sábado, 28 de abril de 2018

Da conveniência e da aceitação

Não gosto de repetir frases feitas que tenham, num âmbito geral, o efeito de nos fazer perceber certos aspectos da vida que ainda não havíamos notado e que pode nos levar a mudar, mas as vezes tenho de dar o braço a torcer e reconhecer que algumas lições foram sim nos passadas em formas de frases e que as ignoramos, para aprender tão somente com a dor da pedagogia de ferro da vida.

Vagando pelos campos mais abertos deste grande parque da vida, a internet, de de cara com uma verdade forte, escrita em letra brancas, mas disfarçada de breve revelação: "As pessoas não somem, elas perdem o interesse."

Sim, sei que isso se parece mais com o imperativo categórico formulado por uma garota de doze anos revoltada com os amigos que não a chamaram pra festinha porque é chata, mas analisando agora alguns fatos do meu próprio passado, confronto essa passagem com outra que disse pouco atrás: "as nossas relações são movidas pura e simplesmente pela conveniência de nossas presenças."

Torno a repetir que apenas somos agradáveis enquanto úteis, e quando já não somos mais necessários e, por algum motivo nos tornamos um fardo, já não somos mais de uma convivência agradável. Aqui cabe uma observação: digo nós por um vício de linguagem, mas quero dizer eu mesmo, no puro singular de que apenas tomo como base as experiências que agora fazem eco no meu coração.

Agora que já não sou mais útil a ninguém, e incapaz de ajudar a quem quer que seja, pois antes conseguia fugir de meus próprios problemas para resolver os de outrem, já não encontro no mundo o conforto que um dia buscaram em mim. Talvez seja uma prova de que a vida não devolve aquilo que damos, o que invalidaria o karma, mas é uma prova que apenas eu, e aqueles que também esperam pela sua compensação, podem ter, e que provavelmente será ignorada pelos outros, assim como eu agora sou.

O que me tornava agradável aos olhos dos outros se foi, e agora que restou apenas o moribundo que deixaram após me sugarem até o tutano, fui largado a margem de todos como o leproso fora da cidade. Minha conveniência tornou-se inconveniente para o outro, e por isso fui dispensado.

O próximo passo é conseguir aceitar a solidão não como uma imposição injusta do destino, mas como uma oportunidade a ser abraçada rumo ao crescimento. É bem verdade que já não preciso mais dispor de longas horas para ouvir, consolar e aconselhar, mas que agora posso me dedicar a fazer o que amo, aprender o que desejo. É talvez um passo ainda mais difícil que o de aceitar a solidão como um destino do qual eu não posso fugir. 

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