sábado, 13 de agosto de 2016

Laranjeira em Flor

Acredito que seja de conhecimento geral que os poetas não enxerguem as coisas como as outras pessoas. Por exemplo, ao sair de casa e se deparar com uma flor, as pessoas normalmente dizem "Olha, uma flor!" e se vão. Os poetas não, esses se detêm aos pês da flor, e passam vários minutos admirando sua delicada beleza e ainda conseguem compor em sua mente, inpumeors versos que falem de sua beleza se relacionem com a delicadeza de suas amadas e amados. 

Pessoalmente ainda não escrevo poesia, não no sentido estético da palavra, mas, se pensarmos no poeta na sua definição do dicionário, como alguém capaz de escrever com imaginação e sensibilidade aguçadas, eu me considero um poeta. Não o digo de forma orgulhosa, como se isso fosse um título ou algo do tipo, mas o digo pois em meu dia, tento sempre olhar o mundo que me rodeia da forma mais sensível possível.

Hoje não foi diferente. Tive de sair cedo para uma aula na faculdade e quando olho pro carro na garagem, fiquei alguns minutos bobo com aquela cena. A garagem foi cimentada recentemente, mais deixamos um pé de laranjas no centro. E nessa época do ano, a laranjeira floresce. Não havia notado ainda, mas o chão, e o carro, estavam cobertos por uma fina camada de flores de laranjeira. Não podia demorar muito, então entrei no carro e tive de ir, e quando o carro acelerou na rua, as flores começaram a voar, deixando um rastro disperso de pétalas delicadas na porta de minha casa. 

Esse momento, tão simples, mas ao mesmo tempo tão profundo me deixou várias impressões, e passei boa parte do caminho até a faculdade pensando na laranjeira em flor. Bom, pra alguém que cresceu ouvindo da mãe sobre plantas, eu consegui reter algumas coisinhas, e sei que a laranjeira simboliza o amor puro, a pureza e a fidelidade, e inclusive essas flores eram muito usadas e casamentos até certo tempo atrás. E isso me tocou tão profundamente... e eu fiquei pensando que é tão triste, olhar o mundo a nossa volta e ver que tão poucas pessoas lutam em razão desse amor, por isso as flores estavam ao chão, que é onde também rasteja atualmente esse sentimento tão raro entre nós atualmente.

E as flores, além de ficarem caídas ao chão, ficaram para trás, quando me fui. E assim temos feito como nossos corações, partimos em altas velocidades enquanto abandonamos as delicadas pétalas de pureza com que fomos presenteados. Essa cena me emocionou, fiquei triste por não ser capaz de recolher esse amor puro e deixá-lo belo num vaso... me entristeci por ver que as belas flores da fidelidade, jaziam mortas e amassadas, esperando apenas o momento de serem devoradas pela terra. Infelizmente o mesmo que acontece com nós. Estamos apenas a esperar sermos devorados pela terra, estamos ao chão, e não resplandecendo nos altos galhos da laranjeira, ao lado de doces e belos frutos... 

O lado bom disso é pensar que, logo todas as outras flores irão cair, e eu somente poderei ver a laranjeira em flor no ano que vem. Assim também como na vida, florescendo conforme as estações, variando entre períodos em que nossa beleza está resplandecendo em cada pétala, outros momentos de repouso, onde apenas o verde da esperança pode ser visto, e também aqueles momentos onde o que temos de melhor é lançado ao chão e levado pelo vento.

Levado pelo vento... outra metáfora que figura dentre as minhas favoritas... e nessa noite, outra flor ao chão me chamou a atenção. Mas dessa vez não foi de uma árvore no meu quintal, mas de uma flor que brotou no meu coração e nele mesmo se despedaçou, e agora é levada pelo vento. E aqui sou vítima de minha própria metáfora, que o amor puro, desinteressado, significa também ser livre. Amar não significa prender, por mais que se queira aquela pessoa ao se lado pra sempre. Mas dizer que se ama de forma pura, também implica dizer que, se a pessoa quiser ir, a deixaremos livre, devido ao fato de que, por esse amor, desejamos apenas o seu melhor, seja ao nosso lado ou ao lado de outro alguém.

Aqui se encontra em contradição duas naturezas do homem: a primeira, egoísta, quer reter para si todos os deleites e gozos do mundo, e tamanha é a avareza de seu coração que há a presunção de pensar que se não for com a gente, tal pessoa não merece ser feliz com mais ninguém. Uma visão tristemente limitada e possivelmente doentia. A outra, é justamente a de que já falei, e que, visando apenas a felicidade daquele que se ama, em detrimento da própria felicidade, deixamos a pessoa livre para fazer suas próprias escolhas. Penso eu ser essa a essência do amor. Querer forçar uma reciprocidade que não existe é egoismo, e crueldade, além de um tanto quanto masoquista.

Infelizmente as coisas nem sempre correm de acordo com nossos planos. Criamos o nosso roteiro, de que algo vai funcionar certinho como imaginamos e o destino vai lá e muda tudo, nos vira de cabeça pra baixo e nos deixa com as situações mais inusitadas pra resolver. Mas penso também ser essa a beleza da vida, ou uma das belezas vida. Não se pode ganhar todas, e as vezes perder significa aprender a dar valor. 

Mas essa contradição só é sinal de que algo não vai bem dentro de mim. De que preciso ainda aprender a me desapegar do mundo e das pessoas ao meu redor. Mais importante ainda: aprender a amar de verdade, sem querer tomar ninguém pra mim. pois não somos donos de ninguém. Simplesmente entender que, quando é pra acontecer, tudo conspira a esse favor, e por mais que apareçam impecilhos, estes nunca tem poder de fazer morrer um amor. Então, se não aconteceu nada, talvez não seja pra ser assim. As vezes o amor puro tem de se revelar justamente no companheirismo, na amizade, na cumplicidade. Colocar os interesses e a felicidade do amado em primeiro lugar, isso é amar, isso é se doar. 

Que sigamos então o exemplo da minha laranjeira em flor, que mesmo deixando que suas flores caiam e morram, supera a si mesma e torna a florescer na estação seguinte, lembrando a todos da importância do amor puro, da pureza e da fidelidade...  

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