quarta-feira, 14 de julho de 2021

Até o amanhecer

É horrível, conforme a noite vai chegando é como se soprasse sobre mim o hálito maligno do desespero que, pouco a pouco vai me dominando, como um se tentáculo de um monstro gigante me rodeasse, me sufocasse, me arrastasse para o mais profundo oceano, onde nas abissais profundidades ele devora o meu ser, a minha carne e os meus ossos até o tutano, me deixando apenas uma casca vazia, uma casca de descontentamento, uma casca de apática realidade. 

E meus olhos continuam negros e opacos, como se fossem incapazes de ver o brilho novamente, uma eterna noite escura, mas não mais de amor em vivas ânsias inflamada, há apenas a escuridão, o silêncio sepulcral de um deserto que deseja me cobrir com suas areias, fazendo daquele jardim ressequido o meu féretro, a minha sepultura. 

Não é uma ditosa ventura, é uma temível perseguição, como se o próprio caos atentasse contra a ordem imposta pela claridade do dia. Mas eu bem sei que esse caos também pode vir ao amanhecer, quando a perspectiva de mais um dia me assustam tanto quanto dormir sem saber se tornarei a acordar e, desesperando, sequer sei se desejo ou não vir a acordar. 

Que será de mim mais essa noite? Que farei? Gemo então tal qual réu envergonhado, mas amedrontado, em franco desespero pelo ser, prostrado. E isso é tudo que eu consigo fazer, desde o pôr do sol até o amanhecer. 

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