quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A Espada de Fogo - Cap. 2 ~ Vai sobreviver a mim?

Estava ainda mais confuso do que antes. Agora, depois de tudo o que acontecera, minha mente latejava e viajava frenéticamente em milhares de pensamentos. Me lembrava muito vagamente do dia que acabara de viver, e acordei muito confuso aqui na parte mais escura dessa floresta. 

Embora se parecesse muito com um sonho, o que acabara de acontecer tinha de fato sido possível, de alguma forma. Prova disso eram as pedras enormes, cobertas de folhas e galhos, da criatura destruída atrás de mim. Pelo que pude deduzir, depois que voltei a caminhar em direção ao monte que me chamava, acabei por desmaiar depois de apenas 5 ou 6 passos, e ficara sabe-se lá quantas horas ali, naquele lugar medonho. 

Como a luz do sol em si já havia diminuido e muito devido à grossa vegetação, e agora já caíra a noite, não consigo descrever o desespero em me ver sozinho ali, no meio daquele lugar completamente desconhecido, frio e, agora extremamente escuro. Dentro de mim, duas forças conflitantes lutavam frenéticamente: Uma delas queria fugir dali, voltar para a clareira aconchegante onde tinha acordado horas atrás e de lá não sair nunca mais. E a outra, queria continuar a andar, em busca de algo desconhecido, respondendo a uma estranha voz que eu ouvia me chamar. Com uma certa relutância então, recomecei a minha caminhada, sentido-me estranhamente disposto, fisicamente, mas esgotado de tanto tentar imaginar que lugar seria aquele e o que estaria acontecendo comigo ali. 

Voltei a minha caminhada que, somadas as horas anteriores, parecia que não teria fim nunca. Quanto mais andava, mais parecia distante da montanha que me chamava, e logo eu comecei a correr, já desesperado com o que podia acontecer se não alcançasse logo aquele lugar.

Depois de alguns minutos correndo com toda a velocidade que podia, sentindo o vento passar com extrema rapidez pelos meus ouvidos, e quando a árvores não passavam de borrões ao meu redor eu, num susto, parei, ao ver algo brilhar novamente em meio a escuridão. Me lembrei imediatamente dos olhos brilhantes carmim da criatura que encontrei ao entrar nessa parte escura e todo o meu corpo tremeu novamente de medo. Me escondendo atrás das árvores e sequer respirando pra conseguir me aproximar mais eu consegui ver, e a visão que tive foi pior do que eu poderia imaginar. Ainda que os destroços que estavam atrás de mim quando acordei algumas horas atrás me dissessem o contrário, eu ainda queria acreditar que aquela situação toda de pedras vivas e luzes brilhantes que faziam plantas crescerem fossem fruto de minha fértil imaginação. Mas aquela visão só me dizia que na verdade era tudo real, pois a minha frente se encontrava não uma, mas três criaturas idênticas aquela que agora jazia aos pedaços no início da mata fechada.

Tentei correr pro lado oposto, mas de algum forma sentia que não poderia, que o som dos meus passos só iria chamar a atenção deles. E estavam bem ali, a poucos metros de mim, procurando por algo. Altos, imensos, e colossais, rochas e colunas vivas, encimadas por olhos vermelhos que brilhavam como o sangue. Agora que não mais corria, podia ouvir o som abafado de seus corpos pesados. E sabia que, embora de alguma forma estranha eu tenha conseguido fazer aquele outro cair, seria impossível fazer isso com esses três, que aliás, pareciam ser ainda maiores e mais ferozes. Com muito custo consegui dar um passo atrás, meu grande erro, pois assim que o fiz, quebrei um galho, que seco gritou e ecoou por toda a mata. Imediatamente os olhos das criaturas brilharam violentamente e a que estava mais próxima de mim veio em minha direção, conseguindo se mover numa velocidade espantosa, ou talvez minha visão estivesse mais lenta devido ao medo que sentia e me dominava. Mas dessa vez fora diferente.

Ele veio correndo imponente em minha direção. Com apenas um toque de sua mão, arrancou a arvores gigantesca atrás da qual eu me escondera e apontava o ombro largo pra mim. Aquela velocidade eu seria destroçado. Mas foi quando, num milésimo de segundo, pude sentir novamente um calor em minhas mãos e pés e que logo se espalhou pelas costas e se expandiu, como num explosão. Num piscar de olhos então eu consegui, com apenas um passo, ir para detrás da criatura e encarar de frente as outras duas que também viam em minha direção. A força que explodira de minhas costas eu agora podia ver, era como uma luz, ou uma névoa, e se espalhou por boa parte do espaço ao meu redor, e me pareceu que as criaturas agora é que se moviam lentamente. Ou talvez eu tenha ficado mais rápido. O fato é que a primeira criatura gigantesca já se dera conta de que eu estava próximo de suas costas, e já se preparava para outro ataque mortal, quando num giro, apontava sua manopla para mim. Foi quando tomado de uma súbita consciência do espaço ao meu redor, eu saltei, mas não um salto comum, um salto de vários metros, e fui muito acima da altura dos monstros que me cercavam. Os outros dois pararam, perdidos, ainda procurando onde eu me escondera. Foi como se eu flutuasse alguns segundos no ar, e voltasse a descer com toda a velocidade. Senti novamente toda aquela força concentrando-se em apenas uma de minhas mãos, e fiz com que ela tocasse o chão antes do resto de meu corpo, e eu sabia que seria destroçado ao chegar ao chão devido a força com estava que caindo. Mas o resultado foi completamente diferente.

Duas das criaturas foram arremassadas para vários metros de distância, e quando finalmente pararam de cair, destruindo muitas arvores gigantescas cada uma, já estavam em pedaços no chão, os olhos diminuindo o brilho lentamente. O terceiro demonio de pedra também fora arremessado, mais ainda estava de pé, e a julgar pelo brilho de seus olhos, estava também furioso. Eu percebi que ele estava muito acima de mim pois, além de jogar os monstros longe, o impacto do meu punho no chão abrira também uma enorme cratera. Grande o suficiente pra caber um predio inteiro. Nem precisei pensar duas vezes, pois a essa altura, já conseguia me mover livremente e, com aquela luz branca ainda me rodeando, eu não sentia mais medo nenhum. Saltei por sobre a criatura e, num movimento certeiro, acertei o topo de sua cabeça, e aterrisei de pé atrás dele, ouvindo apenas o barulho ensurdecedor dos seus pedaços caindo as minhas costas.

Dessa vez, a força nãoo cessara, pelo contrário, eu sentia que era semelhante a minha respiração, e como tal, eu podia ter algum controle sobre ela. Foi quando respirei fundo, e concentrando toda essas força nos pés, e abrindo os olhos, eu percebi que estava de frente a grande montanha, que até poucos segundos atrás parecia estar ainda há vários dias de caminhada de distância.  Ali estava ela: grande, imponente, mal podia ver onde terminaria seu pico. Por dentre as nuvens, talvez. Mas a voz que ainda sentia dentro de mim agora dizia que precisava subir. Como não fazia ideia de como subir algo tão alto assim sem cair e morrer, decidi rodear a montanha e ver se havia um caminho possivelmente mais fácil. Andei por alguns minutos, aquela estranha força já desaparecera completamente, embora eu sentia que pdoeria fazê-la voltar se quisesse. 

A essa altura, a razão já havia me abandonado, e eu devia estar sim, desesperado com o que acabara de acontecer, mas na verdade sentia como que se já estivesse acostumado com aquela força desde muito pequeno. 

Depois de alguns minutos, tive vontade de rir com a visão que se apresentou a minha frente: uma gigantesca escadaria se abria, com enormes portões dourados em seu fim. Seria uma subida árdua, longa, mas ainda assim, bem mais tranquila que se fosse uma escalada. Comecei então a andar, e antes que alcançasse o terceiro ou quarto degrau, já tive de interromper minha subida. A minha frente, apareceram três homens, vestidos de preto, encapuzados, deixando a vista apenas os olhos.  As três primeiras pessoas que eu encontrara naquele lugar bizarro. Mas seus olhos também brilhavam como sangue, e os três seguravam espadas que me pareceram muito afiadas. Antes que dissesse qualquer coisa, um deles, num salto, me atingiu com um chute na altura do peito, que me jogou a vários metros abaixo, batendo a cabeça com força numa árvore. Demorei a entender, mas sabia que deveria passar por mais aquele obstáculo se quisesse chegar ao topo da montanha.

Levantei rapidamente e tentei fazer com que aquela névoa branca me envolvesse de novo, e ela aos poucos foi se revelando ao meu redor. Um calor percorria todo meu corpo e eu sentia que o golpe que acabara de levar não doia mais. Avancei. 

Os três se moviam numa velocidade espantosa, e eu não coonseguia acompanhar. Me atacavam por todos os lados com chutes e golpes de espada que abriram cortes profundos nas minhas costas e braços. Parei na altura do décimo degrau mais ou menos, dois homens a minha frente e um atrás. Novamente consiciênte de todo o espaço ao meu redor. De joelhos então, eu sentia o sangue quente escorrer, mas não sentia dor. Me concentrei então nos meus olhos, para tentar acompanhar seus movimentos rápidos como a luz. E pareceu dar certo, pois ao me levantar, eles pareciam se mover bem mais lentamente. Subi dois degraus com uma velocidade impressionante e, com um golpe do ombro, quebrei a espada de um dos homes, lançando-o longe. Antes que o outro pudesse se dar conta do que acontecera, levantei a perna num chute que arremessou o segundo aos pés da escada. A essa altura, o terceiro me alcançara e preparava um ataque por trás. Como um reflexo, virei e segurei sua espada com apenas dois dedos. Ele assutado não conseguiu reagir quando, também com a força de um chute, o lancei vários degrais abaixo. 

Antes que perdesse aquela luz novamente, comecei a correr escada acima, mas mal subira outros dez das centenas de degrais e um outro grupo de homens armados me esperava. Dessa vez não três, mas cinco homens já apontavam sua espadas brilhantes pra mim que, com certa dificuldade derrubar. Mas não sem sofrer nenhum dano, dessa vez, outro corte profundo em uma das pernas. Mas eu não poderia parar, pois a voz que me chamava para subir ao topo da montanha que ficava cada vez mais alta. Continuei a subir, e os inimigos continuavam a aparecer, cada vez em maior número, e cada vez usando técnicas mais ferozes para tentar impedir minha subida. Primeiro foram dez inimigos, depois dezessete, vinte e três e assim sucessivamente, até que quase fui morto, já exausto, ao enfrentar mais de cinquenta inimigos, já próximo dos portões.

Mais uma vez eu me ajoelhara, tentando recuperar o fôlego, enquanto os poucos homens que restaram palanejavam um ataque em conjunto em minhas costas. Ja desesperado, busquei toda a luz que havia dentro de mim, e aquela força mais uma vez explodira com toda a potência em minha scostas, assim com acontecera com os monstros de pedra e num piscar de olhos, pude não só desviar de todos os ataques, como apenas com a liberação daquela estranha força, derrubar a todos. 

Estava profundamente abalado. Os golpes recebidos já doiam, e muito, e não sei com ainda estava de pé após perder tanto sangue. Minhas roupas estraçalhadas, deixando várias partes de minhas costas, peito e pernas a mostra. O rosto sujo de poeira, sangue e suor e muitos inimigos caídos ao chão. Uma visão assutadora. Dei meia volta, novamente em direção aos grandes portões e fiquei contente em ver que finalmente havia subido toda a escadaria. O dia já amanhecia, lentamente. O que significara que passei boa parte da noite a lutar. Olhando uma última vez para trás me assustei ao ver que não havia mais ninguém ali que eu tivesse derrotado, nem mesmo as marcas no chão deixadas por um ou outro ataque mais poderoso e que arrancara grande blocos de pedra. Mas isso não importava mais: eu finalmente alcançara o portão.

Imensas portas douradas, de vários metros de altura, com detalhes que me pareciam letras num idioma que não conhecia. Empurrei, e elas se abriram com uma estranha facilidade, para portas daquela altura e espessura. E quando dei apenas um passo para dentro do que pe pareceu ser um salão, pude ouvir, dessa vez claramente, a voz que me chamou para aquele lugar. Era a voz bonita de um rapaz jovem, que me disse:

- Ora ora, e não é que você conseguiu chegar aqui com vida? Parece que você despertou seu espirito e conseguiu sobreviver aos meus garotos. Mas vai sobreviver a mim? 

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