quarta-feira, 28 de junho de 2017

Na multidão

O Destino parece realmente querer me desafiar a te esquecer, e hoje foi prova disso. Dias depois de minha decisão de me afastar de você eu percebo que falar é mais fácil do que fazer... Mas o que eu esperava? Ir dormir e amanhecer sem pensar em você? 

Tentei ocultar minha presença, esconder-me em meio a multidão, mas foi em vão, pois pela primeira vez eu vi seus olhos encontrarem os meus quando minha voz se projetou no sistema de som da igreja. Logo desviei o olhar, afinal a lembrança daquele dia ainda enrijece a minha espinha e me faz ter vontade de chorar, até expurgar do meu corpo a lembrança do seu olhar gélido.

Tentei em vão me ocultar longe de você no meio das pessoas, mas a sua figura ainda se erguia imponente, branca e majestosa em meio a multidão. Um idílio, um deleite para os olhos mas, como a arvore do bem e do mal se erguia no meio do Éden, você também guarda consigo uma maldição. Ainda desejo provar do fruto proibido, e meu corpo grita em desespero por isso, mas meu coração teme a maldição, pois não crê que seja ele capaz de mudar você. 

Eu estava no meio daquela multidão, e me sentia sozinho. Mas você estava ali também, e isso fazia eu me sentir mais sozinho ainda. Só estávamos separados por alguns poucos bancos, e no entanto eu senti que nunca poderia sequer me aproximar de você. Tão perto e ao mesmo tempo tão distante. 

Para mudar o seu coração eu precisaria de uma espada de fogo, algo que pudesse degelar o seu olhar, como as chamas do meu coração. Mas no meu estado atual tudo o que conseguiria seria extinguir as chamas com as minhas próprias lágrimas. 

Não estou dizendo que em seu coração não existem chamas, e nem que seu olhar é sempre assustador, aliás poucas coisas nesse mundo são tão belas quanto seus olhos, mas o olhar daquele dia foi capaz de tocar a alma, e não de uma forma boa. Em seu coração pulsam labaredas grandiosas, mas não são para mim. Apenas aqueles que gozam da sorte de poder fitar seu coração é que podem vê-las... A mim só é dado imaginar o quão belo pode ser o seu interior, bem como o quão assustador pode ser também.

Não adiantou me esconder no meio da multidão, a sua figura é especial demais para que seja ofuscada por uma multidão qualquer. Imagino se os anjos do céu conseguiriam ofuscar-te aos meus olhos e acredito que não. Devo tentar então não esquecer, mas aprender a conviver com o sentimento que tenho por você, e a conviver com a dor que é não ser correspondido. Pensando por esse lado não deve ser tão difícil assim, afinal o que são mais alguns anos para alguém que viveu a vida toda tentando se acostumar com a dor?

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