Resolvi tentar esclarecer a minha cabeça traçando uma
espécie de panorama do meu estado emocional e afetivo. Sim, por há diferenças
entre eles. O meu lado afetivo se refere ao meu apego, a minha carência, em
resumo, se refere ao modo como eu me relaciono com os meninos. Já o meu lado
emocional se refere a forma como eu reajo a tudo isso. Simplificando, o lado
afetivo se refere ao que eu faço por sentir, e o emocional ao que eu sinto de
verdade.
Acompanha-me nessa noite a Sinfonia N° 4 de Anton Bruckner, também
chamanda de "Romântica" e também a Sinfonia N° 9 em Dm, como uma
forma de buscar inspirações para as palavras que agora derramo sobre essas
páginas. Escolhi a primeira pela em particular pelo título, pois já não me
recordava de muitos detalhes sobre ela, e como romance remete a afetividade,
achei que seria uma boa conexão.
Sem mais delongas, portanto, vamos ao que nos interessa: o
meu atual estado emocional que se encontra em quadro de calamidade pública.
Creio eu já estar quase sento interditado pela defesa civil como patrimônio
histórico nacional. Já que ninguém me quis, talvez sirva pra ficar exposto num
museu de arte contemporânea de péssimo gosto.
Há alguns dias resolvi sentar e organizar os meus
sentimentos, e o fiz da forma mais didática possível, com papel e caneta.
Coloquei nomes, sentimentos e impressões que me incomodam atualmente, com o
objetivo de buscar, observando o panorama completo, uma possível saída para o
labirinto emocional onde me perdi.
Vários nomes surgiam naturalmente de mim, e vários e vários
sentimentos vinham com eles, tão distintos em formas, origens e forças que me
mostraram o quão complexo e cheio de cores eu sou, ainda que infelizmente nos
últimos dias apenas consiga observar o cinza melancólico da chuva que cai e
agrida a minha pele com poderosas gotas de sinceridade.
Cada uma dessas gotas, ao tocar minha pele quente trazia
consigo uma parcela da verdade que meu coração se recusa a aceitar.
Tragicamente o meu coração foi se enrijecendo e congelando, mas não sem antes
derramar-se em grossas e pesadas lágrimas que se uniam as da chuva a cair por
sobre mim.
Como disse, anteriormente muitos nomes surgiram em minha
mente, e me demorei em conseguir organizar cada um deles. Não por ordem
cronológica ou de importância, mas apenas uma organização que me permitisse
observar o problema de fora, para adquirir perspectiva.
I
O primeiro nome que me surgiu é com efeito o último que
conheci, e talvez seja um dos que mais tenho lutado para evitar.
Tenho uma grande fragilidade para me apaixonar por rapazes
mais novos, e esse eu conheci numa das muitas reuniões da igreja. Comecei a
observá-lo de longe, com medo de me aproximar, já que meu jeito agressivo
costuma assustar aqueles que pouco me conhecem.
Busquei primeiramente uma aproximação virtual, que se
mostrou desastrosa. Temia pela aproximação pessoal, já que nada temos em comum.
Ele gosta de futebol, eu nem sequer sei diferenciar um pênalti de um zagueiro,
logo não teria como me aproximar sem parecer um tarado, ou um tremendo idiota.
Consegui então o mínimo de aproximação quando ele começou a
participar mais ativamente de um os grupos da igreja que eu frequentava.
Percebi então que havíamos julgado mau um ao outro. Ele se mostrou educado,
prestativo e atencioso, coisas que admiro profundamente. E como ele é lindo...
Olhos claros, cabelos dourados, pele clara e sorriso tímido... O retrato de um
silfo perfeito.
Mas acontecimentos recentes cortaram nossa convivência, logo
o que poderia vir a ser alguma coisa, não poderá se tornar mais nada. E eu
lamento, pois toda vez que vejo uma foto sequer dele na internet, o meu coração
bate mais aceleradamente e eu tenho estranhos impulsos de querer me
aproximar cada vez mais dele.
O amor por sua beleza encantadora, por seu charme
particular, por sua presença doce e meiga, e pelo jeito tímido que ele tem de
levar a vida.
II
Uma história antiga, cujo final deveras infeliz ainda queima
nas cicatrizes de meu peito. Foi àquela amizade perdida, que por conta do meu
pecado se foi para nunca mais voltar.
Quando penso nele ainda me recordo com clareza de ideias os
momentos bons que passamos juntos. Os sorrisos, as brincadeiras, os passeios,
as longas conversas sobre quaisquer assuntos... Bons tempos que não voltam
mais.
Quando penso nele, me recordo ainda dos momentos difíceis
que culminaram na nossa situação atual. Com muita dor e arrependimento me
lembro das minhas investidas pesadas, de meus argumentos insistentes, que
desgastaram o delicado cristal de nossa amizade, quebrando-o ao chão.
Ao chão.
Sempre que penso em tudo o que fiz, e em como fui ignorante
em sacrificar minha amizade em troca de prazeres temporários eu me sinto como
lançado na lama.
Toda ação gera uma reação.
Eu agi de forma egoísta, desejando meu amigo, e como reação
eu o perdi. E ainda hoje eu vejo suas fotos e recordo de nossos momentos juntos
com pesar, em luto por algo tão belo que morreu. Declarei-me mas não fui
correspondido.
O amo pela forte amizade que construímos juntos, amizade
esta de grandiosa importância para mim, e que abandonei por colocar meus
instintos em primeiro lugar,
III
Os dois próximos têm em si histórias semelhantes. Com nenhum
deles ouve uma aproximação real, apenas virtual, mas nem por isso o sentimento
que por eles eu alimento é menor. Muito pelo contrário, me tiram o sono como
qualquer outro.
Este eu conheci visitando uma capela próxima. Nunca tinha
ido ate aquele lugar, mas fiquei encantado com a doce beleza de um jovem que
ficou a minha frente. Logo consegui com um amigo o contato para que o
conhecesse melhor.
Com o tempo começamos a conversar, e ele se mostrou
extremamente carinhoso e atencioso, além de um apaixonado por História. Despertou
rapidamente o meu lado carente, que na época se encontrava abalado por várias
questões que não caberiam aqui.
Em poucas semanas eu me vi apaixonado por ele, e em poucas
semanas me veio a confirmação de que tudo não passou de outro devaneio
exagerado da minha mente distorcida. Fui dispensado após me declarar.
Ainda hoje, quando o vejo, me perco em seu olhar simples, e
em seu sorriso fofo. É um retrato da mais perfeita beleza. Me estreme da cabeça
aos pés e me perturba a alma de tal maneira que me tira o sono.
Sonho um dia poder sentar com ele, a sós, e conversar sobre
qualquer aleatoriedade, apenas para poder ouvir sua voz e me divertir com seu
senso de humor sagaz... Apenas para, por alguns instantes, conseguir olhar em
seus olhos sem culpa...
O amor por sua atenção, pelo carinho e pelo jeito doce de
ser, sem contar a beleza quase sobrenatural que emana de sua presença.
IV
Meu peixinho. Rapaz tímido, de sorriso sincero e
personalidade doce. É um menino normal, e ao mesmo tempo não é. Gosta de
futebol, filmes de carros e de mulheres bonitas, mas ao mesmo tempo tem em si
uma característica que não sei precisar em palavras... Ele não é como os
outros, não se comporta como um desesperado sexual, pronto a devorar toda e
qualquer menina que lhe apareça. E olha que não são poucas.
Conhecemos-nos apresentados por um amigo, e eu logo comecei
a me aproximar. Sua doçura, educação, atenção, e os constantes corações em
emojis me levaram a confusão. Declarei-me mas não fui correspondido.
Uma semana foi suficiente para eu me entregar a ele
completamente, E ainda hoje tento me livrar desse amor.
Afastei-me dele quase que completamente, para evitar
possíveis ilusões, e hoje pouco conversamos, pois qualquer contato desperta em
mim uma erupção de sentimentos inflamáveis.
Eu o amo, pois me encantei com seus trejeitos fofos, com sua
personalidade meiga e por sua atenção, coisas raras nos dias de hoje, Seus
belos olhos, sorriso encantador, Ainda que a maiorias das pessoas discorde, eu
o vejo como um dos homens mais belos que conheço.
V
Este foi, e vem sendo, um dos meus maiores desafios a
superar.
Não há necessidade de me alongar em descrições pois já
escrevi várias e várias páginas sobre ele. Apenas um amigo por quem nutri um
sentimento exagerado e que evoluiu para uma paixão doentia que beira os limites
da sociopatia. Declarei-me mas não fui correspondido.
Ele foi pra longe, e penso que o incômodo de minha amizade
tenha sido um dos fatores decisivos em sua decisão. Ele se foi, e nem o contato
virtual temos mais.
Percebi depois de tudo isso que eu nunca fui importante para
ele, e as palavras de amor que me dirigiu foram apenas para me consolar
temporariamente. E são essas as palavras que hoje mais ferem o meu coração,
como uma espada fria a em atravessar a alma.
O amor que sinto por ele é maior do que qualquer outra coisa
que já tenha sentido. É de uma força avassaladora, destrutiva, e me põe em
estado de calamidade apenas com o vislumbrar de uma foto, quanto mais de um
encontro pessoal.
O afastamento físico aumentou o afetivo, e se ontem ele
dizia me amar, hoje somos completamente estranhos.
E há ainda feridas que demoram a cicatrizar, como o fato de
ele ter se esquecido de uma importante reunião, onde precisava de seu apoio, e
que ele não apareceu, sendo que dias atrás ele compareceu ao batismo de sua
peguete, para o qual tinha sido convidado muitos meses antes. Recordou-se dela,
mas não de mim. Penso que nunca conseguirei perdoá-lo por isso, por cada vez
que me recordo desse dia, meu coração sangra copiosamente.
Não sei dizer o motivo de amá-lo, mas o amo, com todas as
minhas forças, e não há um só dia que eu não tente deixar de amá-lo.
VI
O último, mas porém não menos importante, tem sido meu
desafio mais atual.
Conhecido de longa data, sempre pensei que nada tínhamos em
comum, e por anos sequer conversávamos. No entanto, comecei a notar que
tínhamos algumas coisas em comum: o amor pela Santa Igreja.
Decidi então me aproximar, afinal sempre gostei de conversar
com pessoas que tem uma visão parecida com a minha.
Nesse aproximar, passava por um momento de dificuldade, e
ele me ajudou sem nem perceber, inclusive me proveito próprio, mas já falei
sobre isso em outra ocasião.
Comecei a notar uma crescente admiração, que logo se
transformou em algo mais. E hoje eu o amo, com todas as letras.
Nosso relacionamento, no entanto é quase inexistente,
excetuando os abraços esporádicos nas missas ou conversas aleatórias no
WhatsApp. Sobre essas últimas, eu tenho evitado parecer exagerado, mas falhei
miseravelmente em todas as tentativas. Se me demoro a chamar, ele me chama, mas
logo desaparece, sendo uma pessoa bem ocupada, o que eu entendo, mas nem por
isso deixa de me incomodar.
Incômodo.
Às vezes tenho a impressão de que para ele, sou apenas um
incômodo, e me entristece pensar assim do amor que eu alimento por ele...
~
Toda essa confusão gerou em mim um grande conflito interno,
onde, numa alegoria, percebi a existência de dois mundos no meu universo
particular, o universo de minha mente.
Meu universo... Dividem-se em dois reinos. Meu primeiro
mundo é branco e rosado, é pacifico e alegre. Nele o sol não abrasa a pele, mas
apenas aquece delicadamente o coração. A brisa é fresca e as paisagens são
belas e deslumbrantes. Nele nunca nos enjoamos de olhar para esse ou aquele
lugar. nesse mundo as pessoas se entendem e se compreendem, e sabem se amar.
Dividem umas com as outras suas alegrias e fadigas e nele não há leis, não são
necessárias. O amor faz com que todos se amem e se respeitem mutuamente. Nele
eu vivo feliz, a contemplar o céu ao lado do meu amado, em longas caminhadas
pela orla dos mares, ao som de delicados violinos junto as ondas do mar.
No
outro reino impera o caos. Nele não há compreensão, e também não há regras, as
pessoas vivem apenas para buscar a própria felicidade e usam dos sentimentos
dos outros para se enriquecerem. É um lugar triste, frio, não há cor, nem
calor, e nem sequer as estrelas brilham na escuridão eterna, tudo o que sente é
frio e vazio, e uma angustia interminável...
Como senhor desse universo eu não tenho poder de criar e nem
destruir, apenas vivo como um observador, vagando entre essas duas realidades
por toda a eternidade... Sem destino, sem saída, sem amor.