domingo, 1 de agosto de 2021

De volta para a luz

Já há um ou dois dias acordei um pouco mais animado, sinal de que talvez a fase depressiva esteja regredindo, muito embora precise de mais alguns dias pra confirmar já que minhas crises chegam e vão lentamente. Mas o fato é que eu tenho me sentido melhor esses dias, mais tranquilo, sem aqueles fantasmas sussurrando tragédias em minha mente. A sombra que me perseguia se dissipou quase completamente e só a vejo agora no recanto mais obscuro da minha mente, onde ela quase não me alcança mais. Uma chama se acendendo em meio a frialdade inorgânica que busca devorar a carne e os ossos deixando apenas os cabelos aos vermes. 

Mesmo que não aparente ser assim, devido ao meu comportamento mais ou menos igual, mas é que meu corpo não acompanha a mudança da mente. Minha mente está desperta, ágil, bem mais do que alguns dias atrás, mas meu corpo ainda se sente cansado e não reflete o que eu sinto. A névoa que envolvia o meu ser está se dissipando, e eu consigo ver o mundo ao meu redor com mais clareza, consigo sem sentir o peso do medo que antes me paralisava, consigo escapar daquelas amarras divinas que me prendiam ao mundo de torpor e absoluto langor. 

Minha mente está mais clara, e os pensamentos de morte que tanto me assustavam também diminuíram. Pode-se dizer que estou saindo da crise depressiva e entrando na fase de normalidade, a hipomania tão desejada onde posso sair, conversar, ser eu mesmo, sem crises de pânico, sem o estresse habitual. Posso sorrir, conversar, brincar, beber, sem sentir aquele medo que sempre assustava tanto a ponto de me travar frente os meus amigos. 

Talvez eu possa ficar normal por mais um tempo. É isso que eu quero. Espero poder manter essa fase por mais tempo, ajudar meus pais em algo, em casa mesmo que seja, ser um pouco útil. Aproveitar esse energia que prometeram-me. Espero me aproximar um pouco mais da normalidade, por pouco que seja. Consigo chegar ao topo daquele jardim, pelas secretas escadas disfarçado, e ali, esquecido quedei-me, o rosto reclinado sobre o amado, largando o meu cuidado por entre as açucenas olvidado.

Consegue entender? Consegue me ajudar?

X

Já não me lembro tanto da escuridão, aquela dor parece ter se perdido por entre as dunas do passado, a minha mente funciona numa clareza que eu não achei mais ser possível. É impressionante como alguns dias podem mudar tudo. 

A crise depressiva, talvez a pior que já tive, durou semanas e me deixou imóvel na cama, e agora se foi, dando lugar a um Biel desperto, feliz, animado, misteriosamente disposto, a conversar, assistir, brincar, tudo aquilo que não conseguia de modo algum há uns poucos dias atrás. 

Me lembro de só querer ficar deitado, de não ter forças para sorrir em resposta a uma pergunta, e agora me vejo querendo conversar o dia todo, o completo oposto, a outra face que antes se escondia naquele cinza triste da depressão, agora dando lugar a tranquilidade de um sorriso que julguei ter morrido. 

Ser bipolar é isso, morto em cima de uma cama num dia e novamente desperto e vivaz noutro. Não gosto disso, nem um pouco sequer, mas admito que essa fase hipomaníaca é bem mais agradável do que aquela depressão tão pesada, tão sufocante, tão desesperadora. 

Eu agora vejo a beleza da luz do sol, o dia que amanhece não é uma maldição mas uma bênção de possibilidades. Meu julgamento fora totalmente alterado pela lente cinza da depressão que me guiava para cada vez mais o abismo escuro. Agora torno a ver a luz, agora torno a me sentir vivo, como há muito eu já não me sentia, e como julgara que nunca mais sentiria. E eu só espero conseguir manter isso por quanto tempo for possível... Só espero conseguir manter acesa a chama que agora queima em meu coração!

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