quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Desesperança

Ah como são complexas as questões do coração... Hoje mesmo tiver contato com uma breve reflexão de (ou sobre) a Beata Teresa de Calcutá (em breve Santa Teresa) onde dizia que, mesmo nas maiores dificuldades, devemos continuar a amar. Não importa então as dificuldades, nem as ingratidões que podemos receber em troca, enfim, não importa nada do que aconteça, devemos continuar a amar pois o amor é o único capaz de superar a tudo e a todos os obstáculos.

Particularmente, eu sempre vivi como quem acredita incondicionalmente no amor e no seu potencial para superar barreiras. Gosto muito também do belo discurso que nos diz que mesmo na tristeza, o amor é capaz de trazer a felicidade. E sim, por muito tempo eu mesmo perpetuei esse discurso. Acontece que, infelizmente eu estou tão desiludido com essa realidade que não posso mais afirmar acreditar nesse poder do amor, e justo eu que sempre vivi isso de forma tão intensa... Aparentemente tantos espinhos no meu coração fizeram com que eu me afastasse das rosas, por medo de voltar a me machucar.

Eu bem sei que um jardim sem rosas, por mais que tenha belas flores, está incompleto, pois a rosa é como a rainha de todas as flores, a de maior beleza e de significado mais profundo. E é com extrema tristeza que digo ter chegado ao ponto de ter arrancado todas as flores do jardim do meu coração, para que nunca mais volte a me machucar em seus espinhos. 

A história que hoje brota de mim, escrita com letras de sangue em suas pétalas negras, é justamente a de um homem que perdeu a esperança que tinha no amor. De um homem que se esvaziou completamente e agora, no vazio se angustia profundamente. 

Sua triste jornada começa num dia claro, quando permitiu que seu coração se entregasse a um belo jovem de cabelos negros e pele clara que ele via trabalhar. A visão daquele rapaz lhe encantou a alma e os olhos e ele se entregou completamente aquela paixão. Ficou a contemplar aquela cena pintada pelas mãos do mais romântico dos artistas. Observava sua respiração firme, seus braços fortes brilhando de suor e seu cabelo negro contrastando com a luz clara do sol numa harmonia perfeita. Mesmo sabendo ser um grande erro, nosso herói não ouviu a voz da razão que lhe advertia para fugir dalí, se entregou completamente, e não muito tempo depois, já não conseguia viver sem aquele homem em sua vida. Mas essa não é uma história de seu amor, apenas, é principalmente a história de sua desilusão, de sua desesperança nesse amor.

Nunca conseguiu dizer o que sentia. Toda vez que se decidira por confessar a ele seu amor, acabava por acovardar-se e acabava guardando tudo o que sentia para si. Foi assim por um longo tempo até que um certo dia, seu amado conhecera uma jovem moça, e por ela se apaixoara perdidamente. Nosso tolo enamorado, agora de coração partido, teve de assistir a cena de seu grande amor indo embora para fora de seu alcance. Pior do que se o jovem de cabelos negros tivesse ido embora realmente foi o fato de que ele permanceu ali, e todos os dias ele era obrigado a ver seu amado andar com sua esposa pelas calçadas e campos onde um dia ele sonhara dividir com seu amor. 

Ele então se entregou mais uma vez aos sentimentos que nasciam em seu coração, e como um jardim que responde aos cuidados de quem o cuida, esses sentimentos foram crescendo conforme sua dor ia alimentando-os. Da decepção surgiu o rancor, que deu lugar ao ódio e que, por sua vez, deu origem a desesperança, esse sentimento frio, pequeno e cinza que não faz mais do que apenas estancar o fluxo de vida que corre pelo coração. Deitado então num chão frio, já ébrio de dor e morte, nosso herói recebe a visita dessa pequena irmã da morte: a desesperança! Ela se apresenta como uma garota pequena e pálida, de cabelos cor de palha cobertos por um capuz cinza feio e sem vida. 

Sem vida. 

É assim que ele agora se sente, e sendo tomado pela mão da pequena desesperança, ele passa a caminhar sem rumo, apenas a desejar a própria morte e a invejar os corações apaixonados que ardem em chama viva de amor, enquanto seu íntimo padece como que num bloco de gelo que apenas é capaz de queimar devido a força de sua frieza.

Olhando ao mundo a seu redor ele pode contemplar a beleza da criação. As matas claras, as cores do céu e das aves, a alegria das crianças. Mas ele mesmo se tornou um ponto triste em meio a uma pintura alegre. Uma rosa negra em meio a um belo jardim de todas as cores. Aquela única nuvem de chuva que acaba por entristecer um grande dia de sol. A desesperança o conduz por esses caminhos apenas para lhe mostrar a felicidade que ele nunca será capaz de alcançar. 

Com certa ira e uma boa dose de ganância ele novamente é levado a ver seu amado feliz com sua mulher. O perdera completamente para ela e tudo que lhe restou foi o rancor que ele sente por ter permitido nascer dentro de seu coração sentimento tão destrutivo. Num ataque de pânico ele tenta fugir, correr dalí para o lugar mais longe possível, quem sabe lançar-se de algum desfiladeiro com o objetivo de fazer parar todo aquele sofrimento. Mas a desesperança não permite. Aquela pequena criança que o segura pela mão tem o peso e a força de um touro e por mais que tente tudo o que consegue é machucar o proprio punho, na tentativa de escapar daquelas mãozinhas de aço. Depois de muito insitir e perceber o quanto é inútil tentar se livrar daquele sentimento, ele se dá conta de que aquele é na verdade o seu destino. Observar a felicidade de seu amado com uma mulher, a mais obscena das criações.  Então ali, sentado de frente a casa do homem que ele um dia amou, vendo sua felicidade por entre as portas e janelas, ele sente o último traço desse amor fluir de dentro de seu coração como uma lágrima que, escorrendo por seu rosto e caindo no chão, perdendo-se na areia, liberou todo o espaço que ainda restava em sua alma. Esse espaço será agora preenchido com mais desesperança.

A criança que antes segurava sua mão, não existe mais ali fora, pois agora vive em seu coração. Tomado pela tristeza e pelo rancor, pelo desejo de vingança por aquela desprezível mulher. Pela dor e amargura de ter sido obrigado a assitir aquela felicidade. A desesperança que antes o mantia firme ali fizera questão de gravar fundo em seu coração aquela imagem para que, mesmo correndo para o mais longe possível, ele ainda fosse obrigado a contemplar aquela cena. 

Correndo como um louco desesperado, sem saber mais para onde deve ir para desaparecer com aquela dor, ele pára de frente a um grande desfiladeiro. Não sabe como chegara ali e nem como faz para voltar. É esse o desejo da desesperança, plantar em seu coração a semente do desespero que lhe tirará a razão. Ele sente nascer dentro de si agora uma macabra vontade, a de tirar-lhe a própria vida. E eis que o veneno da desesperança começa a fazer efeito, ora, já que ele se encontra no lugar ideal e seu coração já nem suporta mais tanta dor assim, o que o impede de então acabar com a própria vida?

Com um sentimento de realização então, surge atrás dele a morte. Jovem, alta, com a mesma expressão da mulher que roubara dele seu grande amor, e ela será a responsável por conduzir sua alma até o inferno, onde ele será obrigado a rever aquela cena da casa por toda a eternidade, como castigo por ter tirado a própria vida. 

E ele então se entrega a essa armadilha do destino, caminhando em direção a própria morte. Naquele momento, seu amado, muito distante dalí, sente algo apertar em seu peito, como se algo muito importante fosse tirado dele, mas que ele não sabe o que é. A desesperança ressurge a contemplar o corpo já sem vida de nosso pobre apaixonado e, num movimento macabo revela-se ser na verdade o próprio destino, em mais uma de suas aventuras em busca do prazer que ele sente em ver o desespero do coração do homem. 

Ao lado da casa de seu amado, ele plantara um jardim onde, por algum motivo, nenhuma planta conseguia florescer. Todas cresciam, mas nenhuma dava flor, exceto uma roseira, que cresceu bem no centro e que, ano após ano, dava apenas uma única rosa negra. Essa rosa, era a alma de nosso jovem apaixonado, eternamente condenado a viver do lado da felicidade de seu amado, sem nunca poder participar daquela felicidade. 

Mas também, como que num ato gentil do destino, se é que ele é capaz de uma coisa dessas, depois de ter sido transformado em rosa, nosso herói passou a receber o carinho e o amor do seu amado, que cuidava daquela rosa, mesmo sendo negra, como cuidava de sua própria família, pois por ela sentia um sentimento especial que ele mesmo nunca conseguira esplicar. E esse é o fim de nosso herói, que de certa forma conseguiu o carinho do seu amado, mas ao custo de sua vida e de sua alma. Ele aproveitava então os longos minutos que o homem de cabelos negros passava a contemplar suas pétalas negras, mesmo a contragosto de sua esposa que mais de uma vez pediu que ele arrancasse dalí aquela roseira estranha. Mas todos os dias, embora contemplasse a beleza incomum da rosa, o homem sempre retornava a sua casa, para os braços de sua amada, e a rosa, coitada, era novamente possuida pelo desejo de morte que lhe tirou a vida quando ainda era um homem, mas agora, alí, parada como uma planta, nada poderia fazer, senão suportar a dor e a tristeza, por toda a eternidade. É a repetição de toda a sua vida, dia após dia, tendo seu amado só pra si, mas novamente o perdendo para a bruxa.

E assim, tem sido a eternidade dessa pequena e triste rosa negra. Cuja beleza esconde uma dor e uma solidão incomparáveis de um homem que um dia, acreditou no amor.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Águas

Nosso interior é exatamente como a água. Em certos momentos, estamos calmos e serenos, sem sinais de ondulações e nem de perturbações. Em outros, estamos inquietos e a correr sem parar... Em outros ainda, estamos impetuosos e a destruir tudo o que se encontra a nossa frente. 

Acontece que somos também mutáveis como a água: podemos ser maleáveis como seu estado líquido ou frios como sua forma sólida. Podemos ser quentes e acolhedores mas também podemos queimar e machucar. A água que usamos para fazer o chá que acalma a dor é a mesma que destilamos para usar no veneno. A diferença está no uso que se faz dela, assim como a diferença está no uso que fazemos de nosso próprio coração. 

Infelizmente, a maior parte do tempo, somos como a água revolta que não tem destino certo. Como a agitação de um rio que rompendo suas barragens apenas destrói tudo por onde quer que passe. Já parou pra pensar o quanto de destruição cada um de nós consegue empreender no mundo? Talvez isso se dê porque nos preocupamos só em notar a água quando ela faz barulho e traz o caos, mas sempre a esquecemos quando ela se encontra calma e serena numa poça. E a verdade é que se trata da mesma coisa. Igualmente nós, passamos despercebidos a todos e então, quando se rompem nossas barragens, sofremos o julgamento pela destruição. 

A maioria de nós é como que uma folha seca a voar pelo vento. Sequer é notado pelo mundo que nos cerca, tão ocupado em resolver os grandes problemas que acaba por se cegar aos pequenos e frágeis. Não digo isso apontando para os outros, mas o digo ao refletir sobre minhas próprias atitudes. Costumo critica quem apenas trata bem aqueles que podem trazer-lhe algum tipo de benefício mas esqueço que, na maioria das vezes, costumo agir da mesma forma. Meu egoísmo acaba por falar mais alto quando prefiro dar atenção apenas aquela pessoa especial pois tenho algum tipo de interesse nela do que me dedicar aquele amigo que passa por dificuldades e precisa de meu tempo para lhe ajudar. Selecionamos aqueles que merecem o nosso melhor e aos outros, damos apenas o resto que nos sobra. Assim, ao ignorar essas águas calmas, posso estar também ignorando o movimento que vem crescendo no seu interior, e ai, quando ela irromper em suas ondas grandiosas sobre mim, direi que fui injustiçado. Como as famílias que insistem em construir na beira dos rios, desmatando e destruindo, e quando tem suas casas destruidas pelas cheias, reclamam do destino que os puniu. Infelizmente, embora isso não se aplique a todos os casos, a maioria das coisas ruins que nos acontecem são apenas reflexos de nossas próprias atitudes. Sim, há muitas exceções, eu as reconheço, mas ainda assim, se observarmos de perto, grande parte de nossa realidade de hoje é reflexo das decisões que tomamos ontem.

Por exemplo, se hoje estou confuso e sem rumo, buscando respostas para perguntas que ainda nem consegui distinguir quais são, é porque um dia resolvi abandonar as verdades que tinha em busca de verdades que me pareciam mais agradáveis. Não pude suportar o peso das escolhas que fiz, abandonei-as e sequer me dei conta de que, abandoná-las era tomar uma nova decisão e que na verdade, estava apenas por trocar um fardo por outro. O sofrimento por mais sofrimento. O machado dourado pelo martelo prateado. 

Agora, cabe a mim resistir as intempéries do meu pecado e suportar o peso que escolhi pra mim. Posso desistir ou persistir. E confesso que não são raras as vezes em que tenho vontade de largar tudo pro alto e entregar a vida nas mãos do destino, mas penso que isso seria um desrespeito com todo o esforço que já empreendi. Acontece que as águas de dentro de mim estão inquietas. Buscam um lugar para se expandir e assim, fazem muito barulho, destruindo barreiras e obstáculos, na procura de um local onde possam repousar tranquilamente uma vez mais. Essa confusão interior é notada no exterior justamente por conta desses barulhos. Quando as coisas que gostava já não me agradam mais e os sonhos que tinha, hoje são apenas lembranças vazias e esfumaçadas de uma realidade distante que já não existe mais. E sim, ser obrigado a olhar pra frente e seguir, mesmo que a contragosto, é doloroso, mas necessário, pois a vida continua. 

Um grande leque de possibilidades se abre então a minha frente, e talvez seja justamente por isso que acabo ficando tão confuso, por conta do grande número de portas que posso escolher atravessar, sabendo que, cada uma delas pode me levar a um destino diferente. Estas podem ser a porta da felicidade ou da minha própria condenação, mas não me é dado o poder de saber qual é qual, apenas a possibilidade de escolher. 

Escolhas, decisões, possibilidades. 

Eis as dúvidas que surgem a frente daqueles que transitam da juventude para a vida adulta. Penso que seja natural passar por isso, pois não é difcíl notar que muitos a minha volta se encontram no mesmo estado, mas eu não conseguia imaginar que seria assim tão complicado, tão assustador, ter um horizonte tão grande a minha frente e assim ficar paralisado, sem conseguir dar um passo sequer. 

Mas de uma forma ou de outra esse passo precisa ser dado, pois o mundo não vai esperar o meu medo passar pra que eu consiga fazer isso. Penso então se talvez essa não seja a grande jornada de todos nós, ter de mergulhar de cabeça nos mistérios de uma vida que não sabemos onde irá nos levar. Talvez todas as pessoas do mundo tenham de tomar decisões como essa um dia. Algumas são felizes, outras nem tanto, mas nenhum delas se encontra parada, afastada do mundo, todas estão em constante movimento, como a água, sempre correndo em busca de águas maiores onde possa se jogar. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A seguir seus passos

Hoje me deparei com uma coisa incrivelmente bela e assustadora ao mesmo tempo: o seu sorriso! 

Foi belo pois já não me lembrava de ter visto algo tão lindo e nem tão hipnotizante quanto sua felicidade. Cada pequeno detalhe do seu rosto era como a mais belas das paisagens... Seus olhos, de uma profundidade única, me deixaram sem fôlego, e a cor deles me fez imaginar uma galáxia gigantesca, repleta de milhares de estrelas, por onde viajei sem destino, apenas me permitindo perder-me em meio a suas luzes... seu sorriso, posso dizer que me arrepiou dos pés a cabeça, pois era de uma sinceridade e vitalidade contagiantes. As linhas perfeitamente dispostas a criar uma harmonia máxima. Cada pequeno detalhe contribui para o conjunto da obra que artista nenhum no mundo ousaria plasmar. Um rosto que faria os maiores pintores do mundo entrarem em pânico por não conseguirem reproduzir em totalidade a sua perfeição. Schumann ou Chopin jamais imaginariam compor algo que pudesse descrever os sentimentos que sinto ao te ver. Mesmo soando meio piegas dizer isso, não exito em falar como poderia ficar horas e horas olhando para aquela pintura dos deuses... aquele retrato do mais belo de todos os homens. Um homem cuja beleza desperta a inveja de Narciso e de Apolo, detentores de uma beleza divina que sequer pode ser comparada a sua. Uma beleza que nem as maiores glórias desse mundo poderiam tentar igualar. Algo que só poderia ter sido entalhado pessoalmente pelas mãos de Deus e que só encontra rival no próprio conjunto da criação divina.

Mas essa beleza não me trouxe apenas deleite por suas caracteristicas inexprimivelmente únicas. Também me trouxe pavor. Pavor pois, ao observar atentamente aquele quadro pintando pelas próprias Ninfas do Amor, eu vi que seus olhos mostravam a galáxia que existe dentro de você. E eu pude ver que não estava dentro dela. Seu futuro, seu amor, o seu mundo, não existe um eu incluso em nenhum deles. E a força dessa conclusão produziu em mim duas reações: a primeira delas, instintiva, foi a de gritar. Quis gritar desesperadamente, até que minha voz pudesse se fazer ouvida por você. Queria me fazer notar, me fazer ouvir. Queria que se desse conta de minha existência e que eu não mais fosse pra você apenas um estranho, alguém que sim, já teve de ti o seu lado mais íntimo, mas que hoje não passa de mais um garoto qualquer. Alguém que passou. Como uma pétala de rosa que, depois de voar por muito tempo e tocar delicamente a superfície da água de um rio, volta a voar, deixando para trás apenas as leves ondas do local onde tocou, mas que logo se aquietaram novamente suas águas, como se nunca tivesse estado alí...

Esse breve toque da pétala na água, assim como o breve toque de nossos corações, esse breve momento, foi a realização de toda a existência. As maiores coisas do mundo aconteceram tambem num centésimo de segundo e nem por isso deixaram ser as maiores coisas. Até mesmo o próprio mundo foi feito no exato instante do "faça-se" de Deus. A criação foi apenas aquele breve momento entre o nada e a totalidade da existência. E já desde esse tempo, quando ainda não havia tempo, Deus havia pensado em você como uma entre as maiores de suas obras, mas ele não me incluiu em seus planos. Por esse motivo, só posso admirar-te de longe, distante, sem que notes minha presença, minha exstência. Existência essa que só encontra sua mais alta realização ao olhar-te e a fitar sua idílica imagem estampada em meu coração. Observar-te me fez querer te tocar e isso me recordou do seu toque. Da sua pele macia, do seu cheiro doce e do seu abraço apertado. Não acho que me lembre de verdade do seu abraço, mas imagino como o seja. 

Essa é então a declaração de alguém que continuará distante, de alguém que não pode desejar mais do que a sua felicidade e que continuará a contemplar a beleza do seu sorriso, que repetindo, na minha opinião, foi a coisa mais bela que Deus ousou criar. É a declaração de alguém cuja existência não faz diferença, que existe apenas como observador nesse mundo, e que provavelmente nasceu apenas para lhe admirar. Pensar dessa forma não é um meio de me diminuir, de forma alguma, apenas penso que se assim fosse, morreria feliz pois, se nasci para te admirar, é porque desde a eternidade Deus sabia que sua criação merecia ser admirada. Assim como Romeu nasceu apenas para amar Julieta e que Kaworu nasceu apenas para conhecer Shinji Ikari, eu nasci para admirar a você. O breve momento que nos cruzamos, e a peqena amizade que dalí surgiu nada mais foi do que um mero acaso, uma pequena brincadeira do destino, que pensou ser interessante marcar em minh'alma o desejo de ser possuído por você. Mas passou, e acredito que minha missão não seja mais ter ou ser possuído, mas apenas adimirar-te. Assim como a música foi feita para ser ouvida e as telas para serem contempladas, seu rosto também foi feito para ser admirado.

Me pergunto agora se somente eu o enxergo dessa forma pois, a sua imagem parece passar despercebida pelo resto do mundo. Talvez sua beleza só possa ser notada pelos meus olhos e o mundo, pobrezinho, fora privado de poder contemplar a ti. Por isso me sinto agraciado, contente e realizado, pois ao olhar-te posso ter em mim a realização de minha existência. Já não mais anseio abarcar a totalidade da existência, pois a sinto realizada em mim. Nada mais posso ousar realizar e nem desejar. Não é necesário. A obra está concluída.

Você segue sua vida. Sempre caminhando, forte e vigoroso, a passos largos. Eu, te acompanho a distância. Andando lenta e vagarosamente atrás, apenas observando suas costas e os passos que deixa na areia. Até mesmo a visão deles me lembra que ali, se deu por um momento a mais alta realização daquele lugar, ao saber que ali você pisou, e penso que a terra se sinta agradecida por essa oportunidade, de um dia ter sustentado o chão por onde você firmaria seus passos. Ah, nunca pensei um dia que viria a sentir inveja do chão em que você pisa... mas ao menos o chão é notado por você, em algum dado momento, e é ali que sinto o veneno que o destino injetou em mim com aquele encontro de anos atrás, pois esse sentimento é uma deturpação da criação original. Fui criado pra te admirar, não pra te tocar, mas esse sentido primeiro foi seduzido pela ilusão de um dia ser seu e de ter você pra mim. Essa ilusão causou uma mácula, e essa mancha é a que agora envergonha minha nobre missão de admira-te.

Mas a vida continua. E o mundo que num piscar de olhos da criação veio a existir, continua existindo. E continuamos a vida. Você a cumprir a sua missão e eu a minha. Você a caminhar e eu a te admirar, discreta e imperceptivelmente, atrás de você, a seguir seus passos. 

domingo, 28 de agosto de 2016

Boa noite

E nesta noite eu tentei dizer a verdade sobre os meus sentimentos pra você, só que mais uma vez eu não consegui... provavelmente só irei fazê-lo quando já for tarde demais e quando já não for mais possível te alcançar. Então, da mesma forma que a areia da praia cai por entre os dedos e volta ao chão, você também se esvai de meus braços, retornando para longe de mim...

Triste notar o quanto podemos nos apegar a pessoas que nada tem a nos ofercer exceto um grandioso potencial destrutivo, que acaba por despertar nossas inclinações masoquistas na busca por um prazer desenfreado e desequilibrado no sofrimento. Digo isto pois, ao mergulhar de cabeça e permitir a existência de um sentimento tão poderoso por alguém tão distante nada mais é do uma assinatura da própria condenação. Como se algum louco ousasse amarrar a si mesmo e entregar-se a pena de morte. É em momentos como esse que me sinto um grandissísimo idiota por permitir que tais sentimentos ceguem o meu sentido de dever. 

Como disse mais cedo à minha mãe "tudo vai bem em minha vida, exceto pelos problemas que inventei na minha cabeça." E de fato, eu tenho tudo pra ser a pessoa mais feliz desse mundo, e não o sou simplesmente por conta dessas situações que eu mesmo criei e que tornam cinzas os meus dias mais ensolarados. 

Hoje mesmo foi um desses dias. Um dia que chamo de "preguiçoso" aquele em que não temos nem calor e nem frio, mas a temperatura amena não dá sinais de tranquilidade, muito pelo contrário, dá sinais de que algo grande e ruim vem por aí. Pode não ser nada, mas desde a noite de sexta, tenho tido comigo uma sensação de que algo de trágico está prestes a acontecer. Como se as nuvens de uma grande tempestade pairasse sobre minha cabeça, prestes a me partir ao meio com seus raios e a me lançar para longe com seus ventos violentos. Muito provavelmente trata-se de um prenúncio do trágico fim da 'história de amor" que tenho vivido. História essa que só existe em minha cabeça e que com certeza me será motivo de numerosas angústias e lágrimas.

Eu devia ter sido mais prudente. Ter evitado amar novamente, pois quando se pisa num ninho de cobras, não se espera outra coisa além de sair envenenado. E no meu caso, o veneno eu mesmo injetei em minhas veias. No momento exato em que permiti que aquele sentimento que nasceu do acaso ganhasse força e se alimentasse de minhas energias foi quando o meu destino foi traçado. Não haveria pra mim outro futuro senão a morte. E desse descuído, nasceu um sentimento bom, mas com um potencial destrutivo assustador. O amor então que sinto arder dentro de mim pulsa vivamente e grita seu nome cada vez que penso em você. Mas por mais que meu coração grite, ele não consegue se fazer ouvido. Não há possibilidade de que você não saiba da verdade, não quando eu sou tão franco e sincero quanto aos meus sentimentos, apenas me faltando a coragem necessária pra lhe dizer com todas as letras o que sinto por você, mas se sabe realmente do que sinto, você finge não saber.

E foi o que tentei fazer nesta noite, mais uma vez fracassando miseravelmente. Tudo o que consegui foi passar um pequeno momento contigo, sorrindo e contando coisas aleatórias... Ah, se soubesses o quanto esses momentos contigo são importantes... Sinto como se você se dispisse pra mim das máscaras que todo o mundo enxerga e que vejo um você que ninguém mais consegue ver. Fico feliz em sentir-me dessa forma mas me pergunto se de fato é assim ou se essa não é apenas mais uma invenção de minha fértil mente. 

Eu me imagino então nessa situação como que numa grande floresta tropical. Um lugar desconhecido, completamente inabitado que flutua entre dois conceitos muito distintos: pode ser um lugar assustador, se sozinho e abandonado, ou a mais belas das paisagens, acompanhado da pessoa certa. Talvez esteja apenas tentando dizer que meu sentimento é como uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que é maravilhoso poder sentir isso por você é tenebroso vislumbrar os horizontes negros que aparecem sob minha vista. E eu tenho medo. 

Medo de dizer o que sinto e ser rejeitado. Medo de não dizer e só me dar conta da importância desse não fazer quando for tarde demais. Em suma, meu medo se resume em não ter você. Infelizmente meu sentimento não tem sido aquele amor-doação de que costumo falar, puro e desinteressado. Não. Tem sido um sentimento de posse, de querer você somente pra mim e de satisfazer contigo meus desejos mais intimos. Não é algo saudável. Não é normal e eu não devia nem estar pensando nessas coisas... E digo ainda que o que consigo escrever aqui sobre o que sinto por você é apenas uma fração do que de fato se passa no meu interior. Apenas um pouco daquilo que consegui abstrair e transformar em palavras. Gostaria de dizer apenas o quanto é especial pra mim. O quanto gostaria de passar o resto de minha vida ao seu lado. Não que estar do meu lado seja algo bom, mas que ao seu lado, até mesmo existir se torna algo belo. Ver você torna meus dias claros. Pensar em você afasta de mim os pensamentos ruins que me assombram diariamente e pensar no seu abraço é praticamente um atentado contra minha sanidade mental, por é nesse abraço que quero me perder e expandir-me, abarcando a totalidade da existência. 

Dizer "Eu te amo" não poderia exprimir o real sentido e profundidade do que sinto apenas pelo fato de ser impossível de se conceber em palavras ou compreender através das mesmas a força disso que em mim pulsa por você. 

E como eu temo te perder. Como tenho medo de um dia acordar e ver que você se entregou a outra pessoa. Penso que não resistiria e que isso significaria o fim de minha já prejudicada estabilidade mental. Como disse alguns dias atrás, a essa altura, me imaginar sem você é como imaginar um mundo sem o sol. Um mundo frio, sem cor e nem vida. Dessa forma, minha vida seria ceifada juntamente com esse sentimento, que seria minha única companhia na alcova fria e dura onde repousam os restos mortais do meu coração. 

Até mesmo quando, a noite fecho os olhos para dormir, vejo seu rosto estampado a minha frente, a iluminar as trevas que habitam minha essência...

Triste agora por dizer que já sei como termina essa história: não muito diferente de como acabou todas as aventuras em que já me meti... Comigo devastado por ter ido fundo demais num sentimento por alguém que não poderia ou não queria retribuir. De fato não o perguntei sobre nada disso, apenas tomei a liberdade de amá-lo. Não pediu por isso, e provavelmente essa minha paranóia nada significa pra você de verdade. Talvez eu seja apenas alguém que te perturba constantemente e que no fundo, você apenas torce pra que eu arranje algum bom motivo pra sair do seu pé. Mas infelizmente eu continuo a insistir em te acompanhar, em estar ao seu lado, de alguma forma. Talvez um dia precise de mim e eu vou estar a te esperar. Ou talvez, e aqui esse 'talvez' tem caráter apenas estético pois eu tenho certeza do que direi, seja eu quem precise você. E esse sentimento seja na verdade, uma necesidade que criei dentro de mim e que não corresponde a realidade.

Realisticamente falando, e não gosto nenhum pouco de falar assim, eu sei que posso e vou sobreviver a você, mas é que só a dor de me imaginar sem você é tão grande que prefiro pensar que a morte seja um destino mais gentil. 

Não quero ter de imaginar isso.

Quero apenas, como uma criança mimada ou como o louco completamente alucinado que sou, me imaginar ao seu lado, podendo te abraçar com força ao fim de cada dia, sentindo seu coração, olhando bem no fundo dos seus olhos e dizer: tenha uma boa noite meu amor!

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Simplicidade

E quem foi que disse que pra ser bonito tem de ser mega produzido?

Vivemos num mundo onde apenas o exterior ou o extremo interior tem valor. As pessoas sempre exigem demais. Beleza demais, inteligência demais. Mas nos esquecemos de uma coisa, ainda que o extraordinário revele bem nossas qualidades e capacidade, é no ordinário que provamos quem somos de verdade.

Estava agora a pouco vendo um vídeo do U-Kiss no YouTube. Uma apresentação simples, provavelmente num fanmeetig, pelo tamanho do palco. Nada demais, sem muitas luzes, nem coreografia mega elaborada.. nada disso. Só o que o vídeo mostra é um grupo de pessoas fazendo o que amam e sendo felizes por isso. O que o vídeo tem então de tão extraordinário? Que é justamente por sus simplicidade que ele revela quem eles são de verdade. 

Agora eu trago isso pra minha própria vida: quantas vezes nos preocupamos tanto com as demonstrações grandiosas de nossas habilidades e sentimentos e nos esquecemos das pequenas coisas que, no fim das contas, são as que de fato importam? É como um relacionamento. Um homem que sempre se lembre das datas comemorativas e presenteie o (a) companheiro (a) com flores e chocolates pode ser considerad romântico, mas se no ordinário da vida ele está sempre ausente ou impaciente, dficilmente esse será considerado o homem ideal, pois é nesse ordinário que a vida acontece, não no extraordinário.

Não estou tentando dizer que devemos incentivar portanto a mediocridade, de forma alguma, só que deveríamos dar mais importância aquelas coisas pequenas, que quase ninguém nota pois estão todos de olho nos holofotes daqueles que fazem grandes coisas. E infelizmente é sempre assim. Esperamos então que o grande amor de nossas vidas apareça num cavalo branco e declarando seu amor com belos poemas. Mas esquecemos que na verdade nosso verdadeiro amor pode estar se declarando de muitas outras formas. As vezes um bom dia, uma pergunta sincera pode ser um eu te amo ainda mais sincero que muitas canções de amor que já ouvi por ai... 

Eu sou do tipo que geralmente se declara dessa forma, e talvez por isso eu nunca seja notado, pois essa linha de ações mais displicente é sempre ofuscada pelo brilho dos outros. Mas isso não me desanima, apenas quero continuar a demonstrar meu amor e meu carinho nas coisas simples e pequenas, cotidianas, ordinárias. Deixo as grandes coisas para os outros, não são pra mim, ali não é meu lugar. Meu amor não é pra ser exposto num banner, mas sim pra ser vivido na pureza e delicadeza de um sorriso, de um abraço, de um beijo. Talvez continue por isso a amar no anonimato, mas amo verdadeiramente, isso posso garantir. 

Minha proposta na noite de hoje é simples, porém forte: amar nas pequenas coisas, mas de forma verdadeira, e ai sim, as grandes coisas terão sentido completo e belezas garantidas. 

Vazio, silêncio e dor

Eu quero te dizer como me sinto com relação a você... 

Minha voz começa firme, porém baixa... e o destino já se faz ouvir como um suspense atrás de mim. Eu me perco. Começo de novo a lhe falar o que tenho a tanto tempo guardado dentro de mim e quando sinto que conseguirei lhe dizer com todas as letras, minha voz é abafada pelas vozes do mundo à nossa volta. Como uma onde de densa neblina eu me perco por entre as muitas vozes que ecoam em você, e embora eu ainda consiga ser ouvido por um tempo, acabo por me perder completamente e me afastando, o mundo coloca uma barreira de milhares de quilômetros por entre a gente. Não é uma berreira de espaço, mas o que nos separa é sim o sentimento que temos, que é muito diferente um do outro. 

 E assim, mesmo que esse sentimento brote de dentro de mim naturalmente, como flores que nascem e crescem sozinhas no campo, sem que mão humanas as toquem, meu amor por você vai aumentando cada dia mais, e mesmo distante, é um sentimento tão forte que me faz esquecer do destino, que espera por mim na beira desse rio, para me impedir de chegar até você...

Usando então dessa força que cresce dentro de mim, e tentando me sobressair da multidão que nos separa, eu consigo me fazer ouvir mais uma vez, e minha voz baixa, porém firme, surge de novo por entre as nuvens grossas: 

Eu...

Eu...

Eu te... 

Eu te... 

Eu te a... 

Bang!

Como um tiro de canhão o destino me arranca de seus braços, onde quase conseguia terminar de lhe dizer o que sinto e me lança novamente para longe... Lançado num rio de águas geladas que me enrijecem a alma e me fazem rodopiar violentamente, perdendo o rumo, o foco e ficando cada vez mais distante de você... Dessa vez ele não me deixará voltar. Você me olha impassível, o rosto branco, sem expressão, enquanto meu desespero é tão grande que tudo o que consigo fazer é me debater contra as garras deste que me leva pra longe de ti... Eu grito, tento me soltar, mas tudo é em vão, e como braços de ferro ele me mantém longe de ti, longe do meu amor, e mesmo que eu grite o mundo abafaria minha voz que jamais chegaria até você. Mas meu desespero não quer saber disso, nada importa, preciso achar uma forma de lhe dizer, mesmo que pra isso, eu morra tentando desafiar o destino, que me golpeia fortemente na cabeça...

Acordo atordoado não sei onde e nem como fui parar ali. Não tenho memórias de quem sou, tudo o que há em minha mente é a figura de um rapaz, e quando me lembro dele, meu coração se enche novamente de alegria e de um calor que me faz esquecer as dores que sinto por todo o corpo. Não sei de mais nada, a não ser que o amo, que aquela pessoa, cujo rosto está impresso tão nitidamente em minha memória é o amor de minha vida. Sinto então que eu devo me levantar e, mesmo sem mais nada além da memória desse jovem rapaz, ir além, ir a luta e atrás de seu amor... 

Já de pé, eu começo a caminhar, com sua imagem a me guiar pelas estradas sinuosas e florestas desabitadas... Não sinto temor, não sinto nada, exceto meu amor. Acho que isso significa a loucura completa, já que nada faz mais sentido e que tudo o que tenho é sua imagem que ficou gravada em meu peito como brasa. Estou a sua procura, pois preciso lhe dizer algo e desta vez, nem mesmo o destino será capaz de me impedir. Como um alucinado, porém obstinado, eu ignoro todo o caos do mundo a minha volta em razão apenas de sua lembrança. Já não lembro de quem sou e isso nem importa mais, de certo não era ninguém importante e ainda que o fosse, não seria feliz se não fosse ao seu lado. Talvez que na verdade, o destino finalmente tenha me enlouquecido e tudo o que tenho na agora são essas imagens, enquanto num quarto de hotel, aguardo por minha própria morte. Não sei mais distinguir a imaginação da verdade, o real do irreal, pois só o que tenho em mente é você. E mesmo aqui, no meio do nada, sem ninguém perto de mim, ainda insisto em tentar lhe dizer, o que sinto por você...

Repentinamente recobro a memória e me dou conta da realidade a minha volta. Por um longo momento eu perdi o uso da razão e caí na alucinação. Imagens de ter sido arrancado dos braços de alguém me assombram, mas eu sei que isso nunca aconteceu. Na verdade, agora me recobrei o juízo, posso perceber o que de fato aconteceu: fui tomado por uma profunda depressão, após ver que te perdi para outra. A visão de ver você nos braços dela fez com minha mente mergulhasse nessas alucinações, nesse mundo fantasioso de aguas impetuosas e perseguições descabidas. Tudo isso numa tentativa de sobreviver a essa visão infernal e ao fato de ter perdido você pra sempre. A dor as vezes tem esse poder, de nos enlouquecer.

Eu agora, já não sei mais o que fazer. Apenas posso ficar deitado, contemplando a minha própria miséria de ter amado alguém que já amava outra pessoa. 

Logo, tomado pelo torpor e pela chegada iminente da morte, lentamente sou dominado pela letargia que é entregar-se completamente ao destino, e não mais querer lutar. Não há mais nada que se possa fazer. Nenhuma possibilidade. Todos se foram. 

Você se foi. 

Após seu casamento, o qual não pude comparecer pois estava incosciente em minhas próprias alucinações num quarto de hotel, você se foi sem deixar notícias. Nunca mais sequer fiquei sabendo onde vivia. 

Imagens suas passam por minha novamente. 

Dor. 

Silêncio.

É tudo o que tenho direito nos meus últimos momentos. E aqui, no escuro, sem nada e nem ninguém por perto, eu já a vejo...

A morte se aproxima lentamente de mim e me toma pela mão, para ser minha companheira nessa caminhada rumo a eternidade. Ela nada diz, apenas posso sentir o calor deixar o meu corpo, calor este que a muito abandonou meu coração e caminhando ao seu lado, tudo o que vejo é um mundo cinza, triste e frio: um mundo morto, sem sentido nem cor. 

O retrato de um mundo sem você!

Um mundo sem você é algo terrível de se imaginar. Não porque ele não existiria, mas porque eu não conseguiria sobreviver sem você. Parece que, a partir do momento em que te conheci, o meu eixo de rotação tenha mudado completamente e nada mais no mundo era capaz de me fazer pensar em outra coisa. Como uma bússula que só consegue apontar pro norte, o meu coração também só aponta na sua direção. Ser obrigado a viver então sem você é imaginar um destino pior que a morte. Por mais que as pessoas façam barulho, e que o mundo todo faça barulho, não há nada que possa me trazer de volta. 

Esse seria meu mundo sem você. 

Esse é meu mundo sem você. 

Esse vai ser meu mundo sem você. 

Um mundo de vazio, 

silêncio 

e dor. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Morte e Transfiguração

Bom, primeiramente Já deixo de antemão que esse post será um agrande exercício a minha criatividade, pois estou começando a escrever sem nenhuma inspiração. Tudo o que posso dizer é que minha mente mergulha no oceano de incertezas e uma porção de pensamentos deconexos e sem nenhum sentido que, ainda que eu conseguisse colocar aqui, não seriam mais do que balbucios de uma alma inquieta... 

Pra me ajudar a relaxar um pouco e ainda me fornecer alguma luz, resolvi ouvir "Morte e Transfiguração", um poema sinfônico de R. Strauss que particularmente não me recordo de ter ouvido em outra ocasião. Começando então daqui, pois é o que tem pra hoje, eu decidi pensar sobre a proposta que esse poema me traz. Em poucas palavras, a música descreve a morte de um homem, um artista, onde, em seu leito de morte, passam por sua cabeça sentimentos de diversos momentos de sua vida, como a infância inocente, a vida turbulenta e as conquistas que ele obteve e no fim, a passagem desta vida para a eternidade.

Gostaria de acrescentar porém, antes de me alongar sobre isso, que não estou sofrendo de nenhuma crise adolescente e pensando em me suicidar, apenas acredito, e quem me conhece sabe o quanto penso nisso, que pensar sobre a própria morte é um exercício bastante revelador. Mas chega de me explicar.

Não são raras as vezes em que nos deparamos, geralmente em redes sociais muito frequentadas por pessoas agraciadas pela inclusão digital, com perguntinhas do tipo: "Se você fosse morrer amanhã, o que faria hoje?" Ignorando então a premissa proposta por mim mesmo de cultura erudita é apenas tudo aquilo que não fora produzido pelas pessoas abaixo da classe média, eu percebi que na verdade se trata de uma pergunta bem capciosa. Ora, ela pode simplesmente revelar se somos ou não felizes. Se alguém mudaria sua vida drasticamente em função de sua morte ou do apocalipse iminente, penso que seja sinal de que essa pessoa não é feliz, pois seria necessário algo de extraordinário pra que ela mudasse os últimos momentos de sua breve vida. Claro que essa é apenas a minha opinião, mas ainda assim, quando eu mesmo tentava responder a essa pergunta, eu me questionava, eu sou de fato feliz? Se sim, por quais motivos e se não, por quais motivos também?

Quem já leu qualquer coisa que eu tenha escrito nas últimas semanas pode ter percebido o quanto eu tenho partido de um ponto de vista caótico, dramático e pintando cenários trágicos em cada um de meus textos, e baseando-se nisso, não é difícil imaginar que diriam que não, eu não sou feliz. Mas discordo veementemente dessa afirmação pois também não me considero uma pessoa infeliz, ou necessitada de uma reviravolta em minha vida em vista da minha morte iminente para o ser. Logo, penso eu que, se fosse informado de que certamente morreria amanhã, eu simplesmente me deitaria, e após um porre de Lexotan, dormiria ouvido uma playlist com minhas músicas favoritas. Essa foi a única resposta que consegui. Claro, pra alguns isso pode significar uma péssima maneira de passar os últimos momentos, mas os últimos momentos são meus e eu passo eles do jeito que eu quiser. 

Desculpe a crise mas, se comecei o post sem nenhuma ideia, agora tenho de filtrar as mesmas pra que o texto não se alongue demais e acabe por se tornar um livro. Enfim.

Essa minha opinião também mudar daqui algum tempo. Se me fizessem essa pergunta enquanto namorava, certamente diria que passaria minha última noite ao lado do homem que amava. Mas acho que isso revela também muita coisa, pois o fato de estarmos mudando significa justamente estar vivo, já que os mortos não podem mais mudar. Logo, penso que a vida seja como um rio, com as águas em constante mudança.

Minhas metáforas sobre a natureza e a vida, principalmente o sol, o mar e as rosas, podem estar ficando gastas e batidas, e meu vocabulário é um tanto quanto limitado, reconheço. Mas acredito que a repetição, assim como bem disse Andy Warhol o ícone da Pop Art, seja também uma forma de expressão. E ainda que eu através de palavras, pinte sempre a mesma cena, a cada nova pincelada, ou a cada novo olhar, consigo assim me reinventar. É como um grande livro de nossa estante que voltamos a ler de tempos em tempos: embora seu conteúdo continue o mesmo por décadas, cada leitura de cada pessoa diferente produz uma sensação nova e completamente diferente. É também como uma daquelas músicas que baixamos e ouvimos tantas vezes que por fim enjoamos: o que difere a primeira audição da última se a música é a mesma? Ora, o que difere é a alma da pessoa, que numa constante mudança, não tinha as mesmas exatas caracteristicas da última vez que tinha quando se deparou com a música pela primeira vez. 

Assim então é a vida, uma constante mudança que, mesmo embora na repetição, consegue se reiventar. É uma antítese em si mesma, ou talvez só eu a conceba dessa forma, mas penso ser uma interpretação válida. 

O que podemos fazer então com essas afirmações? Absolutamente nada, se você é uma pessoa feliz, ou mudar sua própria vida, caso seja uma pessoa triste. Ou, se você é como eu que sequer sabe definir se está feliz ou triste, pode usá-las pra tentar chegar a alguma conclusão. Muito embora após andar em círculos por um longo tempo, eu ainda esteja parado no mesmo lugar, isso se não acabei por regredir na minha busca por respostas. 

Respostas.

Nos incomodamos tanto atrás de conceitos tão abstratos não é mesmo? Isso me incomoda profundamente ao ver que, em função de uma porção de coisa que não consigo conceber como nada além de conceitos profundamente abstratros, como amor, paixão e ciúmes, minha vida é completamente modifcada a todo momento. E inclusive não raramente deixo de viver muitas vezes, para pensar nesses conceitos. Ou pensar nesses conceitos seja uma forma de viver e eu ainda não tenha me dado conta disso. Ou talvez ainda alguns tenham de pensar nesses conceitos enquanto outras pessoas vivem de verdade, como escravos que abandonam-se a si mesmos em função de seus senhores. E de fato, novamente como disse Warhol, nascer é como ser sequestrado para depois ser vendido como escravo. Sim, e cada um recebe um julgo diferente. Uns são escravos das próprias mentes, como eu, e outros são escravos dos outros. O que nos diferencia então? Em uma perspectiva social, nada, somos todos escravos, a sonhar com a liberdade, com a felicidade. 

Alguns desses escravos poderiam dizer que, em vista de um cataclismo inevitável e previsível, matariam seus senhores ou que fugiriam para ao menos nos últimos momentos viverem suas vidas como bem quisessem. E ai eu me questiono mais uma vez, sabendo que não chegarei a conclusão alguma: Como eu posso fugir de minha própria mente? 

Mas ora, alguns podem me dizer, o fato de você abusar tanto assim de benzodiazepínicos não é justamente uma forma de fuga da própria mente e da realidade em si? Não diria que é uma fuga, mas uma tentativa, pois se de fato fosse uma fuga, eu não mais teria de retornar. Logo, não é um método eficaz e muito menos saudável de buscar uma resposta. De novo me perdi em meus próprios pensamentos. Perdão. 

Voltando a vida e a morte, diria que, até que alcacemos o ponto da única verdade comum a todos, a morte, creio que continuaremos a buscar nossas respostas, ou a viver sem elas. Uns reinventando-se completamente e outros, reiventando-se nas repetições. 

Penso ainda que, o fato de eu tanto me alongar nessas mesmas questões sempre seja talvez uma forma de tentar cravar esses conceitos abstratros em mim mesmo. Logo, todas as vezes que insistentemente discorro sobre o amor, as dores do amor, as lutas do amos, as dificuldades do amor, é na verdade uma tentativa de marcar ainda mais profundamente esse sentimento dentro de mim. Como uma tentativa de dar sentido a minha pequena mente distorcida pela confusão e pelas paranóias. Sendo assim, possivelmente continuarei a falar sobre todas essas coisas continuamente até que estejam bem gravadas dentro de mim ou até que eu seja interrompido pela morte. De uma forma ou de outra, até que esse dia chegue, me reinventarei a cada dia na repetição da inovação. Do mesmo que a cada dia é novo e do novo que embora seja novo, não é diferente do anterior em si mesmo. 

Cheguei a alguma conclusão? Não. 
Vou chegar partindo daqui e aplicando esses princípios? Muito provavelmente não também. 

Mas então Gabriel, qual o motivo disso tudo? 

Ora gente, eu sou maluco, e os malucos não conseguem se reconhecer como malucos sozinhos, precisam do outro pra lhes dizer isso, pois até então para ele, sua maluquice é a verdade, e os outros é que são diferentes, mas é justamente em contato com o maluco, o normal e a verdade do outro, é que consigo distiguir a minha maluquice e a minha própria verdade. E, se me é permitido dizer, do que conheço pela normalidade, prefiro continuar a buscar minha verdade na maluquice de cada dia. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Revolução Estelar

Ah meus amigos, a criatividade é a maior companheira dos solitários, na minha humilde opinião de quem sempre se sente só, em meio a multidão. Por vezes então, conseguimos nos desprender desse mundo material e viajar até as alturas dos montes de nosso coração. Ali, em nosso refúgio pessoal onde ninguém mais tem acesso, somos verdadeiramente nós mesmos. Sem filtros, sem máscaras, sem os retoques que normalmente usamos pra nos apresentar ao outros.

E é numa dessas viagens que eu me empreendi sozinho, mas não sem o auxílio de um bom vinho e um Lexotan, numa pequena jornada. Permiti desligar-me do mundo por alguns instantes, e ouvir as palavras sábias de um amigo que vive à séculos de distância... Eu estava ali, quieto, sentado por sobre a relva a observar a natureza a minha frente quando ele se aproximou, disse estar com saudades, e então nos entregamos a uma longa conversa sobre o destino, coisa que ele entende muito bem, afinal, foi essa a causa de sua morte. E foi ali que os dois, observando as folhas das arvores tremularem com a brisa abaixo do céu azul, começamos a trocar as experiências que tinhamos vivido nas mãos desse cruel titereiro. Ele me contou como o destino costuma agir por debaixo dos panos, como costumam dizer, pra nunca ser notado nem culpado demais, mas em dadas ocasiões ele prefere revelar-se com todo o seu poder.

Ele então se revela nos grandes acontecimentos da vida como uma tragédia de proporções gigantescas, nos dando uma demonstração absurda e gratuita de todo o seu poder. Como o mar que, lançando-se sobre uma cidade despreocupada não só destrói tudo o que encontra pela frente mas que, por gerações inteiras, incute o medo e a apreensão a todos que ali vivem ou que ali por ventura venham a passar. Ele vem, destrói, e se vai, mas não sem deixar em nós, profundas marcas de medo e dor. Cicatrizes que nunca desaparecerão pois ele também é o senhor do tempo, e não permite que o tempo a nada cure, se não for de sua vontade. 

A todos então ele move com suas cordas de ouro. As vezes, permite que um desses fios se torne vermelho, como o sangue, quando permite que o homem se apaixone, mas só para mais tarde cortar esse mesmo fio, e assim como uma marionete perde a firmeza sem suas cordas, também faz desaparecer toda e qualquer certeza do coração. 

Enquanto conversávamos, pude ver o coração de meu amigo, e ali observar da vida que ele me falava. Ele contava sua história, mas até mesmo sua voz era envolvida pelas densas névoas do destino que, como numa dança macabra, uma valsa fúnebre, me mostrava que até nas conquistas e alegrias da vida, a única certeza é a incerteza. Até nos momentos de estabilidade uma risada macabra avisa que a qualquer momento, tudo pode vir a mudar e o destino, pode novamente surgir, como uma grande alegria ou como uma onda de destruição. Uma revolução de proporções estelares. Essa revolução pode vir a criar a vida ou trazer a extinção. O destino nos faz crer que ele tem poder pra fazer o próprio céu despencar sobre nossas cabeças se quiser. E continua a acuar o homem contra seus próprios medos, apenas para divertir-se, para rir-se de nossa débil condição. 

E aos poucos, o céu vai se revolucionando lentamente. O delicado azul límpido dá lugar a um tom bem escuro, o azul da noite, abrilhantado pela luz da lua e pelas milhares de estrelas, os minpusculos pontinhos de luz que cobrem o céu. 

Engraçado notar que, mesmo com a vida seguindo seu curso aparentemente, o destino é sempre ouvido, aqui e ali, e de uma forma ou de outra, ele sempre dá um jeito de deixar sua assinatura gravada no coração e na alma do homem. Seja através de uma dor incurável, de um medo irremediável, ou, se assim for de sua vontade, numa alegria, num prazer, num gozo ou num deleite. Por vezes, insistimos em fazer nossa voz se sobrepor a dele. É quando decidimos trilhar nosso próprio caminho, traçado através de nossas próprias decisões. Então estufamos o peito, consertamos a postura e dizemos que, a partir dali, viveremos conforme nossa própria liberdade. Ah, penso ser esse o momento em que o destino mais se deleita com nossa ingenuidade. 

A liberdade é apenas um mito criado pelo próprio destino. Como que para nos dar uma centelha de esperança. Na verdade, ela nada mais é que um dos disfarces do destino, pra nos enganar com suas artimanhas e trapaças, pra nos fazer tropeçar em meio ao caminho que parece ser o certo, mas que ele cuidadosamente preparou pra ser nosso túmulo, onde seremos enterrados num féretro com os dizeres: "Por desafiar o destino com sua liberdade." Após a morte então, o destino tira a túnica da liberdade e se revela como a verdadeira face do mal. Quando então, nos damos conta da verdade que através da susposta liberdade, o destino nos levava para a cova dos leões.

Embora goste das ondas de destruição em massa, dos terremotos e tragédias de proporções megalomaníacas, o destino também gosta de se divertir apenas através da pura e simples manipulação. Como um mestre dos bonecos ele inventa histórias a seu bel prazer, e somente para seu prazer, com nossas vidas, tendo total controle de nosso futuro. É ele quem decide permitir ou não que algo aconteça. Permitir ou não que conheçamos alguém. Permitir ou não que nos apaixonemos por alguém. Mas é ele também quem decide quando é hora de findar um ato ou acabar com a peça. Em outras palavras, é ele quem decide como e quando cortar as cordas e fechar as cortinas. 

Por vezes então ele se deleita gostosamente com as pequenas alegrias que nos concede temporariamente, apenas para nos ver sofrer quando elas forem de nós arrancadas. Então ele diz em nossa própria face, com voz de quem desdenha: "Tolo, como pôde imaginar ser capaz de me enganar e ser feliz. É impossível para um homem me ignorar."

Logo, a liberdade que pensamos viver não passa de uma fantasia, que assim como a sorte e a esperança, o destino usa pra nos ludibriar. E talvez sua maior diversão seja brincar com aqueles que pensam terem adquirido domínio sobre a vida e a morte. Sim, esses são os que o destino mais ama destruir...

Ele permite que esses cheguem bem longe em seus obejtivos. Que eles se divirtam com suas teorias, explicações e invenções. Gargalha profundamente dos que pensam viverem a vida que escolheram para viver. A vida pra esses tem um colorido especial por um longo tempo. Se mostra cor de rosa, dourada, viva. Mas na verdade, sabemos que na verdade, essas cores não pertecem a nós, é tudo para o destino, para seu deleite, para sua própria satisfação. E é então quando ele ressurge, no último ato, se mostrando novamente como fez antes, em ondas crescentes...

Então, como o mar que se espraia infinitamente, e como as estrelas vão surgindo uma a uma no céu até que seja impossível contar suas míriades, o destino vai avançando de todos os lados, nos mostrando que ele sim, é quem detém o poder sobre a vida e a morte que julgávamos ser nosso. É ai que ele se compraz em nos ensinar, com a didática mais grosseira, cruel e pervertida que poderia haver que, ele tem o domínio sobre nós, e que seu único prazer é conosco brincar, até ele, como uma criança, perder a graça. E assim se segue, dia após dia, homem após homem, vida após vida até o desfecho sempre igual e comum a todas as histórias: a morte!

E assim, depois do desfecho trágico, voltei a minha realidade, e meu amigo voltou a dele... Cada um contemplando sua própria noite interior. Cada um travando sua inútil batalha contra o destino na falsa esperança de uma vida verdadeiramente livre... Isso sem nos darmos conta de que, só estamos cada vez entrando mais fundo no jogo que ele mesmo preparou pra cada um de nós...

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Centelha

Hoje choveu, e junto com as gotas de água que caiam desprentensiosamente sob o chão, lavando o solo e levando pra longe as impurezas dos corpos, também as minhas lágrimas caíram, trazendo pra fora de mim os sentimentos que há muito quereriam transbordar em minha alma.

Não estou triste, ao menos não completamente, mas apenas passando por dias chuvosos e outros nublados. Em alguns momentos os dias nublados se demoram tanto que até chego a me esquecer de como é a luz do sol. Talvez eu esteja completamente triste mas não queira aceitar. 

Então, me fechei novamente em meu pequeno refúgio pessoal, e ali, pude ouvir as gotas batendo na janela e me concentrei em minha respiração, e antes que pudesse me conter, percebi que as lágrimas rolavam, fazendo naquela chuva, uma tempestade particular, uma tempestade que até aquele momento se fazia apenas no meu coração, mas que, encorajada pela chuva, deixou-se libertar e transbordar aquilo que há muito vinha se contendo. 

Não me recordo onde exatamente, mas ontem, navegando pelas redes sociais, vi uma imagem dizendo que o amor era na verdade o que nos fazia transbordar. Não necessariamente amor próprio ou aquele amor-doação de que costumo falar, mas simplesmente amor, e em alguns momentos, temos de transbordar em lágrimas de amor, pra que nosso coração consiga se encher novamente. Não foram lágrimas essencialmente tristes então essas que deixei rolar, pois com elas me veio uma doce e singela alegria... como um único violino a cantar alegremente em meio as tristezas da vida. Como se, em meio a toda tempestade, ainda houvesse uma única rosa a sobreviver naquele temporal, e aquela rosa, seria a única responsável por manter a beleza do jardim destruído quando a chuva passasse. Foi apenas, com disse, um pouco do meu amor que transbordou e naquele momento, assim se expressou.

Foi um momento em que tudo se acumulou e de uma única vez se explodiu. Tristeza e ressentimento, confusão, medo, insegurança, saudade. Tudo isso se mesclou ao meu amor e veio para fora. E como uma tempestade, há momentos em que não há como conter-se, apenas esperar que sua fúria passe. Mas depois de toda tempestade, os raios do sol começam a brilhar por entre a nuvens, anunciando o seu retorno. Bom, não posso dizer que já esteja vendo esse sol, apenas ainda uma grossa camada de nuvens escuras que pairam misteriosamente sobre minha cabeça, mas eu sei que, por detrás delas, ainda brilha um sol, ainda há uma centelha de esperança.

Acontece que não consigo ainda aceitar o fato de ser apenas um boneco nas mãos do destino, que insiste em agir como uma criança mimada e me mostrar constantemente que não posso fazer nada que não seja de sua vontade. Sinto como se ele risse de mim que fico como um macaco a rodar sem destino nas palmas da mão de Buda. Como se fosse seu maior prazer me conceder esperança e depois arrancá-la de minhas mãos grosseiramente apenas para que eu perceba o quanto ele tem poder sobre minha vida. Em minha mente então, enquanto ouvia aquela poderosa sinfonia da natureza e enquanto era tomado por um sono profundo, reflexo de minha única forma de imunidade ao sofrimento, corriam pela minha mente como flashes. E cada um dele era como um espinho cravado no meu coração, e o motivo de uma lágrima que caia. Amizades que se foram. Amores que não deram certo, e que ainda doem. Obrigações e compromissos assumidos que me pesam como correntes no calcanhar e me privam da liberdade. Esperanças, anseios. Como já disse, sentimentos demais que foram se somando, se acumulando e quando não deu mais pra conter tudo isso, se romperam como uma barragem que não pode conter tal volume de água a menos que suas comportas sejam abertas. Acontece que eu tenho o péssimo hábito de guardar muita coisa, de represar muita coisa dentro de mim, de deixar todos os problemas, inclusive os do coração, pra resolver depois, e ai, quando eles se acumulam, seu peso é tão grande que me impedem de me mexer resultando nas tentativas débeis de os resolver. Certamente a melhor forma de lidar com isso seria enfrentar cada problema de frente e de uma vez, antes que eles se unissem pra me derrotar. Mas, como todo bom covarde, acho que prefiro fazer isso somente quando eles já me cercaram num beco escuro e minha única alternativa é lutar. 

Mas uma coisa é certa: depois de algo assim, um torpor, uma tranquilidade também toma conta da alma. Como se literalmente as lágrimas lavassem as tristezas. Sei que meus problemas não se resolveram com isso, mas sinto como se tivesse me livrado de um grande peso e agora, pudesse ser capaz de lutar novamente, uma vez livre das correntes que me prendiam ao chão e que agora me permitem voar, quase que livremente pelos céus. A força que me eleva então é a dos sorrisos, os mesmos que eu via enquanto passava pela turbulência e que me faziam sentir dor. Numa estranha combinação então eles fazem com que eu sinta essa incapacidade do destino sobre mim, mas também, por algum motivo, ainda me dão razões para sorrir. 

Talvez seja essa justamente a lembrança dos sorrisos que um dia eu dei com eles e que fazem eu me sentir assim, com essa pequena centelha de esperança que se recusa a apagar-se e a me deixar na escuridão completa. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Cataclismo

Extinção. O mundo se desaba sem que possamos fazer nada para evitar a extinção. 

Acredito que eu tenha uma especialidade, uma caracteristica que me difere da grande maioria das pessoas ao meu redor: a de me desligar completamente do mundo e me focar em coisas aleatórias que não tem nenhum tipo de importância, e a essas me dedicar por horas e horas... Eu chamo isso de viajar pro mundo da lua... e ah, como eu adoro viajar pra lua... 

Por isso, quando o mundo está um caos e todos estão desesperados com o que fazer, eu estou ocupado em construir o meu mundo particular. Mas isso num perspectiva muito otimista, pois na maioria das vezes é bem ao contrário, enquanto o mundo todo segue normalmente, eu me desespero sozinho enquanto assisto ao meu universo se desmoronar bem a minha frente, como num cataclismo. 

Essa destruição de proporções gigantescas pode vir a acontecer por vários motivos, e quando um mundo criado por mim morre, não demoro a criar outro, e como tudo que tem um começo tem também um fim, e os meus mundos sempre terminam em tragédias dignas do cinema internacional.

Mas quando penso em toda essa destruição, não é essa pela qual o mundo em que vivemos passa. Não. É a destruição que causamos a nós mesmos. Com nossa falta de amor próprio. Com as nossas neuras. Muitas das vezes somos a única causa de nossa dor, mas insistimos em culpa o outro, o exterior, quando na verdade, ela vem de dentro pra fora. Na verdade, ela surge bem no íntimo de cada um de nós, e vai crescendo na forma de obsessões, manias e paixões desordenadas e quando nos damos conta, já estamos a beira da catastrofe, sem que possamos reverter a situação.

Nesse exato momento mesmo, embora ainda de pé, já posso prever a destruição iminente que se aproxima lentamente da órbita do planeta onde habito solitário. Acontece que parece ser próprio de uma civilização se extinguir depois de atingir o ápice de sua evolução. E em se tratanto de um população que só existe na minha cabeça, essa regra é quase uma lei. E sempre acontece da mesma maneira... com a criação de um mundo novo. 

Logo, no início, antes da existência se iniciar, tudo o que existirá é chamado a existência. E aos poucos a vida vai surgindo... lentamente germinando por todo o espaço. É o nascimento do amor. Esse é o sol ao redor do qual os planetas orbitam. Tudo o que existe gira em torno dele. Ele então semeia a vida, permite que todos se desenvolvam completamente, e toda a existência passa a reverenciá-lo. No entanto, quando isso significar falar de minha vida, permitir que meu mundo orbite de um sol não é uma coisa boa. Pois depender pra sempre dele siginfica uma fraqueza muito grande. E quando ele não estiver mais ali? O que poderei fazer? Apenas assistir a tudo o que criei ser destruido bem na minha frente mais uma vez? 

É isso que temo mais uma vez... como se mesmo tendo conhecimento que tal lugar está coberto de armadilhas eu ainda decidisse entrar, sem nem ao menos tentar me defender. É como se eu naturalmente orbitasse em meio o campo gravitacional do caos causado pelos meus sentimentos. Como se eu fosse sugado por uma grande buraco negro, e depois de passada a tempestade gravitacional, só pudesse observar a desolação que restou a minha volta. 

A palavra que procuro pra definir o que estou sentindo é medo. Não consegui pensar em nada melhor. Tenho medo de, mais uma vez, meus sentimentos me levarem para a morte certa. Me encontro então dividido, não em duas, mas em várias partes, cada uma com uma prioridade diferente, e nenhuma delas é prioridade de verdade. De um lado um sentimento que nunca tive como evitar. De outro um novo que sequer vi nascer, mas que ja ocupa gande espaço dentro de mim. De outro, as obrigações que tenho a cumprir. E assim, com a alma e o coração divididos, não sei o que fazer, nem que decisão tomar, e nem sei dizer se também não devo fazer nada. Sou então tomado pela incapacidade de tomar decisões, enquanto fico paralisado, a contemplar a catástrofe iminente. Não sei dizer se tenho poder para evita-la mais, já é tarde demais, permiti que as coisas fossem longe demais. Agora, temo dizer que só me resta sentar, enquanto aguardo a visita da irmã morte pacientemente. 

Imagens que não quero ver surgem agora perante meus olhos. Aqueles que amo me trocando por outras pessoas, me deixando, cada um cuidando de seu próprio mundo. E eu mais uma vez ficando sozinho. E em meio a uma cidade negra, fria e abandonada, posso observar o grande meteoro que trará a morte e a destruição a mim e a meu planeta. Extinção. O mundo se desaba sem que eu possa fazer nada para evitar a extinção. 

domingo, 21 de agosto de 2016

Fascinado com seu olhar...

Que as cores e as imagens já tem certo efeito sob nosso corpo, nós já sabemos, mas, até que ponto a imagem de alguém pode causar efeito em nossa alma, em nosso coração? E é assim que começo o texto dessa madrugada, com uma bela imagem em mente que me traz doces sentimentos ao coração!

Sim, trazer sua imagem a minha mente se tornou um dos exercícios mais prazerosos dos meus dias nublados... Assim como o sol que aquece o ar e derrete o gelo, permitindo que as flores voltem a vida na primavera, da mesma forma o seu sorriso me aquece o coração e faz desabrochar as flores que haviam morrido pelo frio das fortes tempestades do inverno.

Imagino então que num dia, tudo fora planejado para aproveitar o ar livre do campo, numa tarde prazerosa em meio a relva verde e delicada, com a brisa soprando levemente pelos cabelos. Mas, contrariando todas as expectativas, o dia amanheceu mais do que nublado, amanheceu tempestuoso, completamente enfurecido, com as lufadas de vento lançando árvores ao chão e os trovões rasgando os céus com seus estrondos retumbantes... Nesse dia, nem mesmo o céu pode ser visto, apenas névoa, chuva, densa e pesada. Nada mais. No entanto, não é como se você tivesse o poder de mudar esse tempo. Mas é como se, nesse dia, apesar de os planos terem falhado, você decidisse acender um fogo na lareira, e assim, aquecer toda a casa e a nós com o calor do seu coração, do seu sorriso. É assim que você é pra mim, como esse fogo que, mesmo nos dias frios, aquece o meu coração e mesmo não mudando todo o mundo, muda a mim, e isso já é suficiente.

Poderia passar horas, não, dias inteiros olhando bem no fundo dos seus olhos e nunca me cansaria. Nunca me cansaria de tentar imaginar se você realmente sente algo por mim e de imaginar o que se passa dentro de você. Mas admito, tenho um enorme medo também em descobrir as respostas desses questionamentos. Pode não ser nada do que imagino que seja. Pode ser que tudo existido na minha cabeça. 

Mas tudo o que exatamente?

Tudo o que eu criei entre nós. Essa amizade especial que na verdade pode ser só uma amizade comum, uma cordialidade e um respeito tal que eu tenha confundido com algo mais. Talvez seu único sentimento por mim seja o de consideração, não de afeição, e na minha pequena mente distorcida, sempre sedenta de atenção, carinho e afeto, acabei interpretando como algum tipo de interesse. 

Mas também pode ser verdade. Pode ser que esse mundo ainda seja muito novo e assustador pra você e que por isso você ainda não tenha conseguido se expressar com mais clareza. Talvez você esteja confuso, como muitas vezes parece estar e como você mesmo me disse, ainda há muita coisa pela qual você deve passar. Mas quem sabe lá no fundo, você só esteja colocando seus pensamentos no lugar, e enquanto para pra olhar, enquanto te olho, você também possa estar perdido no oceano de pensamntos que transbordam de minh'alma... 

Então, ao olhar bem no fundo dos meus olhos, você consegue ver, o que eu realmente sinto por você? 

Como muito bem disse Tom Jobim

"Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar..."

E é assim que me sinto ao te olhar: me sinto incendiar. Não no sentido pejorativo, claro, mas no sentido de me arder nesse sentimento tão poderoso que ainda não sei dizer o que é... Ainda não está bem delimitado pra mim o que eu sou capaz de sentir por alguém no momento... Se apenas afeto, carinho, ou amor de verdade, ou talvez ainda obsessão, apenas retratos de uma fantasia cor de rosa fruto de minha mente criativa em um momento de carência... 

Mas como é bom me permitir viajar em devaneios ao seu lado... 

Posso me imaginar dançar mil valsas ao seu lado... em grande salões de festa, num quarto, num campo florido, com a brisa leve a acariciar nossa pele. Como se as montanhas fossem meros montinhos de areia na praia comparadas ao nosso amor. Um amor repleto de gargalhadas e brincadeiras. Um amor espontâneo, leve. 

Na verdade gostaria de poder ver o seu sorriso todos os dias... ao acordar e ao dormir, e dormir ao seu lado todas as noites, Fazer maratona de séries com você e discutirmos qual o melhor personagem dos filmes... Enfim, viver ao seu lado, tendo você pra mim, só pra mim. Ter o seu sorriso só pra mim, seu olhar de enigmas só pra mim. Você só pra mim... 

Bom, se foi fruto de minha imaginação minha recompensa será entregue em breve. Se não, também. De qualquer forma, eu desejo de todo o coração que de fato haja uma chance, por menor que seja, de ficar ao seu lado, pois se assim for, eu vou a ela me agarrar tão fortemente que nem todas as tempestades do mundo iriam me fazer vacilar, tudo isso por ter me fascinado com seu olhar...

As vezes a vida tem dessas coisas, tem dessas manias de nos arrebatar, de nos tirar de nosso estador de torpor ou de conforto e nos lançar aos agrestes escarpados do amor. Podemor permanecer no torpor se quisermos? Sim. Mas acredito que aqui, seja melhor seguir o conselho de Khalil Gibran, que disse que "quando o amos vos chamar, segui-o." Talvez valha a pena arriscar mais uma vez, tentar mais uma vez. Afinal de contas, desistir e passar o resto da vida imaginando como poderia ter sido se eu tivesse feito diferente me parece um destino ainda pior que o do fracasso, pois ao menos o aprendizado eu posso tirar desse, e do outro não.

Finais

Durante a nossa vida: conhecemos pessoas que vêm e que ficam, outras que vêm e passam. Existem aquelas que, vêm, ficam e depois de algum tempo se vão. Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar... Primeiramente, quem disse isso foi Charles Chaplin, não eu, mas pensei que seria uma boa forma de começar o post dessa noite conturbada de sábado.

Hoje foi um dia e tanto, cansativo e barulhento, e como era de se esperar que acontecesse com alguém que tem sérios problemas de concentração, muito barulho acumulado resulta em pânico e uma baita dor de cabeça. Passei o dia praticamente todo fazendo faxina em casa e depois na igreja e ainda tive de arrumar uma porção de coisas pra solenidade de amanhã, coisas estas que minha personalidade liturgicamente perfeccionista não permitiria que estivessem menos do que perfeitas. No momento, me encontro deitado, ouvindo musica baixinho, tentando abafar os ruidos quem vem dos bares e igrejas aqui da minha rua. Uma realidade triste pra quem tem ouvidos tão sensíveis. Claro que, depois de tudo isso, a inspiração já se foi pra bem longe de mim, e provavelmente deve estar rindo das minhas tentativas de buscar concentração no estado lastimável em que estou. Estou com medo de estar me tornando um daqueles escritores fracassados que, além de não venderem nada, passam a vida buscando inspiração pra escrever sobre a vida enquanto ficam de mal humor por terem uma péssima vida e não conseguirem escrever nada sobre a vida.

~

Bom, ontem, noite de sábado não rendeu muido, acabei largando aqui porque não consegui nada além do parágrafo anterior e fui assistir The End Of Evangelion, pra ver se surgia alguma inspiração, até surgiu, mas acabou que eu estava muito cansado do longo dia e fui dormir, pois tinha de levantar cedo hoje... Agora, tento escrever algo aqui nessa tarde fresca de domingo... Mas gostei da ideia que tive ontem, de pensar sobre as pessoas que se foram (foram no sentido de ir mesmo, não que tenham morrido) e foi quando me lembrei daquele antigo jargão do Facebook que diz que devemos deixar as pessoas livres, pois, se algo for nosso, sempre acabará voltando. Infelizmente acho que dificilmente pensamos dessa forma pois temos uma forma muito egoísta de amar. Por certo, diria que somos "míopes" quanto ao o amor, pois sempre enxergamos amor em tudo o que não é amor.

Hoje,o relacionamento entre as pessoaa está tão ruim que confundimos educação e cordialidade com amor. Alguém é simpático e logo pensamos que na verdade essa pessoa está interessada em nós. Ai, em nossa pequena mente distorcida, começamos a alimentar mil e uma fantasias onde encontramos um final feliz ao lado dessa pessoa que, na maioria das vezes é praticamente um completo estranho. Em poucas palavras, alguém segura a porta pra gente na entrada do banco e já saímos de lá imaginando onde vamos colocar nossos filhos pra estudar. Digo isso por experiência própria, mas também conheço muitas pessoa assim, e acredito ser um problema bem difícil de se resolver. Também tenho uma certa propriedade em paixões rápidas e com finais trágicos mas que na verdade só acontecem na minha cabeça mesmo.

Tudo isso tem relação com essa forma errada de enxergar o amor, de querer dominar, possuir, ao invés de se doar. Com efeito, creio que amar não tenha sentido no possuir, mas no doar-se. Se essa doação será recíproca, talvez seja motivo pra partir pra outra, ou não, pois o amor também é desinteressado, e se for verdadeiro, não se incomodará com a falta de reciprocidade, isso é o de menos, o que importa de fato é o doar-se verdadeiramente, incondicionalmente. Particularmente, com o perdão das rimas não intencionais, admiro muito esse lado do amor que se sacrifica. Tanto é que as mais belas histórias de amor envolvem o sacríficio.

Voltando a pensar nos que se foram, mais uma vez me perdendo em devaneios, me ponho a pensar em como é doloroso ver aqueles que um dia foram próximos hoje estarem tão distantes quanto desconhecidos. Sim, por vezes eu falo de proximidade, de como é bom encontrar pessoas pelas quais você pode despir a alma, e mostrar quem é você de verdade. Mas é muito estranho de fato notar que uma pessoa que viu o mais íntimo de sua alma hoje agir com frieza e estranheza perante a ti. Como se nunca tivessem se entendido completamente, como se nunca tivessem trocado confidências e visto até mesmo o lado mais obscuro um do outro. Quando conhecemos alguém assim, sentimos que podemos enfrentar todo o mundo pois ao nosso lado se encontra uma pessoa pra lutar com a gente. No entanto, tempos mais tarde, são como dois estranhos, que ao se verem na rua, mal sorriem desconcertadamente um pro outro somente por estarem sem graça em se reencontrarem após tanto tempo. Triste, de fato, mas penso que não haja nada que eu possa fazer... Apenas me lamentar pelas amizades que se foram e lutar pras que as amizades que tenho hoje não tenham o mesmo destino.

Usando uma ótica realista, essa é a coisa certa a se fazer, encarar de frente e aceitar que as pessoas vêm e vão o tempo todo, e é inútil se aborrecer com isso. Começar também a agradecer pelos momentos bons que as amizades trouxeram, e de fato lutar, tentar a todo custo a não deixar essas tristes histórias se repetirem. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Sozinho

Gostaria de começar a postagem dessa noite apática de sexta com dois poemas. O primeiro deles, de Aguinaldo Silva, me trouxe uma visão da solidão mais voltada para aquela cuja causa se encontra na saudade: 

Saudade é solidão acompanhada, 
é quando o amor ainda não foi embora, 
mas o amado já... 

Saudade é amar um passado que ainda não passou, 
é recusar um presente que nos machuca, 
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais... 

Saudade é o inferno dos que perderam, 
é a dor dos que ficaram para trás, 
é o gosto de morte na boca dos que continuam... 

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: 
aquela que nunca amou. 

E esse é o maior dos sofrimentos: 
não ter por quem sentir saudades, 
passar pela vida e não viver. 

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

(Aguinaldo Silva)

Sim, me sinto profundamente sozinho no momento, não só fisicamente, como afetivamente também, mas acho que culpar a saudade por isso seria demasiado injusto, por isso, o segundo poema, de Clarice Lispector, pode me ajudar nas descobertas desse sentimento de angústia que verm ferindo meu coração ultimamente:

...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

(Clarice Lispector)

Bom, decidi usar as duas obras logo no começo pra então conseguir me expressar com mais liberdade, partindo delas, e depois, deixando minha mente vagar mais livremente nesse poço de solidão que essa noite me trouxe, de forma um tanto quanto contida, é verdadem pois o cansaço já cobra de mim uma taxa demasiado pesada pra mim.

Primeiramente, que o homem é uma criatura que teme e evita a solidão a todo custo já é algo mais do que conhecido. É fato que tudo o que construimos gira em torno de evitar essa solidão, inclusive já me demorei muito sobre isso alguns dias atrás em outro texto. No entando, em há ainda alguns aspectos da solidão, mais especificamente, que devem ser abordados. 

Penso eu que, mais do que uma realidade externa, a solidão é uma dimensão interna, que se encontra arraigada no coração do homem. Já disse aqui também, dias atrás, que somos todos tão diferentes uns dos outros que nem mesmo a distãncia entre galáxias inteiras seria suficiente pra expressar essa diferença. Logo, a solidão é algo causada pelo próprio ser, sem ele ao menos perceber, e por isso causa tanta dor. Acontece que, a diferença entre as pessoas é tão grande que elas acabam por, sem querer, se isolando em seus próprios mundinhos particulares, abandonando uns aos outros cada um a própria sorte. E como essa é uma constatação difícil de se fazer. 

Como eu disse, não somos nós quem decidimos nos isolar uns dos outros. Isso tem várias causas. Uma delas pode ser uma causa natural. Fomos concebidos naturalmente semelhantes em apenas uma coisa: em sermos diferentes uns dos outros. No entanto, já não bastasse essa realidade natural, que não podemos mudar, apenas aceitar, existem ainda realidades que nos separam ainda mais uns dos outros.

Ora, se alguém não me oferece nada de edificante, ou pelo contrário, cuja preseça apenas me machuca, eu certamente me afastarei dessa pessoa. Logo, se eu penso assim, e cheguei a essa conclusão de forma tão simples e lógica, imagino que os outros também pensem dessa maneira. Então, aqueles que se afastaram de mim, e agora me vem a mente aquele grande amigo que hoje é apenas um estranho ou até mesmo o homem que um dia eu amei e que hoje sequer consigo lhe olhar nos olhos, assim o fizeram pois, ou perceberam que eu nada tinha a acrescentar a eles, ou porque perceberam que minha presença seria deveras prejudicial a eles.

Não os culpo. De fato reconheço que conviver comigo exige certa dose de paciência. Mas, não consigo deixar de me perguntar constantemente, o que devo mudar pra que as pessoas parem de afastar de mim? Será que minha personalidade é assim tão tóxica que minha presença, minha amizade, minha existência só são toleradas pelo período de tempo em que precisam de mim de alguma forma? O que tem de tão errado assim comigo? 

Pessoas agradáveis atraem outras pessoas. São como uma bela flor, cujo perfume atrai aos insetos e as aves, e assim, tal flor garante a sobrevivência de sua espécia com a polinização. Mas algumas flores são tóxicas, e atraem insetos não para se manterem vivas em outras terras, assim o fazem para tirar-lhes a vida. Será essa a resposta que procuro? De que sou na verdade uma dessas flores que apenas atraem dor e destruição para aqueles que se aproximam de mim? Será que eu sou na verdade aquele jardim de rosas diabólicas que atrai a todos com suas rosas do mais belo vermelho, mas cujo veneno mata a todos que se atrevem a entrar dentro dele? 

Possivelmente a resposta para todas essas perguntas seja um SIM, mas se assim o for, como posso fazer para melhorar e porque isso tem acontecido? Seriam as minhas constantes crises emocionais? Meu pessimismo generalizado? Ou simplesmente todo o conjunto que faz de mim uma pessoa desagradável demais pra ser tolerada por muito tempo?

Logo, a dor da saudade me causa solidão. Essa é a primeira dor. Mas falta de perspectiva também me faz sentir solitário. Como se nunca jamais fosse conseguir me entender com ninguém de fato. Como se a distância que separa a minha galáxia das outras pessoas seja maior que o normal.

Claro, estar sozinho nem sempre é ruim, mas sentir-se sozinho sim. Portanto a pior sensação é de se sentir sozinho mesmo estando rodeado de pessoas. Como se sua presença não fosse a mais importante, na verdade, como se nem sequer chegasse a ser importante. Pensando bem, talvez eu seja uma daquelas pessoas que estão destinadas a sentirem-se sozinhas e assim, conseguir entender, ao menos em parte, um pouco do sofrimento do outro. Mas o problema é esse: sinto como se, se eu desaprecesse nesse exato momento, o mundo de todos ao meu redor continua a girar exatemente da mesma forma, sem nenhuma alteração de sua órbita por minha causa.

O medo de terminar sozinho também é algo aterrorizante. Sim, e é capaz de fazer coisas terríveis com nosso psicológico. Como costumam dizer: a carência faz a gente ver amor onde não existe. E isso é algo deveras brutal de se viver. Digo isso com propriedade de quem destruiu não uma nem duas, mas várias e várias amizades por conta dessa distorção mental. Amizades essas que despertam em mim saudades, que me apertam o coração. Saudades que me matam um poquinho cada vez que imagino os sorrisos que demos juntos hoje sendo usados para sorrir com outras pessoas.

Por outro lado, essa carência afetica extrema também é reflexo de uma auto estima baixíssima. Por mais que diga o contrário publicamente, é nítido que não consigo enxergar em mim mesmo motivos pra ser feliz e nem pra ser considerado uma companhia digna de ninguém; Falta do famoso amor próprio. Mas isso é algo que não creio que conseguirei adquirir de um dia para o outro, logo, me resta aceitar apenas que, algumas pessoas talvez existam para viverem sozinhas.