terça-feira, 3 de abril de 2018

Vinho e veneno

Não consigo me alegrar com a proximidade dos dois. É como se a simples amizade deles fosse um punhal incandescente transpassando o meu ser e me partindo em pedaços. A ponderação da possibilidade de que ambos se relacionem é um anuviar dos meus dias mais claros e certamente representa o meu maior medo. 

O desespero tem tomado conta de mim mais do qualquer coisa nos últimos dias, e a constatação de que ao final de tudo isso me restará apenas a solidão primordial me consome por inteiro. O gosto de sangue e ferro me enche a boca, e a ânsia putrefata do futuro me domina como o hálito de um cardíaco. 

Sinto-me egoísta por pensar dessa forma, mas não é algo que eu queira sentira, me vem tão naturalmente como a vontade de lutar pela sobrevivência vem a alguém que se afoga no oceano de águas impetuosas. E é a este mesmo ímpeto de dor e langor que sou lançado cada vez que vejo seu olhar brilhar ao contemplar a face daquela que tanto desprezo por atrever-se a existir na mesma realidade que eu. 

Não há sequer um desfecho honroso e edificante para estas palavras que aqui despejo como a um veneno no vinho do inimigo. Há apenas isso, o meu veneno, destilado em ódio e rancor pela patética situação em que me coloquei. 

Meu sangue ferveu, e mudou-se nesse mesmo veneno que agora aqui derramo. Assim como minhas entranhas também se derramam a terra, esperando serem devorados pelos vermes, que se rirão da minha morte a contorcerem-se pelos meus cabelos, na eternidade em que eles serão felizes, e que existirei somente como um verme de rancor... 

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