quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Autodiagnóstico

Bom, se dizem que o brasileiro é um povo que deve ser estudado pela NASA, acredito que pra chegar a alguma conclusão sobre meu estado psicológico, deveriam reunir pesquisadores também do CERN e o do MIT. Sério, quanto mais eu tento criar juízo, mais eu consigo mergulhar no fundo do poço, que aliás, é de onde eu venho escrevendo hoje, enquanto levo um papo da hora com a Samara. 

Não é preciso me conhecer muito bem pra notar que eu tenho uma veia poética um tanto quando sádica e masoquista. Infelizmente essa é uma das minhas caracteristicas mais latentes, e algo contra o qual eu venho lutando já há um bom tempo. Uma pesquisa bem rápida no Google, define o substantivo masculino 'masoquismo' como uma 'perversão caracterizada pela obtenção de prazer sexual a partir de sofrimento ou humilhação a que o próprio indivíduo se submete; algolagnia passiva [O termo deriva de cenas descritas em livros de Leopold von Sacher-Masoch.] AND como uma 'atitude de uma pessoa que busca o sofrimento, a humilhação, ou que neles se compraz.' Não que essa palavra precisasse de definição, mas tudo bem.

Antes de mais nada, gostaria de me defender e dizer que não sou nenhum pervertido sexual e que por gentileza, leia até o final desse post (que não deve ser muito longo, pois já é o segundo de hoje) antes de tirar qualquer conclusão. Ou não. Na verdade não ligo.

Acontece que, e isso eu já observei a muito muito tempo, eu tenho uma absurda predisposição ao sofrimento autoinfligido, e isso é algo bem triste de se conceber, se for pensar bem. 

Primeiramente, eu percebo essa psicótica necessidade de sofrimento nos meus relacionamentos. Sim, pois não conheço ninguém mais com tamanha vontade de sofrer como eu, a não ser talvez, aquelas mulheres que, mesmo sofrendo uma grave violência doméstica, se recusam a denunciar seus conjuges, por seu sentimento doentio. O caso das que não o fazem por medo já é assunto pra outro dia, em outro blog. O que eu quero dizer é: vivo em situação de sofrimento auto imposto, como um cilício que agredindo minha pele, me faz ter a vontade de usá-lo cada vez mais, para, cada vez mais ferido por ele, conseguir sentir com a mesma força de antes, o prazer do sofrimento que antes recebia involuntariamente.

Pelo que pude observar num breve exame de existência, já é algo que se apresenta desde a mais tenra idade. A começar da minha patética propensão a me apaixonar sempre justamente pelas pessoas mais impossíveis do mundo, com algumas raras exceções. Em sua maioria, diria que a maioria dos meus sentimentos foram entregues a pessoas que, ou nunca poderiam me corresponder, ou que depois de certo tempo resolveram se afastar de mim. Como qualquer pessoinha normal, eu deveria aprender com os erros e mais do que isso, começar a usar esse aprendizado pra acertar. Mas eu faço isso? A resposta é um longo e sonoro não! Espera, só em português não é suficiente:

No, non, niet, nein, ei, visszautasítás, inga, nullus, oxi, ez, nie, a'an, le, ne, nehee, yega, nu e não!

Inclusive, quanto mais sofrimento eu consigo infligir a mim mesmo, mais eu sinto ser capaz de suportar e desejar mais. Claro, isso não é algo que eu faça 100% conscientemente. Na verdade, penso justamente ser algo insconsciente pois, quando volto a realidade, só então percebo o nível a que cheguei. 

Hoje mesmo foi um dia assim, poderia muito bem ter evitado uma situação que me causou dor. Uma situação que trouxe a superficie alguns dos sentimentos que eu já conseguira arraigar novamente no âmago da minha existência, com muito custo, diga-se de passagem. Eu podia ter simplesmente ignorado, como faço com a maioria das coisas desinteressantes de minha vida. Poderia. Deveria na verdade. Mas não, fui atrás, não uma, mas duas, três vezes, e mesmo sabendo o quanto aquilo iria me machucar, eu não conseguia parar até ter alcançado o grau mais alto de dor que aquela situação poderia me oferecer. E só consegui parar quando, já em lágrimas, eu só queria sair do meu quarto e correr, sem destino, até que meus pulmões estourassem e eu caisse debilitado, em posição fetal, a contemplar a amargura dos meus sentimento e o abismo de minha patética existência. Ora, pra quem ler apenas essa última parte pode chegar a conclusão de que fato levo uma vida sofrida. Bobagem. Levo uma vida ótima, realmente muito tranquila pra qualquer que seja o padrão. Todo o meu sofrimento é auto infligido. Logo o sentimento que mereço do meu próximo não é o de compaixão, é de pena, desprezo. 

A pessoa necessita tanto de atenção que acaba por se auto mutilar (a nivel afetivo ok? nunca encostei sequer uma navalha em minha pele, a não ser pra fazer a barba) para assim poder mendigar os sentimentos de afeição do próximo. E isso já se tornou um ciclo vicioso: dar um up na auto estima, conseguir encontrar uma pessoa legal, interessante, sair com ela, e ai, quando tudo está bem, eu desenterro algo do meu passado infernal pra me sentir mal e ai corro atrás de carinho e atenção. Ora, numa situação dessa, qualquer pessoa sã se afastaria de mim, e isso é perfeitamente compreensível. Mas eu só compreendo isso agora, quando estou no que se pode chamar de estado de sobriedade afetiva, quando entro novamente no ciclo, isso simplesmente foge da minha mente como a areia que cai por entre os dedos de uma criança na praia. Daí, em sofrimento por ter sido abandonado, eu mergulho num oceano de torpor a procura de uma forma de superar tudo isso. Depois de algum esforço, consigo dar a volta por cima e BANG! Começa tudo de novo...

O exemplo ainda mais recente desse ciclo completo foi o último fim de semana. Eu estava acompanhado por, além de alguns amigos, de uma pessoa muito querida por mim, e que tem me feito muito bem nos últimos tempos. E foi quando eu revi uma outra pessoa, que me fez muito feliz também tempos atrás. Nem preciso dizer quem. E isso foi o suficiente pra eu me abalar. 

Não devia ter sido assim, se eu já estava com uma pessoa ainda melhor, nem devia me incomodar com a outra presença; Mas não consegui ser forte assim. Fui um extremo idiota com aquele que me acompanhava. E como me arrependo de não ter sido capaz de lutar contra o que senti naquele momento...

Isso só demonstra minha inclinação natural e doentia ao sofrimento, a dor. Mas eu não quero mais ser assim. Quero ser capaz de olhar para o meu ex e não sentir absolutamente nada por ele. Quero poder construir um relacionamento saudável, nos parâmetros normais, sem nenhuma patológica necessidade de atenção expressada em ciúmes e em situações potencialmente prejudiciais ao meu psicológico. Quero ser normal. Não faz bem eu permitir ser machucado dessa maneira. Não posso me render assim, ou do contrário, posso um dia não suportar os sofrimentos que busquei e assim, acabar morrendo, ou enlouquecendo.

Meu aprendizado de hoje, que tentarei aplicar de alguma forma, é portanto aquele que eu costumo cantar, dizendo:

"Não quero mais me render,
Nem posso me machucar!
Eu não quero perder,
Meu destino é lutar..."

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