quinta-feira, 4 de abril de 2024

Mais uma vez

Non c’è asilo per noi, padre, nel mondo!" (Giaccomo Puccini, Turandot - Act I)

Não quero deixar que lancem sobre mim mais responsabilidades do que posso aguentar. Precisando aprender a dizer "não", a me preservar um pouco que seja. Calma, controle e calma. Uma coisa de cada vez, um dia de cada vez. Sem repetir a loucura que foi essa quaresma, sem repetir o que fizeram comigo, deixando que tudo fosse lançado em cima de mim. Eu preciso aprender a me posicionar, a me preservar. Preciso aprender a dosar o quanto me dou, ou então não sobrará mais nada a se doar. É difícil, afinal tem uma vida inteira que me habituei a agir assim. Por isso a minha insistência em ir pra outra cidade visitar aquele amigo, por isso minha insistência em não abandonar as minhas séries e assistir mesmo quando estou extremamente cansado. Por isso minha insistência em permanecer eu mesmo, já que não posso deixar de ser, como gostaria, já que não é possível voltar ao nada. 

Queria conseguir falar mais alguma coisa, mas eu percebo que nesse momento nada ocupa mais a minha mente do que a imagem dele. Nem mesmo o acólito ocupa minha atenção dessa forma, mesmo com seu sorriso doce, não, nada mais ocupa a minha mente, é como se a luz que irradia dele brilhasse mais que o sol ao meio-dia. É por isso talvez que, mesmo com todos ao meu redor insistindo no mesmo ritmo frenético, eu tenho estado até mesmo irritado com isso, porque ao falarem comigo eles me roubam a imagem dele na minha mente, e isso é imperdoável. 

X

Será que seria possível? Mesmo abstraindo todas as situações que tornariam inviável, aquele olhar do jovem visitante, que me fitava com olhos brilhantes, de um verde escuro e profundo mas vívido, alegre, como quem descobriu um tesouro inestimável. Dedilhou de um jeito tímido as notas da ode to joy, mas ficou feliz de poder tocar um piano de verdade, como tantas vezes imaginou nas aulas. Não lembrava de todas as notas, os braços tremiam, e tremiam as mãos quando veio me cumprimentar, sem saber o que dizer. Poderia ser aquela admiração muda um sentimento nascendo no pequeno coração daquele desconhecido por um outro desconhecido que ele dificilmente tornará a ver? Será que os sentimentos podem surgir assim, tão repentinamente que fariam brilhar os olhos como a uma criança que vê um brinquedo novo e encantador como se fosse o melhor de todos os tesouros? Será que daria poderia nascer um amor?

X

Não há problema em me preocupar não é mesmo? Ou em não me contar nada. Está tudo bem, eu sou sempre aquele que releva, que deixa passar tudo, mesmo quando me machuca. Eu sou sempre o idiota que se magoa pra tentar ajudar os outros, principalmente quem eu amo, e o que sempre recebo em troca? Silêncio, é sempre assim. Eu realmente não sou nada para ninguém. 

Criatura desprezível! Não sou nada! Meu amor é nada! Não importa o quanto tente, o quanto me esforce, o quanto me dedique, o quanto me doe, nada importa. Eu olho ao meu redor e continuo sozinho. Sim, sozinho, isso mesmo, porque todos fazem questão de mostrar que não caminho aos seus lados, tamanho desprezo sentem pela minha presença e minha figura. Já não sou mais homem? Me tornei tão horrendo que a minha presença se tornou motivo de nojo aos outros? É o que parece. As palavras de carinho que me tenho são vazias de significado: é na noite, onde minh'alma busca aquele por quem clama, que percebo que, em verdade, estou sozinho, e tudo que tenho em resposta é o silêncio. Brutal, ensurdecedor e, acima de tudo, 

indiferente. 

É isso que é estar sozinho. 

Sozinho. 

Sozinho!

Entende a força dessa palavra? Mas a quem pergunto isto se estou cá eu mais uma vez, como sempre estive, sozinho?

X

"O que sou eu nos olhos da maioria – uma nulidade ou um homem excêntrico ou desagradável – alguém que não tem uma situação na sociedade e que não terá; enfim, um pouco menos que nada." (Vincent van Gogh)

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