terça-feira, 10 de agosto de 2021

Shiva

Fui tolo, por crer que seria pra sempre, mas a verdade é que eu simplesmente não queria aceitar que teria um fim, que se quebraria como um cristal que não pode mais ser consertado. As coisas são assim, tudo tem um fim e as relações humanas, antes de serem exceção, personificam essa mudança, pois estamos em constante transformação. 

Conhecemos novas pessoas, e as antigas vão ficando no passado, como uma folha seca esquecida naquele livro que nunca mais abrimos. Vamos nos decepcionamos, e as palavras vão se turvando como a superfície da água. É tolice esperar que as coisas serão sempre iguais, antes disso, é certo abraçar a mudança, pois é a única constância sob a qual a realidade se dá. Tudo o mais é passageiro, mutável, o eterno domínio de Shiva, destruindo e reconstruindo, eternamente transformando. 

Ó constante mudança, que a tudo transformais, como a lua se modificando e guiando a nossa sorte mutável em sua grandiosa roda da fortuna, quem haverá de desafiar a sua força cósmica que a todo universo muda com um único suspiro? Que podemos fazer senão nos curvar ante seu poder, que outro patrono poderá nos socorrer?

Tantas vezes morto, 
lutando para renascer, 
preso em minhas próprias cinzas, 
pouco a pouco me reerguendo, 
apenas para ser novamente destruído,
desfeito em miríades de pedaços.

A cada lança que me perfura os olhos de meus inimigos brilham como brilharam os de meus amigos um dia, não precisam se esforçar pois a eles eu dei as minhas costas, confiando minha retaguarda e tendo meu coração transpassado pelo aço frio que rasga meu músculo cardíaco como se não fosse nada. 

Depois que consigo me reerguer eu olho para o céu azul, e vejo a espada do destino ser lançada uma vez mais contra mim, novamente o ciclo sem fim, a ira do deus antigo que perdura sobre minha existência sem chance de que contra ela eu me manifeste. 

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