sexta-feira, 28 de abril de 2017

Silfo

A vida tem mania de surpreender as pessoas, e gosto de observar as mudanças na vida dos que me rodeiam. Acho bonito vem as pessoas encontrarem o amor, por exemplo, nos lugares e nas pessoas mais inesperadas, e acho ainda mais bonito ver os diferentes lutarem por esse amor, é belo ver a força que esse sentimento dá as pessoas...

O mundo está repleto portanto de incontáveis histórias de amor, amores impossíveis, improváveis... Algumas que nos ensinam a nunca desistir, a lutar, a persistir e acreditar... Algumas que nos mostram que nem a morte é capaz de vencer o amor, e outras nos ensinam ainda que apenas uma coisa é capaz desfazer o amor: a frieza do coração do homem.

Quando um homem se entrega de corpo e alma a alguém que não lhe ama, acaba por lançar ao vento as pétalas de uma rosa que nunca mais voltará a crescer, nunca mais tornará a desabrochar. A roseira pode até fazer nascer outras, mas nenhuma será como aquela, pois o que torna aquela rosa única é o amor que ela representa. 

Podemos amar outras pessoas? Certamente que sim, mas nunca será o mesmo amor que tivemos por um outro alguém. Por isso digo que cada amor é único, pode se esfriar, ou ficar mais forte, cristalizar, mas nunca se repetirá. 

É uma dor terrível notar então os amores dedicados e não correspondidos. Quantas pessoas jogam fora grandes oportunidades de serem felizes apenas porque não dão aqueles que a cercam a chance de as fazer felizes. E quando se tornam infelizes, amaldiçoam o amor, o mesmo que elas rejeitaram naquelas pessoas.

Posso dizer isso apenas pelo fato de nunca ter sido correspondido em nenhum amor, mesmo tendo esse amor como prioridade em minha vida. 

Mais uma vez recorro a alegoria do jarro para tentar exemplificar melhor o amor não correspondido dos nossos dias...

Num lugar de difícil acesso, fora de uma pequena cidadela, há uma belíssima fonte, donde jorra água fresca, de uma pureza e limpidez únicas no mundo. A água que dali flui sem parar tão cristalina quanto o olhar de uma criança a brincar na saia de sua mãe.

Perto dali, na cidadela, os cidadãos trabalham sob o sol quente a lhes queimar a cabeça diariamente, e apenas se deleitam em pensar na água fresca que lhes aguarda após o longo dia. As mulheres se aproximam da fonte, a fim de pegar a água numa jarra de prata e colocá-la em talhas para então levar a cidadela.

Como sabem que aquela é a melhor fonte que poderia haver, os cidadãos combinaram de usar apenas aquela jarra de prata para retirar a água da fonte, e esta seria depositada também apenas em recipientes de prata. O cuidado para com ela era tão grande que uma lenda logo se espalhou pela região, de que a fonte seria abençoada e que podia até mesmo recobrar a saúde dos inválidos. 

O silfo que era guardião daquela fonte se orgulhava de ter criado a mais bela de todas as fontes, e fazia com sua magia fluir dali uma água realmente maravilhosa, que tornava melhor a vida de todos quanto a bebiam. Muito orgulhoso, quanto mais devoção os habitantes demonstravam a fonte, mais ele fazia dali brotar água.

Um certo dia no entanto uma jovem nervosa se aproximou da fonte, mas não trazia consigo o recipiente de prata, mas apenas uma talha de barro, a qual ela logo pôs-se a encher com a água. O silfo ao ver sua fonte sendo tão destratada daquela maneira se entristeceu e começou a chorar, e tão logo suas lágrimas caíram na água ela se tornou escura, podre, e já não servia mais para beber, e muito menos curaria qualquer doença.

Morto de tristeza, o corpo do pequeno silfo se tornou poeira, e a fonte se tornou apenas um lamaçal malcheiroso. Sendo aquela a única fonte de água da região, logo todos os habitantes morreram de sede, ou foram para terras distantes. 

Assim é o amor daqueles que amam com intensidade. Não adianta derramar a mais pura água numa talha suja, pois ela irá corromper a água. 

Nosso amor não pode ser desperdiçado com todos dessa maneira, sem escrúpulos, pois corremos o risco de acabarmos destruindo a fonte desse mesmo amor...

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