sábado, 23 de junho de 2018

Queria dizer adeus

O vazio oco do meu peito foi preenchido de angústia uma vez mais. Como a lava densa ela foi se adentrando, lenta mas imparável, e consumindo o meu ser. A escuridão se aproximou como uma névoa, e extinguiu a luz que já tremeluzia aqui dentro. Restou apenas a negrura abissal do meu coração. 

As lágrimas pesadas vieram atendendo o chamado da minha voz embargada e desesperada. O choro não pôde ser contido e nem minimizado. Naquela hora como eu sofri, eu só posso dizer que naquele momento eu praticamente morri. E essa era, aliás, a única coisa que eu era capaz de desejar: a morte. 

Desejei um fim, desejei que o choro se fosse, e com ele partisse também a dor. A dor de ser sozinho, de não ter um amigo em quem confiar, de não ter um ombro para chorar, de não ser útil aos outros para assim ser amado. A dor de ser não mais do que um peso, um fardo, um ser desprezível demais para sorrir ao lado das pessoas. 

Mas a morte não veio, e mesmo depois de adormecer lentamente, os meus olhos foram obrigados a contemplar a luz do dia. Meu corpo foi obrigado a se mover contra sua vontade, e meus lábios obrigados a se contorcerem num sorriso, mascarando a minha sede pelo nada, pelo fim. 

O que seria meu fim? Não seria o fim de um herói, de um guerreiro, de um gênio, mas o fim de alguém que viveu por nada, que nada fez, que nada alcançou, que nada realizou. E ao nada finalmente retornou. 

Eu só queria poder dizer adeus, só queria que tudo isso acabasse. Que finalmente descobrisse uma razão para estar aqui, para continuar sendo obrigado a me levantar a cada dia e ver a minha cara patética no espelho, me acusando dia após dia de ser o mais imprestável dos homens sobre a terra. 

Mas isso não acaba, e todo dia é um novo dia, e eu me amaldiçoo a cada dia por ter nascido, e por ter acordado, e por continuar existindo sem um propósito, sem ser amado, sem ser importante para nada e nem ninguém. Essa vida maldita continua me aprisionando sem me dizer o que devo fazer nem para onde ir, e não me deixa partir para a frialdade da terra. 

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