terça-feira, 10 de agosto de 2021

Da Noite

 "Lá também está a melancólica casa da Noite; 
nuvens pálidas a envolvem na escuridão." 
(Hesíodo)

Assim se apresenta a primeira mãe de todos os deuses, com seu manto de melancolia cobrindo a terra de um azul escuro, o negrume que traz silêncio e desconforto aos corações. Toda noite, domínio de Nix, se faz repleto desse sentimento ruim, algo de vazio que se imprime na alma, uma apreensão crescente que domina o homem e parece cobrir o mundo de certa infelicidade. É o que acontece comigo todas as noites, conforme o sol vai se pondo a minha apreensão aumenta, como se algo ruim fosse acontecer. 

Mas a noite também tem uma outra face, aquela que me atrai, desde o amanhecer, pelo doce sono, um de seus filhos. O sono é o que me acalenta, meu momento de fuga, onde não preciso pensar nos medos que tenho, o sono é o porto seguro nos dias de incertezas, e ele vem com a noite, numa tensão entre trazer o medo e o acalanto de dormir por debaixo dos cedros, de açucenas olvidado. 

O dia traz o clarão da aurora, mas também traz a obrigatoriedade da vida, dos ditames e certames, a noite traz o silêncio e tranquilidade do sono, da suspensão das preocupações... E assim seguimos nós, meros mortais, nas mãos dos deuses que brincam com nossas vidas como se fôssemos brinquedos, sem possibilidade de fuga, sem a chance de conseguir viver realmente sem os seus dedos manipuladores, como titereiros cósmicos a guiarem nossa existência. 

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