terça-feira, 24 de abril de 2018

Sobre visitar o passado

Manhã, tão bonita manhã, na vida uma nova canção, já o disse Antônio Maria ao escrever Manhã de Carnaval, que num adágio leve e refrescante nos conduz ao reencontro de um antigo amor. Talvez não por coincidência tenha colocado essa música para tocar quase instintivamente logo quando acordei hoje, após uma noite de intensas recordações, movidas por um inesperado reencontro. 

Fui acometido por uma estranha combinação de sentimentos. Primeiramente levado pela onde luxuriosa que, geralmente, nos faz tomar as decisões mais insanas sem o mínimo de ponderação e prudência, e logo depois pelo pesar advindo da ponderação posterior. 

O meu bom senso, se o tivesse, me faria ter corrido para as colinas na primeira tentativa de contato, mas aparentemente todo o tempo de terapia que fiz para superar aquele passado não serviu para imprimir a ferro e fogo a lição daquela separação. E como se nada nunca tivesse acontecido, e me destruído, eu me entreguei completamente a um passado que deveria ter há muito enterrado sem pestanejar. 

Aliás, os últimos dias tem sido marcados por um retorno ao passado. Vejo agora a minha vida como uma sucessão helicoidal, ou espiral, quase sinuosa, me levando a rever certos acontecimentos de novo e de novo. A cada nova visita ao passado a minha visão deveria estar mudada, amadurecida, mas parece que não é isso que acontece, antes disso, parece-me até que tenho feito o caminho inverso do amadurecimento afetivo. Me deixando levar, cada vez mais, pela carência e pela crença de que se não aceitar qualquer coisa, ficarei só, muito embora o discurso de aprendizado e crescimento tenha sido aperfeiçoado no nível da impregnação linguística. Eu aprendia as palavras que os outros dizem quando superam um amor, mas não aprendia a superar. 

Tenho visitado o passado, mas não tenho aprendido as lições que ele tem lançado sobre meu rosto. Tenho visitado o passado mas continuo cometendo os mesmos erros que no passado cometi. Não há como mudar o que se passou, mas deveria ser possível para mim mudar as decisões que tomo de agora para frente, mas isso não passará de outro discurso vazio se não aprender a superar, ao invés de apenas aprender a falar. As visitas ao passado deveriam reforçar em mim o que no passado foi aprendido, não me levar a cometer exatamente os mesmos erros, quase que na mesma ordem.

Mas então, de que serve revisitar o passado? Se não há dentro de meu débil intelecto a capacidade para aprender, não há razão para permitir essas experiências novamente. Antes disso, ao menos os meus instintos deveriam me fazer correr na direção oposta ao do lobo que busca me devorar. Mas ao que me parece até os meus instintos mais primitivos foram suprimidos pela lascívia luxuriosa do meu coração. 

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