quarta-feira, 21 de junho de 2017

Traição

Constantemente preciso do chamado "tempo para mim mesmo"... Geralmente quando me acontece algo que me chateia, e que por esse motivo me faz vestir um manto reflexivo, que na verdade nada mais é do que uma desculpa para que eu possa lamber minhas próprias feridas.

Essencialmente sensível, quase tudo me afeta com uma força que não seria saudável para nenhum ser humano normal, mas nem de longe me vejo como um ser humano normal, mas provavelmente sou tão suscetível a ataque quanto um, ou até mesmo mais, já que essa sensibilidade latente me torna mais exposto do que aqueles que se protegem.

Eu sempre me exponho a situações de perigo, não físico, mas principalmente perigo mental ao abrir meus sentimentos e pensamentos aos outros com facilidade, ficando portanto suscetível aos pensamentos e comentários de todos, sendo que esse conjunto dos que me cercam dificilmente compartilham da sensibilidade que tenho, ficando eu portanto taxado com adjetivos como dramático, exagerado, e toda sorte de sinônimos que no atual momento não me dou ao trabalho de pensar. 

Não nego tais adjetivos, muito embora a atual conjuntura me machuque muito já que os mesmos vieram de onde menos esperava. Dizem que a traição dói por vim de quem menos se espera, bem como a decepção advinda da mesma. Pois bem, como alguém excessivamente infectado por um romantismo estranho a época em que vivo seria de estranhar se não tratasse da traição, seria de se estranhar se não fosse traído e humilhado por aqueles que mais amo. 

Pois bem, experimentei na pele o fogo abrasador da decepção, do confiar e ser traído, de ter confiado a tal pessoa um local especial nos altares do meu coração, sendo eu usado como oblação nesse mesmo altar, oferecido ao demônio como libação pelos meus pecados de ter confiado no homem que me apunhalou por trás.

De fato o que vem de frente podemos evitar, recuar, ou ainda que sejamos atingidos podemos ainda tentar revidar, mas o que marca a traição, a decepção, mais do que a dor do golpe, é o fato de quem golpeia. O que mais a torna terrível é o fato de que não raramente nos expomos aqueles que querem nosso mal, e mais do que expor nossas costas, em sinal de confiança, é que expomos nossos sentimentos, e pior do que ter as costas feridas é ter o coração estilhaçado por alguém que acreditávamos que iria nos fazer bem...

Oh, então damos as costas para aqueles que acreditamos iria proteger nossa retaguarda, mas logo sentimos o golpe certeiro do punhal que pelas costas atravessa nosso coração. Ai cair, deixando morta ao nosso lado a espada e o escudo, levantamos o olhar com a pouca força que nos resta, já sendo esta sugada pela morte que se aproxima como o sangue que jorra de nossas feridas. Fitamos então o olhar do assassino, que veste a armadura do cavaleiro que um dia acreditamos que iria nos conduzir a vitória, e que pensamos ser merecedor de todo nosso reino.

No chão então nossas forças se vão, e tudo o que conseguimos ver antes de ter a face coberta pelo manto enevoado da morte é o sorriso macabro do traidor, que impiedosamente apunhalou aquele a quem um dia lhe jurou fidelidade eterna...

Mas o que eu espero ao voltar-me para dentro de mim mesmo e pensar na traição que me ocorreu? Não sei que conclusão eu busco, ou se talvez busco amenizar a dor que agora me esmaga, mas sei que não sou capaz de sair de dentro de mim mesmo agora para encarar de frente os que me traíram e tramaram para me matar... 

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