terça-feira, 18 de abril de 2017

Contradições íntimas

A cabeça vai, se liberta, viaja e o corpo, fica. Ou o inverso. 

Um deseja o mundo, o outro deseja a morte. Um deseja a vida, o outro o sono. 

Pela manhã queria dormir, a tarde queria construir casas para os pobres, a noite quero morrer. 

Ontem queria amar. Hoje quero ser amado. Amanhã desejarei ser possuído.

Nunca constante, nunca o mesmo, nunca permanente. Sempre fluído, sempre mutante.

Num momento quer o azul, no outro o amarelo, volta ao azul, detesta o amarelo. 

Num momento quer o amor, no outro o torpor, volta ao amor, tenta fugir do torpor.

Mas o torpor não é como o azul, não se pode escolher o torpor, ou escolher o não torpor, pode-se apenas tentar não morrer, sufocado pelor torpor de não saber o que quer. 

As vezes com o corpo presente, a cabeça no príncipe dourado, ou no príncipe de olhos negros. 

A cabeça presente, no castelo do amado, e o corpo destruído, no chão, destroçado.

O corpo vai, se liberta, vive e a cabeça, fica. Ou o inverso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário