terça-feira, 10 de abril de 2018

Espreita

O desespero espreita minha mente, como tentáculos gelados, esperando a melhor hora para me enlouquecer. A cada contato com meu ser eu sinto dor, pavor, e a certeza de que meu fim se aproxima, como uma névoa grande a cobrir um campo esverdeado numa noite fria e vazia. 

Ouvi uma voz a me chamar depois dos outeiros, mas paralisado pelo medo eu a perdi e não sei mais dizer de onde veio. Estou sozinho nessa imensidão cinza, e se olho para o céu em busca de uma direção, tudo o que vejo é outra imensidão, a me sufocar. Me deito ao chão, ousando olhar para o alto, mas sinto que estou sendo sufocado pelo peso daquele manto negro. Olho a minha volta, e a imensidão daqui torna a me assustar. E então eu decido fechar os olhos, com toda a força que me resta. 

É aí que percebo que a imensidão a me assustar não é do mundo que me rodeia, mas sim a que habita no íntimo do meu ser. Volto meu olhar para o que se passa em meu coração e vejo que o abismo que há ali é mais assustador do que a imensidão do universo acima de mim. Se o céu que se abre por sobre nossas cabeças é sinal da presença divina, o abismo no meu peito só pode ser símbolo da presença do demônio. 

Sou o que se encontra no meio da disputa entre Deus e o Diabo? Seria presunção de minha parte dizer que sim, pois meus pecados bradam aos céus e demonstram claramente que optei pelo diabo, já começando aqui a minha pena de sofrer distante da presença do Senhor. 

Sei bem que essa condenação é fruto dos meus numerosos pecados, e sei também que não carrego mais do que o peso que decidi buscar, ao invés de me livrar de tudo isso e carregar apenas a minha cruz. 

Esse vazio que advém da busca pela completude no mundo, se mostra um buraco negro, a sugar toda minha existência, e a me fazer desejar mais. Desejar mais daquilo que me falta, daquilo que eu mesmo me privei, daquilo que eu mesmo fugi. Me faz desejar mais de Deus. 

Mas como me apresentarei a ele agora, sendo que me tornei o pior dos piores, buscando no mundo o que não poderia responder as questões que tinha? Não quero trilhar um caminho envergonhado para tornar a me envergonhar ao abandoná-lo logo mais a frente. 

E agora eu, pobre, que farei? Que patrono invocarei? 

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