segunda-feira, 19 de julho de 2021

Num Deserto

Tenho estado incapaz de ir até o próximo. Mesmo em dias como hoje em que me obrigo a conversar e sorrir eu não estou lá verdadeiramente, senão que é uma espécie de modo automático, um eu que, não sendo eu, se torna eu para que os outros não percebam que eu já não existo mais, ou melhor, que eu existo mas estou perdido demais para ir ao encontro do outro. 

Daqui do meu lugar eu ainda tenho vislumbres daquela terra distante onde um dia eu caminhei, e esses vislumbres me fazem sentir aqueles sentimentos que antes pululavam todo meu ser, mas que agora apenas pairam a superfície do que eu realmente sinto. E eu sinto pena, de minha mãe por cuidar de mim e por não conseguir ser melhor como ela merecia que fosse; sinto raiva, de todas as coisas que dão errado; sinto carência, já que algo em mim ainda deseja companhia, mas companhia verdadeira, esta ainda é uma ânsia profunda da minha alma. 

Mas eu não tenho conseguido expressar muito disso, e não tenho encontrado no mundo companhia alguma. Apenas tenho querido ficar quieto, sozinho, em silêncio, lentamente me deixando consumir por uma crise de depressão que já dura semanas inteiras, como uma longa noite escura da alma, onde tudo o que sinto de verdade e a aridez de não saber o que quero e nem mesmo o que eu sou, nem para onde estou indo. Estou apenas encerrado, em meu próprio coração, como num deserto. 

E eu me sinto cada vez mais perdido nesse mesmo deserto, como se me afundasse cada vez mais nas montanhas de areias que me sufocam, que enchem a minha boca, que me impedem até mesmo de gritar. Até onde eu posso afundar? Até onde vai essa escuridão que me circunda, me abarca e me transcende? Até onde há escuridão no meu coração? 

Tornei-me um homem descrente no amor, triste no semblante e desanimado por dentro, algo próximo de uma casca vazia que se move sem a força interior de quem um dia esteve vivo. Não, não se pode dizer que alguém como eu está vivo, eu apenas existo, uma existência inferior, que carece de toda essência, que é apenas um vácuo vestido com roupas amassadas um olhar opaco que já não vê mais o brilho das coisas, existindo numa tristeza profunda, observando do frio do deserto as estrelas que um dia brilharam no meu coração. 

A dicotomia de viver um Transtorno de Personalidade Bipolar me faz flutuar entre duas realidades distintas: a completa apatia, o torpor, o não sentir nada além de um imenso vazio pouco a pouco corroendo meu ser e o vigor, um vigor luxurioso, demoníaco, que me faz ter o apetite bestial de mil profissionais do sexo. E eu vivo assim sapateando entre essa linha bastante tênue entre um lado e outro. O querer, o não querer, o amar, o desamor, o viver, o esconder-me do mundo na segurança dos cobertores e da música. É uma existência entre dois mundos, mas vivendo apenas o pior de cada um deles...

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