segunda-feira, 4 de junho de 2018

Sobre a personalidade e o movimento LGBT

Levado por um colega de estudos (por assim dizer) e por uma amiga, hoje me coloquei a refletir sobre mim em alguns aspectos que não fazem parte do meu leque cotidiano, não com a abordagem que usei agora. 

Ela primeiramente me questionou acerca de minha personalidade, essencialmente carente, dependente do outro e principalmente do amor do outro. Afirmou que eu não tive uma vida difícil, não fui marcado por traumas, nem passei por privações demasiado dolorosas, mas ainda assim sou mais complicado e vivo em meio a um sofrimento como alguém que passou por tudo isso. 

Ele, paralelamente a isso, me fez pensar um pouco sobre as ações da comunidade LGBT (sim, eu sei que a sigla já mudou, mas eu não consigo e não quero acompanhar cada nova forma de orientação ou gênero que esse pessoal militante inventa) nos últimos tempos, motivado por um comentário que eu fiz a ele sobre a Parada Gay do último fim de semana. 

Primeiramente tratarei da primeira reflexão, usando a segunda como conclusão. Pois bem, num primeiro momento eu penso que seja complicado falar em vida mais ou menos fácil pois isso não é definido somente pelas condições externas da realidade humana mas também da pré-disposição íntima de cada um a suportar a dor e o sofrimento, e isso não creio que eu que possa ser mensurado, e se pode, desconheço tal método. Dessa forma, seria compreensível que uma pessoa que leva uma vida aparentemente fácil e fútil sofrer mais do quem passa por dificuldades e privações. Não vejo, por exemplo, nas estatísticas sobre suicídio e depressão um limitador que dite que apenas pessoas que foram abusadas ou que perderam os pais na infância é que sofrem com essas coisas, pelo contrário, até mesmo conheço pessoas que não tiveram nada disso e que passam por maiores dificuldades do que aquelas que assim sofrem ou sofreram no passado. 

Penso que o sofrimento seja algo que fortalece a pessoa, por isso vejo nas pessoas que sofreram abusos, abandonos e outras coisas do gênero verdadeiros heróis, e justifico minha personalidade com essa mesma crença. Ora, sempre fui rodeado de cuidados, pela presença, pelo carinho, e ver o sofrimento ao meu redor me fez esperar pelo dia que chegaria minha vez de sofrer e ver os outros partindo, me abandonando ou abusando de mim.  

Essa constante exposição a expectativa da dor me deixou paranoico, como o homem rico que teme ficar pobre e por isso não gasta nada de sua imensa fortuna. É a única via de explicação plausível que encontrei. O constante medo de ficar sozinho, pois via os outros precisando aprender a viver assim, me fez dependente do outro, na tentativa de sempre buscar uma companhia, alguém que cuide de mim sem partir. 

Essa paranoia deu início a extrema sensibilidade a qualquer tipo de partida, o que explica a minha dor e o meu desespero a cada vez que alguém que amo sai de minha vida, e que explica inclusive os sentimentos que facilmente crio por aqueles que se aproximam de mim, na esperança de que sejam eles os destinados a cuidarem de mim sem nunca me abandonar. 

O abandono é o oposto extremo da companhia, uma outra forma de se chamar a solidão, e imprimiu em mim uma busca constante pelo cuidado, pela proteção do mundo hostil que eu sempre vi machucando aqueles que me rodeavam, mesmo sem nunca ter me machucado de fato até então. Isso poderia explicar a minha orientação sexual, pois o homem é a figura da proteção, da muralha que mantém os inimigos distantes, enquanto me identifico com a figura feminina, que tradicionalmente é vista (e assim a conheci) como o arquétipo da fragilidade. 

Isso me coloca em meio a uma comunidade inteira formada por histórias particulares, de experiências e predisposições, onde cada um é um ser único e irrepetível. Sendo assim, não há em mim a obrigação de me identificar com um movimento inteiro de escolhas, posicionamentos e atitudes de que discordo, pelo simples fato de estarmos unidos pela orientação sexual em "comum". O movimento não me representa pois discordo de suas ações, embora acredite que em sua superfície o discurso é bom, mas discordando até mesmo nesse, por ver um perigo maior do que os ditos avanços que ele pretende conseguir. Não quero me aprofundar aqui em dizer os motivos que tenho para discordar do movimento LGBT, muito embora eu não tenha problemas em me identificar como gay, mas em nada me sinto representado pelo mesmo, e discordo veementemente de quase todas as suas ações, bandeiras e atuações. 

Aliás, me vejo como gay mas não com mais importância que dou a me ver como fã de música clássica ou como professor de História. É para mim uma característica a mais, que faz parte do meu ser, mas que não pode por si só definir quem sou. 

Esse fim de semana foi marcado pelas marchas do orgulho gay. E mais uma vez eu não tenho onde me esconder de vergonha desse povo, que usa a luta pela igualdade como desculpa pra libertinagem pública e patrocinada, colocando todo mundo no mesmo balaio, como se todos fossem assim!

O discurso de igualdade e justiça é bom e necessário. No entanto há uma divergência muito grande entre o discurso e a ação, e pra julgar um movimento, as ações são mais importantes que os discursos, e nesse caso eu vejo que, na prática, a ação é apenas um pretexto de protesto contra a família, contra os costumes tradicionais, contra a Igreja...

Não me vejo em meio a essa festa pela igualdade, embora lute por ela ao meu jeito, mas apenas me vejo como alguém em busca de algo, que agora pela análise sei que se trata de uma pessoa, mas que motivado pela mesma análise eu penso que agora deva ser a busca por uma visão menos psicótica da realidade, que não seja apenas reflexo de uma carência paranoica e sim de uma decisão madura sobre o que é melhor para mim e para meu futuro. 

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