domingo, 25 de julho de 2021

Noite de Domingo

Há algo no domingo à noite que me assusta, desde a tenra infância. Desde que era pequeno, e já conseguir notar a diferença entre os dias da semana, eu me lembro de um medo, de algo me atingir na tarde de domingo e me levar para cama com um sentimento profundo de medo, por vezes beirando o desespero, me apertando o peito como uma fera prestes a me devorar, que agora uiva por entre as vinhetas do Fantástico.

Há algo na incerteza de uma nova semana, na mudança mais drástica no dia a dia que se mantém na programação televisiva de sábado, no trabalho que geralmente só aos domingos encontra descanso. Não sei dizer o que é mas a noite de domingo me assusta, me deprime, me afoga em incerteza e me faz querer desaparecer, não cedendo nem mesmo as risadas de uma série ou filme mais familiar, antes disso, se travestindo nas coisas que amo para me deixar com um gosto amargo na boca que me lembra a mesma sensação de ter visto a morte de perto por entra os prantos de alguma exéquias, só achando conforto naqueles dias que estava ocupado demais para prestar atenção a esse demônio que, no entanto, sempre esteve em meus ombros.

A solidão desse sentimento difícil de descrever é apavorante. Todos parecem amar o domingo e eu sinto medo dele. Todos parecem se divertir, seja em seus jogos ou festas e eu só penso no quanto sinto medo, de tudo, por parar pra pensar numa tarde de domingo que não tem aquele rosa riscando o céu, mas que é apenas de uma escuridão medonha, que deixa ainda mais claro que alguém me quer morto, destroçado após o anoitecer do primeiro dia da semana. 

Isso porque algumas coisas nunca mudam. Os meninos não olhavam pra mim antes e os homens não olham agora. Eu era infeliz antes e continuo triste, medroso e infeliz agora. Nada mudou, apenas os anos passaram mas o medo que me consome ainda permanece o mesmo, e o fato de ninguém entender também. Continuo sozinho e desesperado, sem nem mesmo entender a razão por trás de toda essa escuridão. Que posso fazer além de esperar, que seja finalmente devorado ou que alguém venha em meu socorro? Que posso mais fazer além de esperar, pelo meu fim ou pelo medo do próximo domingo? 

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