segunda-feira, 25 de junho de 2018

Pensamentos que pairam

Eu não sei o que está acontecendo comigo. Já não há mais no meu parco vocabulário palavras que possam descrever como me sinto. As metáforas acabaram, e não há ponto de comparação entre meu coração e a realidade a minha volta, estou completa e absolutamente deslocado de tudo e de todos. Minha única companhia tem sido os pensamentos mórbidos de autoextermínio que pairam sobre a minha cabeça como corvos esperando para devorar a carne podre do meu ser. Esses pensamentos pairam no ar, e a todo momento sussurram em meus ouvidos o quanto seria melhor dar fim a esse sofrimento com o fim dessa vida patética.

Tenho passado a maior parte dos meus dias deitado, e apenas pensar em fazer qualquer coisa é um esforço hercúleo. Os remédios controlados tem sido minha única fonte de sanidade, que uso brevemente para lidar com o outro, quando sou obrigado a me relacionar com o próximo.

Não tenho conseguido ler, não tenho conseguido estudar. A música já não é mais do que um som ao fundo, sem muito sentido real para mim. O meu mundo se deslocou de tal modo de todo o resto que já não me diferencio dos móveis de minha casa, que embora ali presentes, não interagem por vontade própria, mas apenas sofrem passivamente a ação dos outros sobre eles.

Tive ontem uma conversa franca com um amigo, como há muito já não tinha, mas embora tenha me sentido um pouco aliviado, as paranoias ainda insistem em buscar um defeito, uma razão para mostrar que fui enganado, manipulado. Eu percebi que sou um peso, um fardo, um idiota útil, que por conta dessa utilidade é mantido por perto, apenas até o momento em que alguém melhor apareça. 

Tenho estado em constante alerta, e sei que isso é um dos estágios iniciais da paranoia, mas não consigo evitar. O sentimento de traição é constante. Olho ao meu redor e vejo olhares que a qualquer momento esperam para me apunhalar. Segredos, intrigas, conflitos de interesses. Tudo isso dentro do meu próprio círculo de amizades tem me desgastado demais. 

Mas esse não é o único motivo. Eu venho rolando numa bola de neve de acontecimentos sufocantes. Primeiramente venho tentando lidar com paixões impossíveis, e as dores que as constatações dessas realidades me trazem. As palavras dele são as que me consolam, mas são também as que me cortam mais profundamente como aço frio. Ele fala calmamente, mas suas palavras são como socos fortes no estômago que me fazem perder o fôlego e me prostrar de joelhos aos seus pés, clamando por uma migalha de seu amor. A verdade machuca, e como machuca... Isso porque eu, teimoso, não consigo aceitar as coisas como elas são, e não como eu quero que sejam. Daí a minha dor. 

Os sonhos de esperança que antes me alimentavam uma leve alegria já quase não existem mais. Aquelas centelhas de júbilo que eu tinha ao me deparar com um belo olhar, com um sorriso delicado, tudo isso se foi. Tudo isso agora me faz sorrir por um breve momento, um instante, mas logo se esvai, como a chama de uma vela em meio a ventania impetuosa do destino. Não o culpo por ter destruído meu amor, eu o dei de bom grado, mas o culpo por ter levado meu brilho sem se importar com que eu sentia de verdade. 

E agora o que restou? 
E eu, pobre, que farei? 
Que patrono invocarei?

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