quarta-feira, 18 de abril de 2018

De um lugar escuro

Aos poucos tenho conseguido me dessensibilizar, ao menos com relação a algumas situações que antes me fariam chorar. Meses atrás seria impensável ouvir e ver determinadas coisas sem me derramar completamente. A expressão fria que agora trago comigo não se parece comigo. Não reconheço o homem que agora me olha no espelho. 

O que eu virei? Quem sou eu agora? 

Eu gosto do que vejo. Gosto de ver essa armadura com a qual me revesti. Ainda que seja uma máscara para disfarçar a dor que se alastra sem limites no meu peito é ainda melhor do que a face de covardia que até hoje eu tenho mostrado ao mundo. 

Essa máscara reflete o desejo de poder que tenho, e cuja fraqueza intrínseca a minha existência patética me impede de obter. Essa máscara reflete a ânsia pela força que em mim habita os cantos mais abissais. 

Vejo agora com melhor clareza que meu exterior não reflete o que se passa no meu interior. Ao mesmo tempo em que situações que sensibilizam os outros não despertam em mim comoção alguma, pequenas coisas que os outros façam ou digam (ou até mesmo não façam ou não digam) se torna motivo de uma imensa cascata de lágrimas no meu coração. Com efeito tenho estado deveras sensível para lidar com o outro, e a qualquer momento me vejo despencando para um estado de catatonia.

Ontem fui dormir extremamente atordoado, deitado em posição fetal, com o rosto inexpressivo e um turbilhão na cabeça. Eu pude sentir os resquícios da minha sanidade sumirem por entre meus dedos como fumaça. Não sabia como reagir, não sabia sequer o que sentir, apenas fiquei ali, no escuro, pensando numa dor que não era capaz de compreender e nem de tampouco fazer cessar.

Sinto como se minha mente derretesse, e essa é a melhor forma que encontrei de explicar a forma como me sinto. Minha única reação é a de observar o teto ou o abismo da escuridão sem esperança de um dia conseguir sair dali.

Onde estou? Que lugar é esse onde tudo é escuro, frio e sem vida? 

O meu interior se tornou um ambiente hostil demais para a sobrevivência, e até a minha existência se vê ameaçada. Mas não é isso o que mais me incomoda, pra ser sincero a perspectiva da morte é uma das poucas coisas que ainda me parecem boas nessa existência miserável...

Nenhum comentário:

Postar um comentário