domingo, 8 de abril de 2018

Excessos

Acreditava que a incompreensão seria a marca mais profunda deixada em meu peito pelos últimos dias. De fato me vi cercado por diversas situações que, numa primeira observação mais aproximada, pareciam inexplicáveis para o débil intelecto. No entanto, superando todas as (minhas) expectativas, ao término de tudo me veio uma quase inexplicável epifania.

Parece-me que fui feliz em minha decisão de dormir por mais de 15 horas seguidas, pois minha mente já exausta de tantas frustrações em abarcar o mundo que me rodeia pedia por um clemente repouso, e meu corpo, embora descansado, já apresentava sentir os efeitos colaterais da fadiga que minha mente estava mergulhada. 

Não conseguia compreender algumas atitudes das pessoas que me rodeiam, e isso me frustou profundamente. Demorei a notar que suas atitudes não faziam sentido para mim pois as media conforme meus parâmetros, o que é absolutamente impossível de se fazer, já que meus padrões são só meus. Pensava na categoria errada de classificação. Faltava-me olhar por um ângulo diferente, e até mesmo me faltava uma honestidade que, não notei a princípio, me seria essencial, ainda que deveras cruel. 

Compreendi que as pessoas que me rodeiam se deixam levar por desejos, assim como eu, e também assim como eu buscam disfarçar suas escolhas com um manto de honra muito bem costurado e difícil de desvendar. Mas como disse anteriormente, a honestidade é capaz de levantar esse véu. 

As nossas relações são todas, sem exceção, permeadas por interesses e motivadas pela conveniência que o outro tem para nós. É mais agradável conversar com uma pessoa que se mostra potencialmente capaz lhe servir do que com aquela que já se mostrou exaurida em te ajudar. É mais fácil substituir a peça quebrada do que tentar consertar, e todas as nossas relações refletem esse pensamento. Interesse e conveniência são então as palavras que melhor conceituam as amizades que rodeiam. 

Me situo em meio a isso de maneira distinta a que me situava ontem, por exemplo, quando me perdia em meio as torrentes dessas trocas disfarçadas de amizade. Agora me vejo como a peça descartada, ocupando o lugar que me é de direito. Aliás, lugar que é de direito a todos nós, já que todos somos movidos pela conveniência que o outro representa para nós. 

Penso que isso seja motivado pela barreira intransponível que tantas vezes já mencionei, e que penso ser uma das poucas coisas certas da vida, o limite da nossa consciência. A bolha, ou muralha, que nos separa de todos os outros e que, fazendo de cada um de nós um universo completamente isolado pelos demais, serve-se do que há disponível para satisfazer os desejos mais indecentes de cada um. O homem está condenado a viver sozinho dentro desta bolha, e é uma condenação perpétua.

É cruel notar isso, e se enquadra muito bem na categoria das constatações que me cortam como aço frio, mas é ao mesmo tempo libertador compreender que não é por minha culpa apenas que o outro se afasta, mas pela conveniência quase inconsciente de seu ser que busca continuamente pelo preenchimento do vazio de sua existência.

Não adianta crer que dar seu melhor fará o outro se aproximar e ficar. Não adianta crer que ao dar amor receberá amor em troca. Reciprocidade afetiva é só uma história de péssimo gosto contada a jovens decepcionados em busca de uma nova esperança, como eu. O homem é egoísta e incapaz de se relacionar verdadeiramente com o outro pois é incapaz de se mostrar ao outro ou compreender o outro. Tudo o que vemos são apenas os excessos imundos de nossa personalidade pueril, o que de pior sai do coração do homem e que, estando no espaço, é por outro homem captado. O mesmo não acontece com o amor e a amizade que, estando no íntimo do coração, não lhe escapam e permanecem a nós um mistério real.

Creio que a nós seja-nos reservado o desespero e toda sorte de decepções advindos da constatação da solidão inerente ao espírito humano. Nada mais. 

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