quinta-feira, 1 de junho de 2017

Castigo

Tem algo de muito errado comigo hoje. Não sei ao certo precisar de onde me vem essa inquietação, mas é certo que não me sinto bem, tampouco normal.

Em meu coração há uma névoa sombria, que aos poucos se estende sobre os domínios de minha mente, e sei que quando chegar em seu apogeu, me transformará em seu prisioneiro.

Creio que trata-se do presságio de morte ao qual já estou habituado, e ao qual não há como fugir. Não seria a primeira vez que tal névoa se aproxima e domina o meu coração. 

Sinto-me tonto, fraco, como se a qualquer momento fosse ser abatido pelas mãos frias de um carrasco e sua lâmina afiada como corte de alma. Sinto como se minha força fosse drenada não sei por onde e deixado apenas a casca de meu corpo semi-morto por sobre o chão. Sinto que estou aos poucos entrando no reino da morte, essa velha amiga que há tanto anuncia sua chegada. Já posso ouvir a tuba gloriosa convocando a todos, como no dia da ira, aquele dia, onde tudo se transformará em cinza fria. 

Mas também sinto que o momento não é este, ainda, é certo que ele se aproxima, mas não hoje, pois algo me diz que ainda tenho sofrimentos a superar e cruzes a carregar. Então qual seria a razão para tal presságio tão forte? Não tenho a sensibilidade para predizer o sofrimento alheio, e sempre muito fechado em mim mesmo, não creio que se trate de outro senão eu mesmo a quem deverá ser infligido um pesado castigo. 

Um castigo que me arrancará a pele dos ossos, e deixará o resto de minha carne como que brasa acesa. Um castigo que será pior do que todo sofrimento pelo qual já passei nessa vida. Será ele passível de algum aprendizado? Ou será apenas o castigo merecido pelos meus desvarios? Nunca sofri castigos que não merecesse. Nenhum peso me foi dado que não me fosse merecido e destinado. Não creio em desgraças gratuitas, ao menos não para mim, sendo alguém que vive preso a lei do eterno retorno. 

Por muito tempo acreditei que vivesse sob a lei da troca equivalente, mas percebi que não há troca equivalente, ao menos não da forma que esperava, pois acreditava que iria receber da vida tudo aquilo que a ela entregava, mas logo aprendi que na verdade recebi apenas em quantidade igual, o sofrimento correspondente ao amor que amei. 

Que será de mim agora? Que posso fazer eu senão sentar e esperar pela onda de impacto que se anuncia na bruma sombria da minha consciência? 

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