terça-feira, 6 de julho de 2021

Velut Luna

Essa será uma descrição não muito precisa de como as coisas mudam rapidamente, de como eu preciso de algum modo lidar com o tornado que constantemente há dentro de mim, nunca me dando descanso, nunca me deixando, como uma sombra a me ameaçar. 

Antes de ontem eu queria sair e beber, chamei meus amigos e eles vieram. Nós ficamos juntos por um bom tempo e, como sempre, foi ótimo. Combinamos de nos encontrar de novo no dia seguinte e eu acordei me perguntando se queria realmente tanta interação assim. Passei o dia inteiro incomodado com as pessoas ao meu redor, e por isso me fechei no quarto o dia inteiro. Quando meus amigos me visitaram a noite eu não conseguia conversar, só queria, se pudesse, ficar deitado quietinho abraçado e em silêncio. Não queria contato, não queria falar, não queria ouvir. Hoje, quando acordei, novamente me sentia assim, e novamente me fechei no quarto. No entanto, agora com o aproximar-se da noite, eu queria companhia, queria sorrir, queria conversar, e isso me incomodou pois eu sabia que era passageiro, e agora novamente me vejo querendo a solidão e o silêncio, incomodado até mesmo com quem está do outro lado da parede. 

É sempre assim eu quero e, no instante seguinte, já não quero mais. Algo que me faz sorrir num dia no outro me incomoda. Tenho querido tanto nos últimos dias ficar sozinho, em silêncio, mas ao mesmo tempo eu tenho me incomodado muito com a o fato de estar sozinho, é uma dicotomia que me sufoca, é cansativo mudar o querer tanto assim. 

Não se trata dos meus amigos, mas sim de mim. É uma coisa que vem de dentro e muda completamente como me sinto. Num momento preto e depois branco. É uma bipolaridade que me incomoda pois o que eu mais queria era ser constante, estudar de modo constante, sorrir de modo constante, me apaixonar de modo constante. 

Até dois dias atrás eu me sentia quase apaixonado, enamorado, me sentia atraído, me sentia sensível perto dele, me sentia como se quisesse estar com ele... Ontem não queria ninguém, não queria nem mesmo pensar em alguém, nessa dor de cabeça, por qual razão querer alguém? É amolação... E logo em seguida eu queria ficar segurando a mão dele, queria deitar no seu ombro, sentir seu hálito, seu toque, ficar o mais próximo possível. 

Me sinto traído se não me chamam, me sinto apertado e sufocado se chamam demais e não consigo conciliar as duas coisas, muito embora elas vivam em tensão dentro de mim, sempre e sem escolha. Ser bipolar é uma droga. E é sempre assim, inconstante, volátil como a lua, sempre em mudança, às vezes crescente e às vezes minguante. 

X

E não consigo sequer descrever o pânico que senti naquela noite, a inquietação, como uma carga elétrica passando pelas minhas mãos e pernas, um medo de tudo e todos. O pavor tomou conta de mim, me levou pro abismo mais profundo, me devorou e me consumiu. Eu não conseguia rir e nem sorrir, não conseguia conversar e, a todo momento, me viam as imagens mais trágicas na mente, as cenas mais horrendas, os piores horrores, como se eu fosse condenado a ver o próprio inferno diante de meus olhos. Foi horrível, um suplício terrível que só cessou quando eu finalmente consegui adormecer, ainda que num sono inquieto em que não consegui descansar, passando hoje o dia todo sofrendo as consequências de ter me perdido num deserto de gelo, naquele frio glacial dos meus medos mais profundos, dos meus piores cenários. 

Hoje eu só quero sumir, esquecer até mesmo do cansaço que foi encontrar as pessoas, o pânico social crescente, como uma sombra, ainda que eu não tivesse tomado minha medicação, a culpada disso. Eu só queria me adentrar num sono tão profundo que finalmente conseguisse descansar, dar um tempo realmente e não pensar em nada, não sofrer com nada, mesmo agora, com centenas de preocupações vindo à minha mente todo o tempo, num eterno suplício. Em qual círculo do inferno eu estou, condenado a ver em terceira pessoa o meu sofrimento por toda a eternidade? 

X

Só preciso disso, um pouco de tempo para que as coisas se ajeitem novamente, ao menos em parte. Só preciso esquecer um pouco, dos mortos, dos filósofos, dos políticos e intelectuais e me preocupar com as séries e com as músicas, comer alguma besteira e dormir, dormir até que as partes quebradas da minha mente estejam recompostas novamente. Só preciso disso, um pouco de tempo e, ao amanhecer, eu espero conseguir sorrir de novo, ao menos um pouco. 

X

Vivo então sob a regência do sol e da lua, sob a dicotomia do dia e da noite, da claridade e da sombria escuridão. É um vai e volta, um desejar de que volte e não volte, um querer não querendo, desejar que não deseje. Assim é ser bipolar, incontrolável entre um lado e outro, entre luz e trevas, entre...

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