domingo, 22 de agosto de 2021

Retorno X Medo X Zero

A energia que há alguns dias eu comemorei voltar agora lentamente abandona meu corpo, e pouco a pouco eu sinto as coisas perderem a cor novamente, sendo tingidas de um tom cansado, desbotado, como se alvejadas com algo forte, e tudo vai ficando mais triste, cada vez mais sem graça. Não há muito o que fazer, além de esperar que ela chegue e que vá embora de novo, não há nada que que eu possa fazer além de ser vítima inerme em suas mãos, além ser violado sem nenhum respeito e deixado novamente ao chão, sem reação, catatônico a olhar um teto desconhecido enquanto o tempo passa sem que eu tenha nenhum controle sobre o mundo ao meu redor. 

O pior é que, assim como ela foi embora da última da vez, e eu pude sentir dia após dia a energia e a vitalidade voltarem ao meu corpo, agora eu sinto elas se esvaindo de mim, me deixando como sarça ao vento, a mercê de toda força que se coloque sobre mim, me sentindo uma boneca de cordas que perdeu seu titereiro, uma casca vazia, cheio apenas de um sentimento ruim que não dá pra explicar. 

A depressão simplesmente volta, acompanhada por problemas que eu não posso resolver e que já vinham se arrastando já há vários dias, meses, anos. Descobertas sobre pessoas próximas que impactam diretamente em mim, e eu não sei bem como lidar com isso, não sei como devo reagir, sendo a catatonia a minha única reação. Queria poder fazer mais, ser mais, ajudar mais... Mas quanto mais eu penso menos eu consigo realizar, literalmente preso no meu próprio mundo enquanto o mundo real desaba, pega fogo e eu não posso fazer nada para mudar. 

Ela simplesmente reaparece, e acho que até o fim da semana eu não vou conseguir nem atender o telefone de novo. Ela de novo, com suas patas pesadas sobre meu peito. Monstruosa. Silenciosa. Invencível. Com um som gultural saindo de seu peito, o rugido de morte. E eu vejo tudo se desmoronar bem ante meus olhos, e eu não posso fazer nada. E tudo retorna ao nada. 

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E se em alguns desses dias ele não mais voltar? Meu pai tem um impulso de ser ativo que eu simplesmente não consigo compreender, sai todos os dias de madrugada pra catar recicláveis (não precisa disso, faz porque é uma ocupação) e passa boa parte do dia cuidando disso. Hoje faziam menos de 15°C quando ele saiu às 2:30 da matina, eu ainda acordado, insone e inquieto com o barulho das muitas festas que acontecem ao redor no bairro. 

Mas e se esses sons forem os de tiros disparados contra ele por algum maluco que bebeu demais ou encheu a cara de pó numa dessas festas? E se um dia ele sair da madrugada e não mais voltar? Fico pensando no que iríamos fazer., no que eu iria fazer. Como, de um dia para o outro, sustentar uma família de sete pessoas sem trabalho nenhum em vista? É o caos completo pensar na situação de extrema vulnerabilidade em que estamos por depender somente dele. É algo que me incomoda pois, uma coisinha de nada, um pequeno disparo, pode mudar toda nossa sorte e nos fazer chegar ao limite de passar fome! Como não perder o sono com essa perspectiva? Como não estar atônito neste momento, em que o sol quase prenuncia seu nascimento e eu prenuncio a nossa morte lenta, humilhante e dolorosa? 

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Um amigo me perguntou sobre a falta de libido que sinto durante a fase depressiva do meu Transtorno Bipolar. Bom, o que pude dizer foi que simplesmente é a ausência total de desejo, é o não reagir de modo algum a nenhum estímulo, erótico ou afetivo, é apenas estar ali sem que seu corpo consiga sequer entender e processar as informações que recebe, e continuar assim por meses inteiros...

Fiquei com alguns homens nesse período, o resultado foi exatamente esse: não subiu, sequer reagiu. Tudo o que eu senti foi dor e tédio, e depois a vontade de voltar logo pra casa e dormir. É isso, quando dormir é mais prazeroso do que sexo. Meu corpo estava quente, porém morto. Eu suava mas era apenas efeito da respiração acelerada por conta da asma e do esforço, nada vinha de mim realmente. É quando a cama parece mais atraente do que os corpos fortes e definidos. É não sentir nada no corpo do outro, e sentir menos ainda quando busco dentro de mim aquela chama que antes queimava incessantemente em busca de companhia. A perfeita dualidade bipolar. 

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