sábado, 30 de junho de 2018

Da preocupação

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.
(São João da Cruz)

Tão belo ver a delicadeza da atenção, do carinho, do cuidado. Acredito eu que a preocupação com o outro é um dos sentimentos mais belos que uma pessoa pode sentir pelo seu próximo. A preocupação é a manifestação do amor em forma de carinho. É a forma mais pura do amor se mostrar concretamente.

E eu vejo isso numa mãe que se preocupa com seu filho, que começa a se tornar independente, e com isso pensa em todas as coisas ruins que podem lhe acontecer em sua ausência. Mas ela não pode mantê-lo consigo para sempre, e aos poucos vai deixando que ele se vá, e volte cada vez mais tarde, até que um dia não volte mais, e saia pelo mundo para construir sua própria casa e, ao lado de outra pessoa, constituir sua própria fonte de preocupações. 

Também os amigos se preocupam uns com os outros. Ou ao menos deveriam preocupar-se. Mas infelizmente no mundo em que vivemos em que as pessoas estão cada vez mais fechadas em si mesmo isso tem se tornado uma raridade quase mitológica. 

Onde estão os amigos que se preocupam com o outro? Que querem ver o seus bem e felizes, que desejam as mesmas coisas e rejeitam as mesmas coisas? Onde estão os velhos amigos que desejavam gozar da presença do outro? 

Talvez seja eu o excluído dessa história, afinal eu não estou rodeado de amigos senão quando precisam de mim para alguma coisa, e nenhum deles em absoluto se preocupa realmente comigo, com exceção é claro daqueles momentos em que a boa educação se mostra mais latente do que a preocupação em si. 

Pergunta-se se alguém está bem não por uma preocupação real, mas por convenção social, e dificilmente se está disposto a ouvir, e tentar ajudar. 

Os limites da consciência humana nos reduziram a uma solidão absoluta, sendo que, ao meu ver, a única quebra efetiva desse muro que nos separa dos outros é a união entre mãe e filho, haja vista que até a união entre amado e amante, que deveria ser a mais perfeita das uniões, é hoje banalizada ao extremo. 

É irônico escrever essas palavras enquanto meu coração experimenta exatamente essas realidades que minha débil capacidade literária tenta exprimir. 

Meu coração se contorce de preocupação, e deseja dar a proteção que apenas o meu corpo pode oferecer. E essa é uma débil constatação porque minha frágil compleição não pode oferecer a ninguém nenhuma proteção, apenas o conforto de um coração quente do afago de minhas mãos. 

O que eu experimento é o desejo da alma pelo amado, e o desejo pela proteção do amado, que com seus braços fortes num abraço afasta as setas inflamadas do maligno que insistem em perfurar-me a carne. Mas não seria justamente esse abraço a causa da minha dor? Ora, não veio desse abraço o punhal que perfurou meu coração fazendo jorrar ao chão o meu sangue? 

Mas essa digressão vermelha não deve manchar a límpida dimensão do cuidado, da preocupação, que é como uma pérola preciosa, e reflete quanto amor e carinho há entre duas pessoas. Quanto mais brilhante, maior a preocupação, mais se quer bem o amado, ao passo que quanto menor, tanto menor é a consideração pela pessoa que até mesmo questiona-se se é amada...

Ah, então a alma amante suspira em preocupação pelo amado, que por entre as açucenas deseja escondê-lo do mundo, e ali deitar sua cabeça em seu colo e afagar seu cabelo, enquanto sentem a leve brisa do leque das arvores. A preocupação é em si o desejo pelo amado. 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Do Eu

Quem é você? 

Quem sou eu? Eu sou eu ué, mas eu já não sei o que isso significa. Quem sou eu? 

Quem é você, e qual o motivo de tantas lágrimas? 

Eu não sei porque estou chorando. Só sei que meu coração quer chorar, e não quer consolo, e nem conselho. Mas eu não sei o que ele tem...

Eu queria conseguir entender o que tem se passado comigo. Queria compreender o que são esses sentimentos conflitantes que pulsam de forma tão violenta dentro de mim. Queria saber o que é isso que me paralisa, que me pesa a alma e o coração como correntes de aço. 

Eu só queria entender essa minha tristeza...

Eu queria entender o que me faz suspirar quando ouço seu nome, entender o que me faz querer fugir ao ver seu semblante, entender o que me faz querer nunca mais ouvir sua voz, para que ela não desperte em mim o desejo do seu toque. 

O toque que não posso ter.

É culpa sua ser você.

Mas eu queria não ser eu. 
Eu amaldiçoo o meu eu. 

Esse eu que nasceu para amar um homem que nunca será capaz de me amar. Esse eu que é incapaz de se ver como alguém digno de honra ou do mínimo respeito, esse eu que não é mais do que os vermes mais imundos das ruínas que passam pela existência apenas para devorar os cadáveres. 

Onde está seu sorriso? 

Eu não sei. 

Não me lembro como é rir ou sorrir. Tudo o que me lembro é de como colocar uma máscara de sorriso, que no entanto já está rachada...

Onde está a sua música? 

Eu não sei.

A música foi diminuindo, diminuindo, e eu já não escuto mais. Não escuto minha voz, nem a voz do outro. Não escuto mais as batidas do meu próprio coração. Acho que ele parou. Não escuto mais aquela respiração. Estou sozinho, sentado no escuro, e a música não faz mais sentido. 

Onde está sua vida? 

Eu não sei.

Esse amor me consumiu, levou de mim o pouco que me restara. Agora eu não sou mais do que os restos dos cadáveres que os vermes roeram. Mas eu não sei para onde foi minha vida. Acho que sumiu no ar, como a névoa que se dissipa com o sol. O calor do corpo dele me fez sumir...

Se tudo se foi, qual a razão de você ainda estar aqui? 

Eu não sei.

Quem há de se divertir com o seu desespero dessa maneira? 

Eu não sei.

O destino?

Eu não sei.

O mundo?

Eu não sei.

Seu amado?

Eu não sei.

Seus amigos?

Eu não sei.

Deus?

EU NÃO SEI!

Você quer ser amado?

É claro que eu quero ser amado!

Mas você só quer ser amado por ele?

Eu não sei.

E se outro te amasse?

Eu não sei.

E o amor de seus pais?

Eu não sei.

Então você é amado?

Eu não sei.

Você busca amor ou prazer?

Eu não sei.

Você quer apenas satisfazer seus desejos não é?

Não, não é isso.

Você quer apenas libertar o monstro luxurioso que habita em você não é?

Não, isso não.

Você só quer saber de prazer! 

Não, eu não sou assim.

E quando buscou consolo no corpo do primeiro que te apareceu?

Eu não sei.

Você só queria ser saciado não era?

Eu não sei.

E ainda quer saciar seus desejos.

Eu não sei, eu não sou assim.

Você é, você é exatamente assim!

Não, eu não sou, pare com isso!

O que você quer que pare?

Quero parar de sofrer.

Como acabar com seu sofrimento?

Eu não sei.

Você quer morrer?

NÃO, EU NÃO QUERO MORRER.

Você quer viver?

EU NÃO SEI!

Então você quer morrer? 

EU NÃO SEI!

O que você deve fazer para encontrar uma nova razão para viver? 

EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI!

Eu não sei a resposta pra nenhuma dessas perguntas, e justamente por isso elas ficam pulando de um lado pra outro em minha cabeça, me espetando como se fossem pequenas agulhas quentes a perfurarem a minha pele e queimarem minha carne. Elas me fazem refletir, sobre o que quero para mim, mas eu nunca chego a conclusão nenhuma.

Não quero buscar em alguém o que alguém me roubou. Não creio ser capaz de me elevar a tal ponto de não precisar de ninguém, tampouco. Eu necessito do outro, sou incapaz de viver só, e mesmo assim é a presença do outro em mim que me traz dor e sofrimento. 

Quem sou eu?

Eu tentei ser a fera que gritou EU no coração do mundo, mas o meu eu é a razão da minha desgraça. O meu eu é o algoz que me chicoteia impiedosamente, apenas pelo prazer de ver meu sangue negro escorrer pela minha pele rasgada pelas garras do demônio do amor que me emboscou. 

E eu continuo sendo eu, mesmo sem saber o que significa ser eu mesmo. Sei que o outro continua sendo ele mesmo, e o outro não sou eu. E eu não posso chegar ao outro, não posso tocar o outro, não posso amar o outro, pois o outro está longe demais para se sentir amado, e o mais importante: o outro não quer ser por mim amado. O outro deseja o amor de outra, não uma outra, mas qualquer outra, qualquer outra que não seja eu. 

E eu continuo sendo eu.
Mas eu queria não ser eu. 

Eu amaldiçoo o meu eu. 

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Pensamentos que pairam

Eu não sei o que está acontecendo comigo. Já não há mais no meu parco vocabulário palavras que possam descrever como me sinto. As metáforas acabaram, e não há ponto de comparação entre meu coração e a realidade a minha volta, estou completa e absolutamente deslocado de tudo e de todos. Minha única companhia tem sido os pensamentos mórbidos de autoextermínio que pairam sobre a minha cabeça como corvos esperando para devorar a carne podre do meu ser. Esses pensamentos pairam no ar, e a todo momento sussurram em meus ouvidos o quanto seria melhor dar fim a esse sofrimento com o fim dessa vida patética.

Tenho passado a maior parte dos meus dias deitado, e apenas pensar em fazer qualquer coisa é um esforço hercúleo. Os remédios controlados tem sido minha única fonte de sanidade, que uso brevemente para lidar com o outro, quando sou obrigado a me relacionar com o próximo.

Não tenho conseguido ler, não tenho conseguido estudar. A música já não é mais do que um som ao fundo, sem muito sentido real para mim. O meu mundo se deslocou de tal modo de todo o resto que já não me diferencio dos móveis de minha casa, que embora ali presentes, não interagem por vontade própria, mas apenas sofrem passivamente a ação dos outros sobre eles.

Tive ontem uma conversa franca com um amigo, como há muito já não tinha, mas embora tenha me sentido um pouco aliviado, as paranoias ainda insistem em buscar um defeito, uma razão para mostrar que fui enganado, manipulado. Eu percebi que sou um peso, um fardo, um idiota útil, que por conta dessa utilidade é mantido por perto, apenas até o momento em que alguém melhor apareça. 

Tenho estado em constante alerta, e sei que isso é um dos estágios iniciais da paranoia, mas não consigo evitar. O sentimento de traição é constante. Olho ao meu redor e vejo olhares que a qualquer momento esperam para me apunhalar. Segredos, intrigas, conflitos de interesses. Tudo isso dentro do meu próprio círculo de amizades tem me desgastado demais. 

Mas esse não é o único motivo. Eu venho rolando numa bola de neve de acontecimentos sufocantes. Primeiramente venho tentando lidar com paixões impossíveis, e as dores que as constatações dessas realidades me trazem. As palavras dele são as que me consolam, mas são também as que me cortam mais profundamente como aço frio. Ele fala calmamente, mas suas palavras são como socos fortes no estômago que me fazem perder o fôlego e me prostrar de joelhos aos seus pés, clamando por uma migalha de seu amor. A verdade machuca, e como machuca... Isso porque eu, teimoso, não consigo aceitar as coisas como elas são, e não como eu quero que sejam. Daí a minha dor. 

Os sonhos de esperança que antes me alimentavam uma leve alegria já quase não existem mais. Aquelas centelhas de júbilo que eu tinha ao me deparar com um belo olhar, com um sorriso delicado, tudo isso se foi. Tudo isso agora me faz sorrir por um breve momento, um instante, mas logo se esvai, como a chama de uma vela em meio a ventania impetuosa do destino. Não o culpo por ter destruído meu amor, eu o dei de bom grado, mas o culpo por ter levado meu brilho sem se importar com que eu sentia de verdade. 

E agora o que restou? 
E eu, pobre, que farei? 
Que patrono invocarei?

sábado, 23 de junho de 2018

Queria dizer adeus

O vazio oco do meu peito foi preenchido de angústia uma vez mais. Como a lava densa ela foi se adentrando, lenta mas imparável, e consumindo o meu ser. A escuridão se aproximou como uma névoa, e extinguiu a luz que já tremeluzia aqui dentro. Restou apenas a negrura abissal do meu coração. 

As lágrimas pesadas vieram atendendo o chamado da minha voz embargada e desesperada. O choro não pôde ser contido e nem minimizado. Naquela hora como eu sofri, eu só posso dizer que naquele momento eu praticamente morri. E essa era, aliás, a única coisa que eu era capaz de desejar: a morte. 

Desejei um fim, desejei que o choro se fosse, e com ele partisse também a dor. A dor de ser sozinho, de não ter um amigo em quem confiar, de não ter um ombro para chorar, de não ser útil aos outros para assim ser amado. A dor de ser não mais do que um peso, um fardo, um ser desprezível demais para sorrir ao lado das pessoas. 

Mas a morte não veio, e mesmo depois de adormecer lentamente, os meus olhos foram obrigados a contemplar a luz do dia. Meu corpo foi obrigado a se mover contra sua vontade, e meus lábios obrigados a se contorcerem num sorriso, mascarando a minha sede pelo nada, pelo fim. 

O que seria meu fim? Não seria o fim de um herói, de um guerreiro, de um gênio, mas o fim de alguém que viveu por nada, que nada fez, que nada alcançou, que nada realizou. E ao nada finalmente retornou. 

Eu só queria poder dizer adeus, só queria que tudo isso acabasse. Que finalmente descobrisse uma razão para estar aqui, para continuar sendo obrigado a me levantar a cada dia e ver a minha cara patética no espelho, me acusando dia após dia de ser o mais imprestável dos homens sobre a terra. 

Mas isso não acaba, e todo dia é um novo dia, e eu me amaldiçoo a cada dia por ter nascido, e por ter acordado, e por continuar existindo sem um propósito, sem ser amado, sem ser importante para nada e nem ninguém. Essa vida maldita continua me aprisionando sem me dizer o que devo fazer nem para onde ir, e não me deixa partir para a frialdade da terra. 

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Melhor

O que você não me pede chorando que eu não faço sorrindo, não é verdade? Mesmo depois de todo aquele discurso de superação, de libertação do que sentia por você, em que dizia que não mais alimentaria os sentimentos que me prendem a ti, tudo não passou de uma ilusão.

Ora, bastou um pedido de socorro seu para que eu me colocasse de prontidão para te servir com um grande sorriso no rosto. Ignorando minhas dores, ignorando minha complete indisposição. Eu não consigo me colocar de pé nem mesmo para cumprir com minhas obrigações, mas bastou um olhar seu para me fazer esquecer tudo isso, e suportando os gritos de protesto do meu corpo enrijecido eu me dispus a caminhar ao seu lado. 

Você tem um poder sobre mim que beira o sobrenatural. Você consegue que eu faça coisas que ninguém mais consegue. Eu abaixo a cabeça para você de uma forma que não abaixo para mais ninguém. 

De onde vem esse poder? De onde vem isso que faz com que todo o meu eixo norteador vire-se automaticamente para você não importando o que mais esteja ao meu redor? A sua voz tem mais poder sobre mim do que os gritos imperativos de mil ditadores, e possivelmente não pensaria duas vezes antes de me atirar do alto de uma ponte caso me pedisse!

Mas você não percebeu isso. Não percebeu o quanto me esforcei, nem o quanto queria que ficasse feliz. O seu sorriso, o seu elogio, era esse o meu objetivo. 

Você me notou, isso me deixou feliz. Fiquei contente ao ver que tinha notado minha presença. Mas foi só o que notou. Queria que tivesse percebido o quanto do meu amor eu depositei naquele esforço. O que eu desejava era um abraço de agradecimento, um carinho, um momento só nosso. E isso não foi possível, todos tinham um pouco de você, e tinham a melhor parte. A mim foi dado o que sobrou de você, o seu melhor você guardou para os outros, enquanto o meu melhor eu dei tudo a você...

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Cascas e máscaras

Onde foi parar a minha disposição para viver o despertar de cada manhã? 
Onde se escondeu a minha vontade de ser alguém, de me tornar alguém? 

Não há em mim mais brilho para viver, não há vontade, não há esperança. 

Eu vejo as pessoas ao meu redor, tão repletas de vitalidade, e me pergunto onde estará a minha vida? Me sinto sem forças pra sair da cama, me sinto incapaz de falar com quem quer que seja. Não quero mais cantar, não desejo tampouco ouvir as vozes daqueles que amo. Apenas quero me entregar ao sono reconfortante da morte hipnótica, que aos poucos se apossa do meu ser, como uma névoa a cobrir as curvas mortais de uma estrada vicinal. 

O amor que havia em mim se foi, levado pelas torrentes de lágrimas que fluíram do meu coração. A alegria que a música me trazia se tornou opaca e inerte. Os meus amigos riem de mim pelas costas e questionam-se se é mais conveniente me deixarem ou me manterem por perto para que continue sendo útil a eles... 

Torno a dizer que me reduzi a uma casca vazia, que nem sequer possui uma máscara de vida e felicidade, mas que já exala o odor podre do cadáver que me tornei. 

Onde foi parar a minha disposição para viver o despertar de cada manhã? 
Onde se escondeu a minha vontade de ser alguém, de me tornar alguém? 

Não há em mim mais brilho para viver, não há vontade, não há esperança!

Caro amigo

Não deveria cobrar tanto de si mesmo, mas se for para cobrar, que seja para mudar, para melhorar. Não se menospreze, não se rebaixe, não se veja menor do que é. É certo que o mundo já vai se certificar de fazer você se sentir mal, mas o que você faz é tomar a faca da mão do mundo e enfiar você mesmo em seu próprio peito. 

Você não é ruim como acredita ser, mas é incapaz de ver o seu próprio brilho, e o esconde para ninguém mais veja... Não prive o mundo da sua luz, não é justo que num mundo tão escuro sejamos privados de qualquer luz!

Você não é uma pessoa ruim, longe disso. Mas não acredita no seu potencial, não acredita no que é capaz de fazer, e nem sequer acredita naqueles que acreditam em você... Que vida triste a sua, tão absorto no negativismo, crendo ser um sapo quando na verdade se é um príncipe. 

Mas eu não posso fazer você entender isso. O alma apaixonada não quer consolo e nem conselho, a menos que seja de quem a feriu, já dizia Santa Tereza. E eu não feri sua alma, o que você deseja ouvir, e precisa, não o posso dizer, senão que apenas você o pode. É você quem deve se amar, é você quem deve dizer o quanto é importante. É você que deve perceber o quando é incrível!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

O que me fazia sorrir

Percebi que tenho estado um pouco silencioso nos últimos dias. Não tenho escrito tanto quanto antes, nem conversado tanto com meus amigos. Tenho preferido os momentos de silêncio, sozinho, no escuro do meu quarto. Tenho preferido ouvir os outros a conversarem, do que conversar com eles... 

Busquei no meu interior um motivo pra isso. Busquei uma razão pro meu coração estar se protegendo dessa forma...

Notei que eu venho usando uma máscara. Notei que tenho me escondido por detrás de uma postura de autoestima, de felicidade. Tenho dito que não preciso de ninguém, e por um lado isso é verdade, mas por outro também é verdade que eu tenho sentido o vazio advindo justamente da solidão que é agir assim. 

Também percebi que o meu silêncio vem de ter expulsado ele de meu coração. Quando decidi que não mais iria demonstrar o meu amor, eu expulsei de dentro de mim aquela fonte de palavras doces e sonhadoras que era a esperança que tinha de que um dia ele pudesse vir a me amar. Mas isso não pode acontecer, e quando finalmente decidi não mais alimentar essa esperança ela morreu, e levou consigo a poesia que habitava o meu peito apaixonado. 

Sinto que não posso mais voar, mesmo nunca voado antes, e minhas asas doem como se tivessem sido perfuradas covardemente. Quem ousaria tamanha crueldade com um anjo que apenas desejava voar livre pelo céu azul, sentido o calor do sol do corpo de seu amado?

Será que não havia mais nada de belo em mim além de você? Não havia mais poesia em mim? Tudo o que me fazia sorrir era você? Mas eu não estava sorrindo, apenas chorava, mas sinto como se o riso tenha partido, como um velho amigo, para uma terra distante, e para nunca mais voltar... Será que não havia mais nada de belo em mim além de você? Não havia mais poesia em mim? Tudo o que me fazia sorrir era você?

domingo, 17 de junho de 2018

Mais um dia

Mais um dia sem mensagem sua. 
Mais um dia sem que se lembre de mim. 

Mais um dia sem que seu coração pense em mim. 
Mais um dia sem que eu signifique algo pra você.
Mais um dia sem que me queira ao seu lado. 
Mais um dia sem que eu tenha importância pra você. 
Mais um dia sozinho.
Mais um dia sem você.


Sabe, 
aos poucos eu vou me acostumando 
com seu silêncio, 
com a sua distância. 

É como se o ar 
que faz a chama do meu peito arder 
aos poucos fosse se acabando, 
e a chama 
lentamente diminuindo. 

É como se aos poucos
você deixasse de ser importante,
e aos poucos
a dor da sua ausência fosse embora. 

Espero que aos poucos 
a necessidade que eu tenho 
de ter você comigo 
esteja acabando, 
diminuindo, 
morrendo...  

Espero que aos poucos 
eu vá te superando
te esquecendo
me fortalecendo
me amando.

E então, 
quem sabe daqui um tempo
eu não chore mais
quando ouver

Mais um dia sem mensagem sua. 
Mais um dia sem que se lembre de mim. 

Mais um dia sem que seu coração pense em mim. 
Mais um dia sem que eu signifique algo pra você.
Mais um dia sem que me queira ao seu lado. 
Mais um dia sem que eu tenha importância pra você. 
Mais um dia sozinho.


Mais um dia sem você.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Desvios da felicidade

A luz do dia, que timidamente passava pelas frestas da porta e da janela, revelou o meu desejo escondido. E a luz do meu desejo revelou também o seu desejo. 

Eu desejo você, e você a deseja. Essa é a verdade, fria e dura, que eu devo aceitar. E como a alma amante que sofre por amor não deseja conselho e nem consolo, a não ser que venham de quem a feriu, eu permanecerei assim, a desejar ser o objeto de seu desejo um dia. 

É a voz dela que você anseia ouvir dizendo seu nome. É mão dela que você anseia por acariciar o seu corpo. É o perfume dela que inebria os seus sentidos e que lhe entorpece a alma. Mas é a sua voz que eu desejo ouvir dizendo meu nome, é a sua mão que desejo segurar na noite escura, e é o seu cheiro que me hipnotiza. 

É com ela que você sonha, e é contigo que eu sonho. É ela que tem poder sobre você, e é você que tem poder sobre mim. É ela quem pode te tirar do abismo escuro da morte, e você quem me empurra para lá...

O seu corpo clama pela presença dela, e sua carne arde em luxuriosas fantasias, movida pelo seu amor. E eu, sozinho, desejo o mesmo amor que você joga ao chão, na esperança de que ela um dia pegue e o corresponda. Mas ela não vai fazer isso, e você bem sabe, e por isso você sofre, assim como eu sofro por saber que essa história não terminará bem para nenhum de nós. 

O fim se aproxima, e com ele nossas carnes em chamas se aproximam das cinzas. Onde está o nosso bom senso em fugir, em se esconder do amor que nasceu em nossos corações mas que como um parasita suga nossas forças e nos reduz as cascas, doando-nos inteiramente aqueles que nunca pediram pelo nosso coração?

Ah, o nosso bom senso jaz sepultado ao lado de nosso amor próprio. Assassinado pelo desejo bárbaro de cumprir as lascívias de nossa luxuriosa criatividade, e enterrado pelos instintos mais primitivos que nos cegam e nos desviam do caminho da verdadeira felicidade. 

Que prisão a nossa! Acorrentados ao peso de nossos desejos, e impossibilitados de ver as estrelas pois estamos cegos pela luz do sol, que não mais nos aquece a alma, senão que apenas nos reduz às cinzas...

terça-feira, 12 de junho de 2018

O Fantasma da Ópera

"No sono ele cantou para mim, 
em sonhos ele veio, 
aquela voz que me chama e diz o meu nome..."*

Você estava diferente, era um alguém distinto do você que conheço, mas ainda era você, de alguma forma, e aquela versão sua me fez crer que era possível. Me fez acreditar que era possível você me amar, como eu o amo. Que era possível você me desejar, como eu o desejo e, acima de tudo, que era possível pra você se tornar um só comigo. Partilhando sonhos, esperanças e desejos.

Você disse meu nome, disse que me amava, disse que me desejava, como eu poderia me negar a você, que estava ali, sendo carinhoso, sendo perfeito comigo, que sempre desejei você assim?

"Eu estou sonhando de novo? 
Agora eu descobri, que o Fantasma da Ópera está aqui, 
dentro da minha mente..."

Havia entre nós o desejo de desaparecer, de se tornar outro, e assim encontramos nos abraços e carícias as o conforto da metamorfose do amor. Aquela que faz o amante se tornar o amado, que não mais distingue os dois como sendo dois, mas que passam a ser um só, unidos carnal e espiritualmente.

"Cante mais uma vez comigo, o nosso estranho dueto. 
O meu poder sobre você, fica cada vez mais forte!"

Os gemidos de prazer são as declarações de que dávamos um ao outro, e a respiração pesada em meio a sorrisos e os lábios vermelhos eram a assinatura das cartas de amor que escrevemos com e em nossos corpos. O ar pesado, marcado com o perfume de nosso suor, era a prova do nosso amor, testemunhado pelo tempo. A imagem de você contorcendo-se de prazer em meus braços, e do seu corpo implorando pela minha presença se gravaram nas paredes da história de meu coração em marcas profundas...

"E embora você tenha me visto de relance às suas costas,
o Fantasma da Ópera está aqui, dentro da sua mente... "

Ao acordar não pude conter as lágrimas, e em meio ao gemidos de prazer e dor que aquele sonho me deu eu me senti esbofeteado pela verdade, que me mostrou que aquilo nunca passaria de um sonho, e que jamais você se daria a mim daquela maneira, entre gemidos, suor e chuva, e que meu coração seria condenado a sonhar, e a continuar sonhando, se quisesse sentir novamente a sua presença em meu corpo.

"O Seu Espírito, o Meu Espírito
A sua voz, e a minha voz
combinadas numa só..."

O dia se iniciou com a constatação de que o seu desejo por mim não passou de um sonho, algo próximo ao efeito colateral bizarro de uma anestesia mal aplicada ou a um benzodiazepínico que não bateu muito bem, mas que nunca passaria de um distúrbio de minha mente, que nunca será uma experiência real...

~

*Trechos da tradução de "The Phantom Of The Opera" de Andrew L. Webber. 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Sobre as formas de amar

Não vou mais dizer "Eu te amo", pois não importa quantas vezes eu diga, nem o quão sinceras sejam essas palavras que brotam do mais íntimo do meu coração, você não é capaz de entender o que quero dizer. 

Você entende que tenho consideração por você, entende que gosto de sua companhia, entende que me sinto bem com você, mas você não é capaz de entender que eu amo você. O que precisaria fazer para entender isso? Não há mais nada dentro de minhas possibilidades, só me resta sepultar esse amor enquanto tento viver ao seu lado sem sentir essa dor. 

Claro que matar o amor que tenho por você é me matar um pouco, mas preciso fazer isso para não morrer todo, e eu não quero morrer, quero um dia ainda experimentar o amor de verdade. Por favor, não me culpe por isso, mas se você não compreende meu amor, e continua buscando o que te dou em outros braços, não há porque insistir em te amar. 

Percebo agora, ao reler esses parágrafos, o quanto meu amor se tornou egoísta, indo de encontro com o oposto do que considero amor. Se tenho por amor um sentimento gratuito, que visa simplesmente o bem do outro, por qual razão eu espero então ser recompensado pelo meu amor por você? 

Não deveria esperar nada, mas apenas amar, com tudo o que tenho, e torcer pela sua felicidade. O egoísmo é que me faz desejar o seu amor de volta, o egoísmo me faz querer você só pra mim, o egoísmo me impede de ta fazer feliz de verdade, cultivando sua dor e seu sofrimento, para que sempre dependa de mim. 

Eu quero amar de verdade, mas ainda não sei o que é esse amor. É a reciprocidade que meu corpo deseja? Ou é o ideal metafísico de alguém que consegue amar sem pedir nada em troca, doando-se completamente ao outro? 

Não quero ser um animal movido apenas por desejos, mas tampouco desejo ser um vazio por doar tudo o que tinha para que você dê tudo o que lhe dei para outra pessoa. Estou perdido entre essas duas concepções de amor. 

Se por um lado o dar-se inteiramente sem cobrar nada em troca me pareça ser a forma certa de amar, a exemplo do Cristo na cruz, que se deu inteiramente por amor, por outro eu também acredito na fantasia que duas pessoas que se amem possam se fazer feliz mutuamente, caminhando lado a lado e superando juntas as dificuldades da vida. Mas eu não consigo amar sem pedir nada. Sempre espero um retorno, uma recompensa. Talvez não tenha a capacidade de amar dessa forma elevada, e seja apenas um animal condenado a amar pelos seus instintos e desejos. 

O que devo fazer? Me sinto andando num corda bamba, por cima dessas duas formas de amor, mas para onde cairei?

Uma terceira visão se mostra então a mim, numa estranha revelação de que, se cair da corda, o espaço abaixo de mim seria o mesmo, não importando se vou cair para a direita ou para a esquerda. Isso quer dizer, se abaixo de mim está o amor, as duas formas de amar são apenas divisões que fiz em minha cabeça. 

Talvez o amor seja então um estranho amálgama das duas coisas, do dar-se sem medidas e do desejar o outro sem medidas também. Contraditório? Muito! Mas quem disse que a vida é uma afirmação lógica que não se contradiz? Eu sou um grande suporte de contradições, que suporta a batalha feroz entre as formas de amar dentro do meu coração... Não vejo, por enquanto, nenhuma solução!

domingo, 10 de junho de 2018

Momentos

O cansaço do meu corpo hoje é uma coisa que não pode ser mensurada. Estou simplesmente acabado, com a dor de 7 atletas depois de correr uma mega maratona, como se tivesse atravessado a pé todo o deserto do Saara ou desmatado a Amazônia na base do tapa, acho que deu pra entender. 

Me deitei por alguns instantes depois da Missa da manhã, e simplesmente apaguei, acordando horas depois, completamente perdido no espaço, e triste por saber que ainda tenho outra Missa mais tarde, pois só queria poder ficar quietinho na cama até o mundo acabar... Será que demora? Espero que sim, pois do contrário vou ter de cometer a indelicadeza de dormir enquanto os novatos são levados no passeio de apresentação do céu, logo depois do Juízo Final... Brincadeirinha, eu não vou pro céu!

Não estou compreendendo a ressaca, porque nem bebi muito ontem na reunião de família que rolou aqui em casa, mas pelo menos já sei que vodka com chiclete mata sem anunciar... Ensinamento pra vida!

Acho que abusei um pouquinho da minha habilidade social ontem. Passar o dia sendo simpático, conversando com pessoas de verdade é bem mais complicado do que parece, e pensar que tem gente que faz isso parecer tão fácil... Não é um ensinamento pra vida porque nem de longe que pretendo fazer isso o resto da vida, eu vou ficar rico e morar na cobertura de um prédio em algum lugar onde ninguém me encontre e só comer e fazer compras pela internet, porque eu mereço.

Bom, minha consciência ta me acusando de escrever os últimos parágrafos numa tentativa, patética, de esconder a alegria que senti ontem a noite, ao ser chamado pra sair por um velho amigo. Mas a minha consciência quer que eu escreva sobre o quanto eu fiquei olhando pra ele com a mesma carinha sonhadora que uma criança olha uma máquina de algodão doce, e eu não vou falar disso, mesmo que eu tenha passado a noite olhando pra ele com a mesma carinha sonhadora de uma criança que olha pra uma máquina de algodão doce. A verdade as vezes faz a gente parecer um idiota, é complicado. 

Na verdade não é complicado, eu só digo isso pra me convencer de que a situação é mais difícil do que é e por isso me confortar com o fato de quase nunca saber como lidar com ela. No entanto dessa vez eu to feliz, sério, não me sinto completamente afetado, como sempre ficava, mas fiquei apenas feliz, pelo convite, pela noite e pelos sorrisos. Não preciso me preocupar com isso, preciso? 

Acho que é bom ter uma história simples de vez em quando, pra dar uma aliviada na pressão que é ta sempre ligado no 220 da frequência emocional. É bom ser só mais um carinha sorridente na multidão, sem necessariamente ter uma grande história de amor por detrás daquele sorriso. Alguns momentos não precisam ser grandes coisas, apenas são bons momentos. 

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sobre afastar-se

Já que não significo nada para você, não há motivos para querer permanecer em sua vida. Já me deu sinais de que estou livre pra partir, já deixou mais do que claro que deseja, pode e vai me substituir, então não há razão para eu ficar aqui...

Você não me quer mais, não sirvo mais ao meu propósito. Sou como uma arma, uma ferramenta que quebrou e perdeu sua serventia. Sem utilidade não razão para a existência de uma ferramenta, é hora de dar lugar a outra.

Não quero mais ficar aqui, de lado, esperando o dia em que serei novamente útil e importante para você. Não quero ficar a mercê de sua vontade pois se, depois de todo esse tempo, você ainda não me notou, e nem sequer percebeu o grande amor que tenho por você, tudo o mais que fizer daqui pra frente será me fazer sofrer...!

E eu não quero mais sofrer. Não quero mais depender de você, sabendo que nunca poderá me dar o que desejo, o que preciso de você! Não quero depositar mais expectativas, não quero mais ser decepcionado, e acima de tudo, não quero mais amar você!

Nosso tempo passou, nossa história acabou, nosso fogo esfriou... Tudo cessou, deixemos nosso cuidado agora sob os cuidados de outras pessoas. Que outros segurem nossas mãos e nos levem para oceanos e terras distantes, que outros nos ensinem o que não fomos capazes de ensinar um ao outro, que outros nos ensinem o que é o amor de verdade, o que é a verdadeira companhia...

É uma forma de dizer que foi bom enquanto durou, mas precisa acabar, para o nosso bem, para que não manchemos o belo passado que temos com sangue e lágrimas do futuro. É preciso dizer adeus, é preciso passar pela despedida, e pela partida, para então chegar a um novo lugar, um novo lugar para amar...

É hora de reduzir nossa amizade ao mínimo formalismo, até que pouco a pouco nos afastemos, depois disso seremos então apenas dois estranhos na multidão. Duas pessoas que um dia partilharam tristezas e alegrias, que lutaram juntas por um sorriso, mas que hoje são como outras duas pessoas quaisquer, em meio a tantas outras.

Essa perspectiva minimalista me é estranha, pois me habituei a sentir sempre no máximo possível, e agora que pela primeira sei o que graduar meus sentimentos e conseguir coloca-los em ordem, me sinto diferente; Não chega a ser ruim, apenas diferente, e isto é suficiente pra descrever. Assim como sinto que não há mais nada a dizer, apenas me afastar, apenas me proteger... 

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Você está bem?

Você está bem? 

Não tenho como saber, não tenho mais acesso ao seu coração. Tudo o que eu posso fazer é esperar, pacientemente, que a sua voz possa novamente tocar meu coração. 

Você está bem? 

Já não confia mais em mim, já não abre mais seu coração para mim. Tudo o que posso fazer é lamentar pelo tempo em que havia entre nós um laço de confidencialidade, que ligava nossos corações numa rede de sincera amizade. 

Você está bem? 

Se não estiver se sentindo bem, pode me ligar, pode me mandar áudio chorando, como tantas vezes vez, pode escrever o que está em seu coração, mesmo que não faça muito sentido. 

Não deixe me procurar, 
não deixe de falar comigo, 
não deixe de me amar...

Você está bem? 
Vai ficar bem? 

Espero, de coração, que fique bem! 
Espero, que fique comigo, meu bem...
Eu só quero que fique bem!

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Sobre a personalidade e o movimento LGBT

Levado por um colega de estudos (por assim dizer) e por uma amiga, hoje me coloquei a refletir sobre mim em alguns aspectos que não fazem parte do meu leque cotidiano, não com a abordagem que usei agora. 

Ela primeiramente me questionou acerca de minha personalidade, essencialmente carente, dependente do outro e principalmente do amor do outro. Afirmou que eu não tive uma vida difícil, não fui marcado por traumas, nem passei por privações demasiado dolorosas, mas ainda assim sou mais complicado e vivo em meio a um sofrimento como alguém que passou por tudo isso. 

Ele, paralelamente a isso, me fez pensar um pouco sobre as ações da comunidade LGBT (sim, eu sei que a sigla já mudou, mas eu não consigo e não quero acompanhar cada nova forma de orientação ou gênero que esse pessoal militante inventa) nos últimos tempos, motivado por um comentário que eu fiz a ele sobre a Parada Gay do último fim de semana. 

Primeiramente tratarei da primeira reflexão, usando a segunda como conclusão. Pois bem, num primeiro momento eu penso que seja complicado falar em vida mais ou menos fácil pois isso não é definido somente pelas condições externas da realidade humana mas também da pré-disposição íntima de cada um a suportar a dor e o sofrimento, e isso não creio que eu que possa ser mensurado, e se pode, desconheço tal método. Dessa forma, seria compreensível que uma pessoa que leva uma vida aparentemente fácil e fútil sofrer mais do quem passa por dificuldades e privações. Não vejo, por exemplo, nas estatísticas sobre suicídio e depressão um limitador que dite que apenas pessoas que foram abusadas ou que perderam os pais na infância é que sofrem com essas coisas, pelo contrário, até mesmo conheço pessoas que não tiveram nada disso e que passam por maiores dificuldades do que aquelas que assim sofrem ou sofreram no passado. 

Penso que o sofrimento seja algo que fortalece a pessoa, por isso vejo nas pessoas que sofreram abusos, abandonos e outras coisas do gênero verdadeiros heróis, e justifico minha personalidade com essa mesma crença. Ora, sempre fui rodeado de cuidados, pela presença, pelo carinho, e ver o sofrimento ao meu redor me fez esperar pelo dia que chegaria minha vez de sofrer e ver os outros partindo, me abandonando ou abusando de mim.  

Essa constante exposição a expectativa da dor me deixou paranoico, como o homem rico que teme ficar pobre e por isso não gasta nada de sua imensa fortuna. É a única via de explicação plausível que encontrei. O constante medo de ficar sozinho, pois via os outros precisando aprender a viver assim, me fez dependente do outro, na tentativa de sempre buscar uma companhia, alguém que cuide de mim sem partir. 

Essa paranoia deu início a extrema sensibilidade a qualquer tipo de partida, o que explica a minha dor e o meu desespero a cada vez que alguém que amo sai de minha vida, e que explica inclusive os sentimentos que facilmente crio por aqueles que se aproximam de mim, na esperança de que sejam eles os destinados a cuidarem de mim sem nunca me abandonar. 

O abandono é o oposto extremo da companhia, uma outra forma de se chamar a solidão, e imprimiu em mim uma busca constante pelo cuidado, pela proteção do mundo hostil que eu sempre vi machucando aqueles que me rodeavam, mesmo sem nunca ter me machucado de fato até então. Isso poderia explicar a minha orientação sexual, pois o homem é a figura da proteção, da muralha que mantém os inimigos distantes, enquanto me identifico com a figura feminina, que tradicionalmente é vista (e assim a conheci) como o arquétipo da fragilidade. 

Isso me coloca em meio a uma comunidade inteira formada por histórias particulares, de experiências e predisposições, onde cada um é um ser único e irrepetível. Sendo assim, não há em mim a obrigação de me identificar com um movimento inteiro de escolhas, posicionamentos e atitudes de que discordo, pelo simples fato de estarmos unidos pela orientação sexual em "comum". O movimento não me representa pois discordo de suas ações, embora acredite que em sua superfície o discurso é bom, mas discordando até mesmo nesse, por ver um perigo maior do que os ditos avanços que ele pretende conseguir. Não quero me aprofundar aqui em dizer os motivos que tenho para discordar do movimento LGBT, muito embora eu não tenha problemas em me identificar como gay, mas em nada me sinto representado pelo mesmo, e discordo veementemente de quase todas as suas ações, bandeiras e atuações. 

Aliás, me vejo como gay mas não com mais importância que dou a me ver como fã de música clássica ou como professor de História. É para mim uma característica a mais, que faz parte do meu ser, mas que não pode por si só definir quem sou. 

Esse fim de semana foi marcado pelas marchas do orgulho gay. E mais uma vez eu não tenho onde me esconder de vergonha desse povo, que usa a luta pela igualdade como desculpa pra libertinagem pública e patrocinada, colocando todo mundo no mesmo balaio, como se todos fossem assim!

O discurso de igualdade e justiça é bom e necessário. No entanto há uma divergência muito grande entre o discurso e a ação, e pra julgar um movimento, as ações são mais importantes que os discursos, e nesse caso eu vejo que, na prática, a ação é apenas um pretexto de protesto contra a família, contra os costumes tradicionais, contra a Igreja...

Não me vejo em meio a essa festa pela igualdade, embora lute por ela ao meu jeito, mas apenas me vejo como alguém em busca de algo, que agora pela análise sei que se trata de uma pessoa, mas que motivado pela mesma análise eu penso que agora deva ser a busca por uma visão menos psicótica da realidade, que não seja apenas reflexo de uma carência paranoica e sim de uma decisão madura sobre o que é melhor para mim e para meu futuro. 

O brilho e o bobo

O sol hoje brilhou alegremente, e inesperadamente, para mim. Não foi como aquele brilho abrasador, que ao mundo todo pode reduzir a pó, mas um brilho leve, daqueles que aquecem o coração como o afago de uma brisa leve da tarde nas delicadas pétalas de uma flor. 

A brisa leve mais uma vez mexeu com meu cabelo, me acariciando a face, e me deixou sorrindo como um bobo. Não fiquei triste com a partida, aliás quem partiu fui eu, mas apenas guardei comigo aquele aceno de rosto, aquele sorriso, aquela voz doce, e me fui, mas sem esperar do destino mais do que ele acabara de me dar.

Sabe, depois de tantas dores, de tantos amores, eu passei a não esperar mais nada de ninguém, e principalmente da vida, e isso tem me surpreendido muito, pois não raramente tenho sido agraciado com momentos felizes, que tomo como verdadeiros presentes do céu. 

sábado, 2 de junho de 2018

O Herói e o Pesadelo

Não consigo verbalizar precisamente o que sinto em meu coração neste momento, mas desde cedo sinto uma vontade incompreensível de vir aqui e escrever, mesmo sem saber o que dizer eu sentia que precisava dizer, de alguma maneira, por mais truncada e confusa que fosse...

Os meus últimos dias tem sido marcados pela imagem do meu Herói, que perdeu sua máscara e se tornou o Pesadelo mais aterrorizante. 

Meu Herói era aquele cuja presença era capaz de salvar a minha pobre alma condenada. Aquele cuja voz grave me fazia acalmar os anseios mais desesperados, e cujo toque fazia meu corpo parar de tremer no exato instante em que se encontrava com minha pele. 

Esse Herói, está marcado em mim como uma figura dourada, bronzeada pelo sol e no entanto mais luminoso do que este. O calor que vem de sua existência fez aquecer meu peito frio, e despertou em minha mente as fantasias mais luxuriosas que poderiam habitar em minha lúgubre vida. Já não sei mais quantas vezes me vi desejando seu corpo sobre o meu, ou quanto sonhei com sua voz sussurrando meu nome entre gemidos de prazer. 

Não preciso dizer o quanto me doeu quando a figura do Herói se desfez em meios as sombras da figura do Pesadelo. Um Pesadelo frio, distante, cujo sol brilha para todos exceto para mim. Um Pesadelo que me lançou nos abismos da solidão, rodeado pelas paredes duras como aço que abafam os meus gritos desesperados pelo seu retorno. 

Mas até mesmo o Pesadelo mais assustador se torna uma lembrança distante quando acordamos. E me sinto agora retornando brevemente ao estado de vigília, já me distanciando dos horrores que presenciei, e contemplando aos poucos os traços da luz do sol que estavam perdidos entre a escuridão do meu coração...

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Tempo de...

Dias nublados são sempre um convite à reflexão. Bem, hoje não está exatamente nublado, pelo contrário, o sol impera gloriosamente lá fora, mas uma repentina crise alérgica e o cansaço extremo de uma mente conturbada e das atividades de Corpus Christi na Igreja me fazem ter essa impressão. Aliás, desde que cheguei de uma consulta, lá pela metade do dia, eu estou embaixo de um monte de cobertas, sob efeito de uma meia dúzia de remédios, torcendo pro charme da minha dopada candura seja suficiente pra não assustar os amigos que vem ensaiar a noite, e que eu ainda tenha alguma voz quando chegarem...

Pensava eu então, aproveitando a música baixinha que vinha do player, sobre os motivos de ainda estar só, e principalmente de estar bem assim. Acredito que tenha finalmente percebido meu completo despreparo emocional em embarcar num relacionamento. Dezenas de histórias inacabadas, feridas ainda abertas, novas paixões que a cada dia me assombram mais... Não há como me dedicar a alguém assim e querer ser correspondido. Não seria reciprocidade, seria apenas ilusão, e não quero iludir ninguém. 

Eu não sei lidar com a falta de sinceridade, e nem com a fala de sentimento, aliás tenho pavor de baixa frequência afetiva, então como poderia exigir algo que no momento sou incapaz de dar? Isso exige de mim um período de solidão voluntária, diferente daquela que me fora imposta tempos atrás pela própria vida. Agora eu sei que não sou capaz de fazer alguém feliz, e preciso me fazer feliz antes de tentar algo novamente.

Não sei como será quando conseguir fazê-lo, nem sei se conseguirei fazê-lo, mas o certo é que não posso adicionar mais um fracasso proposital a minha já enorme lista, nem posso me dar ao luxo egoísta de ferir os sentimentos de alguém. 

Isso me leva então a outro ponto de minha breve reflexão: os meus sentimentos feridos. As minhas dores ainda são constantes, e não me refiro as do corpo pois já me acostumei com elas.  Mas meu coração ainda alimenta muitas mágoas e enquanto não conseguir sufocá-las até a morte, serei eu sufocado até não mais conseguir me reerguer, esmagado pelo peso das minhas paixões...

O tempo é propício ao aprendizado, ao crescimento, ao amadurecimento. Só quando deixar de ser uma criança eu poderei então me relacionar com adultos, de outra forma não há como exigir da vida mais do que dores e decepções...! É tempo de compreender os muitos pensamentos que existem em mim e que insistem em me paralisar, como se fossem pesadas correntes amarradas aos meus pés e pescoço. É tempo de caminhar sozinho, de aprender a apreciar a minha própria companhia, de entender que a casa precisa ta arrumadinha pra só então receber alguém! E o tempo é esse!