terça-feira, 31 de agosto de 2021

Resenha - 7 Project - Would You Be My Love

7 Project é um conjunto de antologias do Studio Wabi Sabi que vai contar com 7 histórias diferentes, além de singles e outros projetos menores envolvendo os atores. A primeira história é protagonizada por Santa Pongsapak Udompoch e Earth Katsamonnat Namwirote (Until We Meet Again) apresentando os dois pela primeira vez como protagonistas desde que começaram a fazer fanservice juntos e despertar borburinhos na internet (já que Earth é assumidamente gay e mais velho que Santa, que ainda é menor de idade na Tailândia). 

Would You Be My Love conta a história de dois garotos que foram transferidos para um colégio interno no meio do último semestre do ensino médio. Sun é sério, atlético e prefere dormir na maior parte das aulas, não se importando muito com as provocações dos outros alunos. Ozone é sensível e tem uma delicada relação com seus pais, e logo se torna alvo dos colegas. 

Conforme os alunos maiores vão importunando o tímido Ozone, Sun acaba por se aproximar ao ajudá-lo algumas vezes, até que ele abaixe sua máscara séria e se mostre mais amigável com o outro, começando aí uma bela amizade. Por não se encaixarem ali os dois passam boa parte do tempo juntos, inclusive ignorando as implicâncias dos colegas. 

Santa e Earth estão simplesmente perfeitos em tela! A amizade que os dois criaram graças ao fanservice mostrou um excelente resultado, já que a química deles juntos é incrível. Earth, como sempre, arrasou nas partes dramáticas com um atuação forte, e também soube trazer leveza pro personagem nos momentos certos. Santa também foi uma grata surpresa, além de ser um rostinho bonito, ele conseguiu manter o nível de atuação que um parceiro do Earth precisaria, e seu personagem foi tão bem construído quanto o do colega. Sun foi sério, protetor, carinhoso, atencioso e até bêbado e, mesmo não tendo uma carga dramática tão grande quanto a de Ozone, ainda conseguiu transmitir sentimento e emoção no especial de pouco mais de 1 hora. 

A fotografia está espetacular e a direção de New Siwaj mais uma vez consolidou o seu nome como especialista em histórias BL. Cada cena é bonita por si, e cada olhar, cada pequeno toque ajuda na construção dos personagens, entregando um clímax satisfatório e uma história tão boa que poderia facilmente ser transformada em série mais tarde. 

Também gostei do retorno de Oreo (What The Duck) pras telinhas, mesmo sendo um antagonista foi bom rever o ator numa grande produção. 

O single Would You Be My Love, que encerra o especial, já foi lançado há alguns meses e desde então não saiu da minha playlist, sendo uma baladinha gostosa de ouvir e a dancinha estilo TikTok viciante. 

Por fim, vamos ficar atentos as próximas histórias do projeto, que contam ainda com BounPrem em seu terceiro trabalho como casal, depois de Until We Meet Again e Long Khong, e PeakBoom, da saudosa Make It Right, ou seja, promessa de mais coisa boa vindo por aí!

Nota: 10/10

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Compassos

Hoje foi a minha mente que não serviu aos estudos, divagou, viajou para terras distantes, se perdeu em meios aos vastos campos de canola, no mar brilhante pela luz do sol, na brisa fresca de uma tarde qualquer no bosque. Decidi deixar tudo de lado, sem a pressão de manter a rotina artificiosa que criei para manter minha mente um pouco nos eixos. Quero apenas ouvir um pouco de música e dormir, deixar-me completamente entregue a letargia de sentir os membros pesados, os olhos pouco a pouco se fechando e adormecendo lentamente sob efeito lisérgico. É assim  que eu vou levando as coisas. 

Claro que eu gosto dessa visão, claro que eu gostaria de guardá-la na memória, mas eu sei que ela logo se esvai, como a marca dos pés gravada na areia da praia. E então, sentindo a maresia contra meu rosto eu fecho os olhos e o que escuto? Um kyrie cantando por um coro ao longe, sei bem que é reflexo da minha alma, mas ainda assim aquele canto me domina, e eu me sinto leve, como se pudesse voar lado a lado com aquelas gaivotas que serpenteiam o céu azul em uma dança complexa demais para que eu consiga entender seu padrão. 

O que esses dois elementos tem em comum? Representam a vontade mais profunda do meu ser: a fuga para uma terra distante, bela, onde possa contemplar a beleza natural e onde também possa viver a espiritualidade contemplativa que me é cara. Aqui tudo é barulho, tudo é cheio e complicado. Preciso de um novo recomeço, um total, uma mudança de ares capaz de me trazer o brilho no olhar que perdi, preciso chegar até esse praia onde voam os pássaros e onde o azul do céu se mistura com o azul do mar numa profusão de tons que enchem os olhos e inspiram a vida a continuar. 

E o Agnus Dei se dissipa ao longe, os remédios fazendo seu efeito, as extremidades perdendo sua precisão, o olhar se tornando pesado, a liberdade finalmente chegando nos braços de um anjo que me levam a descansar enquanto tocam os últimos compassos do órgão... 

X

Foi apenas uma leve garoa, que começou fazendo um tilintar nas latas de cerveja vazias no quintal de casa. Eu abaixei a televisão para ouvir melhor e o som foi ficando mais forte e mais próximo. Em alguns minutos a chuva encheu o ar de um cheiro doce de terra molhada, a terra das plantas de minha mãe perfumando o ambiente. De repente tornou-se mais fácil respirar, com a umidade devolvida na secura do centro-oeste. Eu sorri e senti meus olhos se encherem d'água, emocionado e sensível. E chuva logo passou, deixando os perfumes no ar e um sentimento bom no meu coração. É, e é assim que eu hoje vou dormir. 

X

Eu estou cansado, absolutamente exausto, de acordar todos os dias, de ser obrigado a viver como se a vida valesse a pena, como se eu acreditasse no futuro, como se eu pudesse ver um amanhã em que tudo dará certo. Eu estou cansado do pânico todas as noites, do medo do desconhecido, de ficar sozinho, mas também cansado do barulho que é quando não estou só. Eu estou cansado, cansado demais, pra dar um passo sequer pra onde quer que seja, porque eu não tenho rumo, eu não tenho razão e, se ainda não me atirei a frente de um carro foi só porque temo causar dor a única pessoa que amo e que me importo realmente, de resto só enxergo a minha vida como um fardo, como um peso desnecessário, um incômodo. 

E eu queria dormir, dormir tão profundamente que não sentiria isso, essa angústia, esse medo, essa incerteza. Queria dormir tão profundamente que não mais acordaria, não mais veria o amanhã ou o anoitecer, não mais sentiria medo e nem a obrigação de ser. Estou cansado de ser, mesmo porque já não vivo, não, isso é uma forma muito mais baixa de existência, e eu nem sei que nome dar a isto, é patético, é vergonhoso é um arremedo de vida. Apenas. 

X

Estava me sentindo até bem nos últimos dias, mas elas precisavam voltar, como fantasmas para me atormentar, me tirando a paz, o sossego, me fazendo entrar em depressão profunda com toda a confusão e barulho que trouxeram em suas malas. Essa foi a causa do meu colapso, e eu sei que ninguém entenderia isso, porque todos estão do lado delas, do lado errado, do lado da maldade, e eu sozinho sinto os efeitos de toda essa malícia, como uma esponja, como se meu corpo recebesse tudo de ruim que elas trouxeram sabe-se lá de onde... E agora como eu faço pra vomitar tudo isso que dentro de mim causa uma tempestade? Como faço pra me reerguer uma vez que me sinto atacado por um grupo de monstros que devoraram a minha carne e me inocularam veneno? 

domingo, 29 de agosto de 2021

Amantes

Sempre pensei no romance como algo extremamente idealizado, como nas belas cenas do cinema e da televisão. A noite que se inicia com um jantar num restaurante famoso do centro ou num Burger King, as risadas acompanhadas de Milk Shake de chocolate. Já em casa as conversas pervertidas e divertidas sobre casos escandalosos, de famosos e membros da comunidade, até que se iniciem os primeiros toques, acompanhados dos olhares discretos que desde o início da noite indicavam um desejo crescente. 

O toque na perna, mensagem clara, desperta no corpo uma carga elétrica incontrolável. A mão que pousa sob o peito que bate rápido, a respiração entrecortada, o rosto corado e um sorriso no canto dos lábios antes da aproximação.

...

Os corpos suados estão entregues ao furor dos orgasmo, deitados de costas, linhas de suor descem pelo pescoço e pelo peito forte, que ainda arfa com a respiração exasperada, rostos vermelhos, um dos dois tímido, abraçando um lençol para cobrir o corpo pequeno e envergonhado que até poucos minutos atrás era usado para compor uma bela escultura moldada em complexos formatos humanos. O maior o abraça por trás, um beijo de carinho, aquele carinho ao qual nos entregamos após tórridas sessões de luxúria. O pequeno fecha os olhos e se lembra em detalhes cada momento daquela noite, desde as mordidas e arranhões até os doces gemidos de nomes e outras palavras. A prata ainda escorre pelas pernas, um testemunho silencioso do amor. 

Do amor que os uniu ali, do amor que fizeram deles um só, do amor que, embora guarde muitas incertezas, pode ser a maior aventura de suas vidas, iniciada ali, naquela cama, iluminada pela luz branca do poste que entre por entre as frestas da cortina que se agita com a brisa fria que entra no quarto e, singelamente, toca a pele vermelha dos dois amantes. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A Única Esperança

"Estou muito tranquilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar nada de mim, não podem tirar-me mais nada. Estou tão só e sem esperança que posso enfrentá-los sem medo. A vida, que me arrastou por todos estes anos, eu ainda a tenho nas mãos e nos olhos. Se a venci, não sei." 
(Erich Maria Remarque, Nada de Novo no Front)

Todos os dias o meu único desejo é o de me entupir de tarja preta, não para dormir, mas para desaparecer. Todos os dias eu convivo com a uma profunda vontade de não ser, de não viver, e é com esse sem vontade que eu respondo aos outros, que eu me obrigo a manter a sobriedade mesmo quando o efeito dos remédios é mais agradável, mesmo quando eu só queria dormir sem pretensão de acordar. 

E eu sou obrigado a responder que "estou bem" quando me dão bom dia, quando eu já nem sei mais o que é estar bem. Sou obrigado a sorrir, a sair, quando minha única vontade é a de me entregar aos vermes que vivem na terra e me misturar a essa orgânica existência. 

Como podem dormir tranquilamente, como podem acordar e viver um dia inteiro sem vislumbrar a morte que se anuncia mas nunca chega, nunca se concretiza, apenas ameaça de longe e com isso nos faz desejar o seu abraço frio e a cobertura com seu manto negro. Mas ela parece alimentar-se apenas com a nossa esperança, que nos enche de uma luz que logo se apaga com o soprar dos ventos da decepção, os ventos de uma tempestade que me levam, que me destroem, mas que me deixam novamente à deriva, observando a luz do farol que uma vez me enche de esperança, apenas para reiniciar o ciclo infernal da minha própria morte. 

"Minha própria morte" Sim, é com tranquilidade que me refiro a ela, pois a minha morte se deu há muito tempo, há muito eu já não vivo, apenas subsisto pateticamente, fingido que está tudo bem, me arrastando por dias que mais parecem anos, infindáveis momentos de prolongada tortura que já dura incontáveis meses. E a mote, minha algoz, ri-se de minha miséria, ri-se de me lançar de um lado a outro sem que possa resistir, sem que possa fazer nada para diminuir essa minha dor, dor de não saber o que se é e o que se quer, dor de sentir o medo do amanhã desconhecido e dos demônios que podem nascer com o sol, dor da mudança e da constância, dor de não saber voar e não ter forças para lutar. Dor de não ter mais como crer pois o mundo só semeia o horror, de tal modo que aquilo que nos outros desperta amor e esperança, em mim desperta asco e a ânsia de um cardíaco, um gosto amargo de saber que, na realidade, tudo conspira contra. 

Por isso falar da "minha morte" não é temor, senão que uma esperança, já que o medo não é o da morte, o do fim, daquilo que pode ser a única liberdade verdadeira. O temor é que vem antes da morte, o temor é isto que tenho vivido, o desespero de cada noite, isso é o que há para se temer. A morte, meus caros é, nesse contexto, a única esperança. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Melindres

Sombra de inferno e noite carregada,
Em que o céu de um só astro não se aclara,
De nuvens, quanto o pode ser, toldada,

Véu tão grosso ao meu rosto não lançara,
Nem, ao contacto, fora tão pungente,
Como o fumo, que ali nos rodeara.

(A Divina Comédia, Purgatório - Canto XVI)

Você já sentiu como se nada, nada mesmo, desde os mínimos detalhes, desse certo? Eu não posso ir nem na cozinha sem que um problema apareça. Bom, esse foi fácil de resolver mas e os outros, aqueles enormes, que dependem de tantas decisões baseadas puramente no outro que são verdadeiramente uma incógnita, impossível de saber como se resolverá² Você já sentiu como se tudo estivesse desmoronando, como se cada problema fosse, na realidade, uma pequena rachadura num edifício já condenado a ruir? 

De algum modo eu sinto que já vivo em meio à ruínas, e é como se nada pudesse levantar-se delas, exceto demônios escondidos que teimam em me perseguir. E é assim que vejo o mundo, desde o momento em que acordo, como um uma grande destruição que nunca se finda, nunca acaba, mas sempre, mais e mais, me destrói e me reduz à cinzas. 

Você já sentiu, como se tudo estivesse desabando diante de si²? Você já sentiu que o mundo inteiro está desmoronando, retornando ao caos, ao nada? Mas eu queria o nada, eu queria a morte, voltar a inexistência, queria não precisar viver nada disso, queria não precisar tomar uma decisão, queria não precisar lutar uma luta que, desde já, já está declarada que perderei. E tudo retorna ao nada, e eu permaneço me entristecendo, e tudo vai desmoronando. É só isso, dia após dia, e nada muda nesse círculo infernal, como se eu estive preso na barriga do ourobouros, infinitamente condenado a destruição.

Eu só queria disposição, a mesma que os idols têm para dançar horas num palco quente para milhares de pessoas, cantar, sorrir, brincar. Eu não sei fazer mais nada disso, e eu olho para eles e vejo vida, vejo a vida pulsando, brilhando em seus sorrisos incríveis, em seus cabelos perfeitos, músculos esculpidos por algum anjo inspirado pelos deuses mais belos. Eu olho para eles e vejo vida, a mesma vida que sinto, dia após dia, se esvair de mim. E me olho no espelho e vejo a morte estampada em cada olheira, o olhar vazio sendo uma janela para o reino da morte, cada linha profunda da pele ressecada um pavimento da estrada que conduz diretamente ao fim. A vida, que neles pulsa, em mim restou apenas uma pequena chama consumindo os restos de uma casca vazia. 

Já não consigo ler como antes. As vozes dos meus professores não encontram eco no meu ser, elas apenas se esvaem, a música se tornou um pano de fundo, sem significado, tudo o que tem relação com o outro é incômodo ou sem sentido, e eu apenas olho a tudo catatônico, inerte, a espera da demolição que nunca vem. Com isso os vícios se mostram cada vez mais presentes, como se as suas raízes profundas lançassem-se em direção ao céu da minha consciência, turvando a visão do meu jardim, povoando de ervas daninhas as flores que entre lágrimas eu vou colhendo. E todos os dias encontro razão para me entregar ao sono profundo e artificioso dos benzodiazepínicos, e todos os dias eu digo que devo parar, mas a cada tarde eu me desespero e quero desparecer, sendo a sedação o mais próximo do nada que eu posso alçar. 

E esse sono, artificial, mas que me conforta em seu silêncio profundo, sem sonhos e nem vislumbres, as vezes apenas acossado de uma libido dominandi que me ajuda a adormecer, me afastando então, por horas breves, dos assomos de pesadelos que tenho desperto, e que espreitam a minha mente como um animal esperando para devorar uma pobre vítima. 

Eu tento meu melhor, mesmo que não haja nada de bom pra continuar tentando, mesmo que eu já não acredite que algo possa melhorar. Me vejo esquecido, trocado, traído, e já confuso demais para saber se esse inferno pelo qual caminho tal qual Dante, sem interferir mas apenas observando, assistindo aos sofrimentos e divertimentos dos demônios, é real ou apenas fruto da imaginação da minha pequena mente distorcida. 

A gente tenta porque não tem outra opção, já que morrer é causar dor demais. E essa é a minha sina: contemplar essa existência perpetuamente, com sua melancolia, seus apetites bestiais, com a vagarosa depressão que me destrói. Esses aspectos melindrosos da existência sem essência me consomem e a cada dia me convenço mais que tudo também deveria deixar de existir. 

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Nossa natureza

Não é preciso observar uma pessoa por muito tempo para conseguir descobrir quais são as suas prioridades. Com efeito, as pessoas não costumam conseguir observar nem mesmo um palmo a frente do nariz quando pensam naquilo que realmente importa para elas, e o que é importante para cada um parece variar a partir do senso de proporção mais ou menos deteriorado que as pessoas possam ter. 

Homens frequentemente colocam a vontade e os caprichos toscos das mulheres como prioridades, se tornam escravos daquelas que eles desejam conquistar, seja conscientemente ou numa esperança tão profunda que sequer é verbalizada, nem mesmo mentalmente, mas ainda é fácil observar quando um homem sonha em capturar o coração de uma mulher. A atenção que os homens dão as mulheres é um escândalo merecedor do título da maior vergonha que a humanidade poderia cometer.

É da natureza do homem ser iludido, e é da natureza da mulher iludir, desde o Éden, enganar, ludibriar e trazer, como pagamento pelos seus pecados, o suor, o trabalho e, no fim das contas, a morte. São elas como a serpente do engano, que seduzem com seu olhar doce e fazem dos homens seus escravos miseráveis, já sem vontade, como reféns do titereiro. Uns escravizados, outros escravizando para que lhes façam a sua vontade. São patéticos. 

De minha parte, não posso dizer que estou excluído disso, já que as vezes que fiz algo assim para um homem também são numerosas, o que só confirma a regra: os homens são patéticos em virtude daquilo que querem conquistar, abandonando toda razão e se entregando a uma cordialidade que nada mais é do que um travestir dos seus desejos mais animalescos e bestiais. Ser homem é ser refém dos seus apetites, é estar buscando a todo momento um estímulo, um prazer, algo que seja uma fuga constante e duradoura da realidade dura e cruel com a qual ele é inevitavelmente obrigado a se confrontar ao acordar. A realidade, como disse, se apresenta uma e outra vez mais dura que o aço frio de uma lâmina a perfurar o coração e a alma a cada nova manhã. 

E infelizmente a realidade se apresenta impreterivelmente como uma muralha de aço, intransponível, que se opõe frontalmente a toda e qualquer vontade, e por isso mesmo o homem só vive para buscar o seu prazer, cruzar a barreira e buscar afeto a todo e qualquer custo. Essa nossa natureza é patética e digna de pena, os homens são criaturas patéticas e dignas de pena. 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Em nome de uma trégua

Eu já não sei mais me reinventar, 
eu não sei flutuar, 
eu não sei como devo lidar, 
eu não sei mais nada... 

Só quero ir, sumir, 
deixar de ser, 
o ser cansa, 
estou cansado demais da existência. 

É complexa demais 
pra minha pequena mente distorcida. 
O que  eu deveria fazer? 
Eu deveria reagir 

Mas eu não sei o que fazer, 
eu não sei o que pensar, 
eu não sei como agir... 
Eu não sei mais nada.

Eu não sei como posso lutar
pela reconciliação
O que poderia dizer 
em nome de uma trégua? 

O que se faz quando tudo parece ter 
no fim o seu termo?
Mas após o fim vem o dia seguinte, 
e o que faremos quando esse dia chegar?

No dia que não haverá um pai para prover
no dia que o filho deverá crescer
e substituir, assumir a frente,
mesmo sendo quem ele é

Fraco, medroso, melindroso
Tomado as melancolias
perdidos em seus próprios pensamentos
absorto em medos e incertezas

Eu já não sei mais me reinventar, 
eu não sei flutuar, 
eu não sei como devo lidar, 
eu não sei mais nada... 

domingo, 22 de agosto de 2021

Retorno X Medo X Zero

A energia que há alguns dias eu comemorei voltar agora lentamente abandona meu corpo, e pouco a pouco eu sinto as coisas perderem a cor novamente, sendo tingidas de um tom cansado, desbotado, como se alvejadas com algo forte, e tudo vai ficando mais triste, cada vez mais sem graça. Não há muito o que fazer, além de esperar que ela chegue e que vá embora de novo, não há nada que que eu possa fazer além de ser vítima inerme em suas mãos, além ser violado sem nenhum respeito e deixado novamente ao chão, sem reação, catatônico a olhar um teto desconhecido enquanto o tempo passa sem que eu tenha nenhum controle sobre o mundo ao meu redor. 

O pior é que, assim como ela foi embora da última da vez, e eu pude sentir dia após dia a energia e a vitalidade voltarem ao meu corpo, agora eu sinto elas se esvaindo de mim, me deixando como sarça ao vento, a mercê de toda força que se coloque sobre mim, me sentindo uma boneca de cordas que perdeu seu titereiro, uma casca vazia, cheio apenas de um sentimento ruim que não dá pra explicar. 

A depressão simplesmente volta, acompanhada por problemas que eu não posso resolver e que já vinham se arrastando já há vários dias, meses, anos. Descobertas sobre pessoas próximas que impactam diretamente em mim, e eu não sei bem como lidar com isso, não sei como devo reagir, sendo a catatonia a minha única reação. Queria poder fazer mais, ser mais, ajudar mais... Mas quanto mais eu penso menos eu consigo realizar, literalmente preso no meu próprio mundo enquanto o mundo real desaba, pega fogo e eu não posso fazer nada para mudar. 

Ela simplesmente reaparece, e acho que até o fim da semana eu não vou conseguir nem atender o telefone de novo. Ela de novo, com suas patas pesadas sobre meu peito. Monstruosa. Silenciosa. Invencível. Com um som gultural saindo de seu peito, o rugido de morte. E eu vejo tudo se desmoronar bem ante meus olhos, e eu não posso fazer nada. E tudo retorna ao nada. 

X

E se em alguns desses dias ele não mais voltar? Meu pai tem um impulso de ser ativo que eu simplesmente não consigo compreender, sai todos os dias de madrugada pra catar recicláveis (não precisa disso, faz porque é uma ocupação) e passa boa parte do dia cuidando disso. Hoje faziam menos de 15°C quando ele saiu às 2:30 da matina, eu ainda acordado, insone e inquieto com o barulho das muitas festas que acontecem ao redor no bairro. 

Mas e se esses sons forem os de tiros disparados contra ele por algum maluco que bebeu demais ou encheu a cara de pó numa dessas festas? E se um dia ele sair da madrugada e não mais voltar? Fico pensando no que iríamos fazer., no que eu iria fazer. Como, de um dia para o outro, sustentar uma família de sete pessoas sem trabalho nenhum em vista? É o caos completo pensar na situação de extrema vulnerabilidade em que estamos por depender somente dele. É algo que me incomoda pois, uma coisinha de nada, um pequeno disparo, pode mudar toda nossa sorte e nos fazer chegar ao limite de passar fome! Como não perder o sono com essa perspectiva? Como não estar atônito neste momento, em que o sol quase prenuncia seu nascimento e eu prenuncio a nossa morte lenta, humilhante e dolorosa? 

X

Um amigo me perguntou sobre a falta de libido que sinto durante a fase depressiva do meu Transtorno Bipolar. Bom, o que pude dizer foi que simplesmente é a ausência total de desejo, é o não reagir de modo algum a nenhum estímulo, erótico ou afetivo, é apenas estar ali sem que seu corpo consiga sequer entender e processar as informações que recebe, e continuar assim por meses inteiros...

Fiquei com alguns homens nesse período, o resultado foi exatamente esse: não subiu, sequer reagiu. Tudo o que eu senti foi dor e tédio, e depois a vontade de voltar logo pra casa e dormir. É isso, quando dormir é mais prazeroso do que sexo. Meu corpo estava quente, porém morto. Eu suava mas era apenas efeito da respiração acelerada por conta da asma e do esforço, nada vinha de mim realmente. É quando a cama parece mais atraente do que os corpos fortes e definidos. É não sentir nada no corpo do outro, e sentir menos ainda quando busco dentro de mim aquela chama que antes queimava incessantemente em busca de companhia. A perfeita dualidade bipolar. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Resenha - Light On Me

A Coréia, até bem pouco tempo atrás, não tinha muito espaço pros BLs e a única coisa que nos restava eram os shipps entre membros dos grupos de Kpop, isso, no entanto, vem mudando com o aparecimento de alguns mini doramas com o tema BL, ainda bem longe dos doramas mega produzidos com episódios de quase duas horas mas ainda assim já é uma grande mudança. Tivemos algumas boas surpresas com os fofos Mr Heart e Wish You e com as histórias diferentes de You Make Me Dance e Color Rush (que inclusive vai ganhar uma segunda temporada), o carisma de To My Star e, agora, uma série que tem sido a maior produção desde então.

Light On Me conta a história de Taekyung (Lee Sae On), um estudante do Colégio Saebit para garotos que sempre foi solitário e resolve mudar isso após ouvir o conselho de um professor que disse que seria bom se ele fizesse alguns amigos. Acontece que ele não sabe por onde começar, então o Sr. Seo Haet Bit (Lee Ki Hyun) resolve indicá-lo como membro do conselho estudantil. Dentre os membros do conselho estão o presidente, Shin Daon (Choe Chan Yi, do grupo The Man BLK), o vice-presidente Noh Shinwoo (Kang Yoo Seok) e Nam Goong Shi Woon (Go Woo Jin também membro do The Man BLK). 

A série se baseia num game para celular em que as escolhas do jogador têm impacto na linha do personagem, significando que lá pode-se ter mais de um final, assim, tivemos partes de vários arcos do jogo sendo adaptadas pra compor uma história só com um final. 

Como não tem nenhum experiência em se relacionar, Taekyung é de uma franqueza quase brutal, sempre dizendo exatamente o que pensa. O primeiro membro de quem ele se aproxima é Daon, que é a pessoa mais gentil e prestativa do colégio. Ele é doce e entende as dificuldades do outro em fazer amigos, e por isso confia a ele algumas atividades para que o garoto se sinta mais relaxado com o grupo. Outro membro importante é o vice-presidente, Shinwoo que, após um primeiro encontro constrangedor com o novato, acaba por dizer que não o quer no conselho, pois não gosta da ideia de tê-lo por perto. Como é sempre honesto Taekyung acaba enfrentando Shinwoo para ser aceito. Nam Goong é super animado com a ideia de um novo membro e, do seu jeito irreverente, tenta ajudar. 

A produção conseguiu construir muito bem a personalidade dos três personagens principais e, o quase triângulo amoroso dividiu opiniões na internet. Acontece que, conforme se aproxima dos meninos do conselho, Taekyung descobre que está apaixonado por Daon, que não entende muito bem seus sentimentos e tem medo do que os outros vão pensar, enquanto Shinwoo se esforça para cuidar do novato e demonstrar que na verdade gosta dele. 

Taekyung passa a ser mais sorridente e brincalhão, fazendo amigos de verdade e até tendo que lidar com Sohee, que estuda num colégio só para garotas mas, por gostar de Daon, está sempre entre eles e não gosta da proximidade do garoto com o veterano e tenta interferir. Daon, por sua vez, tem uma relação familiar delicada, sendo negligenciado pelos pais e, por isso, tenta dar seu melhor sempre para deixá-los orgulhosos, e com isso ele se preocupa em como os próprios sentimentos podem afetar a sua imagem. 


Shinwoo é sem dúvida o personagem mais bem construído. Ele é extremamente tímido, mas decidido, então tenta ao seu modo mostrar a sua gentileza e o que sente. Ele respeita os sentimentos de Taekyung e entende a confusão na cabeça de Daon e, carinhosamente, fica ao lado do novo amigo assim como deixa claro para seu veterano que, se ele não se decidir por cuidar do novo membro, ele mesmo vai fazê-lo, ajudando-o também a se aceitar. 

A série soube mostrar muito bem a evolução dos meninos e como cada um lida com suas dificuldades. São muitas as cenas em que os olhares e pequenos toques dizem muito, mostrando um lado delicado das personalidades que os coreanos sabem trabalhar muito bem. Ainda que não tenha episódios de mais de uma hora essa produção entregou a mesma profundidade que outras grandes produções. A trilha sonora conta com o tema Spark cantado pelo grupo A.C.E, e é simplesmente sensacional, mostrando que os BLs estão ganhando mais e mais espaço na Coréia, além de outras duas séries já confirmadas para esse ano ainda, mas que terão que se esforçar muito pra serem tão boas quanto Light On Me.

Nota: 10/10

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Perseguição

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."
(Platão)

Mais uma noite que o pânico toma conta de mim, aumentando a tensão pouco a pouco, apertando meu peito, cortando a minha respiração. É como se um grande demônio estivesse com as patas sobre o meu corpo, me empurrando contra o chão, me privando do ar, me enchendo de desespero quando suspira em meu ouvido as atrocidades que pretende fazer comigo, cada método torpe, nojento e cruel com que pretende me torturar. É o meu horror de cada dia, é a minha eterna sina, o meu eterno retorno, a minha condenação, um medo que nunca se vai, que nunca me abandona e me assusta a cada pôr do sol... Como pode a mesma noite que traz o descanso tão esperado pode vir acompanhada de tantos demônios? Quando isso vai terminar? Desde pequeno esse medo que me assola, desde pequeno esse fantasma que me cerca e que me persegue noite após noite? Até quando eu sentirei que não há lugar de paz para mim no mundo? E eu, pobre, que farei, que patrono invocarei se sinto que a cada dia eu me reduzo mais às cinzas? E não me sinto melhor por sentir que morro, senão que sinto que apenas sou destruído um pouquinho a cada vez, quando só queria um fim rápido, indolor, sem esse medo que me consome e me desfaz, como um castelo de areia destruído pelo vento e pouco a pouco esquecido, como algo escrito nessa mesma areia e que já não existe mais, que voa em pequenas partículas, por aí sem rumo, sem onde reclinar a cabeça, sem destino, apenas o medo me perseguindo...

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." 
(Clarice Lispector)

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Das Fases

Preciso fazer a barba, tirar o excesso de sobrancelha, cuidar da pele e do cabelo. Não tô em crise de depressão mas ela continua aqui, e eu não consigo fazer nada disso, e só vou adiando... Até o meu reflexo me causar tanta ojeriza que já não consiga mais me olhar no espelho. 

O amor próprio se revela nos cuidados, e isso é algo que há muito havia aprendido, quem se ama consegue se cuidar, se tratar melhor e com mais carinho, e isso é muito bonito, mas há muito também eu deixei de me cuidar como deveria pois simplesmente não consigo, seja por falta de forças, durante a depressão, ou de outra forma de disposição que, embora eu tenha durante a hipomania, eu não consigo direcionar completamente ao meu autocuidado. Isso porque a minha fase oposta a depressão não tem a mesma força desta. 

Se a depressão me deixa absolutamente sem reação, incapacitante em todos os sentidos, a hipomania apenas reduz um pouco esse estado, me dando sim um pouco de energia, é verdade, mas não me igualando aos outros, não me tornando apto a fazer tudo o que precisaria fazer para conseguir seguir em frente. Por isso que, se antes eu assistia atônico as tragédias da minha vida, sem conseguir reagir, agora eu assisto atento, mas igualmente sem conseguir reação. 

Estou feliz por estar mais disposto, feliz por conseguir conversar e sorrir sem precisar forçar um músculo sequer da face. Um pouco complicado lidar com o ímpeto dessa fase, que gera desentendimentos por causa daquela paranoia que acompanha a mudança do humor. As dificuldades de interpretação voltam a afastar as pessoas, ninguém consegue ficar perto de um maluco paranoico e que fica nervoso por qualquer coisa. Bom, ossos do transtorno bipolar. Não acho que a depressão tenha algo de bom além da melancolia que me faz escrever, quando pelo menos isso eu consigo, mas essa fase tem seus pontos altos e baixos. Uma mente confusa sempre encontra mais dificuldades em si mesma, o cinza e o preto, o medo e o furor. 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Visão

Acho que hoje, observando as minhas crenças e os meus sonhos, eu vejo com uma clareza tremenda que já não creio mais na melhoria, nas coisas boas, na esperança. Vejo que me tornei um pessimista, e me entristeço ao ver que em meus olhos já não há mais brilho, já não há aquele ar de quem passa por uma fase ruim mas sabe que vai melhorar, eu simplesmente só vejo as coisas que podem piorar, não vejo e não consigo imprimir positividade alguma. 

Não serei luz nem treva,
Eu serei cinza até o dia 
Em que cinzas me tornarei.
— Outis 

É como se na vida não houvesse mais luz, apenas a noite cinza, escura e fria. Não me vejo crescendo, amadurecendo, mas vejo tudo despencando e se destruindo, tudo se desfazendo em minhas mãos como poeira. Tudo retornando ao nada, tudo chegando ao fim mais calamitoso, trágico e doloroso possível. Minha mente é apenas uma sucessão de visões pessimistas de um futuro horroroso, onde tudo sempre se destrói, onde tudo se desfaz, onde o mundo acaba dia após dia e onde a cada amanhecer é uma nova guerra, uma nova hecatombe que se inicia. 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Diante

O que aprendi até agora, em breves anos de vida, comparados a grandes mestres intelectuais que, tendo três ou quatro vezes a minha idade já haviam marcado seu nome na história de uma vez por todas?

Aprendi que, em absoluto, tudo aquilo que planejei, sonhei, deu errado. O homem que eu amava passou a me ver como inimigo por não aprovar aquela que ele escolheu para amar. O homem que escolhi guiar, levando-o ao mesmo caminho que eu mesmo venho trilhando, passou ao caminho mais distante possível do meu e, quando passei a ter sentimentos por ele, também me vi tão distante que já não tinha mais possibilidade de tocá-lo. Ele se tornou famoso e eu, permanecendo no obscurantismo, trago apenas no meu peito a verdade, enquanto ele espalha mentiras e engodos lidos por tantos todos os dias. 

Os planos, bobos é verdade, de viver bem, confortavelmente numa bela casa, num belo bairro, com acesso a cultura e lazer, com uma vida de fato permeada de beleza e valores que aqui são desconhecidos, bom, isso também foi por água abaixo. Vivo num casebre com outras seis pessoas, o dobro do que seria ideal, sem nenhuma beleza, tudo num arranjo feito de qualquer jeito. Estou longe da beleza, longe dos valores, longe da organização. 

Meus estudos estão longe de serem satisfatórios, eu ainda estou muito distraído com o mundo, ainda sem conseguir o foco necessário para viver a solidão contemplativa da intelectualidade ativa. Ainda me importo muito com o outro, ainda me deixo ser levado por coisas que me desviam do correto sentido do dever. A distância objetiva não me assusta, eu não tenho grandes pretensões, apenas penso em compreender onde estou e como as coisas chegaram a esse estado. Mas o subjetivo, o meu espírito, continua titubeando perante os desafios que a realidade me impõe. 

O que aprendi até agora, em breves anos de vida, comparados a grandes mestres intelectuais que, tendo três ou quatro vezes a minha idade já haviam marcado seu nome na história de uma vez por todas? 

Não é muita coisa, praticamente nada, e não vejo no horizonte possibilidades de melhoria, infelizmente preciso de mais maturidade até conseguir contornar a minha verdade individual perante um observador onisciente cujo tudo o que existe é uma prova de sua existência eterna, diante da qual eu reconheço ser eu um nada, tal qual minha pequenez diante do vastíssimo céu e dos astros que brilham. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Resenha - Golden Blood

 

Contém SPOILERS, prossiga por sua conta e risco!

A comunidade blzeira se anima toda quando uma produção promete quebrar o clichê dos estudantes do colegial ou da faculdade de engenharia com coletes e cara de marrento, por isso Golden Blood ganhou atenção, depois da bem sucedida HIStory3 - Trapped e no hype da quase lendária KinnPorsche, trazendo a história sobre um guarda-costas e o filho de um mafioso. 

Sky (Gun Napat, de Love By Chance e A Chance To Love) é o filho único de um grande mafioso, que comanda seu negócio com mãos de ferro, até que um concorrente ameaça sua autoridade querendo vender drogas no seu território e, ao receber um não, passa a ameaçar a vida do filho de seu rival. Com isso, o pai de Sky envia Sun (Boat Tara) para ser o guarda-costas pessoal de precioso filho. Ele foi escolhido pessoalmente para esse trabalho pois, anos antes, quando a mãe de Sky foi assassinada, ela não foi salva por ter perdido muito sangue e, tendo um tipo sanguíneo raro, os médicos nada puderam fazer. Após uma minuciosa busca em todo o país ele encontra Sun, que tem o mesmo tipo de sangue raro de seu filho, garantindo que ele estará por perto no caso de alguma emergência.

Embora seja curta, apenas 8 episódios, a série consegue ser bem completa, equilibrando um bom desenvolvimento dos personagens, momentos leves e fofos e um drama na medida, além de não desapontar no quesito ação. Convenhamos, para um BL as cenas de luta foram muito boas. 

Além do casal principal também temos Bank (Tenon Teachapat), melhor amigo de Sky e Pitch (Sugus Buntawit, ou um grande gato, se preferirem) um veterano encrenqueiro que acaba se aproximando do calouro depois de algumas confusões. O casal secundário, embora com menos tempo de tela, também teve sua história bem explorada, com delicadeza e também um tom de comédia, já que ambos são responsáveis por quase todo alívio cômico da série. 

Sky é mimado, impulsivo, e paquerador. Ele não gosta nenhum pouco da ideia de um guarda-costas o vigiando o tempo todo e até tenta fugir algumas vezes mas, quando começa a ver o quão atencioso é Sun ele começa a baixar a guarda. Sun é extremamente cuidadoso e, mesmo sendo sério, é carinhoso com Sky. Eles começam a se aproximar conforme os perigos vão aumentando e um sentimento vai crescendo com força entre eles, que precisam enfrentar, além dos inimigos, a dificuldade em aceitar os próprios sentimentos. Por baixo da aparência séria Sun tem um doce e inocente coração, aos poucos mostrando esse lado para Sky. 

A produção trabalhou bem todos os elementos que apresentou e o resultado foi uma obra bem completa, divertida e com um plot diferente, pra quem busca sair dos clichês. Sky e Sun tem várias cenas fofas juntos, e podemos entender como o sentimento entre ambos se tornou tão forte. O único ponto fraco, no meu ponto de vista, foi a prova de amor forçada no último episódio, que deu um salto de tempo que não acrescentou em nada a história.  

Nota: 9,5/10

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Da Noite

 "Lá também está a melancólica casa da Noite; 
nuvens pálidas a envolvem na escuridão." 
(Hesíodo)

Assim se apresenta a primeira mãe de todos os deuses, com seu manto de melancolia cobrindo a terra de um azul escuro, o negrume que traz silêncio e desconforto aos corações. Toda noite, domínio de Nix, se faz repleto desse sentimento ruim, algo de vazio que se imprime na alma, uma apreensão crescente que domina o homem e parece cobrir o mundo de certa infelicidade. É o que acontece comigo todas as noites, conforme o sol vai se pondo a minha apreensão aumenta, como se algo ruim fosse acontecer. 

Mas a noite também tem uma outra face, aquela que me atrai, desde o amanhecer, pelo doce sono, um de seus filhos. O sono é o que me acalenta, meu momento de fuga, onde não preciso pensar nos medos que tenho, o sono é o porto seguro nos dias de incertezas, e ele vem com a noite, numa tensão entre trazer o medo e o acalanto de dormir por debaixo dos cedros, de açucenas olvidado. 

O dia traz o clarão da aurora, mas também traz a obrigatoriedade da vida, dos ditames e certames, a noite traz o silêncio e tranquilidade do sono, da suspensão das preocupações... E assim seguimos nós, meros mortais, nas mãos dos deuses que brincam com nossas vidas como se fôssemos brinquedos, sem possibilidade de fuga, sem a chance de conseguir viver realmente sem os seus dedos manipuladores, como titereiros cósmicos a guiarem nossa existência. 

Shiva

Fui tolo, por crer que seria pra sempre, mas a verdade é que eu simplesmente não queria aceitar que teria um fim, que se quebraria como um cristal que não pode mais ser consertado. As coisas são assim, tudo tem um fim e as relações humanas, antes de serem exceção, personificam essa mudança, pois estamos em constante transformação. 

Conhecemos novas pessoas, e as antigas vão ficando no passado, como uma folha seca esquecida naquele livro que nunca mais abrimos. Vamos nos decepcionamos, e as palavras vão se turvando como a superfície da água. É tolice esperar que as coisas serão sempre iguais, antes disso, é certo abraçar a mudança, pois é a única constância sob a qual a realidade se dá. Tudo o mais é passageiro, mutável, o eterno domínio de Shiva, destruindo e reconstruindo, eternamente transformando. 

Ó constante mudança, que a tudo transformais, como a lua se modificando e guiando a nossa sorte mutável em sua grandiosa roda da fortuna, quem haverá de desafiar a sua força cósmica que a todo universo muda com um único suspiro? Que podemos fazer senão nos curvar ante seu poder, que outro patrono poderá nos socorrer?

Tantas vezes morto, 
lutando para renascer, 
preso em minhas próprias cinzas, 
pouco a pouco me reerguendo, 
apenas para ser novamente destruído,
desfeito em miríades de pedaços.

A cada lança que me perfura os olhos de meus inimigos brilham como brilharam os de meus amigos um dia, não precisam se esforçar pois a eles eu dei as minhas costas, confiando minha retaguarda e tendo meu coração transpassado pelo aço frio que rasga meu músculo cardíaco como se não fosse nada. 

Depois que consigo me reerguer eu olho para o céu azul, e vejo a espada do destino ser lançada uma vez mais contra mim, novamente o ciclo sem fim, a ira do deus antigo que perdura sobre minha existência sem chance de que contra ela eu me manifeste. 

sábado, 7 de agosto de 2021

Idem Velle

Como não sentir-se traído, quando o seus juntam-se aqueles que simbolizam tudo aquilo que de mais profundo abomino na existência: a simples vivência das paixões mais superficiais da carne em detrimento de todo e qualquer valor moral, o prazer acima de tudo que se possa considerar bom, justo e verdadeiro?

É aqui que uma vez mais se aplica a definição escolástica de amizade “Idem Velle, Idem Nolle” em que se buscam e detestam as mesmas coisas, e é exatamente por isso, por não achar par e por ser somente golpeado pelas costas com um punhal de prata, onde se leem as palavras mais frias da traição. Aqui não há lugar para mim. 

Non c’è asilo per noi, padre, nel mondo!

Resolvi retomar uma antiga história, que me aquece o coração sempre que penso nela, mas o amargo que sinto em minha boca foi maior e eu agora me vejo de volta ao meu quarto, envolto a escuridão, já sentindo os fantasmas pedirem por meu sangue. Se tivessem pensado em mim um instante sequer jamais teriam aquela festa, jamais teriam feito tamanho gesto de traição, e sequer consigo encontrar outra palavra, tamanha a dor e a fúria que consomem o meu peito e me sobem a garganta como se tivesse engolido achotes em brasa, numa ânsia análoga a ânsia de um cardíaco. 

I'll never love again. 
My world is ending.

Só posso me refugiar, até o dia de minha partida. Se aproxima, lenta, o dia em que finalmente poderei ir ao outro lado do país, e a cada dia sinto que essa é a decisão certa, já não há mais nada pra mim aqui, o pouco que tinha fizeram questão de tirar. Só consigo sentir agora a dor do que me foi tirado, como se fosse parte de minha própria carne, violentamente rasgada por um cutelo pouco afiado. O aço frio me transpassa o coração, as lagrimas não são quentes, mas refletem a frialdade em que se encontra meu coração no silêncio desse momento, como se eu mesmo fosse apenas um corpo frio. 

Só o que sei é que não há verdade nessas relações. Há apenas a busca animalesca por prazer. A verdade fica escondida, longe da luz dos homens que se escondem na caverna de profundas monstruosidades. Não há verdade. Ou melhor, há uma verdade inconveniente para ser dita então ela é aceita apenas em silêncio...

Devo me cortar? Dormir? Fingir que não estou sentindo nada quando estou espumando de raiva? E eu agora que farei? Só posso esperar pelo dia que, alçado voo pelo céu azul eu jure por mim mesmo que nunca voltarei a essa terra maldita onde só tive infelicidade, esperando esquecer até mesmo da poeira daqui. 

It all returns to nothing...

Das ironias


Das ironias do meu ser está o querer desaparecer ao mesmo tempo que sou visto por todos, está em querer ficar longe de todos mas tendo todos ao meu redor. É uma tensão cujo palco é meu próprio coração. O querer ser e o não ser, o ir e o ficar quieto, dormir e me manter vigilante, impulsos contraditórios que mostram a autêntica força do meu ser, da minha existência pungente, do meu eu que constantemente se reafirma gritando no coração do mundo como uma fera, uma fera que busca a quem devorar ao mesmo tempo que devora-se a si mesmo, num ciclo interminável, como o ourobouros infinito em si mesmo.

É o querer dormir o dia todo e o querer desvendar a realidade do mundo circundante. É sonhar com uma vida do outro lado do mundo e querer que tudo permaneça como está, é querer ser melhor, mais bonito, como os ídolos da terra da terra do sorriso, tão fotogênico quanto eles, tão pleno, tão... diferente de mim mesmo. E ao mesmo tempo saber que não há como ser outro que não eu mesmo, num desespero humano de ser quem se é e nada mais além disso, de não estar satisfeito e ainda assim não conseguir além disso, de não mudar como deveria e não reconhecer as qualidades que nomeadamente dizem enxergar em mim. 

De que me serve a inteligência que dizem que tenho? Eu nada sei, de mim ou do mundo. De que me adianta o sorriso se não cativo ninguém? É outra expressão da tensão que me circunda, que de certo modo é a chave explicativa de todo meu eu, um eu composto de tensões, contradições, com um vendaval que leva tudo de um lado a outro. 

Eu queria poder voltar ao passado, talvez não me dedicar tanto quanto me dediquei, e talvez prestar mais atenção a coisas que ignorei. Mas eu queria também ir ao futuro, quando não terei mais medo de ser sozinho, quando aqueles que amo já tiverem partido e eu já terei superado o luto. Mas eu também queria estar exatamente onde estou, mas sendo outro, sendo melhor. 

E não, não sei como conciliar tudo isso, não sei reduzir tudo a um único ponto aglutinante, apenas sinto que as coisas assim vão se reduzindo, e tudo aos poucos retorna ao nada. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Duas perspectivas

 "Você se ama? Você realmente gosta de você?"

Não. E nem preciso pensar muito pra dar essa resposta. A verdade crua e simples é que eu me odeio, pura e simplesmente por ver em mim não mais do que um absoluto fracasso, em todas as áreas possíveis. Depois de tanta formação acadêmica eu continuo desempregado e minhas únicas perspectivas de emprego são outros trabalhos como o que já tive: sendo subordinado de imbecis que nada entendem daquilo que coordenam e que ainda assim se acham no direito de mandar em mim. O estudo que tive, e que ainda tenho, de nada adianta em oferecer algum tipo de autoridade intelectual de curto prazo. Por outro lado, os estudos que faço estão ainda muito longe de me oferecer qualquer tipo de autoridade de longo prazo.

Me vejo também um fracassado no sentido existencial, digamos, pessoalmente também. Uma pessoas com os relacionamentos familiares desastrosos, que não fala com a irmã, não ajuda os pais com as despesas, mora numa casa que sequer deveria receber esse nome. Alguém sem perspectivas de um relacionamento amoroso, de amizades no sentido que busco, de pessoas que queiram uma vida plenamente intelectual de busca da sabedoria. Me vejo ainda só, sendo que pouco converso sobre o que realmente considero importante e, considerando tudo o mais banalidade, prefiro não dizer muito. 

Me vejo um fracasso no amor, incapaz de me amar, incapaz de ver pontos positivos em mim, afastando os outros com essa negatividade toda. Feio? Horroroso, horrendo, como os monstros dos livros de ficção que enojam os mocinhos de boa aparência com sua cara repugnante. É assim que me vejo no espelho, e é assim que me amaldiçoo dia após dia, cada vez que vejo meu reflexo. E tudo que eu queria era ser como os meninos que eu acompanho na internet: todos com a pele clara, cabelo liso e perfeito, fotos com uma ótima iluminação, fãs e presentes no dia do aniversário com mensagens de carinho, não um quase intelectual fracassado que toma remédio pra dormir deprimido demais por não conseguir tirar uma foto decente. 

Eu queria ser perfeito como eles, o corpo, o cabelo, o sorriso, a fama... Mas eu não tenho nada disso e isso me sufoca porque, num raciocínio psicótico, sem a afirmação do outro eu só tenho a minha confirmação de que eu não passo disso, um grande fracasso. Daí a enorme dificuldade de responder a próxima pergunta...

"O que há de bom em mim?"

Eu sei que posso dizer que tenho uma inteligência acima da média. As muitas mensagens que recebo de pessoas me fazendo as mais diversas perguntas é uma prova disso. Me chamavam de enciclopédia humana, porque de fato eu gosto de aprender o máximo sobre tudo, pois de algum modo tudo amplia o meu horizonte de consciência e se integra no quadro maior da minha existência, tudo acaba por se encaixar no grande mosaico do conhecimento que eu construo pouco a pouco. As pessoas confiam em mim para responder e isso é bom, elas acreditam em mim mais do que eu mesmo.

Por mais que eu insista em dizer o contrário, em vários momentos eu sei que posso dizer que eu sou bonito. Eu sou bonito. Se me visse de fora diria o mesmo. Tenho belos traços, belos lábios, belas mãos, as tatuagens formam um complemento misterioso e interessante ao conjunto. Eu sou bonito. 

Eu posso não ser um Pavarotti, mas eu tenho um bom gosto musical, conheço músicas de tantas culturas e isso me dá uma visão ampla, que as pessoas muitas vezes ignoram. Eu não me deixo prender por fronteiras, não me fecho num único estilo e isso é bom. Quantas descobertas maravilhosas eu já não fiz? Quantas obras pra vida inteira? O mesmo vale para as séries e filmes que tanto amo. 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Meu Oxigênio

Desde a primeira vez que ouvi o Supanut cantando a versão em inglês da OST de Oxygen eu me identifiquei com a letra, não por algo que já tenha vivido, mas por ser algo que, no meu íntimo, eu sempre acreditei ser o amor. É aquela história, a arte serve precisamente pra dizer aquilo que sentimos mas não conseguimos, por nossas próprias limitações, dizer, e é por isso que essa música traduz alguns dos sentimentos mais puros que eu tenho. 

Ele começa dizendo que estava envolto em sentimentos vazios, uma vida sem sentido que não fazia sentido e então o amor veio e lhe resgatou a alma, trazendo-o de volta a vida. Como não fazer disso um paralelo com esse momento, em que sinto estar, pouco a pouco, voltando a vida? Depois de meses de um profundo abismo de sentimentos, de um vazio que roubou de mim todo significado, algo vem trazer de novo ar fresco, como o sol nascendo após uma noite de inverno intenso, aquecendo os dias mais frios o amor traz luz, tornando o céu mais radiante. Parece bobo dizer isso mas, pra quem passou tanto tempo sem ver nada além da mais absoluta escuridão, ver a luz novamente é de um prazer indescritível e, mesmo que eu escreva sobre isso, a emoção que essa música me traz é mil vezes mais poderosa do que qualquer coisa que eu possa vir a escrever sobre ela. 

Assim como ele descreve, esse amor, esse sentimento de estar de volta a vida, só pode ser comparado ao ar, absolutamente necessário a sobrevivência, é o ar que faz com que nós possamos continuar vivos, e é esse ar que preenche os pulmões e leva vida a cada fibra do nosso ser, sem ele não é possível a vida, não é possível estar bem. 

Claro que, se na música ele fala sobre um alguém trouxe a ele esse sentimento, esse alguém que se tornou seu oxigênio, cujo qual ele não pode mais sobreviver sem, eu me refiro a algo mais abstrato, talvez até mesmo a alguma reação química no meu cérebro. Dessa vez não é alguém que me traz o ar que eu volto a respirar, mas a vida que me permitiu sobreviver mais um dia, que me permitiu acalentar um pouco daquela solidão que sentia, que iluminou as trevas que possuíram meu coração.

Essas trevas são as tempestades, não o ar que gentilmente preenche o ser de vida, mas aquelas que devastam e destroem tudo e todos. Essas trevas são os desentendimentos, as pessoas e situações ruins, são as tristezas que vem sem que tenhamos controle algum sobre elas e que nos afogam de tal modo que já não enxergamos nada para além da tempestade. 

Queria sim viver um amor como o que ele descreve, alguém a quem pudesse dizer "você é meu oxigênio, sem você eu não posso sobreviver", o Gui do meu Solo, mas não acho que isso vá acontecer, na verdade continuo cético quanto ao amor romântico, mas penso que possa sim existir algo, até mesmo Deus, que seja como esse ar, como esse sopro de vida, como isso que traz de novo cor aos sentimentos vazios, sentido a existência. Não estou nem perto desse alguém, sequer acredito que ele exista, mas estou sentindo o ar sendo devolvido aos meus pulmões, a vida sendo novamente devolvida ao meu corpo já há tanto sem luz, como a noite de inverno. 

~

Música - My Oxygen (English) 
Artista - Supanut
Álbum - Oxygen The Series OST
Gravadora - MAUVE SERIES

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Resenha - Siew Sum Noi

Algumas produções resolveram inovar e explorar lugares mais desconhecidos da Tailândia, mescladas as histórias que tanto amamos. Tivemos a aclamada I Told Sunset About You nas praias de Phuket, as duas temporadas de Love Poison mostrando o interior do país, Manner Of DeathLove at 7/11 e, atualmente também, Homentowns Embrance, ambas em cidades pequenas longe da capital ou das grandes onde se passam a maior parte das histórias, dessas forma nos levando a uma parte da riquíssima cultura tailandesa que não conseguimos ver apenas nas séries ambientadas no meio urbano. 

Siew Sum Noi é um musical, nos moldes de Love Poison (e inclusive conta com parte do elenco, se você não viu também vale super a pena), mostra um romance envolvendo meninos do interior que se conheceram na capital. Ruk (Champ Chenrach) é um excelente jogador de futebol que se muda do interior para Bangkok depois de ser contratado para jogar pelo time de uma grande escola. Lá ele conhece IG (Virgo Nakharin de Love Poison), um astro da internet que também faz parte do time mas que detesta treinar, o que gera alguns conflitos entre os dois. Depois de um término conturbado em seu namoro IG tenta encontrar alguém pra fazer ciúmes a sua ex e, por um hilário acidente, todo mundo passa a achar que ele está namorando com Ruk, ao que ambos decidem seguir em frente. Como era de se esperar não demora muito até começar a surgir algum sentimento. 

Depois de uma viagem de volta a cidade natal de ambos, nós somos apresentados a Grateen, o vocalista de um grupo musical famoso na região, que mantém um namoro escondido com Nakrob (Ohm Pracha, de Love Poison), irmão de Ruk e professor da pequena cidade. Além deles os amigos de Ruk e IG também vão pra cidade tentar ganhar algum dinheiro para ajudar os clubes da escola que sofreram cortes no orçamento com o contrato de Ruk. Na cidade Kui (Bomp Premsama, de Love at 7/11) acaba se aaprocimando de Pet, amigo de Ruk. Dentre os amigos deles também tem Mes (Fam Pornpawit de Love at 7/11) e Tunwa (Pitchy Tao de Love Poison).

A série tem um tom mega divertido, quase uma comédia pastelão e, por ser um musical, toda hora tem uma música diferente, mostrando um pouco mais da cultura local, o que a torna bem interessante de assistir. As músicas trazem essa regionalização que muitas vezes não pegamos nas séries que se passam só nos ambientes urbanos. Aqui nos temos cenas que se passam em feiras, lagoas e estradas, a Tailândia que não conhecemos. 

A mistura desses elementos, ainda que a série não seja uma mega produção mesmo que superior a algumas anteriores do mesmo gênero, faz dela uma obra bem gostosa de se acompanhar, seja pelo casal principal que não demora a dar o primeiro beijo ou assumir os sentimentos, ou pela atmosfera local que ela consegue passar, com todos os atores usando o dialeto local ao invés do idioma comum que estamos habituados. Alguns podem estranhar as músicas bregas e as roupas meio exageradas nas apresentações mas, comigo pelo menos foi assim, isso só mostra ainda mais da cultura então é super válido. 

IG e Ruk são dois brigões, e eles vivem no pé um do outro, mesmo depois de começar a namorar. Kui e Pet são fofos e Nakrob e Grateen já enfrentam dúvidas maiores, como o medo de se assumir pra comunidade, já tendo ambos uma carreira sólida. Essas diversas formas de encarar o amor dão um charme especial, além é claro dos outros meninos que são um grande alívio cômico em todo momento da série. Destaque para o Kaengson (Garto Pannawit) que é simplesmente a coisinha mais fofa do mundo. 

Enfim, a série combina elementos de comédia com um mais da cultura da Thai que estamos acostumados, numa atmosfera nova e envolvente que torna tudo divertido. Prato cheio pra quem procura novas experiências. 

Nota: 09/10

domingo, 1 de agosto de 2021

De volta para a luz

Já há um ou dois dias acordei um pouco mais animado, sinal de que talvez a fase depressiva esteja regredindo, muito embora precise de mais alguns dias pra confirmar já que minhas crises chegam e vão lentamente. Mas o fato é que eu tenho me sentido melhor esses dias, mais tranquilo, sem aqueles fantasmas sussurrando tragédias em minha mente. A sombra que me perseguia se dissipou quase completamente e só a vejo agora no recanto mais obscuro da minha mente, onde ela quase não me alcança mais. Uma chama se acendendo em meio a frialdade inorgânica que busca devorar a carne e os ossos deixando apenas os cabelos aos vermes. 

Mesmo que não aparente ser assim, devido ao meu comportamento mais ou menos igual, mas é que meu corpo não acompanha a mudança da mente. Minha mente está desperta, ágil, bem mais do que alguns dias atrás, mas meu corpo ainda se sente cansado e não reflete o que eu sinto. A névoa que envolvia o meu ser está se dissipando, e eu consigo ver o mundo ao meu redor com mais clareza, consigo sem sentir o peso do medo que antes me paralisava, consigo escapar daquelas amarras divinas que me prendiam ao mundo de torpor e absoluto langor. 

Minha mente está mais clara, e os pensamentos de morte que tanto me assustavam também diminuíram. Pode-se dizer que estou saindo da crise depressiva e entrando na fase de normalidade, a hipomania tão desejada onde posso sair, conversar, ser eu mesmo, sem crises de pânico, sem o estresse habitual. Posso sorrir, conversar, brincar, beber, sem sentir aquele medo que sempre assustava tanto a ponto de me travar frente os meus amigos. 

Talvez eu possa ficar normal por mais um tempo. É isso que eu quero. Espero poder manter essa fase por mais tempo, ajudar meus pais em algo, em casa mesmo que seja, ser um pouco útil. Aproveitar esse energia que prometeram-me. Espero me aproximar um pouco mais da normalidade, por pouco que seja. Consigo chegar ao topo daquele jardim, pelas secretas escadas disfarçado, e ali, esquecido quedei-me, o rosto reclinado sobre o amado, largando o meu cuidado por entre as açucenas olvidado.

Consegue entender? Consegue me ajudar?

X

Já não me lembro tanto da escuridão, aquela dor parece ter se perdido por entre as dunas do passado, a minha mente funciona numa clareza que eu não achei mais ser possível. É impressionante como alguns dias podem mudar tudo. 

A crise depressiva, talvez a pior que já tive, durou semanas e me deixou imóvel na cama, e agora se foi, dando lugar a um Biel desperto, feliz, animado, misteriosamente disposto, a conversar, assistir, brincar, tudo aquilo que não conseguia de modo algum há uns poucos dias atrás. 

Me lembro de só querer ficar deitado, de não ter forças para sorrir em resposta a uma pergunta, e agora me vejo querendo conversar o dia todo, o completo oposto, a outra face que antes se escondia naquele cinza triste da depressão, agora dando lugar a tranquilidade de um sorriso que julguei ter morrido. 

Ser bipolar é isso, morto em cima de uma cama num dia e novamente desperto e vivaz noutro. Não gosto disso, nem um pouco sequer, mas admito que essa fase hipomaníaca é bem mais agradável do que aquela depressão tão pesada, tão sufocante, tão desesperadora. 

Eu agora vejo a beleza da luz do sol, o dia que amanhece não é uma maldição mas uma bênção de possibilidades. Meu julgamento fora totalmente alterado pela lente cinza da depressão que me guiava para cada vez mais o abismo escuro. Agora torno a ver a luz, agora torno a me sentir vivo, como há muito eu já não me sentia, e como julgara que nunca mais sentiria. E eu só espero conseguir manter isso por quanto tempo for possível... Só espero conseguir manter acesa a chama que agora queima em meu coração!

Chegando ao Fundo

Durante todo dia ele está lá, um sentimento me espreitando, sibilando baixinho, quase intangível no profundo da minha mente, me ameaçando constantemente, até que chega a noite e, conforme o sol se esconde, ele se revela, maldoso, e começa a me enforcar, enrolando ao redor de mim os seus tentáculos gelados e me levando para o profundo abismo, lentamente apertando meu peito, me sufocando, me matando. A cada noite eu sinto um pouco de mim morrendo, se esvaindo, fugindo ao vento como cinza, rodopiando como farrapos e eu sem conseguir mais correr com os pés sangrentos e o coração comprimido contra o peito, sem conseguir respirar e muito menos gritar, vendo a luz da superfície sumindo e eu sendo cercado pela mais densa e pavorosa escuridão. Me sinto um condenado, sendo aprisionado sem chance de escapar, pois a prisão está na minha mente, ela aos poucos vai se tornando mais real e me matando um pouquinho mais... 

X

A minha mente parece um pouco mais clara, sem o peso que me assombrava dias atrás, não é como se ele tivesse desaparecido mas diminuído, recuado um pouco. O que ficou foi apenas o corpo cansado, incapaz de agir ou reagir, de fato como quem chegou ao fundo do poço. Mas os outros continuam querendo coisas de mim, continuam querendo me ver, continuam me fazendo perguntas, continuam esperando... Como fazê-los entender que não sobrou nada, que eu já estou morto? Pois é essa a verdade, a única, eu já desapareci, ficando apenas meu corpo, uma casca vazia, e esse vazio foi tudo o que restou, recessos do que um dia já foi, alguém que um dia sentiu demais e que hoje não consegue sentir mais nada.