quinta-feira, 29 de julho de 2021

Resenha - Be Loved In House: I Do

O post a seguir contém SPOILERS, prossiga por sua conta e risco!

Que as produções taiwanesas servem muito e têm um lugarzinho especial no nosso coração não é nenhuma novidade e Be Loved In House: I Do veio para dar continuidade ao legado. Com uma proposta estilo HIStory, uma antologia ligada por pequenos pontos entre uma história e outra essa primeira temporada já tentou se estabelecer como a próxima franquia a arrebatar os nossos pobres corações apaixonados. 

A atmosfera do Seisei Studio, que trabalha com joias, muda drasticamente com a chegada do novo diretor, Jin Yu Zen (Aaron Lai, de HIStory: My Hero) que, como primeira ação, proíbe que seus funcionários tenham qualquer tipo de envolvimento romântico dentro ou fora da equipe. Por achar a nova regra injusta, e por dois dos funcionários já estarem namorando, eles tentam descobrir mais sobre o novo diretor com o objetivo de encontrar uma forma de acabar com a proibição. Além disso ele também se muda para uma casa da empresa, se tornando colega de quarto de Shi Lei (Hank Wang), o líder da equipe e mandando embora Wu Si Qi (JN Yu), que acaba indo morar com Yan Zhao Gang (Liao Wei Po). 

Claro que a princípio a relação de Shi Lei e Jin Yu Zen é cheia de atritos. O funcionário não esconde a aversão pelas regras do chefe que inclusive fez várias mudanças em casa e o chefe se mostra impassível e determinado a manter as regras a todo custo, parecendo não ter coração. Pouco a pouco eles começam a se entender um pouco melhor, mesmo não tendo um bom diálogo. 

Eles passam a cuidar um do outro, seja quando o trabalho exige um pouco mais de empenho ou quando uma alergia pode afetar o bem estar do colega. Eles se apoiam nessas situações e se aproximam, encontrando um no outro algo de importante para se admirar. 

Shi Lei é determinado e faz de tudo pelos amigos, embora seja apenas com o pretexto de descobrir algo sobre o chefe misterioso ele encontra razões para admirar Jin Yu Zen, e começa a questionar seus sentimentos, bem como a se conhecer melhor e também conhecendo o outro, que por trás daquela aparência séria esconde uma pessoa gentil e assustada com o passado, que acredita que não se apaixonar é a melhor forma de evitar decepções, mesmo que ele saiba que também sente algo pelo outro, não conseguindo esconder isso nos momentos de maior vulnerabilidade.

Jin Yu Zen é um personagem complexo, com um passado de abandono triste que o deixou traumatizado, por isso mesmo ele se aproxima de Shi Lei meio que inconscientemente, lutando a todo momento contra seus sentimentos. Enquanto isso Shi Lei se entende melhor e dá os primeiros passos rumo a aceitação de quem ele é. Por fim, só o que pode ficar entre eles é a coragem de admitir o que sentem. Ou será que algum fantasma do passado pode voltar a dar as caras e abalar essa relação? 

Por outro lado, já que foi expulso de casa pelo chefe o pequeno Wu Si Qi precisa ir morar com o dono da cafeteria que gentilmente o acolhe, ao que a convivência de ambos também promete despertar maiores sentimentos. O casal secundário é simplesmente uma graça e já conquista nas primeiras cenas. Si Qi é um fofo e simplesmente conquista a gente com a graça e a inocência de quem vive o primeiro amor.

O casal principal não fica atrás. Se Shi Lei é um homão com carinha e sorriso de bebê e Jin Yu Zen um homão completo, fica difícil não se apaixonar pelo casal que vive brigando mas tem o estranho hábito de dormirem na mesma cama e nunca falar sobre isso. A forma como a série trata o crescimento dos personagens é feito com muita delicadeza, e as cenas cheias de carinho e delicadeza entre eles estão em todos os episódios, como quando Shi Lei se preocupa em não deixar o chefe comer nada que vá lhe dar alergia ou quando Ji Yu Zen o abraça e pede pra ficar mais tempo perto do outro. Ambos vão pouco a pouco percebendo que precisam muito um do outro e que precisam aceitar o que sentem. Essa construção pode parecer um pouco lenta demais em alguns momentos mas, num contexto geral, a série ficou bem equilibrada em apresentar e desenvolver bem os sentimentos de ambos até sua aceitação, não focando, no entanto, muito, no relacionamento deles depois disso. 

A trilha sonora, toda cantada pela cantora Ai Yu Fan também é primorosa, principalmente pela faixa I Do que fecha cada episódio. A fotografia é bonita e cada quadro parece ter sido cuidadosamente composto, o que, convenhamos, não é difícil de fazer com dois homens lindos como protagonistas. 

Enfim, Be Loved In House: I Do é um romance cuidadosamente escrito pra ser fofo e delicado nos pequenos detalhes, mostrando a construção lenta de cada personagem até que finalmente fiquem juntos. Na medida pra quem ama um romance pra inspirar a vida em momentos difíceis. 

Nota: 09/10

domingo, 25 de julho de 2021

Noite de Domingo

Há algo no domingo à noite que me assusta, desde a tenra infância. Desde que era pequeno, e já conseguir notar a diferença entre os dias da semana, eu me lembro de um medo, de algo me atingir na tarde de domingo e me levar para cama com um sentimento profundo de medo, por vezes beirando o desespero, me apertando o peito como uma fera prestes a me devorar, que agora uiva por entre as vinhetas do Fantástico.

Há algo na incerteza de uma nova semana, na mudança mais drástica no dia a dia que se mantém na programação televisiva de sábado, no trabalho que geralmente só aos domingos encontra descanso. Não sei dizer o que é mas a noite de domingo me assusta, me deprime, me afoga em incerteza e me faz querer desaparecer, não cedendo nem mesmo as risadas de uma série ou filme mais familiar, antes disso, se travestindo nas coisas que amo para me deixar com um gosto amargo na boca que me lembra a mesma sensação de ter visto a morte de perto por entra os prantos de alguma exéquias, só achando conforto naqueles dias que estava ocupado demais para prestar atenção a esse demônio que, no entanto, sempre esteve em meus ombros.

A solidão desse sentimento difícil de descrever é apavorante. Todos parecem amar o domingo e eu sinto medo dele. Todos parecem se divertir, seja em seus jogos ou festas e eu só penso no quanto sinto medo, de tudo, por parar pra pensar numa tarde de domingo que não tem aquele rosa riscando o céu, mas que é apenas de uma escuridão medonha, que deixa ainda mais claro que alguém me quer morto, destroçado após o anoitecer do primeiro dia da semana. 

Isso porque algumas coisas nunca mudam. Os meninos não olhavam pra mim antes e os homens não olham agora. Eu era infeliz antes e continuo triste, medroso e infeliz agora. Nada mudou, apenas os anos passaram mas o medo que me consome ainda permanece o mesmo, e o fato de ninguém entender também. Continuo sozinho e desesperado, sem nem mesmo entender a razão por trás de toda essa escuridão. Que posso fazer além de esperar, que seja finalmente devorado ou que alguém venha em meu socorro? Que posso mais fazer além de esperar, pelo meu fim ou pelo medo do próximo domingo? 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Minha Fuga

É o único momento que eu encontro algum resquício de alegria, um vislumbre de luz num mundo de escuridão, é quando as histórias de um mundo que não existem ganham forma, ganham rostos, sorrisos, beijos e abraços. É quando esse mundo cria um mundo melhor, onde existe amor, onde a verdade traz a beleza que falta a esse mundo, onde até mesmo a dor não dói tanto, onde até as tragédias parecem mais bonitas do que as alegrias dessa vida, já que lá a beleza também se faz presente o tempo todo. É o meu momento de fuga, onde suspendo a atenção desse mundo, onde não penso nos horrores noturnos, onde apenas me preocupo com o próximo capítulo, a próxima fase ou como o próximo personagem vai declarar seu amor. 

Me vejo neles, consigo projetar naqueles homens do outro lado do mundo e viver com eles uma história de descobrimento, amor, aceitação. Consigo esquecer as verdades cruas que me cercam e me focar nas verdades feitas em estúdios e casas cenográficas, ao som de trilhas sonoras com letras doces e cheias de acordes menores que refletem todo o sentimento que eles mostram em seus rostos, belos, suaves, perfeitos. 

Aqui tudo é decadência, ódio, egoísmo, frieza, crueldade. Aqui é tudo feio, sem graça, vazio, sem contorno. Aqui nada vale a pena, aqui nada vai pra frente, aqui nada faz sentido, nada agrada aos olhos, nada merece carinho... Aqui nos resta sonhar, com um mundo melhor, mas até nossos sonhos são estragados pelo gosto amargo da verdade que grita que nenhum sonho jamais se tornará realidade. Tudo o que pode acontecer é permanecermos na mediocridade, ou cairmos ainda mais. 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Num Deserto

Tenho estado incapaz de ir até o próximo. Mesmo em dias como hoje em que me obrigo a conversar e sorrir eu não estou lá verdadeiramente, senão que é uma espécie de modo automático, um eu que, não sendo eu, se torna eu para que os outros não percebam que eu já não existo mais, ou melhor, que eu existo mas estou perdido demais para ir ao encontro do outro. 

Daqui do meu lugar eu ainda tenho vislumbres daquela terra distante onde um dia eu caminhei, e esses vislumbres me fazem sentir aqueles sentimentos que antes pululavam todo meu ser, mas que agora apenas pairam a superfície do que eu realmente sinto. E eu sinto pena, de minha mãe por cuidar de mim e por não conseguir ser melhor como ela merecia que fosse; sinto raiva, de todas as coisas que dão errado; sinto carência, já que algo em mim ainda deseja companhia, mas companhia verdadeira, esta ainda é uma ânsia profunda da minha alma. 

Mas eu não tenho conseguido expressar muito disso, e não tenho encontrado no mundo companhia alguma. Apenas tenho querido ficar quieto, sozinho, em silêncio, lentamente me deixando consumir por uma crise de depressão que já dura semanas inteiras, como uma longa noite escura da alma, onde tudo o que sinto de verdade e a aridez de não saber o que quero e nem mesmo o que eu sou, nem para onde estou indo. Estou apenas encerrado, em meu próprio coração, como num deserto. 

E eu me sinto cada vez mais perdido nesse mesmo deserto, como se me afundasse cada vez mais nas montanhas de areias que me sufocam, que enchem a minha boca, que me impedem até mesmo de gritar. Até onde eu posso afundar? Até onde vai essa escuridão que me circunda, me abarca e me transcende? Até onde há escuridão no meu coração? 

Tornei-me um homem descrente no amor, triste no semblante e desanimado por dentro, algo próximo de uma casca vazia que se move sem a força interior de quem um dia esteve vivo. Não, não se pode dizer que alguém como eu está vivo, eu apenas existo, uma existência inferior, que carece de toda essência, que é apenas um vácuo vestido com roupas amassadas um olhar opaco que já não vê mais o brilho das coisas, existindo numa tristeza profunda, observando do frio do deserto as estrelas que um dia brilharam no meu coração. 

A dicotomia de viver um Transtorno de Personalidade Bipolar me faz flutuar entre duas realidades distintas: a completa apatia, o torpor, o não sentir nada além de um imenso vazio pouco a pouco corroendo meu ser e o vigor, um vigor luxurioso, demoníaco, que me faz ter o apetite bestial de mil profissionais do sexo. E eu vivo assim sapateando entre essa linha bastante tênue entre um lado e outro. O querer, o não querer, o amar, o desamor, o viver, o esconder-me do mundo na segurança dos cobertores e da música. É uma existência entre dois mundos, mas vivendo apenas o pior de cada um deles...

domingo, 18 de julho de 2021

Não há amor

É estranho para mim, que sempre estive apaixonado, sempre em busca de alguém, me ver assim, triste, porém sem desejar que alguém esteja ao meu lado. Eu já não tenho mais esperanças, já não busco, não invisto, não espero por nada... Apenas estou vivendo o momento. Não, isto está errado, eu não estou vivendo, estou subsistindo nesse momento, repleto de desesperança apenas, repleto de um sentimento de que tudo aquilo que eu vivia acreditando, não passava de uma mentira, uma brincadeira. 

Eu acreditava no amor, no romance, na beleza e na forma de um transcendental que poderia vencer todas as adversidades, curar as doenças da alma e do coração, que poderia romper todas as barreiras. Mas era um pensamento infantil, hoje só acredito na desesperança, de que as coisas, embora se apoiem num substrato permanente, estão em constante caos, entropicamente tendendo a desordem cada vez mais, mergulhando tudo e todos em completo desespero por se olharem no espelho e não se reconhecerem mais, por olharem ao seu redor e não vislumbrarem melhora. 

Não espero mais nada do amor, só acredito no desejo, na ganância, apenas coisas que fazem os homens realmente irem atrás de algo. Só acredito no que realmente provoca alguma mudança. Não acredito que uma amizade que se desvanecera possa ser retomada, não creio que o amor possa tocar alguém verdadeiramente, por mais sinceros que sejam os envolvidos, não acho que uma conversa possa mostrar ao outro a verdade dos nossos corações. A verdade de cada alma individual está profundamente arraigada no âmago do seu ser, num recesso tão profundo que quase espreita o seu eu inconsciente, que sequer pode ser visto. O homem é inacessível ao próximo, o amor é, portanto, uma existência perene, é verdade, mas que não penetra o campo de terror absoluto que é a consciência individual dos seres. 

Ser humano é ser sozinho, é desesperar-se em si mesmo. E não há amor, não há companhia que possa amenizar isso. 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Até o amanhecer

É horrível, conforme a noite vai chegando é como se soprasse sobre mim o hálito maligno do desespero que, pouco a pouco vai me dominando, como um se tentáculo de um monstro gigante me rodeasse, me sufocasse, me arrastasse para o mais profundo oceano, onde nas abissais profundidades ele devora o meu ser, a minha carne e os meus ossos até o tutano, me deixando apenas uma casca vazia, uma casca de descontentamento, uma casca de apática realidade. 

E meus olhos continuam negros e opacos, como se fossem incapazes de ver o brilho novamente, uma eterna noite escura, mas não mais de amor em vivas ânsias inflamada, há apenas a escuridão, o silêncio sepulcral de um deserto que deseja me cobrir com suas areias, fazendo daquele jardim ressequido o meu féretro, a minha sepultura. 

Não é uma ditosa ventura, é uma temível perseguição, como se o próprio caos atentasse contra a ordem imposta pela claridade do dia. Mas eu bem sei que esse caos também pode vir ao amanhecer, quando a perspectiva de mais um dia me assustam tanto quanto dormir sem saber se tornarei a acordar e, desesperando, sequer sei se desejo ou não vir a acordar. 

Que será de mim mais essa noite? Que farei? Gemo então tal qual réu envergonhado, mas amedrontado, em franco desespero pelo ser, prostrado. E isso é tudo que eu consigo fazer, desde o pôr do sol até o amanhecer. 

terça-feira, 13 de julho de 2021

Solução

E, o aperfeiçoamento do homem via Instrumentalidade tem início. 

O início da Instrumentalidade.

O que as pessoas perderam. 

As mentes que desapareceram, afobando-se para preencher o vazio da mente.

 A complementação. 

A Instrumentalidade que fará todas as coisas se tornarem inexistência, já começou!

Dilemas existenciais, perguntas para as quais eu não sei a solução, sentimentos conflitantes que lutam pelo controle do meu eu, fantasmas, medos, verdades. Eu. O outro. Dois seres distintos que causam dor e sofrimento um ao outro, e apenas isso. Imperfeição fundamental. Um vazio bem no âmago do coração do homem que o assusta desde o primeiro pensamento. O retorno ao nada. A esperança de voltarmos aquele útero primitivo que perdemos há muito tempos atrás, a única forma de sermos felizes. Sem barreiras, sem individualidades conflitantes mas almas e mentes que se afobaram para preencher a totalidade da existência, cada um dando um pouco de si para do um formar o todo, que também é um, apenas um, sem dor e sem sofrimento. Sem medos, sem fantasmas, sem vazios, tudo preenchido, essa é a verdade, a verdade é o todo uno formado pelos uns que se explodiram. Eu não me sentiria só, não me sentiria triste pois a alegria do todo seria a minha e a minha tristeza equilibraria a alegria do todo. Não haveria falta de razão para ser pois, sendo essa a única forma completa de ser estaria dada então a máxima realização da humanidade: o tudo que retorna ao nada, o um formado por todos, sem barreiras e sem choques. Sem necessidade de impressionar, sem necessidade de compensar as frustrações do passado, sem nenhuma necessidade de agir desse ou daquele modo para fugir de um trauma ou provocar uma catarse: a existência perfeita. Sem abandono, sem sujeira, sem defloração, sem relacionamentos revoltantes, todos sendo apenas um. 

A razão da existência. 

A razão que permite a alguém ser.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

De alguns dias

Eu não quero sair, e desde hoje já começo a sofrer pelo compromisso de amanhã a noite. Eu estou literalmente me contorcendo em agonia por não querer ver pessoas, por não querer forçar sorriso, por não querer conversar. 

Tem sido cada vez mais difícil manter uma relação com os outros, cada vez mais complicado e tudo vai virando um caos dentro da minha mente conforme eu vou pensando nisso. Por isso eu venho dormido tanto, pois parece que o sono é o único momento em que meu espírito consegue flutuar livre. E tudo que eu queria era ser livre, sem esse chumbo em meus pés, sem essa névoa nos meus olhos e sem esse gosto amargo na boca... Só queria ser normal, sair normalmente e me sentir feliz com isso, me sentir feliz com os outros. 

Mas quando estou com os outros eu quero ficar sozinho, quando estou sozinho eu quero companhia e, quando vou ter companhia, já desejo o momento em que ficarei sozinho de novo. É horrível ser assim.  É horrível ser essa montanha russa de emoções o tempo todo, não conseguir pensar com clareza, afastar quem mais amo, estragar tudo o tempo todo e estar sempre pensando no pior, nas tragédias mais horrendas...

X

Toda noite sou visitado por ele, o fantasma do medo que me corrói a mente. Toda noite ele vem e pinta tudo num tom de sépia, me deixa com um gosto amargo na boca e a sensação de que tudo está prestes a desmoronar em cima de mim. É como se estivesse sempre numa enorme geleira prestes a despencar em avalanche sobre mim. É assustador, é horrendo, é frio, e eu nem consigo pensar em mais coisas que possam descrever, senão que me sufoca, como se alguém pisasse forte sobre meu peito, me impedindo de respirar, e pouco a pouco eu vou perdendo a consciência, quando a escuridão começa a me rodear e tudo parece ser o fim... Será essa a última noite? O que será de mim amanhã? Quais as tragédias que me esperam? O que pode cair fatalmente sobre mim? 

X

Passei a última semana inteira em cima da cama, esperando lentamente cada hora passar, esperando que o sono venha para me tirar um pouco desse torpor. Não sentia vontade de fazer nada, não tinha disposição alguma... Agora que outra semana começou eu me sinto saindo dessa depressão, no entanto, continuo cheio de angústia, continuo se ver razões ao meu redor para reagir, continuo cético, decepcionado, cheio de pessimismo com relação a tudo e todos. Deveria levantar, abrir os olhos? Mas com que forças? E eu, pobre, que farei, que patrono invocarei? 

X

Foi tolice achar que retomaria aquela amizade de tantas horas conversadas, foi tolice pensar que as coisas poderiam, depois de tantos anos, voltar a ser como eram antes. É tolice pensar que olhar suas fotos vai fazer a gente se reaproximar, é apenas um luto que eu não terminei de viver ainda. Quem foi que estragou tudo? Não me lembro mais. A culpa foi só minha? Quem se afastou primeiro? Ainda sinto as reticências dentro de mim, uma história que ainda não acabou, mas não acabou apenas pra mim, não acabou apenas aqui, tendo na realidade findado na última vez que conversamos pra valer. Só eu não aceitei o fim, só eu ainda desejo que ela continue. Só eu... 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Resenha - Nitiman

 

Contém SPOILERS, prossiga por sua conta e risco!

Jin é um estudante de engenharia conhecido em toda a universidade como a Lua mais popular, e tem um relacionamento com uma garota bonita invejável por todos. Tudo mundo quando ela repentinamente termina com ele, que suspeita que o culpado seja Bbomb, um estudante de direito que, não demora muito, deixa claro que na verdade ele é quem gosta de Jin, e tenta se tornar seu amigo. Então, será que eles vão conseguir se entender a ponto de transformar o que parecia uma rivalidade por uma garota num relacionamento? 

Nitiman é uma série bem gostosa de assistir, a narrativa não é lenta e o crescimento dos personagens principais é belíssimo de se acompanhar. Jin (Jom Thanathorn) é fofíssimo e popular, dono de um sorriso doce que conquista todos por onde passa, também é muito gentil e sempre ajuda os amigos nas atividades da faculdade. Com isso ele também conquistou uma certa fama de galinha que o precede e, mais a frente, será motivo de desentendimento com Bbomb (Noh Phouluang). Este, por sua vez, é tímido e fechado, muitas vezes até frio, mas o seu coração bate mais rápido quando  se trata de Jin, seja para brigar ou mostrar que, na verdade, a antipatia que ele mostrava no início era só a forma que ele achou para expressar seus sentimentos.

A verdade é que Bbomb gosta de Jin já há algum tempo, e é bem seguro quanto ao que sente pelo estudante de engenharia. A história avança então, conforme resolvidos os mal entendidos sobre Bbomb estar envolvido com a ex de Jin, com a descoberta e aceitação dos sentimentos de Jin pelo outro. Jin não consegue entender bem os motivos de ficar tão irritado perto de Bbomb, nem da razão de ele querer se aproximar a todo custo, pouco a pouco percebe que também não consegue ficar longe do amigo e, com o tempo, aceita que para estar com ele o tempo todo precisa elaborar melhor o que sente em relação a ele. 

Esse desenvolvimento é muito bem feito e bonito de se acompanhar. Jin evolui incrivelmente durante os dez episódios a ponto de ter certeza sobre si e o outro. Bbomb, enquanto isso, precisa lidar com a insegurança de ter amado em silêncio e escondido durante tanto tempo, e aceitar o espaço que o outro precisa para se entender melhor. Também precisa trabalhar a sua comunicação, já que muitas vezes ele e Jin se desentendem por coisas que poderiam ser conversadas. A relação de ambos é, no mínimo, inspiradora, ao ver que o relacionamento oferece oportunidades para os dois crescerem. 

Um outro ponto positivo é o elenco de peso, que faz um excelente contraponto com as cenas românticas dando um tom de comédia bem ao melhor estilo série universitária tailandesa. Muitos rostinhos conhecidos fazem a graça da audiência, como o shipp KaowTurbo (Kaownah, de TharnType e Turbo) que logo estrearão como protagonistas em Love Stage, série baseada no anime homônimo, sucesso yaoi. Também tem o comédia Bhu Bhudis (de Manner Of Death) como o mulherengo Jack e Fourwheels Chayanond (de Oxygen, e irmão mais novo de Turbo) como o bebê Ball. Outros rostos conhecidos são Boss Thawatchanin de Hidden Love, que terminou há pouco tempo e Boss Thanabat, de Oxygen

Infelizmente os personagens secundários são só isso mesmo, e nenhum desenvolvimento maior é dado para eles. O casal que deveria ser secundário, Keam (Kong Sarun) e Ball é só insinuado aqui e ali e foi deixado mais ou menos em aberto para uma possível segunda temporada, o que foi uma pena porque os dois tinham tudo pra chamar bastante atenção ali mesmo. No final várias subtramas foram sugeridas mas nenhuma delas foi realmente explorada, sendo o foco somente no casal Bbomb e Jin. 

A trilha sonora é excelente, e enquanto escrevo já é a quinta vez que escuto a música de abertura, bem como a faixa cantada pelo Noh que, por sinal, tem uma voz linda. A fotografia também foi muito bem desenvolvida, sendo clara e tendo várias cenas realmente bonitas de se ver. 

Nitiman é, portanto, um prato cheio pra quem gosta de um romance levinho, daqueles que te faz se sentir bem no final do dia, bem equilibrado e com muitas cenas fofas de aquecer o coração. O único pecado foi não desenvolver mais os personagens secundários que tanto queríamos também. 

Nota: 9,5/10

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Resenha - Y-Destiny

Contem SPOILERS, e muitos, então prossiga por sua conta e risco!

Uma série concebida com o único intuito de tirar suspiros e te fazer sorrir com um monte de casais aleatórios com a franca possibilidade de eles repetirem os shipps dada a popularidade. Assim se resume essa obra, no mínimo peculiar, colaboração entre a COPY A BANGKOK e a AIS PLAY que traz 7 histórias de amor diferentes, apresentadas em cada dia da semana. 

Y-Destiny conta a história de um grupo de amigos, cada um nascido num dia da semana e com uma personalidade diferente, e então cada conto é apresentado de forma mais ou menos independente, trazendo vários tipos de casais em diversas situações, o que faz da série uma boa pedida pra todo mundo, já que tem casais pra todos os gostos. A única coisa em comum é que todos os episódios trazem muitos momentos fofos e românticos, além de uma comédia leve, às vezes meio boba, que dá um ótimo equilíbrio pra cada história que é contada em dois episódios cada. 

O primeiro casal, já que a ordem de lançamento não segue a ordem da semana, é Sun e Nuea, interpretados por Max Saran e Nat Natasitt, ambos já foram um casal em WHY RU e Close Friend, além da ponta em You Never Eat Alone. repetindo a fórmula que combina tão bem com eles do veterano e do novinho. Sun é um veterano que, com problemas financeiros, acaba aceitando dar aulas particulares para Nuea que ele considera um garoto mimado e arrogante. O que ele não esperava é que nessas aulas quem vai mandar é o aluno e o professor que lute pra lidar com o fato de o garoto deixa bem claro que está interessado nele e que vai fazer de tudo para provocá-lo até que ele ceda. É de longe um dos casais mais comédia porque o Nuea é completamente descarado e o Sun fica sem reação em cada investida do guri, que não são poucas. 

Na segunda temos Mon (Korn Kornnarat) e Team (Gung Kunpong). Mon é tímido e quieto, e vai ajudar o amigo numa peça da faculdade onde ele conhece Team, um bad boy que vai fazer o Príncipe na peça e que acaba conquistando o pequeno. A princípio Team só quer pegar Mon, já que ele e seus amigos tem o costume de apostar quem consegue levar mais caras para cama, mas ele logo vai mudando e percebendo que, na verdade, o garotinho o conquistou pra valer. Os atores são melhores amigos desde a faculdade e moram juntos, o que explica a química desse casal, além de que Korn é a coisinha mais fofa do mundo e faz mil caras e bocas durante o episódio todo. 

Terça-feira tem Tue (Chap Suppacheep, de Lovely Writer), um veterano boxeador que decide se tornar treinador no clube de luta da faculdade. Tudo seria muito bom se ele não tivesse encontrado um calouro recém transferido que faz de tudo para irritá-lo. É Ake (Tae Chayapat), o único que não respeita o novo  treinador do time e, justamente por isso, é colocado com no mesmo quarto que ele num acampamento de treino, para que os dois acabem se entendendo. Acontece que, uma vez juntos, eles começam a baixar a guarda e um sentimento vai surgindo. Tue vai percebendo que não precisa ser tão mandão para que o outro o escute e que é melhor ser gentil enquanto Ake perde a pose e para de perturbar o outro. Chap é um ator que chegou com tudo no meio BL, com duas séries de cara e mais duas à caminho (ele será protagonista em The Tuxedo e vai participar do elenco de apoio de Don't Say No, spin-off de TharnType)

Quarta é o casal pega fogo cabaré. Puth (Takizawa Toru) é colega de quarto de Mon e um verdadeiro pegador. Ele é um daqueles caras que pega e não se apega. Numa dessas ele acaba ficando com Kaeng (First Piyangkul) amigo de Team e Nuea que tem o mesmo princípio: nunca se apaixonar. Acontece que, como era de se esperar, ele acaba se afeiçoando a Puth, enquanto esta acaba se apaixonando por seu novo colega de trabalho, um professor bonitinho que o conquistou sendo fofo e educado. Kaeng então abandona a marra e começar um plano para fazer Puth perceber que ele também é um bom namorado. De longe o melhor casal da série, na minha opinião, pois conseguiu ir de um extremo a outro da personalidade dos personagens, desde as ótimas cenas hot até um drama bem construído que terminou como o casal mais boiola de todos. 

O casal de quinta é um acontecimento. Thurs (Pee Peerawich, de YYY) é amigo de Mon e Puth e, sendo membro do Clube de Mistérios (?) e apaixonado por histórias sobrenaturais ele tem um esquema de charlatanismo e chantagem espiritual para adolescentes em que ele finge incorporar entidades para aconselhar as pessoas em troca de boas quantias em dinheiro. Depois de invocar o espírito de um garoto que foi encontrado morto numa piscina ele é visitado por Pao (Au Nititorn), o fantasminha camarada que é a coisinha mais fofa do mundo. O fantasma não tem memória do que aconteceu e com o tempo vai descobrindo suas habilidades, como entrar nos sonhos de Thurs para ficar com ele, e um monge (dessa vez um de verdade) garantiu que há uma boa razão para eles terem se encontrado, e que há uma ligação mais forte que a morte entre ambos. 

Na sexta temos choro e ranger de dentes. Masuk (Lay Talay, de My Engineer e YYY) é um jovem que anda desiludido com a vida depois da morte trágica de seu namorado, Tir (Perth Nakhun, de My Engineer), em um incêndio num encontro em que ele chegou atrasado. Por isso ele se culpa e não consegue de modo algum abrir seu coração e seguir em frente. Ele trabalha com Jia (Yoon Phusanu, de YYY) que, sendo um rapaz atencioso, tem sentimentos especiais por Masuk, e gosta de cuidar dele, mesmo quando o próprio já parece ter desistido de si. Ele vai ajudar o mais novo a seguir em frente e aceitar que, embora o destino tenha sido cruel com ele, não significa que ele deva se fechar para o amor. O espírito de Tir também vai apoiar Jia e ajudar Masuk. 

Por fim, sábado, tem a história dos amigos de infância Sat (Jaab Phumisit) e Choke (Ton Saran) que acabaram se separando porque um deles queria ser parte do grupinho de meninos populares do colégio e o outro era gordinho demais e, por isso mesmo, inadequado. Sat acaba sofrendo um acidente e acorda com 18 anos, percebendo que tem tudo o que ele queria mas sentindo falta do amigo, que ele procura e descobre que virou um homão. Os dois se reaproximam e, eventualmente, resolvem as arestas do passado enquanto percebem que um sentimento mais forte vai surgindo. A história de vai e vem no passado não faz muito sentido mas no final tudo dá certo e é isso que importa.

Por fim, a série tem uma fotografia muito bonita e, sendo claramente feita para vender roupas, os personagens tem cada um sua própria cor, o que torna tudo mais bonito e simbólico. Por exemplo, Tue, tem a cor rosa, mesmo sendo um boxeador, mostrando que, embora seja um homem forte e sério, ele ainda tem pouca experiência no amor, sendo delicado por trás de tudo aquilo. Isso faz da série uma ótima pedida já que cada história pode se acompanhada de forma independente ou todos juntos, contando ainda com um episódio final onde todos se encontram e comemoram as conquistas e os novos namoros, num resort chique com direito a muitas cenas fofas.


Outro detalhe é que possivelmente alguns casais vão aparecer juntos novamente, já que a popularidade de alguns shipps foi bem grande, especialmente o casal de quarta, já que rumores apareceram dizendo que eles podem ganhar uma série completa e também PerthTalay, que já foram confirmados em My Engineer 2. Claro que que há que se observar que em dois episódios é impossível mostrar tanta coisa como numa série de 12 ou 13 mas ainda assim eles fizeram um ótimo trabalho, bem como a forma singela que cada história se liga a outra... 

Nota: 10/10

terça-feira, 6 de julho de 2021

Velut Luna

Essa será uma descrição não muito precisa de como as coisas mudam rapidamente, de como eu preciso de algum modo lidar com o tornado que constantemente há dentro de mim, nunca me dando descanso, nunca me deixando, como uma sombra a me ameaçar. 

Antes de ontem eu queria sair e beber, chamei meus amigos e eles vieram. Nós ficamos juntos por um bom tempo e, como sempre, foi ótimo. Combinamos de nos encontrar de novo no dia seguinte e eu acordei me perguntando se queria realmente tanta interação assim. Passei o dia inteiro incomodado com as pessoas ao meu redor, e por isso me fechei no quarto o dia inteiro. Quando meus amigos me visitaram a noite eu não conseguia conversar, só queria, se pudesse, ficar deitado quietinho abraçado e em silêncio. Não queria contato, não queria falar, não queria ouvir. Hoje, quando acordei, novamente me sentia assim, e novamente me fechei no quarto. No entanto, agora com o aproximar-se da noite, eu queria companhia, queria sorrir, queria conversar, e isso me incomodou pois eu sabia que era passageiro, e agora novamente me vejo querendo a solidão e o silêncio, incomodado até mesmo com quem está do outro lado da parede. 

É sempre assim eu quero e, no instante seguinte, já não quero mais. Algo que me faz sorrir num dia no outro me incomoda. Tenho querido tanto nos últimos dias ficar sozinho, em silêncio, mas ao mesmo tempo eu tenho me incomodado muito com a o fato de estar sozinho, é uma dicotomia que me sufoca, é cansativo mudar o querer tanto assim. 

Não se trata dos meus amigos, mas sim de mim. É uma coisa que vem de dentro e muda completamente como me sinto. Num momento preto e depois branco. É uma bipolaridade que me incomoda pois o que eu mais queria era ser constante, estudar de modo constante, sorrir de modo constante, me apaixonar de modo constante. 

Até dois dias atrás eu me sentia quase apaixonado, enamorado, me sentia atraído, me sentia sensível perto dele, me sentia como se quisesse estar com ele... Ontem não queria ninguém, não queria nem mesmo pensar em alguém, nessa dor de cabeça, por qual razão querer alguém? É amolação... E logo em seguida eu queria ficar segurando a mão dele, queria deitar no seu ombro, sentir seu hálito, seu toque, ficar o mais próximo possível. 

Me sinto traído se não me chamam, me sinto apertado e sufocado se chamam demais e não consigo conciliar as duas coisas, muito embora elas vivam em tensão dentro de mim, sempre e sem escolha. Ser bipolar é uma droga. E é sempre assim, inconstante, volátil como a lua, sempre em mudança, às vezes crescente e às vezes minguante. 

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E não consigo sequer descrever o pânico que senti naquela noite, a inquietação, como uma carga elétrica passando pelas minhas mãos e pernas, um medo de tudo e todos. O pavor tomou conta de mim, me levou pro abismo mais profundo, me devorou e me consumiu. Eu não conseguia rir e nem sorrir, não conseguia conversar e, a todo momento, me viam as imagens mais trágicas na mente, as cenas mais horrendas, os piores horrores, como se eu fosse condenado a ver o próprio inferno diante de meus olhos. Foi horrível, um suplício terrível que só cessou quando eu finalmente consegui adormecer, ainda que num sono inquieto em que não consegui descansar, passando hoje o dia todo sofrendo as consequências de ter me perdido num deserto de gelo, naquele frio glacial dos meus medos mais profundos, dos meus piores cenários. 

Hoje eu só quero sumir, esquecer até mesmo do cansaço que foi encontrar as pessoas, o pânico social crescente, como uma sombra, ainda que eu não tivesse tomado minha medicação, a culpada disso. Eu só queria me adentrar num sono tão profundo que finalmente conseguisse descansar, dar um tempo realmente e não pensar em nada, não sofrer com nada, mesmo agora, com centenas de preocupações vindo à minha mente todo o tempo, num eterno suplício. Em qual círculo do inferno eu estou, condenado a ver em terceira pessoa o meu sofrimento por toda a eternidade? 

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Só preciso disso, um pouco de tempo para que as coisas se ajeitem novamente, ao menos em parte. Só preciso esquecer um pouco, dos mortos, dos filósofos, dos políticos e intelectuais e me preocupar com as séries e com as músicas, comer alguma besteira e dormir, dormir até que as partes quebradas da minha mente estejam recompostas novamente. Só preciso disso, um pouco de tempo e, ao amanhecer, eu espero conseguir sorrir de novo, ao menos um pouco. 

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Vivo então sob a regência do sol e da lua, sob a dicotomia do dia e da noite, da claridade e da sombria escuridão. É um vai e volta, um desejar de que volte e não volte, um querer não querendo, desejar que não deseje. Assim é ser bipolar, incontrolável entre um lado e outro, entre luz e trevas, entre...

sábado, 3 de julho de 2021

Ideias que se esvaem

Odeio quando as ideias demoram a ser transportadas para as palavras e acabam se esvaindo da minha mente como fumaça. Parece-me que até mesmo no mundo das ideias as coisas dão errado para mim. Parece que meu mundo das ideias perfeitas e imutáveis não são tão imutáveis assim e são tão palpáveis quanto a água, podendo ser destrutivas quanto um tsunami implacável mas ainda assim impossível de se pegar com as mãos. 

É por essas, e outras, que eu vejo o mundo ao meu redor com impassível pessimismo. É por essas e outras que eu não consigo ver as coisas dando certo, é por isso que numa pequena plataforma fixa eu vejo um mundo de permanente caos, onde todas as coisas conspiram contra, senão o homem, pelo menos a mim. É quando o mundo mostra suas garras de aço, afiadas como espadas prestes a transpassar o alma e rasgar o coração com a mesma facilidade com que rasgaria uma folha. É o mundo onde mesmo quando se faz algo certo, quando se denuncia o que há de errado no mundo, o mundo se volta contra você, o mundo faz você pensar que o errado está em querer ser certo. 

E o erro se encontra em toda parte, assim como o bem mas, ao contrário do bem, o erro não é difícil de se encontrar, o erro, a mentira, eles sempre se apresentam com clareza ao homem, como se fosse a melhor e primeira opção. O bem, por outro lado, é sempre complexo, sempre se esconde por várias camadas de erros, é difícil de desvendar e, mesmo assim, acaba por ter consequências complexas. 

Odeio quando a forma das minhas ideias se perdem, deixando em mim a forte impressão de que é tudo assim tão frágil, vazio e sem contorno. Mas é tudo assim. E olho o mundo com o ceticismo de quem já não crê mais no amor, na esperança, na bondade, na caridade... Já não creio que alguma coisa possa dar certo para mim, não creio que exista beleza em alguma verdade, é tudo cruel, tudo feio, tudo horrendo e assustador. 

Como poderia ser de outra forma? A alegria que estampa as redes sociais é apenas uma ilusão, é apenas uma fuga da realidade maléfica que faz o homem ser nada mais do que o mais miserável dos seres. Como poderia ser de outra forma? O amor é apenas um mentira contada para os homens, é apenas algo em que eles se apegam acreditando ser a razão pela qual lutam ou vivem, mas é apenas e nada mais do que mentira. E há como melhorar? Não, tudo apenas piora, tudo cada vez decai e para onde quer que olhe só há sujeira e decaimento. 

E assim as ideias se esvaem, se perdem como areia no vento, e o mundo continua mergulhado no caos, continua repleto de dor, sofrimento, de crueldade, desamor, desesperança, o horror crescente que a tudo domina até que me perca num oceano de escuridão... 

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É desapontador, ter vontade fazer algo simples e ainda assim não ter forças pra levantar o braço. É triste não conseguir manter uma conversa, não ter ânimo pra dizer nada e dificuldade pra ouvir e entender. As pessoas falam e eu logo me perco nas palavras, num mundo de fumaça, viajo num torpor e com dor sou arrancado de lá e colocado de volta na fria realidade. Algo consome meu vigor, algo me suga... 

Eu só queria fazer uma maquiagem simples, me livrar dos pelos grosseiros no meu rosto e deixar mais limpo, mas não consegui. Me sentei na frente do espelho e não consegui, de repente um cansaço se abateu como se tivesse corrido duas maratonas inteiras, e cada fibra do meu corpo implorou para que voltasse a dormir. E dormindo eu achei que poderia acordar mais desperto, o que foi um erro, pois agora desperto e me encontro na mesma situação, ainda cansado de uma corrida que não participei. 

Continuo a navegar na internet, e ver tantas pessoas bonitas, tantos sorrisos, tantas peles perfeitas, cabelos lisos, tudo isso me faz a vontade de ficar assim também, mas dada a impossibilidade física da depressão que não me deixa sair da cama bem como a impossibilidade da forma mesma das coisas, sou tomado de mais e mais tristeza, uma decepção que, se é que se pode chamar assim porque eu não esperava muito de mim, mas um sentimento de completa incapacidade. A dor da insuficiência ocupa o espaço deixado pelas ideias que se foram ontem, hoje eu já não sou mais apenas vazio, sou também um saco cheio de coisas inúteis, esperando o dia que alguém terá o bom senso de me jogar fora, ou de me atear fogo, e não apenas se afastar... 

E assim as ideias se esvaem, se perdem como areia no vento, e o mundo continua mergulhado no caos, continua repleto de dor, sofrimento, de crueldade, desamor, desesperança, e a lembrança do horror da noite passada... 

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Novamente uma onda de desânimo avança sobre mim, me impedindo de respirar, me fazendo afundar, levando-me para o mais profundo dos oceanos, como se o próprio oceano em braço titânico me levasse para seus abismos, como se os tentáculos gelados da morte levemente rodeassem a minha mente, meu corpo e meu ser...

O que fica em mim, já que a depressão parece ter levado tudo o que um dia eu tive de valioso, é apenas uma sensação amarga de um grande vazio, de uma insuficiência total, e uma voz repete continuamente em minha cabeça que eu falhei, falhei em absolutamente tudo o que tentei, falhei em ser eu mesmo, a única coisa dentre todas as coisas que eu deveria ser, falhei em em me encontrar e agora me encontro como uma bolha navegando no imenso ápeiron, num oceano desconhecido.

Me sinto como se não devesse existir, e não dormindo, sendo forçado a contemplar acordado essa mediocridade eu me sinto cada vez mais horrorizado com o fato de que, não sabendo o que devo ser, eu continuo sofrendo por ser, e ser é justamente aquilo que eu menos queria ser. E eu não queria ver ninguém, encontrando nessa existência miserável uma glória mínima em não acompanhar ninguém. Mas nem isso me posso ser senão que estou rodeado de pessoas, e ainda assim me sentindo só. 

Queria então desaparecer, como farrapo ao vento, como areia que se perde na praia, queria sumir como uma única gota se perde na imensidão azul. Mas o ser me obriga a ser, e me impede até mesmo de dormir onde posso esquecer que sou, onde não sendo sou mais feliz, e não sendo esqueço do incômodo que é ser eu mesmo, mesmo sem ser, mesmo sem querer. 

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Resenha - Young Royals

E quando o amor se coloca frontalmente contra tudo aquilo que esperam de nós, será capaz de sobreviver as adversidades e provar que nada é mais importante que ele? 

A série Young Royals coloca uma pitada de nobreza no já dramático período do descobrimento da juventude quanto a sexualidade. Nela o príncipe Wilhelm (Edvin Ryding), segundo na linha de sucessão ao trono, é enviado para um colégio interno onde frequentam alunos de grandes famílias do país, trata-se do Colégio Hillerska que educou as últimas gerações de sua família, inclusive seu irmão mais velho, o príncipe herdeiro. 

Impulsivo ele se envolve numa briga que ganha as manchetes dos jornais e por isso seus pais decidem discipliná-lo no colégio, mas, o que parecia ser uma tortura se mostra um novo mundo de possibilidades quando ele se vê próximo de Simon (Omar Rudberg), um garoto de família "normal" que lhes desperta fortes sentimentos. Enquanto Wilhelm ainda está descobrindo seus sentimentos Simon é assumidamente gay, de personalidade forte e sempre dá sua opinião em sala, mesmo que isso signifique atrair alguns desafetos, já que os alunos não internos ou de famílias pobres tendem a ser discriminados na escola.

Somos apresentados a alguns alunos de famílias muito importantes, inclusive August (Malte Gardiner), primo de Wilhelm que, embora não seja parte da linha de sucessão, é bastante ambicioso e tem orgulho de fazer parte da realeza. Sara (Frida Argento), a irmã de Simon é uma garota quieta, que gosta de cavalos e por isso passa a maior parte do tempo com o cavalo de Felice (Nikita Uggla), uma arrogante estudante que na verdade esconde uma personalidade complexa por conta de sua família. 

A série sueca, de apenas seis episódios, gira em torno do romance entre Wilhelm e Simon bem como a relação deles com os outros alunos, focando em problemas como a desigualdade social e o impacto psicológico que isso tem nos jovens e a pressão de suas famílias para que eles já sejam agora como todos esperam de futuros herdeiros de fortunas e cargos de importância. Os jovens precisam lidar com questões comuns da sua idade, como arrumar alguém pra sair e estudar, mas fazem isso tendo em mente uma pressão imensa sobre quem deverão ser quando crescerem. 

Mostra com muita delicadeza a construção da relação dos protagonistas, um romance leve e com aquela ingenuidade juvenil, tudo o que ele não poderia ser, com a implicação que isso poderia ser um escândalo para a família real. Com o passar dos episódios vimos que além da aceitação dos próprios sentimentos eles precisarão lidar com as consequências, graves, de aceitar esses sentimentos. 

Wilhelm constantemente sempre a pressão de tornar-se o futuro sucessor ao trono enquanto Simon tenta aceitar o futuro incerto, ao passo que seus sentimentos ficam cada vez mais fortes. Os dois precisam construir uma relação de confiança e enfrentar juntos os problemas que se apresentam, o que coloca em cheque os mesmos sentimentos e a coragem de cada um. 

A série conseguiu manter bem o ritmo dos episódios e as reviravoltas vão dando ao espectador uma amostra dos sentimentos dos personagens. A apreensão, a pressão, são quase palpáveis em determinados momentos, bem como o amargor de notícias ruins e verdades inconvenientes além, é claro, do lado obscuro das pessoas, como a inveja e arrogância. Temas típicos da adolescência abordados com um pano de fundo real. A fórmula pode não parecer muito original, a não ser pelo fato de ser um romance gay tão corajoso, mas é justamente aí que ela surpreende e se mostra uma de qualidade inquestionável. 

Nota: 10/10

Chamado do Demônio

 "Divertir-se é uma forma de distrair-se com ocupações que nos distanciam das misérias que vivemos."*

Sonhar mais um sonho impossível, eu vejo assim os jovens que agora brincam e tentam falar mais alto do que a música de péssima qualidade que escutam. Jogam dominó, trocam amenidades, afabilidades e sorriem alto. E eu entendo bem como eles se sentem, entendo que essa é a única diversão que eles têm, não conhecem mais do que isso fechados no provincianismo de suas mentes limitadas. Cada um trabalha com o que melhor lhe convém, só me pesando a mente que não tenham acessos a alternativas superiores de divertimento. 

"Quando não tivermos nada para fazer, sentiremos as nossas misérias, o divertimento é o fazer algo que vai distanciar nossa alma do vazio e do tédio."

Há algo que grita no profundo do coração do homem. Há uma consciência, um Eu, gritando para ser ele mesmo. O homem desespera-se na busca de si ignorando muitas vezes os ímpetos mais íntimos que poderiam ditar justamente a clareza que falta a brilho do eu. O divertimento é a distração, é o som que abafa os gritos desesperados do ser que quer ser. Quando longe deles nos damos de cara com a parte mais podre das nossas almas, aquela que buscamos fugir a todo tempo, a todo custo. Por isso o som alto, o barulho, o desespero em fugir de si mesmo. 

"A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento e, contudo, é a maior das nossas misérias." 

Mas sendo apenas fuga o divertimento só torna mais patente o objeto do qual se foge. Quanto mais fugimos mais nos lembramos do que queremos fugir e, assim, ele se torna a nossa maior miséria pois, fugindo do que nos amedronta, estampamos a nossa frente aquilo que mais nos apavora. 

Vejo isso com clareza nos meus divertimentos, é claro, mas dessa vez o que me motivou a esta reflexão foi o alheio. Foi a contemplação de uma humanidade tão baixa, tão mesquinha e abjeta que sequer tenho certeza se é correto dizer tratar-se de humanidade verdadeiramente. 

Vislumbrei uma demonstração tão grotesca da baixeza que estou enojado. Já há anos que quase não suporto a presença da minha irmã, sempre repleta de grosserias e petulância do mais baixo calão. Ela é uma pessoa tão baixa, tão desprezível que me envergonho de dizer que somos irmãos. Bebe, briga, ameaça as pessoas com faca, tesoura, grita como se fosse um animal e até fede como um... Aquilo não pode ser normal. É na sua personalidade, que não se importa com a mínima ética ou moral, na falta de educação com meus pais que tiveram a misericórdia de tirar ela da orfandade, grita, responde de qualquer jeito, não ajuda em nada, estraga tudo; é na falta de cultura, que só conhece músicas com letras que fariam corar uma atriz pornô, que ela se mostra na sua totalidade, sem profundidade, presa a estímulos imediatos, pequena, distorcida, marginal. É nesses divertimentos que contemplo o ápice da miséria humana, dentro da minha própria casa. 

Ela não presta, nunca prestou.  E eu vejo tudo pela janela do meu quarto, não distante, mas sentindo na minha carne o rasgar desses pecados. Sinto como se eu mesmo estivesse ali no meio, ouvindo o sibilar do demônio chamando de volta ao inferno aqueles que de lá nunca deveriam ter saído. 

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*Blaise Pascal