melancolia e a alegria do coração de seu criador ao se recuperar de uma grande dor? 

Sempre depois de acordar, enquanto me arrumo para sair, gosto de ouvir Come Sweet Death, da trilha sonora de The End of Evangelion, uma de minhas obras favoritas, e acho bastante agradável passar a manhã cantarolando "It all returns, to nothing..."

Outros dias acordo um pouco mais animado, e nesses momentos escolho músicas como Because of You do After School, The Eye do INFINITE ou History Maker do Dean Fujioka... Todas me trazem uma delicada sensação de alegria, e me dão certa coragem para viver o dia assim. Quando se passa tantos dias tão difíceis e mentalmente exaustivos quanto eu, isso significa muito mesmo...

Da mesma forma como me ocorreu com a música clássica, o Jazz me conquistou quando menos esperava. Se considerava o clássico chato e cansativo, o Jazz era apenas um ser graça que queria ser sem graça e cansativo. Hoje os mais de 50 CDs em meu HD dizem o contrário!

Os ritmos que pouco agradam o grande público sempre tiveram minha atenção, e esse mundo do desconhecido me encantou e me encanta até hoje. Acredito que isso seja suficiente para explicar as centenas de pastas de músicas coreanas, japonesas, chinesas e tailandesas da minha biblioteca, todas elas tendo entre si alguns dos meus nome favoritos...

Claro que isso faz de mim um estranho, e não é sinônimo de ser politizado. Por exemplo, mesmo gostando muito do cenário musical independente, tudo o que conheço são os nomes que um antigo namorado me deu, o mesmo vale para a MPB, e isso eu ainda pretendo mudar... 

Mas se tem algo que a música me ensinou foi justamente a compreender o quão grande é o mundo, e as pessoas que nele habitam, sem ter de sair do meu quarto.

Poderia citar exemplos a noite inteira, mas os remédios que tomei para dormir começam a fazer efeito, e preciso desse sono.

Me retiro com a reflexão de que a música, mesmo sendo ouvida pelas massas, produz em cada um uma experiência particular, e isso é o mais fantásticos, pois ainda sendo ilimitada a fonte de produção musical, a alma, também o é a sua interpretação.