sábado, 7 de agosto de 2021

Idem Velle

Como não sentir-se traído, quando o seus juntam-se aqueles que simbolizam tudo aquilo que de mais profundo abomino na existência: a simples vivência das paixões mais superficiais da carne em detrimento de todo e qualquer valor moral, o prazer acima de tudo que se possa considerar bom, justo e verdadeiro?

É aqui que uma vez mais se aplica a definição escolástica de amizade “Idem Velle, Idem Nolle” em que se buscam e detestam as mesmas coisas, e é exatamente por isso, por não achar par e por ser somente golpeado pelas costas com um punhal de prata, onde se leem as palavras mais frias da traição. Aqui não há lugar para mim. 

Non c’è asilo per noi, padre, nel mondo!

Resolvi retomar uma antiga história, que me aquece o coração sempre que penso nela, mas o amargo que sinto em minha boca foi maior e eu agora me vejo de volta ao meu quarto, envolto a escuridão, já sentindo os fantasmas pedirem por meu sangue. Se tivessem pensado em mim um instante sequer jamais teriam aquela festa, jamais teriam feito tamanho gesto de traição, e sequer consigo encontrar outra palavra, tamanha a dor e a fúria que consomem o meu peito e me sobem a garganta como se tivesse engolido achotes em brasa, numa ânsia análoga a ânsia de um cardíaco. 

I'll never love again. 
My world is ending.

Só posso me refugiar, até o dia de minha partida. Se aproxima, lenta, o dia em que finalmente poderei ir ao outro lado do país, e a cada dia sinto que essa é a decisão certa, já não há mais nada pra mim aqui, o pouco que tinha fizeram questão de tirar. Só consigo sentir agora a dor do que me foi tirado, como se fosse parte de minha própria carne, violentamente rasgada por um cutelo pouco afiado. O aço frio me transpassa o coração, as lagrimas não são quentes, mas refletem a frialdade em que se encontra meu coração no silêncio desse momento, como se eu mesmo fosse apenas um corpo frio. 

Só o que sei é que não há verdade nessas relações. Há apenas a busca animalesca por prazer. A verdade fica escondida, longe da luz dos homens que se escondem na caverna de profundas monstruosidades. Não há verdade. Ou melhor, há uma verdade inconveniente para ser dita então ela é aceita apenas em silêncio...

Devo me cortar? Dormir? Fingir que não estou sentindo nada quando estou espumando de raiva? E eu agora que farei? Só posso esperar pelo dia que, alçado voo pelo céu azul eu jure por mim mesmo que nunca voltarei a essa terra maldita onde só tive infelicidade, esperando esquecer até mesmo da poeira daqui. 

It all returns to nothing...

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