quinta-feira, 11 de abril de 2024

Aforismos

Plutão, Gustave Doré

"Minha vida tem sido de eternas buscas, caçadas, atos, conversas sem sentido ou ligações. Uma vida sem sentido." Ingmar Bergman, O Sétimo Selo

Acho que estou cansado de ser o funcionário responsável que só é recompensado com mais trabalho. Depois de dias estressantes quando espero conseguir descansar, sempre aparece outra emergência, e outra, e outra, e outra. E eu nunca consigo descansar, e as minhas costas nunca param de doer e eu não consigo parar de pensar nele, do outro lado do país, enquanto eu mexo com quadros e me estresso por não conseguir descansar e só queria um abraço apertado dele, que me deixasse encostar em seu ombro, sentir o seu cheiro e chorar baixinho. 

Aquele, o que me traiu com minha melhor amiga, ainda olha minhas coisas todos os dias, será que ele realmente vê, e ainda entende como parecia entender antes, ou é mais como um hábito tosco de tem quem apenas passa publicações sem ler ou ver o que está ali?

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Gosto da sensação de, ao menos, deixar uma parte do meu corpo mais livre ao usar roupas mais leves. Sem precisar usar nada por baixo também. Posso fantasiar estar de volta com ele ali, anos atrás, e abrir as pernas, deixando aparecer por entre o tecido fino e a minha mão cheia de lascívia, segurando e friccionando meu próprio membro com rapidez, enquanto o observava com olhos famintos, mantendo-o distante com um dos pés apoiado sobre seu peito. A avulsão nívea dando então a ele espaço para que se colocasse entre minha pernas, enquanto me recompunha a respiração ele me puxaria para seu colo e colocaria aquele tecido ainda mais para o lado, antes de me penetrar com raiva e força.

E agora, quando na madrugada não consigo dormir, me consumindo entre solidão e tesão, ninguém nem mesmo responde. Que patrono invocarei diante desse castigo?

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Preciso de um abraço, necessito na verdade. Não é apenas carência ou a minha habitual expressão de um vazio afetivo, de um locus emocional ou algo assim, trata-se de uma vontade real, premente, profunda e quase palpável, como se o vazio dentro de mim por alguns instantes se tornasse tangível de modo a comprimir meus pulmões, fazendo-me arfar, em suspiros profundos de amor, em ânsias inflamado, como se ele pudesse crescer e aumentar mais e mais até me consumir por completo, até desaparecer comigo, até me fazer sumir num abismo escuro, profundo, frio, distante, vazio. Preciso de um abraço.

Algumas pessoas até percebem que estou cansado, é claro, o semblante está visivelmente abatido, o cansaço já é bem mais do que qualquer outro poderia aguentar. Mas ainda assim elas se recusam a permitir que eu descanse. É como se me dissessem claramente "eu sei que você está no limite, mas preciso que quebre esse limite e continue servindo até que não tenha mais serventia nenhuma." Sério, se elas dissessem isso claramente eu não iria me surpreender. 

E eu queria justamente evitar coisas desse tipo, evitar que elas se acumulassem, evitar que houvesse mais para fazer do que forças para executar. Mas foi em vão. É sempre tudo em vão. Uma amiga disse que talvez eu tenha aprendido a sempre guardar tudo numa bolsa e padecer em doses homeopáticas. Eu já estava muito cansado e já tinha me preparado pra apagar de sono quando ela disse isso então eu não sei se entendi, mas acho que ela tem toda razão. 

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Às vezes acho que as pessoas têm um certo prazer sádico em me torturar. Elas me vêem nitidamente cansado e abatido, me perguntam e eu digo que estou cansado e abatido e que não aguento mais reuniões e reuniões e comissões e tudo isso, e aí então elas se compadecem, e dizem que preciso me cuidar, que ainda sou novo e não posso me entregar assim e nem viver descontroladamente. E então na frase seguinte elas me chamam para reuniões e comissões e reuniões de emergência e perguntas intermináveis e cobranças onde eu, e apenas eu, vou ficar tão cansado a ponto de qualquer um que me olhar vai dizer que estou cansado e abatido, e por estar cansado e abatido eu sequer tenho forças pra recusar.

"Se todo animal inspira ternura, o que houve então, com os homens?" (João Guimarães Rosa)

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Ele não parece ter notado muito a minha presença, mas sim meus olhares, e eu admito que o olhei por ser uma figura peculiar. Ao mesmo tempo ele se apresenta uma figura delicada e viril, o que me deixou confuso. Não foram as tatuagens e nem os brincos, tampouco o ar sonolento num dia ou desperto noutro, foi alguma coisa no seu semblante, algo que me fez ter essas duas impressões ao mesmo tempo. Uma figura delicada, sensível, com um olhar feroz, assustador, que me faz desviar sempre que percebe que estou encarando-o. E achei meio mágico poder encostar nele, por uns breves instantes que fossem, e ele não tirou o braço de perto de mim. Apenas logo o ônibs chegou ao terminal e eu rapidamente levantei para descer.  Será um longo dia. 

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Eu te amo, mesmo que você não dê a mínima pra isso. 

Eu devia ficar quieto quanto a isso. E mesmo que se desculpe, não tendo culpa alguma dos sentimentos que eu projetei em ti, ainda me dói muito. E nem mesmo tempo ou espaço para chorar eu tenho, senão que preciso suportar.

Preciso.

Mas até quando vou suportar?

E então eu encosto a minha cabeça na parede ao lado da minha mesa no escritório, fecho os olhos e me concentro numa parte dos Lamentos do Profeta Jeremias de Lassus, e então sinto o mundo girar, o meu corpo protestar e me sinto enjoado. Está acontecendo de novo, eu não posso acreditar, essa ebriedade maldita de um sentimento tão profundo e que me levou à loucura daquela vez, anos atrás, com aquele homem que ria de mim e que queria que eu fosse amigo da mulher que me machucava. Eu estou sentindo aquela dor, a pior de todas, a que me dilacerou a ponto de desistir de qualquer perspectiva de sonho ou futuro, a que me destruiu de tal modo que já não se pode dizer que sou mais do que uma casca seca, vazia, e se havia algo ainda em mim, agora não há mais. 

agora não há mais.

E vida que segue.

e segue

e segue.

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