sábado, 28 de abril de 2018

Da conveniência e da aceitação

Não gosto de repetir frases feitas que tenham, num âmbito geral, o efeito de nos fazer perceber certos aspectos da vida que ainda não havíamos notado e que pode nos levar a mudar, mas as vezes tenho de dar o braço a torcer e reconhecer que algumas lições foram sim nos passadas em formas de frases e que as ignoramos, para aprender tão somente com a dor da pedagogia de ferro da vida.

Vagando pelos campos mais abertos deste grande parque da vida, a internet, de de cara com uma verdade forte, escrita em letra brancas, mas disfarçada de breve revelação: "As pessoas não somem, elas perdem o interesse."

Sim, sei que isso se parece mais com o imperativo categórico formulado por uma garota de doze anos revoltada com os amigos que não a chamaram pra festinha porque é chata, mas analisando agora alguns fatos do meu próprio passado, confronto essa passagem com outra que disse pouco atrás: "as nossas relações são movidas pura e simplesmente pela conveniência de nossas presenças."

Torno a repetir que apenas somos agradáveis enquanto úteis, e quando já não somos mais necessários e, por algum motivo nos tornamos um fardo, já não somos mais de uma convivência agradável. Aqui cabe uma observação: digo nós por um vício de linguagem, mas quero dizer eu mesmo, no puro singular de que apenas tomo como base as experiências que agora fazem eco no meu coração.

Agora que já não sou mais útil a ninguém, e incapaz de ajudar a quem quer que seja, pois antes conseguia fugir de meus próprios problemas para resolver os de outrem, já não encontro no mundo o conforto que um dia buscaram em mim. Talvez seja uma prova de que a vida não devolve aquilo que damos, o que invalidaria o karma, mas é uma prova que apenas eu, e aqueles que também esperam pela sua compensação, podem ter, e que provavelmente será ignorada pelos outros, assim como eu agora sou.

O que me tornava agradável aos olhos dos outros se foi, e agora que restou apenas o moribundo que deixaram após me sugarem até o tutano, fui largado a margem de todos como o leproso fora da cidade. Minha conveniência tornou-se inconveniente para o outro, e por isso fui dispensado.

O próximo passo é conseguir aceitar a solidão não como uma imposição injusta do destino, mas como uma oportunidade a ser abraçada rumo ao crescimento. É bem verdade que já não preciso mais dispor de longas horas para ouvir, consolar e aconselhar, mas que agora posso me dedicar a fazer o que amo, aprender o que desejo. É talvez um passo ainda mais difícil que o de aceitar a solidão como um destino do qual eu não posso fugir. 

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Sobre a harmonia das cores

Uma vez mais torno a me deter e a pensar sobre a beleza que nos cerca, e também sobre aquela que não se encontra a nossa volta mas no coração do homem que ama. 

A beleza que agora invade minha mente é repleta de tons azuis, como o azul do mar em harmonia com o azul do céu, e com o azul de um olhar. É como um casaco azul a se destacar num dia de neve, pois salta ao olhar em meio a frialdade do gelo presente.  A beleza que aquece meu coração é também como essa mesma neve, que mesmo despertando risos e alegrias permanece fria e branca, face o manto anil do céu que se estende por sobre os olhares sonhadores das crianças que se deitam nessa neve. 

O azul é tido por frio, mas poucas cores me aquecem como ele. Eu gosto ainda do dourado, pois me lembra um alguém especial. Ou seriam vários? Certamente o dourado é tão belo pra mim quanto o azul. 

O verde das folhas também tem especial apreço por mim. Simbolizam a esperança esmeraldina que aprendi ao observar o doce farfalhar das matas ensolaradas em que estive. Mas esse mesmo verde pode se contrastar com o cinza frio de um dia de chuva, e sufocar até mesmo a mais brilhante das esperanças. 

Essas cores podem ainda ser mais do que belas, podem ser dolorosas! O azul pode machucar, seja pela força impetuosa do mar ou pela distância do céu, e o dourado pode fazer desesperar, face o tesouro intocável de um reino distante que os olhos desejosos nunca poderão contemplar. 

Um sorriso dourado, enfeitado por belos olhos azuis ou acastanhados, pode encantar tanto quanto destruir. Pode nos encher de esperança ou desespero. Mas isso não tira a poesia da coisa, aliás, como seria chato se as poesias falassem apenas de coisas belas e alegres! A vida é uma poesia de amores e dessabores, de conquistas e suicídios, de mares azuis que alegram e que matam.

Eu enxergo a beleza das dores. Me chame de niilista, pessimista ou simplesmente de louco, mas consigo enxergar a beleza da flores tanto quanto na morte. Por isso eu falo de coisas coloridas e tristes, pois o mundo não é apenas feliz ou triste, mas o mundo é feliz e triste, e a vida é a sucessão desses momentos que se revezam em dominar um coração apaixonado. É inclusive essa mesma combinação entre azul e dourado, frio e quente, que faz a vida ser tão bela!

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Sobre um sonho estranho

Acordei assustado nessa manhã, meio perdido pois me parecia ser ainda madrugada, mas logo vi os raios de um sol que há muito já havia nascido. Eu dormira até as 10h, e se não fosse pelo sonho estranho poderia estar dormindo até agora. 

A estranheza da situação não pode ser adjetivada com precisão, mas a descrição pode dar ao leitor uma visão da impressão que ela deixou em mim, e possivelmente dar também uma visão sobre o estado do meu psicológico, nitidamente, desequilibrado, então por isso não o descreverei aqui. Onde mais um belo rapaz dançando para se preparar para uma luta, numa disputa por um pacote de balas com um Super Sayajin faria sentido? Certamente não em muitos lugares além da minha mente!

Estou ainda impressionado, com certos quadros a piscar em minha mente, como se pudesse revisitar aquele momento a qualquer hora. E não que fosse algo ruim, pelo contrário, uma bela visão merece ser vista sempre. Se pudesse imprimir as imagens que trago comigo em meu coração... Oh, o mundo conheceria as belezas que meu inconsciente concebe em meus sonhos. Mas infelizmente eu mesmo as esqueço com o tempo. 

Talvez também haja na fugacidade dos sonhos uma certa beleza, como se sua magia estivesse justamente no fato de que eles podem ser apenas vividos nos momentos de ébria inconsciência adormecida. 

Sei que a imagem daquele príncipe louro, de pele clara e olhar doce, dançando sensualmente a minha frente, numa clara demonstração dos meus desejos mais íntimos, não vai se perder facilmente. O balançar de seu corpo, coberto apenas por um delicado tecido preto, que contrastava com a clareza de diamante de sua pele, marcou minha mente como o balançar do pêndulo de um grande relógio que ligado a um sino faz cantar, e como o ressoar daquele sino, a minha vontade ressoa pelos ares da minha imaginação, agora nutrida pelo criativo presente que recebi dos recessos de minha consciência. 

Foi uma visão marcante, de fato, e não há outra pessoa a ser agradecida senão a mim mesmo, que por mais doente que seja ainda consigo criar tão belas imagens, talvez inconcebíveis até mesmo para a realidade. 

Obrigado!

Sobre a moral e os contos de fadas

Quando, em meio as desconexas e complexas relações humanas, busca-se o mínimo de respaldo para sustentar uma linha de ações mais ou menos displicente, a sinceridade é essencial. Em meio a tantos relacionamentos confusos, líquidos como acostumou-se dizer, a verdade rija é rara, e preciosa como um diamante. 

Dado o meu histórico de incompreensões no que diz respeito a relacionamentos, eu busco sempre compreender onde estou, e o que espero de uma relação com quem quer que seja, um amigo ou namorado, mas a clareza das expectativas é sempre necessária. Peca o mundo pela falta de clareza, que graças ao nosso débil intelecto por vezes deixa-se levar por uma incompreensão movida pela luxúria apenas. 

Isso, de modo a evitar essas incompreensões, consegue então ser o porto-seguro, tão caro em dias de águas incertas como os que estamos, onde a pluralidade dos relacionamentos precede a qualidade. Ainda me vejo nesse ínterim como alguém que busca o oposto do que o mundo pode me oferecer. Ainda espero que a fidelidade e o companheirismo sejam os deuses de um namoro, mesmo sabendo que hoje o egoísmo é o único soberano. 

Há em mim um resquício de moral cristã que me impede de cair no completo caos social, ou apenas uma cega crença no conto de fadas de que duas pessoas podem ficar juntas e serem felizes sendo apenas uma da outra? Até que ponto a ética pode se sobrepor aos desejos mais íntimos e animalescos que nós despertamos uns nos outros?

Talvez não se sobreponha. Talvez tudo que haja seja uma indústria de invenção de desculpas que damos aos outros para justificarem nossas ações, impulsionados por um sistema exterior que nos pesa na hora de explicar, mas não na hora de fazer. Não trata-se de moral, portanto, mas da imoralidade intrínseca a cada um de nós.

Duas visões se contrastam então: a de que ética deve guiar nossos atos, mas que por vezes parece não guiar os atos, mas apenas as palavras. E a de que na verdade somos movidos por uma crença fantástica, e não por um sentido de certo e errado verdadeiro. 

Qual das suas sairá vitoriosa? Por qual lado me decidirei? Serei levado pelas belas promessas dos contos de fadas, e continuarei sonhando com meu  (inalcançável, pois inexistente) príncipe do cavalo branco, ou continuarei me levando pelas belas palavras éticas, que uso pra encobrir os atos sujos que cometo movido pelos meus instintos luxuriosos mais primitivos? 

terça-feira, 24 de abril de 2018

Sobre visitar o passado

Manhã, tão bonita manhã, na vida uma nova canção, já o disse Antônio Maria ao escrever Manhã de Carnaval, que num adágio leve e refrescante nos conduz ao reencontro de um antigo amor. Talvez não por coincidência tenha colocado essa música para tocar quase instintivamente logo quando acordei hoje, após uma noite de intensas recordações, movidas por um inesperado reencontro. 

Fui acometido por uma estranha combinação de sentimentos. Primeiramente levado pela onde luxuriosa que, geralmente, nos faz tomar as decisões mais insanas sem o mínimo de ponderação e prudência, e logo depois pelo pesar advindo da ponderação posterior. 

O meu bom senso, se o tivesse, me faria ter corrido para as colinas na primeira tentativa de contato, mas aparentemente todo o tempo de terapia que fiz para superar aquele passado não serviu para imprimir a ferro e fogo a lição daquela separação. E como se nada nunca tivesse acontecido, e me destruído, eu me entreguei completamente a um passado que deveria ter há muito enterrado sem pestanejar. 

Aliás, os últimos dias tem sido marcados por um retorno ao passado. Vejo agora a minha vida como uma sucessão helicoidal, ou espiral, quase sinuosa, me levando a rever certos acontecimentos de novo e de novo. A cada nova visita ao passado a minha visão deveria estar mudada, amadurecida, mas parece que não é isso que acontece, antes disso, parece-me até que tenho feito o caminho inverso do amadurecimento afetivo. Me deixando levar, cada vez mais, pela carência e pela crença de que se não aceitar qualquer coisa, ficarei só, muito embora o discurso de aprendizado e crescimento tenha sido aperfeiçoado no nível da impregnação linguística. Eu aprendia as palavras que os outros dizem quando superam um amor, mas não aprendia a superar. 

Tenho visitado o passado, mas não tenho aprendido as lições que ele tem lançado sobre meu rosto. Tenho visitado o passado mas continuo cometendo os mesmos erros que no passado cometi. Não há como mudar o que se passou, mas deveria ser possível para mim mudar as decisões que tomo de agora para frente, mas isso não passará de outro discurso vazio se não aprender a superar, ao invés de apenas aprender a falar. As visitas ao passado deveriam reforçar em mim o que no passado foi aprendido, não me levar a cometer exatamente os mesmos erros, quase que na mesma ordem.

Mas então, de que serve revisitar o passado? Se não há dentro de meu débil intelecto a capacidade para aprender, não há razão para permitir essas experiências novamente. Antes disso, ao menos os meus instintos deveriam me fazer correr na direção oposta ao do lobo que busca me devorar. Mas ao que me parece até os meus instintos mais primitivos foram suprimidos pela lascívia luxuriosa do meu coração. 

domingo, 22 de abril de 2018

Tratado da leveza

Acordei naturalmente, e esse é um dos prazeres de minha vida, poder deixar meu corpo relaxar o quanto precisar, pra só então acordar quando sentir-se confortável pra isso. E se considerar que eu to quase sempre desconfortável com tudo ao meu redor, isso é de um valor inestimável pra mim. Por isso abomino tudo o que prejudica uma noite de sono perfeita, e endeuso os fantásticos benzodiazepínicos, que sempre garantem um sono profundo, do jeito que tem de ser!

Mas além de um sono tranquilo, tem outras coisas que eu gostaria de viver. Como poder observar um céu estrelado num lugar bem bonito, e ver o pôr do sol bem longe dali. Queria me deleitar com as belezas naturais, mas de dentro de um carro porque odeio mato e mosquito na minha pele, e depois experimentar sei lá, os melhores pratos da culinária tailandesa, enquanto visito aqueles templos maravilhosos, quem sabe na companhia do grande amor da minha vida, ou sozinho, não importa.

Só queria a despreocupação permanente, e não a complexa rede de inseguranças que me rodeia diariamente. O não saber o dia de amanhã me preocupa, me assusta. 

Eu não quero ouvir os lamentos do meu coração, quero ouvir as ondas do mar e o canto dos pássaros. Quero os sinos da Igreja e o som do órgão, mas não a irritação que vem dos que me rodeiam. 

Acho que no fundo eu só quero não pensar nas coisas que hoje eu penso. Não quero as correntes que me aprisionam num quarto fechado, mas quero a imensidão do céu estrelado, onde possa voar sem destino, levado pelo vento, com a brisa fria balançando meu cabelo. Eu sonho com essa brisa fria, que leve pra longe os pensamentos ruins, que leve pra longe as pessoas ruins, e que leve também tudo o que não for leve. 

sábado, 21 de abril de 2018

Como os cães

Alguns dias se passaram desde a última vez que escrevi, e esperava que quando retornasse pudesse fazer com que meus dedos contassem experiências novas, e que mostrassem o que meus olhos viram do mundo, e o que as minhas mãos sentiram. Mas creio não ter nenhuma novidade, justo o contrário, creio que continuo paralisado, pois a vida insiste em me ensinar por duras penas a sua realidade de ferro.

A cada instante me convenço mais profundamente de que somos completa e absolutamente dispensáveis ao outro pelo simples fato de que o outro é incapaz de enxergar como somos de verdade, e vendo apenas a casca de uma conveniência, o homem mantém-se num jogo eterno de busca por seus interesses. 

É isso. Não passamos de elementos de troca. Não há em nós um valor maior que o dos animais por termos sido feitos imagem e semelhança do criador. Não, o homem é ainda mais bruto que os animais, e aqueles miseráveis que foram condenados a nascer com a sensibilidade para enxergar essa verdade tem se sofrer a dor de se ver largado em meio a tanto egoísmo. 

O homem preza pelo que lhe apraz e despreza tudo o mais. Quando algo perde seu valor ele troca por outra coisa, e essa é a regra que gira a roda da fortuna que rege a vida de cada um de nós. E a espada do destino cai uma vez mais, cortando sonhos e ferindo carnes. O que nos resta então além de apenas lamber as próprias feridas como fazem os cães adoentados, em vias de se encontrarem com a morte? 

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Da penumbra

Na noite escura a sua figura surgiu, obscurecida pela negritude em contraste com a luz amarelada dos postes da rua. Seu cabelo se mesclava com a paisagem a sua volta, e só o seu sorriso se tornou reluzia ao longe, mais ainda do que as frágeis lâmpadas que acima de nossas cabeças se levantavam. 

O ar frio rugia em meus ouvidos, e o som da minha respiração descompassada, o marco do asmático que não devia andar rápido, se tornou mais eufórica quando o vi. Já fazia tempo que não o via. Era de se esperar que um pouco de bom senso impedisse meu corpo de reagir tão instintivamente mas, como numa fração de segundo, pude sentir meus olhos brilharem forte, e mesmo na noite escura eu sei que você os viu. 

Me aproximei, pois os caminhos se cruzaram no centro, e pude ver o quanto você mudou. Já não aparenta mais com um garoto ainda indeciso sobre como se vestir ou se portar, mas ostenta a pose de um homem. Emagreceu e agora alguns ossos estão salientes, onde antes se via músculos. Será efeito da sua rotina exigente? Pude ver o brilho do suor em seu pescoço e, quando parou e respirou, senti um calafrio me possuir e um desejo brotar nos meus lábios. 

Não foram mais do que alguns poucos segundos, e com um sorriso nos despedimos, dando as costas um para o outro e seguindo nossos caminhos. Caminhos opostos, que nos levarão a lugares distantes, talvez sem nem mesmo sequer sabendo onde o outro terminou. O destino incerto das almas destinadas a distância é uma realidade cruel, ainda mais quando o mesmo destino as coloca frente a frente para que sintam a dor da separação uma vez mais, até que já não doa, até que já não haja mais nada para lamentar a perda.

Enquanto me afastava eu olhei uma vez mais para suas costas, e logo voltei o olhar para o meu caminho. É tipico da minha personalidade melindrosa se apegar a esses momentos, e sobre eles me debruçar remoendo minha própria culpa, mas admito que aceitei meu destino ao ver o corredor de escuridão que se opôs ao feixe de luz que, naquele instante, iluminava sua figura angelical. 

De um lugar escuro

Aos poucos tenho conseguido me dessensibilizar, ao menos com relação a algumas situações que antes me fariam chorar. Meses atrás seria impensável ouvir e ver determinadas coisas sem me derramar completamente. A expressão fria que agora trago comigo não se parece comigo. Não reconheço o homem que agora me olha no espelho. 

O que eu virei? Quem sou eu agora? 

Eu gosto do que vejo. Gosto de ver essa armadura com a qual me revesti. Ainda que seja uma máscara para disfarçar a dor que se alastra sem limites no meu peito é ainda melhor do que a face de covardia que até hoje eu tenho mostrado ao mundo. 

Essa máscara reflete o desejo de poder que tenho, e cuja fraqueza intrínseca a minha existência patética me impede de obter. Essa máscara reflete a ânsia pela força que em mim habita os cantos mais abissais. 

Vejo agora com melhor clareza que meu exterior não reflete o que se passa no meu interior. Ao mesmo tempo em que situações que sensibilizam os outros não despertam em mim comoção alguma, pequenas coisas que os outros façam ou digam (ou até mesmo não façam ou não digam) se torna motivo de uma imensa cascata de lágrimas no meu coração. Com efeito tenho estado deveras sensível para lidar com o outro, e a qualquer momento me vejo despencando para um estado de catatonia.

Ontem fui dormir extremamente atordoado, deitado em posição fetal, com o rosto inexpressivo e um turbilhão na cabeça. Eu pude sentir os resquícios da minha sanidade sumirem por entre meus dedos como fumaça. Não sabia como reagir, não sabia sequer o que sentir, apenas fiquei ali, no escuro, pensando numa dor que não era capaz de compreender e nem de tampouco fazer cessar.

Sinto como se minha mente derretesse, e essa é a melhor forma que encontrei de explicar a forma como me sinto. Minha única reação é a de observar o teto ou o abismo da escuridão sem esperança de um dia conseguir sair dali.

Onde estou? Que lugar é esse onde tudo é escuro, frio e sem vida? 

O meu interior se tornou um ambiente hostil demais para a sobrevivência, e até a minha existência se vê ameaçada. Mas não é isso o que mais me incomoda, pra ser sincero a perspectiva da morte é uma das poucas coisas que ainda me parecem boas nessa existência miserável...

terça-feira, 17 de abril de 2018

Da busca pela honestidade

Tenho estado numa busca constante pela honestidade. Me vejo cobrando que o outro seja sincero comigo, e busco ser sincero sempre que posso, me furtando a isso quando essa mesma atitude pode significar um esforço desnecessário ou uma ofensa incompreendida. Nem todos estamos prontos pra sinceridade o tempo todo, e eu mesmo fujo da verdade dolorosa muitas vezes. Por isso atualmente questiono a minha própria honestidade. Com efeito, muitas vezes tenho sentido que estou mentindo para mim mesmo. 

Já me vi, especialmente nos últimos dias, vivendo em meio uma enganação. Pensava estar vivendo algo que não estava, e quando a verdade se colocou ante meus olhos me sobreveio o desespero. Isso só mostra o quanto estive cego pelas minhas próprias concepções imaginativas, que criei numa fuga da realidade para um mundo mais agradável a minha pequena mente distorcida. 

Por onde começar a buscar em mim mesmo a sinceridade então? Como saber se não estou novamente me iludindo com palavras de progresso emocional e intelectual quando na verdade me encontro estagnado no lamaçal das minhas concepções erradas? 

O fato de eu estar conseguindo ver algumas realidades com um pouco mais de clareza não mostram uma evolução real. A minha reação sempre negativa é prova de que continuo reagindo ao real com a fuga, e não com a atitude combativa que a realidade me exige. Como sempre a minha reação é a de um covarde, que se treme e chora frente ao inimigo, mas não pega em armas para enfrentá-lo. 

Talvez o meu ponto de partida deva ser o da personalização, isto é, do confronto com o outro e na delimitação do que é ou não bom para mim. Processo muitíssimo complicado e doloroso, que requer idas e vindas constantes, como tem sido, mas absolutamente necessário no tocante a formação do meu ser. 

Se não posso desfazer os limites da minha consciência, e com isso deixar de passar por conflitos com o outro, tenho de delimitá-la ao máximo, e dessa forma me fechar ao máximo na redoma de minha mesma consciência, na esperança de assim me proteger de alguma forma. 

Mas eu mesmo não sei se isso é o certo, é só talvez o método que seguirei a partir daqui, e que tenho tentado seguir, sem muito sucesso, obviamente. Não tenho outra ideia, não tenho outra pista que me indique por onde deva começar, isso é só o que posso fazer agora, pois já não tenho mais idade para me deixar ser paralisado pelo medo, como sempre acontece. 

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Sobre as duas vontades

Há uma dualidade quase irremediável no homem. Uma batalha entre dois exércitos travada no campo de seu coração. Dentro do homem duas vontades distintas digladiam-se pelo poder do todo. 

De um lado há a vontade movida pelas paixões. São aqueles impulsos mais bestiais e primitivos que há em cada um de nós. Isso porque em cada coração habita uma vontade natural, que nos faz tender a saciar das formas mais vorazes os instintos que nos apresentam sem que saibamos de onde venham. 

De outro lado há a vontade racional, aquela advinda das reflexões, das reais necessidades. São as decisões que conscientemente tomamos, e os objetivos que traçamos com base nessas mesmas reflexões.  

É um consenso tomar as duas vontades de uma forma quase maniqueísta, apenas dualista. Como se uma fosse boa e a outra ruim. 

Aqueles que se deixam levar apenas pela vontade das paixões costumeiramente se dizem felizes por não serem limitados pelas barreiras impostas pelo racionalismo. Já os racionais tendem a tachar os outros de bestiais e animalescos, pelo mesmo motivo. 

Penso que não há como separar uma da outra. O humano é um ser integral, e não tomado apenas pelas paixões e nem tampouco pela razão. Não penso ser possível reduzir-se tal ao nível bestial que nada de racional reste, e nem tampouco ser tão racional que nada de apaixonado possa surgir daí. 

Não há apenas o preto e o branco, o bom e o mau, mas o mundo em que vivemos é vivido em tons de cinza. Somos uma mescla de ambos, e as vezes um lado se sobressai ao outro, obviamente, mas creio que a única forma de se viver de fato, sem cair no extremo da alienação ou da bestialidade, seja aprender a conviver com ambos os apetites. 

O primeiro é natural, e não pode ser suprimido. O segundo deve ser usado para melhor julgar o primeiro e assim evitar que ambos se anulem e caiamos na desgraça da cegueira. Seja ela apaixonada ou intelectual. 

A cegueira apaixonada é bestial, animalesca. Aqueles que se deixam levar por elas não tem mais controle sobre si, e perdem o direito de escolha para os instintos, que passam a tomar as decisões em lugar da razão. A cegueira intelectual, que assim a chamo por falta de palavra melhor, tem o peso de uma grossa corrente, não podendo tampouco oferecer outro destino ao homem que não seja o da infelicidade. Ambos conduzem a infelicidade, mas o primeiro ainda consegue mascará-la com os muitos prazeres, mas sempre termina na mesma infelicidade, no mesmo vazio. 

Não é o homem uma criatura em constante busca de preencher um vazio que o assusta desde o primeiro pensamento? Essa vazio é o vácuo deixado pela anteposição de ambas as vontades, que se anulam como polos magnéticos invertidos. Quando, no entanto, uma completa a outra, o homem encontra a paz de espírito necessária para então conseguir buscar algo que possa satisfazer o seu vazio. 

domingo, 15 de abril de 2018

Qual o sentido?

Perceber que o valor que se tem é quase o mesmo de uma pedra sem valor algum nos faz colocar as coisas em perspectiva. Isso significa que a partir daí as demais coisas também passam a ter outro valor, se comparadas com o que tinham antes. 

Ao meu redor eu não vejo mais nada que valha uma luta. Não vejo nada que valha um esforço. De que serve um pobre conquistar o mundo se ao final tudo lhe será tirado e ele retornará ao nada? Se no fim de tudo não é dado aqueles destinados ao fracasso a possibilidade de vencer, não há motivos para lutar! Não há razões para continuar. 

O que ainda me mantém aqui? 

QUAL O SENTIDO DE EU AINDA ESTAR AQUI? 

Pensar nessa pergunta me faz perceber que há um nó na minha garganta. Como se algo quisesse saltar pra fora de mim. Se insisto em buscar uma resposta o meu coração se acelera, minhas mãos e pernas começam a tremer e as lágrimas brotam violentamente. Por isso tenho estado paralisado, impossível de me movimentar pois estou ocupando pensando nas implicações que a resposta para essa pergunta tem para mim. 

Sinto que não consigo avançar mais. Nem um passo a mais me é permitido. Tudo o que eu consigo é ficar aqui na chuva, sentindo minhas lágrimas quentes se misturarem com a água fria que vem do céu, e de joelhos chafurdar na lama da desgraça, sem com isso conseguir me reerguer sequer. 

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Ainda

Eu não quero mais falar de solidão, mas como falar de outra coisa se, agora, é só o que há em meu coração? 

Neste momento eu estou sentado na frente da minha janela. A chuva parou há pouco, e as luzes da rua refletem na água que ficou no chão. Ao meu lado uma grande caneca com caldo esfumaça delicadamente, e o som leve de uma música vem do meu notebook, no meu colo. Seria o quadro de uma agradável noite sozinho, se não fosse pelo sentimento de completo vazio que assola o meu peito. 

Já chorei pesadas lágrimas nos últimos dias, e continuo tentando me convencer de que faço um bem a mim mesmo me afastando dos outros. Mas isso não é verdade. O que realmente sinto é uma completa repulsa em mais uma vez correr atrás de quem não parece dar importância a mim, e se não vou atrás, ninguém vem, fazendo com que me reste a completa solidão. 

Com efeito o meu contato com o mundo exterior foi mínimo essa semana e, exceto pelas poucas horas envolvendo as Missas em que fui, quase não falei com ninguém. 

O resultado? Nenhum dos meus pretensos amigos me procurou. Nenhum percebeu o abismo em que me lancei. A nenhum eu fiz falta. Não fosse por uma ou outra pessoa que precisasse tirar uma dúvida eu teria ficado completamente isolado do mundo, ainda que conectado a ele. 

Se não faço diferença na vida do outro, a vontade que tenho é de desaparecer, sem deixar vestígios. Não seria uma perda para o mundo, de qualquer forma. Mas até para partir estou paralisado. Não presto nem mesmo para sumir.

Não sei quais serão meus passos nos próximos dias, ou se ao menos conseguirei me levantar da cama e olhar meu reflexo no espelho. 

Não sei nem ao menos como terminar esse texto, afinal, não há mais nada a ser dito agora em meu coração, pois o que há em mim é um vácuo, um vazio sem o mínimo que se possa esperar de alguém que ainda não está morto. 

Sobre objetivos e deveres

Qual o meu lugar no mundo? O que eu devo realizar? Será que eu tenho alguma missão para realizar? Quais devem ser os meus objetivos como pessoa?

Muitos fazem planos, tem sonhos, objetivos... Mas eu, quando me volto para dentro de mim, apenas encontro um grande vazio. Não tenho sonhos, nem objetivos.

Há em mim desejos, como o de me tornar sempre mais e mais inteligente, mas me pergunto se esse fosse um objetivo real eu me dedicaria a ele com todas as minhas forças, e não apenas superficialmente como faço. Talvez isso seja apenas uma inclinação, e não um desejo. Nada tão importante assim. 

Eu não sei o que devo fazer, nem sequer por onde começar. Não sei o que desejar. Deveria sonhar em ter um sonho para realizar? Acho que me deixei deslumbrar pelas histórias de grandes heróis épicos, que deixaram seus nomes gravados para sempre no tempo, e quis ser como eles, sem saber como nem por onde começar. Erro risível.

Não me vejo mais como alguém necessário ao outro. Com efeito, suas vidas continuam as mesmas sem a minha presença tão incômoda. Não notariam minha morte sequer, se viesse a morrer agora. Sou dispensável, trivial, e já não tenho importância nem mesmo para mim, por não saber sequer o que fazer de minha própria vida.

Deveria morrer.

Não faria um favor ao mundo privando-os de minhas incontáveis lamúrias, mas apenas cumpriria com o único nobre dever que me é imposto.

Não tenho lugar entre as pessoas.

Sou um aborto, um erro.

Sou uma coisa que não deveria estar forçando a presença de sua existência aos demais, e justamente por isso o mínimo que posso fazer é sumir, deixar de existir, apagar desse mundo os mínimos traços de minha incômoda presença.

É o que deveria fazer... 

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Quatro dias

Há quatro dias o meu telefone não toca. Parece ter sido por mim silenciado, mas não o fiz. A única coisa que silenciei foi a minha própria voz, e aquela vontade incontrolável que sempre tive de dizer ao outro o que ele significa para mim.

Há quatro dias eu me calei, e tudo o que me deram foi mais silêncio. E não há beleza nisso, ou ao menos não que eu consiga ver. Apenas a frialdade humana em seu aspecto mais óbvio e latente. Não há poesia nisso, apenas a minha verdade de hoje.
  
Há quatro dias eu tenho visto quem se importa comigo, e isso assustaria a muitos, mas a mim sobe um riso diabólico do peito, como se já há muito soubesse a resposta. Sabia, sabia e fingia não saber. Os olhares frios que na verdade só guardavam maldade e egoísmo não são mais apenas olhares, se tornaram ações. A potencialidade se tornou atitude.

Há quatro dias eu venho tendo as minhas respostas, e isso deveria me impelir a seguir por outro caminho. Me encontro, no entanto, paralisado de medo, assustado demais para dar um passo sequer na direção contrária. Por isso silencio, por isso me afasto, por isso eu durmo. Há quatro dias o meu telefone não toca.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Dúvida em verso

Relutei em dizer certas coisas, 
relutei em me entregar novamente, 
relutei em me derramar novamente. 

Ao chão. 
Em vão. 

Relutei em escrever essas palavras. 
Temia que soasse apenas mais do mesmo. 

Um apego, 
sem apreço. 

Tenho buscado a solidão do meu quarto. 
Ouço apenas as notas musicais
e as intermináveis aulas de filosofia, 
que me dão a sensação de não estar parado. 

Quando estou. 
Quando sou. 

As constatações. 
As aspirações. 
As compreensões. 

Todas necessitam de tempo para serem assimiladas. 
E esse tempo precisa ser entre eu e meu intelecto. 

Entre eu e meu espírito. 
Entre eu e o silêncio das noites escuras. 

Evitarei dizer certas coisas.
Evitarei me entregar novamente,
evitarei me derramar novamente. 

Não quero sofrer com o adeus inevitável.
Prefiro não conhecer mais ninguém
Se amanhã terei de enterrar mais lembranças novamente.

Não direi certas coisas.
Não me entregarei novamente,
não me derramarei novamente. 

Não direi certas coisas?
Não me entregarei novamente?
Não me derramarei novamente?

terça-feira, 10 de abril de 2018

De homens e vermes

Normalmente quando me perguntam como estou, respondo com o adágio "lindo, reinante e glorioso", como forma de dissipar possíveis inclinações pessimistas que me façam agir como a pessoa essencialmente negativa que sou. No entanto, hoje, não consigo sequer mentir ao repetir essas palavras, pois a verdade é apenas uma: me sinto péssimo!

Em poucas horas consegui chegar ao fundo do poço da autoestima, e já penso em mim como o pior dos viventes a pisarem por sobre a terra. Com efeito, me sinto ainda pior do que os vermes que na mesma terra habitam à espreita dos homens, esperando o momento certo para roer-lhes os ossos e a carne putrefata de seus corpos amaldiçoados pela miserável condição humana.

Sinto o veneno das serpentes correr em minhas veias, e se alguém bebesse de meu sangue certamente seria infectado, não por uma doença, mas pela minha condição imprestável de ser inferior aos homens, que até aos animais dão o seu amor e carinho, mas negam a um que lhe parece ser igual. Serei eu igual aos homens? Serei eu sequer um homem? Ou um ser de aparência humana, mas de essência essencialmente inferior a dos animais brutos?

Já não me considero mais homem, nem sequer animal, mas transito sem lugar entre as existências sendo pior do que os vermes das ruínas. Apenas tenho a forma humana, mas minha essência difere-se das dos demais homens, me colocando inferior a todos eles, e não merecedor de sua compaixão, de sua compreensão e nem sequer ao menos de sua mera consideração!

Felizmente ninguém se atreveu perguntar se estou bem, e isso só fez com que piorasse a forma como me sinto. Mais uma vez vez questiono o universo pelo retorno que deveria receber. Se estive sempre disposto a ouvir quando os outros estavam mal, onde estão meus amigos agora que eu preciso chorar ao ombro de alguém?

Isso me mostra, mais uma vez, que a vida não é uma constante troca. Não, a vida não é movida por um carma, que devolve aquilo que damos ao universo. Não, a vida não é movida pela lei da troca equivalente. A vida é injusta, cruel, fria e gargalha gostosamente das desgraças de cada um que ela amaldiçoou com a condição humana! Ela diverte-se, essa imperatriz, de minha condição quase humana.

Condição tão vil, tão baixa, que somente ela poderia dar sentido a palavra miserável! E eu, espécime especialíssimo, represento o nível último da vileza, o mais baixo, mais torpe e miserável daqueles que um dia se consideraram homens, sem o serem de fato. 

Espreita

O desespero espreita minha mente, como tentáculos gelados, esperando a melhor hora para me enlouquecer. A cada contato com meu ser eu sinto dor, pavor, e a certeza de que meu fim se aproxima, como uma névoa grande a cobrir um campo esverdeado numa noite fria e vazia. 

Ouvi uma voz a me chamar depois dos outeiros, mas paralisado pelo medo eu a perdi e não sei mais dizer de onde veio. Estou sozinho nessa imensidão cinza, e se olho para o céu em busca de uma direção, tudo o que vejo é outra imensidão, a me sufocar. Me deito ao chão, ousando olhar para o alto, mas sinto que estou sendo sufocado pelo peso daquele manto negro. Olho a minha volta, e a imensidão daqui torna a me assustar. E então eu decido fechar os olhos, com toda a força que me resta. 

É aí que percebo que a imensidão a me assustar não é do mundo que me rodeia, mas sim a que habita no íntimo do meu ser. Volto meu olhar para o que se passa em meu coração e vejo que o abismo que há ali é mais assustador do que a imensidão do universo acima de mim. Se o céu que se abre por sobre nossas cabeças é sinal da presença divina, o abismo no meu peito só pode ser símbolo da presença do demônio. 

Sou o que se encontra no meio da disputa entre Deus e o Diabo? Seria presunção de minha parte dizer que sim, pois meus pecados bradam aos céus e demonstram claramente que optei pelo diabo, já começando aqui a minha pena de sofrer distante da presença do Senhor. 

Sei bem que essa condenação é fruto dos meus numerosos pecados, e sei também que não carrego mais do que o peso que decidi buscar, ao invés de me livrar de tudo isso e carregar apenas a minha cruz. 

Esse vazio que advém da busca pela completude no mundo, se mostra um buraco negro, a sugar toda minha existência, e a me fazer desejar mais. Desejar mais daquilo que me falta, daquilo que eu mesmo me privei, daquilo que eu mesmo fugi. Me faz desejar mais de Deus. 

Mas como me apresentarei a ele agora, sendo que me tornei o pior dos piores, buscando no mundo o que não poderia responder as questões que tinha? Não quero trilhar um caminho envergonhado para tornar a me envergonhar ao abandoná-lo logo mais a frente. 

E agora eu, pobre, que farei? Que patrono invocarei? 

domingo, 8 de abril de 2018

Excessos

Acreditava que a incompreensão seria a marca mais profunda deixada em meu peito pelos últimos dias. De fato me vi cercado por diversas situações que, numa primeira observação mais aproximada, pareciam inexplicáveis para o débil intelecto. No entanto, superando todas as (minhas) expectativas, ao término de tudo me veio uma quase inexplicável epifania.

Parece-me que fui feliz em minha decisão de dormir por mais de 15 horas seguidas, pois minha mente já exausta de tantas frustrações em abarcar o mundo que me rodeia pedia por um clemente repouso, e meu corpo, embora descansado, já apresentava sentir os efeitos colaterais da fadiga que minha mente estava mergulhada. 

Não conseguia compreender algumas atitudes das pessoas que me rodeiam, e isso me frustou profundamente. Demorei a notar que suas atitudes não faziam sentido para mim pois as media conforme meus parâmetros, o que é absolutamente impossível de se fazer, já que meus padrões são só meus. Pensava na categoria errada de classificação. Faltava-me olhar por um ângulo diferente, e até mesmo me faltava uma honestidade que, não notei a princípio, me seria essencial, ainda que deveras cruel. 

Compreendi que as pessoas que me rodeiam se deixam levar por desejos, assim como eu, e também assim como eu buscam disfarçar suas escolhas com um manto de honra muito bem costurado e difícil de desvendar. Mas como disse anteriormente, a honestidade é capaz de levantar esse véu. 

As nossas relações são todas, sem exceção, permeadas por interesses e motivadas pela conveniência que o outro tem para nós. É mais agradável conversar com uma pessoa que se mostra potencialmente capaz lhe servir do que com aquela que já se mostrou exaurida em te ajudar. É mais fácil substituir a peça quebrada do que tentar consertar, e todas as nossas relações refletem esse pensamento. Interesse e conveniência são então as palavras que melhor conceituam as amizades que rodeiam. 

Me situo em meio a isso de maneira distinta a que me situava ontem, por exemplo, quando me perdia em meio as torrentes dessas trocas disfarçadas de amizade. Agora me vejo como a peça descartada, ocupando o lugar que me é de direito. Aliás, lugar que é de direito a todos nós, já que todos somos movidos pela conveniência que o outro representa para nós. 

Penso que isso seja motivado pela barreira intransponível que tantas vezes já mencionei, e que penso ser uma das poucas coisas certas da vida, o limite da nossa consciência. A bolha, ou muralha, que nos separa de todos os outros e que, fazendo de cada um de nós um universo completamente isolado pelos demais, serve-se do que há disponível para satisfazer os desejos mais indecentes de cada um. O homem está condenado a viver sozinho dentro desta bolha, e é uma condenação perpétua.

É cruel notar isso, e se enquadra muito bem na categoria das constatações que me cortam como aço frio, mas é ao mesmo tempo libertador compreender que não é por minha culpa apenas que o outro se afasta, mas pela conveniência quase inconsciente de seu ser que busca continuamente pelo preenchimento do vazio de sua existência.

Não adianta crer que dar seu melhor fará o outro se aproximar e ficar. Não adianta crer que ao dar amor receberá amor em troca. Reciprocidade afetiva é só uma história de péssimo gosto contada a jovens decepcionados em busca de uma nova esperança, como eu. O homem é egoísta e incapaz de se relacionar verdadeiramente com o outro pois é incapaz de se mostrar ao outro ou compreender o outro. Tudo o que vemos são apenas os excessos imundos de nossa personalidade pueril, o que de pior sai do coração do homem e que, estando no espaço, é por outro homem captado. O mesmo não acontece com o amor e a amizade que, estando no íntimo do coração, não lhe escapam e permanecem a nós um mistério real.

Creio que a nós seja-nos reservado o desespero e toda sorte de decepções advindos da constatação da solidão inerente ao espírito humano. Nada mais. 

sábado, 7 de abril de 2018

O advento da incompreensão

Me sinto estranhamente inquieto, como se precisasse urgentemente fazer ou dizer algo de extrema importância. Isso provoca em mim impulsos de ansiedade que me atacam os membros e me deixa com dores terríveis, como se tivesse corrido uma maratona ou apanhado na rua. 

Ao mesmo tempo me sinto incapaz de me mover, inundado por uma necessidade de ficar quieto, em silêncio, no escuro, com o mínimo de contato com o outro. Isso provoca em mim uma sonolência crescente, e um humor delicado, pois é bem pouco provável que eu consiga dormir o quanto meu corpo deseja. 

A palavra que melhor define o meu fim de semana, até agora, é INCOMPREENSÃO. Me sinto incapaz de compreender tudo o que se passa ao meu redor, e ao mesmo tempo sinto que todos são absolutamente incapazes de compreender o que se passa comigo também. Incompreensão. 

Os acontecimentos dos últimos dias tem sido demais para mim e ,ainda que eu não tenha me debruçado por sobre eles na tentativa de melhor entender o que se passava, isso ainda sugou mais de mim do que seria possível eu dar. Como resultado estou exausto, impaciente e muito, muito assustado. 

Além disso me sinto carente, ciumento, muito ciumento, bem mais ciumento do que seria moral ou socialmente aceitável para qualquer um, e demasiado apegado em pessoas que, embora próximas, bem sei que não deveria me apegar, pois conheço muito bem o desfecho dessas histórias que se iniciam nas minhas noites escuras. É irônico notar que, e digo isso com o gosto amargo da derrota na boca, justamente quando acreditava ter começado a superar a necessidade do outro me vejo novamente na busca incessante pela completude emocional que falta ao meu frágil equilíbrio. 

Não sei descrever com mais precisão o que se passa comigo, e penso ser esse o limite de minha capacidade descritiva, mas é como se duas pessoas brigassem dentro de mim. Uma delas grita apavoradamente, com ódio a espumar pela boca, enquanto a outra ouve tudo a chorar ininterruptamente, como se alguém a esfaqueasse constantemente nos flancos, de modo a aumentar sua dor a níveis excruciantes. 

É vivendo essa dicotomia, em meio a essa intensa batalha interior em que nem sequer compreendo os desejos de cada lado, que me deito, na esperança de que uma luz possa clarear o meu intelecto e acalmar os ânimos de minha alma inquieta e instável. Temo pelo dia de amanhã, temo pela noite de amanhã, e chego a temer até mesmo pelo próximo minuto, com medo de que seja o instante do advento de meu fim! Claro que, se pensar bem, o meu fim não seria tão ruim assim...

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Ao meu eu de amanhã

Pensei em sentar e escrever uma carta para alguém que amo, como já fiz tantas outras vezes, pois creio que o ato de escrever uma carte de amor é um bom remédio para corações ansiosos em dizer o que sentem. Infelizmente, no entanto, não há no momento alguém que seja merecedor de minhas palavras de amor. Não há em meu coração, pela primeira vez em anos, ninguém a quem precise declarar meus sentimentos mais profundos e sinceros. Dito isto, pensei em escrever então para o único amor que ainda me resta: o meu próprio amor, para o meu próprio eu, não o meu eu de hoje, mas o meu eu de amanhã.

Creio finalmente estar conseguindo entender o significado de amor próprio, coisa que antes era pra mim impensável. Seria de grande estranheza para mim se, voltando no tempo de alguma forma, dissesse ao meu eu de ontem que aprenderia a me amar, e a colocar-me em primeiro lugar. Eu diria ser isto egoísmo, e diria ainda que fazer o outro feliz é que deve ser a nossa prioridade. Mas hoje percebo que isso é uma grande tolice, embora revestida de grande honras. 

Espero que você, meu eu de amanhã, ainda consiga se colocar em primeiro lugar e perceber que, embora belo, querer fazer o outro feliz é impossível, mas fazer a si mesmo feliz é a única coisa em seu poder. 

Consegue escrever cartas de amor para si mesmo? Não deseja mais desesperadamente a companhia, o carinho, e o afeto do outro? Espero que sim, e espero ainda que agora consiga colocar as pessoas em seu devido lugar, sem dar a elas importância maior ou menor do que aquela que elas merecem. 

Você é especial sabia? E eu bem sei que você não deve gostar ainda de ouvir isso. Ou melhor, gosta mas sente-se desconcertado. Isso porque passou tanto tempo dizendo isso aos outros que lhe soa estranho dizer isso a si mesmo. Mas eu te entendo, e por isso mesmo repito: você é especial! Vou além ainda, e digo que você é sim uma pessoa incrível, capaz de amar com mais intensidade que muitos, e que ao se dedicar ao que ama, não poupa lágrimas, suor ou sangue até realizar o que deseja. 

Espero que tenha maiores anseios para seu futuro do que eu os tenho hoje. É o homem sábio que desejo ser? Consegue compreender as nuances da lógica e do aristotelismo como eu anseio compreender? 

Não creio que o fascínio que tenho pelo corpo jovem e belo tenha cessado, ou sequer diminuído, mas espero que já não deixe isso te desviar do seu caminho como eu tantas vezes o fiz. Se desejas ainda ser sábio, mantenha-se no caminho do amor a sabedoria e não se desvie dele por conta dos olhares doces e inocentes dos rapazes que o cercam. Não se deixe levar pelos seus desejos luxuriosos como eu tantas vezes o fiz. Use a minha parca, porém significativa, experiência como impulso para alcançar seus objetivos, e nunca, jamais, esqueça que apenas o que levaremos daqui é o que aprendemos, não tendo em nada mais valor maior do que aquele que os livros podem te oferecer. 

No lugar onde você está o sol brilha claro ao amanhecer, refletindo nas folhas verdes e te dando um doce espetáculo de bom dia? Espero que possas ver o nascer ou o pôr do sol algumas vezes, ou ainda a chuva a cair pelas janelas ou pelas arvores. Não se esqueça desses pequenos presentes que a vida nos dá, e que tantas vezes ignoramos na busca por espetáculos que não podemos contemplar. A beleza que podemos ver é única e, mesmo estando ao alcance de todos, é apenas nossa! 

Desejo que você seja ainda mais paciente e compreensivo do que eu já consegui ser, e que não deixe uma pessoa sofrer sozinha, como tantas vezes sofremos, mas não se esqueça jamais, e torno a insistir nesse ponto: não carregue sobre seus ombros o peso da felicidade do outro! Carregue e busque apenas a sua felicidade, e sendo feliz, contribua pra alegria do outro, mas não atravesse esse limite, pois você se odiará no final, como eu tantas vezes me odiei. 

Não se odeie, mesmo nos dias mais cinzas e, se possível, não permita que seu sangue transforme-se em veneno, pois somente nós sabemos o quanto isso é doloroso. Não se odeie, e não se esqueça do quão incrível você é! Não se odeie, e se orgulhe de ter superado a cada um dos dias difíceis que se passaram, nem mesmo eu sei o que você já foi capaz de superar. Não se odeie, e mesmo quando chover dentro de si, ou quando se derramar em quem não pode te conter, saiba que apenas você pode corresponder ao seu próprio amor! A reciprocidade e o homem que tanto busca É VOCÊ!

Com carinho,

Seu eu de ontem.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Da verdade

Percebo que deve cessar a minha busca. Sinto vontade de fugir daquele que, antes, corria para abraçar. Desejo ficar em silêncio ao lado daquele que um dia eu desejava ouvir a voz a todo momento. A companhia que antes me trazia uma doce sensação de carinho agora me provoca uma dor no estômago e um anseio por um sossego que eu sei que não terei ao seu lado. 

Percebo que deve cessar a minha busca. Isso porque compreendi a importância que tenho para ele. Servi de escada para colocá-lo ao lado daquela vil imperatriz, que há de destruir a sua vida de tal forma que não sei se serei capaz de reconstruí-la. 

Não quero mais ficar ao seu lado, pois sei que se ficar, me apegarei e logo serei trocado. Não quero ser novamente apunhalado, ser colocado em segundo plano e tratado como o pior, quando apenas desejo o melhor para você. Se é para estar em sua vida, não será com ela presente. Se é para sair de sua vida, que seja por querer e não por ser expulso!

Percebo que deve cessar a minha busca. Temo pela solidão que se seguirá a partir daí, e não quero buscar consolo em outros braços, pois sei que não há nesse mundo um abraço capaz de me reconstruir, capaz de refazer os finos estilhaços em que ficou o meu ser. O vazio que havia no âmago da minha existência desde meu primeiro pensamento se expandiu de tal maneira que cobriu e superou essa mesma existência, pois tudo o que há em mim agora é o vazio. 

Percebo que deve cessar a minha busca. Não há como achar. Não há o que achar. Não há o que buscar. Não há o que conquistar. Apenas devo me contentar com a verdade de que algumas pessoas foram feitas para viver a solidão! Alguns simplesmente não podem ter alguém ao seu lado pois isso contrariaria alguma lei maior de nossa existência, que faria parte da estrutura da cruel realidade em que vivemos. 

Vinho e veneno

Não consigo me alegrar com a proximidade dos dois. É como se a simples amizade deles fosse um punhal incandescente transpassando o meu ser e me partindo em pedaços. A ponderação da possibilidade de que ambos se relacionem é um anuviar dos meus dias mais claros e certamente representa o meu maior medo. 

O desespero tem tomado conta de mim mais do qualquer coisa nos últimos dias, e a constatação de que ao final de tudo isso me restará apenas a solidão primordial me consome por inteiro. O gosto de sangue e ferro me enche a boca, e a ânsia putrefata do futuro me domina como o hálito de um cardíaco. 

Sinto-me egoísta por pensar dessa forma, mas não é algo que eu queira sentira, me vem tão naturalmente como a vontade de lutar pela sobrevivência vem a alguém que se afoga no oceano de águas impetuosas. E é a este mesmo ímpeto de dor e langor que sou lançado cada vez que vejo seu olhar brilhar ao contemplar a face daquela que tanto desprezo por atrever-se a existir na mesma realidade que eu. 

Não há sequer um desfecho honroso e edificante para estas palavras que aqui despejo como a um veneno no vinho do inimigo. Há apenas isso, o meu veneno, destilado em ódio e rancor pela patética situação em que me coloquei. 

Meu sangue ferveu, e mudou-se nesse mesmo veneno que agora aqui derramo. Assim como minhas entranhas também se derramam a terra, esperando serem devorados pelos vermes, que se rirão da minha morte a contorcerem-se pelos meus cabelos, na eternidade em que eles serão felizes, e que existirei somente como um verme de rancor... 

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Ícarus

Como o sol nasce da aurora eu sinto um novo amanhecer nascendo dentro de mim. É como ficar sentado na calçada num dia claro, o calor vai aos poucos se espalhando pelos braços e pernas e, ao chegar no coração, alcança todo o corpo. 

Esse sentimento quente, agradável, que vai acariciando o meu ser, aos poucos toma conta de mim, e me faz esquecer da frialdade inorgânica do aço que um dia atravessou o meu coração num golpe certeiro dado pelo meu grande amor. 

Esse calor delicado, que como as bolhas do mar lambem as pernas das crianças num carinho, faz com que me sinta bem, amado, querido, e faz com que eu deseje voar para o céu azul, para mais perto do sol. E como Ícaro, esse é um sonho perigoso que se revela num desejo aparentemente inocente. 

Mas não há como fugir do calor do sol, ele continuará brilhando e aquecendo o meu coração, e inevitavelmente eu passarei a desejar mais e mais calor, até que voando muito perto do grande astro serei queimado pelas suas chamas. O sentimento que agora nasce no meu peito é esse sol, assim como a pessoa que o desperta, é também um sol. Ambos igualmente agradáveis, carinhosos, e tão perigosos quanto o mesmo sol.

Isso acontece porque, nas noites frias, eu desejo o doce calor do sol. E porque quando olho pra lua e, me recordo de noites e noites de desencantos, fico a desejar a claridade invencível de um astro rei, que impere categoricamente minha vida sem sentido.

Não sou como Ícaro, no entanto, que se aproximou inocentemente do sol, mas sei bem que não posso voar muito alto sem me queimar. É uma dicotomia patética, a do meu pensamento, desejar, na segurança do frio, o calor mortal, na doce ilusão de que ele me fará sentir melhor do que a frialdade da solidão em que existo.

Percebo que o calor do sol é para mim o calor dos abraços que desejo ao meu redor, que me façam sentir a segurança de uma vida de amores, e não a deriva de uma busca incansável pelo afeto do outro. É estranhamente patético ter sempre um discurso pronto sobre como é importante valorizar o que vem de dentro para meus amigos e ser incapaz de viver sem desejar o outro...

Me sinto o pior dos hipócritas, sempre ajudando o outro a não precisar do outro, mas sempre necessitando do outro para absolutamente tudo o que faço. E o pior de tudo: sempre a desejar o outro que nunca conseguirá ser capaz de corresponder ao que espero e preciso dele. Por isso acredito ser portador de um intelecto imensuravelmente inferior ao de todos, já que saboto a mim mesmo de tal forma que uma pessoa inteligente, ou nem ao menos normal, poderia fazer.

Mas o deslumbre do sol ainda é maior do que o resto de razoabilidade que, deveria, haver em mim, e por mais que saiba que serei lançado ao mar do desespero por essa escolha, ainda é de minha vontade voar em direção ao sol que derreterá as asas dos meus mais torpes desejos... 

Começa a semana

Veio a tarde, e depois a noite, e findou o dia. A semana sequer começou direito e já me recordo das impressões que a última deixou em mim e que dificilmente esquecerei... 

Fiquei frente a frente com o Amado de minh'alma, e os olhares se cruzaram de forma tão fria, que qualquer pessoa na terra duvidaria de que um dia os dois teriam sido almas tão próximas que poderia dizer-se que fossem apenas um! 

Acredito que o fato mais triste sobre a distância é que, quando ela se mantém por muito tempo no plano físico, o plano afetivo a segue, e uma vez que a distância se instale no afeto, nem mesmo o vencimento da distância física pode desfazer o que se perdeu. 

A amizade é, para mim, como um cristal fino que, uma vez quebrado não torna a ser como antes. Claro, sempre nos resta a possibilidade de adquirir um novo, mas alguém como eu não gosta de se desfazer dos cacos, e constantemente se corta com os cristais quebrados de meu coração. 

O seu olhar frio me enrijeceu a alma, e embora fizesse calor naquela Tarde da Paixão de Nosso Senhor, eu senti o ar frio do seu coração a me paralisar. É com um sorriso desconcertado que agora eu percebo que, o seu olhar frio mostra isso, você seguiu em frente, ao passo que eu apenas alimentei uma eterna saudade, que como raízes agressivas se espalharam em meu peito e agora ocupam todo o meu ser.

Uma pequena lágrima fria escorre no meu rosto quente, e essa dicotomia entre o frio e o calor que há em mim se mostra também na forma como eu e você tratamos um ao outro. Ou não... A quem estou querendo enganar? A mim mesmo? Não há forma de tratamento entre eu e você, apenas somos agora dois estranhos na multidão, tão distantes quanto outros dois que nunca tenham se visto ou se amado.

A distância se instalou aqui dentro, bem como a fria indiferença do seu olhar se gravou no meu coração, e mesmo sabendo que um dia fomos, não seremos mais, e é com essa constatação que começo a semana.