Acho propício que, no atual estado da minha vida, retome aqueles diálogos dos episódios finais de Neon Genesis Evangelion, onde Shinji tenta descobrir a razão de sua existência ao mesmo tempo que encara a difícil realidade de dor que é a vida mesma. As perguntas são muitas, e ele questiona sua existência, o porquê e o para quem, ele percebe a dor que é estar sozinho mas também a dor que é estar próximo do outro, percebe o vazio fundamental do homem e a tentativa das almas de se unirem no Projeto da Instrumentalidade Humana. Mas, ao fim, ele encontra a resposta: mesmo em meio a dor, encontrar a si e sua natureza.
Ele se equilibra entre Rey, que não se encaixa como humana e nem como imitação, e Kaworu que se encaixa tão perfeitamente que nem precisa de ajustes ao se ligar ao EVA.
Conexão.
Shinji nunca havia se conectado com ninguém, vivera sozinho e mesmo na série, não entendia as posições de Misato, de Asuka, de Rey e muito menos de seu pai. Ele tentou pilotar para ser aceito, tentou mudar a si enfrentando uma situação difícil e dolorosa, mas para ser aceito, e não porque era a sua missão. Quando ele aceita que a decisão final, aquela que poderia colocar fim as dores do mundo, mas a troco da individualidade, ou manter essa individualidade, acompanhada de todas as dores que vêm com ela, ele entende seu papel e, assumindo como o centro de seu Ser, ele se torna a fera que gritou EU no coração do mundo. Ele aceita a dor de ser quem ele é, fraco, mas, ao mesmo tempo, o único capaz de tomar a decisão por si. E então ele se vê novamente de volta ao seu corpo, dolorido das batalhas, mas seu corpo, agora em harmonia com sua mente, que ainda vê seus medos, mas consegue enfrentá-los e sua alma, sua porção mais elevada, única, parte do todo.
Ele percebe que deixar de existir não é seu destino, mas aceitar sua existência, encarar a missão de ser ele mesmo, isso é o que o fará ser aceito, não porque ser aceito é seu objetivo, mas porque quando ele não sabia quem era os outros não tinham a quem aceitar, senão que vinham apenas um objeto a ser comandado.
Esse excurso não é uma digressão sem sentido, mas é um caminho que eu já havia visto e entendido como a missão de Shinji, e o caminho do próprio autor, mas não tinha ainda entendido que era também o meu caminho: aceitar ser quem sou.
Isso está bem longe de apenas uma afirmação externa e superficial como fazem tantas pessoas, mas uma aceitação profunda que, por sua vez, tem impacto no externo.
Me recordo que disse, ontem mesmo, ao meu afilhado, que minhas atitudes negativas eram o motivo de eu afastar as pessoas, e não minha aparência, como suspeitava. Isso porque esse negativismo é fruto do não aceitar quem sou, com minhas qualidades e potencialidades, mas também dos meus limites, do meu respeito a mim mesmo.
E é nesse ciclo que espero entrar agora, de entender meus limites, de não me forçar mais a estar onde não quero, com quem não quero, de não ficar triste por estar sozinho, de aceitar, aceitar com firmeza e explorar o que posso ser, isto é, continuar a querer aprender e ensinar o que for possível. Acho que esse é o único caminho.
Encontrar nos meus momentos a sós, começar a sair sozinho, seja nos cafés ou cinemas, parques ou o que for, aprender a me sentir confortável com a solidão e torná-la solitude, só assim posso me preparar para ser não um problema para mim mesmo.
Cada linha que escrevo contém tudo de mim, e ninguém nunca entende nada.
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Trechos retirados dos últimos episódios de Neon Genesis Evangelion