terça-feira, 18 de abril de 2017

Brilho de foice

Algumas vezes precisamos dizer coisas que ficam entaladas em nós, como a feijoada de domingo que no calor do momento não caiu muito bem com aquela cerveja quente e barata comprada de última hora na esquina. E algumas vezes comer exageradamente é uma ideia ainda melhor do que investir em coisas que dariam resultados ainda mais desastrosos.

Estamos tomando decisões erradas em todos os momentos de nossa vida. Acredito veementemente que tomar decisões erradas esteja incluso no DNA humano, ou algo do tipo, mas as vezes eu me surpreendo com minha própria capacidade me autossabotar (palavra feia pra caramba de com dois "s" depois do acordo ortográfico dos países lusófonos, mas ok). 

Nos gloriamos em rir dos animais que caem nas mais óbvias armadilhas, mas eu sou pior do que todos eles, pois eu mesmo armo as minhas armadilhas. 

Ainda ontem falava com uma amiga a respeito da minha carência exagerada e na forma como expresso essa carência através de incontáveis paixões que me resultam num cansaço psicológico extremo, e as vezes eu me assusto com minha capacidade de criar situações que nunca, em hipótese alguma, poderiam acontecer. 

Me vi sonhando acordado, sem efeito de nenhum remédio ou álcool, com um cenário imaginário, onde seria possível andar ao lado daquele guerreiro dourado. Mas nesse cenário ele não era mais um guerreiro, e sim um prícipe, vestido de dourado e branco, mais brilhante que o sol, o sorriso mais resplandecente que a neve e o olhar mais cintilante que o azul do mar. Caminhava ao meu lado, sorria comigo e para mim. Estava comigo. 

Estava comigo. 

Estava comigo?

Não, não estava comigo. 

Não estava ali.

Estava a faculdade, ou no caminho para casa, não importa, mas não estava ali, não estava comigo. No meu sonho acordado aquele era um cenário ideal, mas não passou de um devaneio inocente, nada mais...

Foi bom imaginar que ele poderia me querer por perto, como namorado, e apresentar para os meus pais e amigos, e ali ficarmos sorrindo juntos, sendo felizes juntos...

Juntos...

Felizes...

Feliz.

Feliz.

Feliz?

Mas isso não poderia ser verdade. Pois não aconteceu, e nem vai. Ele mal pensa em mim como amigo, no máximo um conhecido grudento e muito chato, quem dirá como namorado... 

Então isso não foi apenas um devaneio inocente, foi sim um devaneio, mas muito, muito perigoso.

Esse tipo de sonho é traiçoeiro, pois nos leva aos braços de uma miragem, de uma ilusão covarde, que nos ilude para nos matar. Como o doce nectar da morte que atrai suas vítimas para o abatedouro. 

Minha mente é minha maior inimiga. Me faz voar pelos altos céus apenas para me atirar uma lança, perfurando-me as asas e me atirando ao chão frio, para ali morrer aos seus pés.

A beleza do guerreiro dourado então é na verdade o brilho da foice da morte, que logo recairá sobre o meu pescoço seco.

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