segunda-feira, 22 de abril de 2024

Um pouco de caos

"Estava cansado de amar sem resultados; depois começava a sentir aquela prostração causada pela repetição da mesma vida, quando nenhum interesse a dirige e nenhuma esperança a sustenta. Estava tão entendiado de Yonville e dos yonvillenses, que a visão de certas pessoas, de certas casas, irritava-o até não poder aguentar." (Gustave Flaubert)

Indo e voltando sem muita vontade de nada. 

Os homens bonitos da cidade já não me chamam atenção, só faço todos os dias o mesmo trajeto, de casa para o trabalho e de volta pra casa, ocasionalmente também para a igreja, mas sempre pedindo que possa voltar logo pra casa, para dormir e me recolher a doçura onírica do não ser. Também lá não encontro amigos ou companheiros.

Preciso me cuidar para não cair em depressão ainda mais profunda. Em dias, e noites, assim eu me obrigo a continuar assistindo, mais um episódio que seja, a tomar mais uma taça de vinho ou comer algum doce, mesmo que não queria nada disso, apenas porque sei que, se me acostumar a ir dormir todos os dias isso vai piorar mais e mais...

Ainda assim eu não quero ir naquela reunião, não quero ter mais ocupações do que consigo realizar, não quero ir naquele grupo de jovens em que vão ficar cantando, dançando e gritando as músicas mais bregas em local que deveria ser sagrado... Não quero. 

Hoje lançou o trailer da nova série do Sarin com o Great que deve sair no fim do mês e, embora o tom seja menos cômico que o do primeiro apresentado no evento do ano passado, fico feliz de poder ver ele de novo num BL, mesmo depois de ter me obrigado a ver todos os episódios daquele lakorn hétero que ele fez. 

Eu ciclei essa semana e parece ser um episódio misto, sinto meu corpo eufórico mas a mente em completa apatia, ao mesmo tempo que sinto dores por várias partes enquanto entro como num turbilhão mental. 

Orçamentos, 

projetores, 

cálculos, 

grupos escolares, 

limpeza de obras, 

cirurgias, 

o bumbum do Sarin. 

Parece que tudo vem ao mesmo tempo. E eu preciso parar, 

reorganizar, 

e ai sentam ao meu lado, e me trazem mais problemas, e meus olhos doem, e meu corpo dói, e eu queria voltar pra minha cama, ao mesmo tempo que queria ficar bem longe de casa, não ouvir nenhum problema mais, nem as dívidas, nem as crianças que vão nascer, nem a escala do fim de semana. 

Talvez eu queira conhecer aquele garoto magro e sério do ônibus do Vila Nova que encontro alguns dias pela manhã. De olhos fundos e fixos no celular. Talvez devesse dar um jeito de me apresentar a ele, de conseguir fazer com que a gente vire um casal e se mude pra um geminado em algum lugar mais perto do trabalho, assim teria algum lugar para voltar no fim do dia um pouco mais feliz, talvez não fosse como agora que quero a minha cama mas não quero a minha casa. 

E hoje em algum momento do trajeto da minha casa ao ponto de ônibus eu perdi meu lenço, e não vi o rapaz bonito e vim o caminho todo cantando a versão do Matthew Morrison e Kristin Chenoweth em Glee para One Less Bell To Answer e A House is Not a Home, imaginando um dueto com alguém que eu sei que nunca ouviu essa música. Já tomei café três vezes hoje, e talvez me ataque a ansiedade mais tarde. 

Penso brevemente que, como diz a música, "uma cadeira não é uma casa e uma casa não é um lar se não tem alguém te esperando lá", e talvez se ele estivesse me esperando eu tivesse um lar para retornar. Mas ele nem sabe meu nome, de onde tirei isso? Cada linha que escrevo contém tudo de mim, e ninguém nunca entende nada. Fiz rudo o que podia, agora depende apenas de sua compreensão e do seu livre arbítrio, e se você você tivesse a coragem, ou misericórdia, de me dizer as coisas com clareza...

É, nisso tudo só o que posso dizer é que o bumbum do Sarin está fenomenal.

"Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir." (Machado de Assis) 

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