domingo, 2 de abril de 2017

Idílio

Que decisão eu devo tomar? 

Qual o próximo passo que eu devo dar? 

Será que devo dar algum ou apenas ficar parado? 

...

Como sempre eu não consigo interpretar os sinais, os seus sinais, e nem sequer consigo afirmar com certeza se de fato são sinais... 

Prometi a mim mesmo que não mais falaria com você, somente caso me procurasse, e achei que isso aconteceria logo, já que você passou a vir aqui em casa novamente, muito embora tenha sido contragosto, eu logo o descobri. Então esse foi o primeiro sinal que interpretei errado.

Depois houveram os pequenos cumprimentos. Mera formalidade ou uma tímida tentativa de reaproximação? Na época eu não sabia ao certo. Não, minto! Sabia sim, pelos seus olhos, olhos frios. Sabia e fingia não saber. Não era mera formalidade, mas tampouco alguma tentativa de reaproximação. Era um engodo, para que não pensassem nada, para que não estranhassem que bons amigos agora sequer se falam. Este foi o segundo sinal.

Você buscou uma reaproximação visual nas redes sociais, muito provavelmente pelo mesmo motivo que as vezes me cumprimenta em público. Mas este não é um sinal que interpretarei errado, não mais!

O único sinal que verdadeiramente trata-se de uma mensagem clara e inquestionável é o seu silêncio mortal. Ele me diz "fique longe de mim" e "estou melhor ser você por perto." E penso que você esteja coberto de razão. 

Você está melhor sem mim. Sua vida é melhor sem mim. O mundo seria um lugar melhor sem mim. É mais fácil assim, mas agradável não é? Poder ser você mesmo, ou quem você quer que as pessoas vejam, sem precisar se preocupar com as minhas constantes paranoias a te perturbar. 

Hoje, nesta tarde abafada e tediosa, eu penso sobre como joguei tudo aquilo no lixo. Minha esperança viu que havia uma minúscula chance de você me querer, e agarrado a essa pequena oportunidade eu mergulhei de cabeça num tanque vazio. E o resultado foram as feridas que dali eu recebi. 

Ainda penso em você, o que é tremendamente óbvio pois estou a escrever essa carta, e mesmo sabendo que você não vai ler, ou do contrário me acharia louco, ainda gosto de aqui expor o que sinto, mas que não posso dizer. Pois como você mesmo me disse "você pode sentir, mas não precisa dizer."

Talvez nunca tenha dito isso aqui, mas essas palavras me cortaram como uma lâmina fria, e perfuraram a minha alma. Essa é uma ferida que, acredito eu, nunca irá cicatrizar. Nunca. E quando penso nessa ferida eu mergulho num oceano de dor, rodopiando por águas impetuosas, entrando em desespero.

Tem alguma ideia da força que preciso imprimir para não me jogar aos seus pés cada vez que o vejo? Minha vontade era de gritar implorando perdão. Mas que bem faria isso? Você se zangaria, eu seria considerado louco. 

Dizem então que é melhor pedir perdão por atos, ao invés de palavras, e por isso eu respeitei o seu silêncio. Como não respeitei suas palavras antes, agora eu o faço, sob o peso do seu olhar gélido. 

Perdão, meu amigo, perdão!

Sei que já não tenho mais o direito de chamar-lhe assim, mas o faço, em consideração aqueles bons momentos que hoje estão sepultados em nossas memórias e lembranças. 

O frio do mar ainda me assusta, mas começo a me acostumar com ele. Talvez algum dia o sol possa aquecê-lo como você constantemente fazia com meu coração. Lembra-se disso? Sempre comparei o tom dourado de sua pele com a luz dourada do sol, e da mesma forma como este aquece meu corpo, você aquecia meu coração. Acho que não tem como se lembrar, nunca lhe disse isso. São apenas devaneios que me surgem ao contemplar sua imagem pintada pelas ninfas em minha alma. 

Ainda que os pergaminhos da história de nossa amizade tenham sido guardados no fundo da grande biblioteca de nossas mentes, a tela onde brilha sua pele e seus olhos continua pendurada na entrada da minha morada interior. E ao contrário da realidade, ela ainda traz o brilho e as cores de uma época que não existe mais. Passou, deixando apenas as profundas pinceladas de uma delicada aquarela, de uma delicada amizade que se foi. 

Nos dias nublados ainda gosto de vir aqui, e ficar no escuro, sendo a única luz aquela que provém de sua pele de sol a me iluminar. E quase sinto novamente aquele mesmo calor vibrante aquecendo meu coração, mas é apenas um devaneio meu, não poderia ser, seu coração se encontra agora distante, em todos os sentidos...

Permita-me deter-me aqui mais um instante, a contemplar tal idílica visão, enquanto as pessoas correm no mundo lá fora, e eu me detenho aqui, a tentar tocar seu coração... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário