segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Pessoas, decisões e destino

O mundo continua a mudar, e a roda da fortuna continua a girar... Em minha mente nesta noite, só consigo enxergar alguns vislumbres do universo. Já fora de mim, posso ver não somente o mundo inteiro, como boa parte das estrelas e dos planetas que recobrem o cosmos com suas infinitas existências. O universo é tremendamente gigantesco, esconde ainda centenas de milhares de lugares desconhecidos, e se mesmo aqui no mundo onde vivemos diversas coisas ainda nos surpreendem diariamente, tanto mais no cosmos infinito que nos rodeia. 

Portanto, dizer que isso ou aquilo não existe, ou é impossível, é algo que me soa demasiado prematuro de se dizer, na maioria dos casos, visto justamente a grandeza do universo e as infinitas possibilidades da existência. Quantos mundos será que não existem por essas galáxias... Quantas formas de vida desconhecidas podem ou não haver ali. Quantas paisagens maravilhosas, quem sabe até ainda mais deslumbrantes que as maravilhas naturais aqui de nosso planeta. Quantas possibilidades! Mas ao mesmo tempo que tudo parece incerto e desconexo, ao observarmos o mundo à nossa volta, noto também uma harmonia perfeita. Me atreveria a chamar de harmonia do caos. Pois em sua aparente anarquia, o mundo se revela perante meus olhos como uma perfeita sinfonia. E aqui eu uso como exemplo, vislumbres de musicas que, ao ouvinte desatento, soa exatamente como barulho, bagunça, mas ao olharmos a partitura atentamente, vemos que, é justamente nessa bagunça, que reina a mais completa ordem. 

Quem quiser entender o que digo, basta ouvir o 1° movimento da Sinfonia Patética do meu querido Tchaikovsky, ou a Appassionata de Beethoven, ou ainda a Sagração da Primavera (Le Sacre du Printemps) de Istravinsky

Essa harmonia do caos então, permeia todo o mundo. Faz com que tudo aconteça de uma forma ou de outra, visando um objetivo. Ou vários objetivos, não sei dizer. Mas uma coisa é certa, o mundo é sim regido de certa forma e é isso que faz com que nossas vidas sigam determinados destinos. Mas isso tudo é um pensamento um tanto quanto abstrato, e apenas uma fração do que está em minha mente e que consegui transcrever aqui.

Em dados momentos, pensamentos fixos e bem delimitados nos são negados, visto que a vida também tem sua porção de abstração, e pelo pouco que sei dela, posso dizer que tentar entendê-la e a existência é o mesmo que tentar abarcar o mundo com as mãos, dada a complexidade de tudo que existe à nossa volta. Começo um tanto confuso, eu sei, mas hoje estou numa daquelas vibes que ocorrem sempre que revejo à obra do mestre Anno, tentando entender certos aspectos da mente e da alma. Estava a me perguntar então, por exemplo, das motivações que possam existir por detrás de nossa existência e dos muitos caminhos que percorremos durante a vida. Essas dúvidas me surgiram enquanto, não por coincidência, refletia sobre o passado, mas especificamente sobre aqueles que se foram. Não apenas os que me abandonaram, mas também os que morreram. Permita-me que me organize primeiro. 

Na vida, passamos por muitas coisas diariamente. Travamos batalhas que ora conquistamos à muito custo e outras que, não importa o quanto lutemos, sempre acabamos por perder. Em dados momentos também nos encontramos em impasses que permanecem por tanto tempo que chegamos a nos acostumar com eles. Dentre essas idas e vindas, dois fatores são determinantes para as tranformações que sofremos durante toda a nossa caminhada. Esses fatores são: as pessoas e as nossas escolhas.

As pessoas vem e vão o tempo todo, e é inútil nos aborrecermos ou tentarmos impedir suas partidas. Pra exemplicar o que isso pode significar em nossa vida, creio que as palavras de Milton Nascimento sejam melhores do que as minhas, quando ele diz: 

Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...

Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...

Penso então que esse primeiro fator determinante em nossa construção nos seja totalmente exterior e completamente fora de nosso alcance. Ora, não podemos manter todas as pessoas que amamos ao nosso lado, durante todo o tempo. Pensar nisso seria loucura. Inúmeros são os motivos por detrás das chegadas e das despedidas, mas uma coisa é certa: Elas vão sempre acontecer, independente de nossa vontade. Claro, perder um amor ou um amigo é sempre doloroso, mas quase nunca evitar isso está sob nossa possibilidade. E as pessoas continuarão a partir, e outras continuarão a chegar, e a vida continuará a seguir ser curso.

O outro fator é o de nossa escolha. Esse, em oposição ao anterior, depende justamente de nossa vontade, sendo portanto interior. A vida é feita de escolhas, e são essas escolhas que definem quem nós somos e que caminho trilharemos. 

Bom, então um desses fatores é externo e o outro interno. Um depende de nossa vontade e outro não. E apenas isso é determinante pra explicar tantas e tantas atribulações em nossa vida? Não, ai é que entra o resto, e por resto, eu quero dizer, o universo. Por isso comecei o texto com uma reflexão sobre o cosmos. Então, voltando a essa reflexão, me pergunto se não existe um outro fator, esse por sua vez, nem interno e nem externo, mas transcendente a cada um de nós e que, até certa altura, também influencia e guia nossas vidas.

Muitos nomes poderiam ser dados aqui, e muitas teorias também já existem sobre isso. Não vou falar sobre cada uma delas porque não tenho tempo, paciência e nem conhecimento de causa, e principalmente porque esse não é meu objetivo. Mas aqui caberia mencionar Deus, o Destino, ou qualquer outra força cósmica do tipo. Mas também não quero cair nessa heresia. Primeiramente porque me recuso a pensar em Deus como um mestre dos bonecos que controla nossas vidas através de fios invisiveis, enquanto temos a ilusão de nossa independência ao vagar sem destino na palma de sua mão. Não, minha forma de pensar em Deus é justamente na de um Pai, que por vezes se afasta do filho para que ele aprenda algo, mas que sempre está disposto a ajudar e ensinar quando solicitado. Em resposta aos questionamentos sobre sua existência, digo apenas que o silêncio também é uma resposta, coisa que a vida me ensinou muito bem, e que só porque ele não fala diretamente a mim com palavras, não quer dizer que não o faça de muitas outras maneiras. Mas também não pretendo começar aqui um discurso espiritual. São João da Cruz e Santa Tereza D'Ávila o fazem melhor do que eu. 

Também não estou dizendo aqui que nossas vidas são regidas pelos astros e que a astrologia pode explicar esse complexa harmonia do caos de que tenho falado. Basicamente porque, mesmo sendo um grande fã dos Cavaleiros do Zodíaco, me recuso a pensar que a posição do Sol ou da Lua no momento de meu nascimento tenham dada influência sobre mim. A influência de que trato aqui, e que tenho em mente, é maior, mais profunda, e ainda que essa força dos astros exista, essa a superaria e muito em poder e sutileza. 

Tenho tentado falar sobre algo mais profundo, algo que não sei que nome dar, mas que como que o regente numa orquestra, organiza toda a confusão dos diversos sons dos variados instrumentos para que tenham um sentido. Essa harmonia seria então, a responsável por não permitir que nossas consciências explodissem com o conhecimento do todo e logo, ao fechar nossa mente para que vívessos apenas o que lhe aprouvesse, vai delimitando nossos caminhos. Não influencia nossas decisões, não no sentido estrito da palavra, mas apresenta as possibilidades a nossas frente, e ao fazer o mesmo quanto aos outros, acaba por influenciar também os fatores externos de que falei. 

Seria então o destino a palavra que estou a buscar? Sorte? Talvez. Mas quando o destino, que assim seja, apresenta a minha frente a possibilidade de ir ou ficar e faz ao outro a mesma proposta, nós podemos ou não decidir pela mesma coisa. Claro, isso é algo tão pessoal que justamente daí surgem as partidas e despedidas, mas também daí que surgem as chegadas e suspresas. 

O mundo é então essa complexa teia, nossas escolhas se cruzam com as escolhas do próximo, e assim vamos transformando a nós mesmos e ao mundo a nossa volta. Essa harmonia do caos que invisivelmente nos toma pelas mãos e nos leva a lugares desconhecidos, que transforma nossas vidas de forma tão profunda que muitas vezes temos a impressão de estarmos vivendo de cabeça pra baixo, quando na verdade só somos muito pequenos pra entender de fato o caminho que estamos a percorrer. 

Pensar sobre isso, no entanto, não passa de uma distração. Uma tentativa infantil de entender o mundo e explicar as dores causadas pelas partidas dos que já foram. A verdade é que estou apenas a tentar esconder meus medos e ansiedades frente ao desconhecido e frente as partidas de minha vida atrás dessas numerosas palavras. Como resultado, me vejo como um velho poeta beberrão, que mesmo tendo escrito centenas de poemas sobre o amor, ainda não conseguiu achar o grande amor de sua vida, e por isso ceifa sua própria existência nos bancos do bar com o álcool a sua frente, enquanto pensa nos que se foram e ali o deixaram, em sua miséria, para aprender ainda mais sobre as desgraças da vida e assim, quem sabe, conseguir entender dos motivos de sua existência.

Talvez buscar a resposta para essa pergunta essencial seja justamente nosso motivo pra existir. E note que disse 'buscar' ao invés de 'achar', pois acredito que a mesma não possa ser encontrada, mas sim que deve ser buscada, por todos, durante todo o tempo, e que no fim de tudo, poderemos unir as respostas de cada um e assim conseguir enxergar o todo, enxergar a totalidade, e assim, abarcar finalmente a totalidade da existência, quando não mais seremos controlados por forças invisíveis e desconhecidas, quando teremos de fato acesso a esse 'não sei quê' que tanto buscamos.

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