terça-feira, 16 de agosto de 2016

Te amo, mas não consigo dizer isto...

"E dentro do meu peito, senti o quanto voce é importante: Te amo, mas não consigo dizer isto..."
Começando o post com um trechinho da tradução dessa musiquinha linda que eu passei o dia cantando: Nagai Aida da Kiroro. Bom, não sei dizer ao certo se tem relação, mas algumas coisas chamaram minha atenção nessa pequena frase: o fato de ela não conseguir dizer a pessoa amada que a ama...

Em nossa existência, sempre existem barreiras e empecilhos a todas as conquistas que almejamos. Em todos os aspectos de nossa vida nós nos deparamos com desafios a serem superados. Não acho que existam uma só pessoa que tenha conseguido superar tudo o que a vida lhe impôs, pois justamente enfrentar desafios é uma das condições para se estar vivo. Apenas posso dizer que existem breves momentos entre um obstáculo e outro, entre uma provação e outra, mas quase sempre, nos deparamos com uma grande e intransponível muralha em nossa frente, e é sobre essa muralha que venho refletir hoje.

Penso que todos tenham um objetivo. Talvez nem todos tenham o desejo de "serem felizes", no sentido específico da palavra, alguns apenas querem sobreviver, vingar-se, enfim, mas é certo que todos tenham um alvo a ser alcançado, ainda que esse alvo seja um mistério para todos os outros. Particularmente, não sei dizer se o meu objetivo é ser feliz. Penso que na verdade, minha única busca seja pelo amor verdadeiro, aprender a amar e ser amado. Mas, como eu já disse, antes de se alcançar todo e qualquer objetivo, deve-se primeiro superar os obstáculos que se colocam à sua frente.

Penso nesse aspecto da vida então como uma grande cidade. Sendo essa cidade a capital de uma grande nação, é sempre muito visada pelos inimigos e precisa ser então protegida, bem fortificada. O seu senhor ordena então, que se construa ao redor de toda a cidade, uma grande muralha, capaz de oferecer segurança aos seus súditos, ao seu povo. Sendo o povo de uma nação seu maior tesouro, o governante presa por cada uma de suas vidas, investindo altas quantias na formação de um exército poderoso e inteligente, capaz de vencer qualquer batalha e superar todas as adversidades. Ordena ainda que se ergam altas torres, em locais estratégicos, para evitar até mesmo a aproximação de inimigos e assim, garantir um contra-ataque mas efetivo. Ainda preocupado com possíveis ataques, o senhor daquela cidade ordena que ao redor da grande muralha, uma grande mata seja ali plantada, de forma a atrasar qualquer avanço propositalmente. Dessa forma, quem quer que tenha a intenção de atacar a cidade teria de  superar um terreno acidetado, repleto de armadilhas, uma mata densa e quase intransponível e uma grande muralha, e ainda que consiga atravessar essa muralha, logo adiante teria um exército fortemente armado, pronto a revidar qualquer ameaça contra seu povo.

Posso ter me alongado demasiadamente nessa descrição, mas penso que, em se tratando de falar dos aspectos de nossa alma, toda palavra é ainda insuficiente pra cumprir com esse objetivo. Essa cidade é a representação do nosso coração, nosso bem mais precioso, e como tal, sendo objeto de desejo de tantos inimigos, deve ser dignamente protegido e velado de todas as formas possíveis. No entanto, todo esse arsenal defensivo tem em si características boas e más, ou melhor dizendo, aspectos positvos e negativos.

Primeiramente, uma proteção significa que apenas aqueles que não podem fazer mal a cidade tem sua entrada liberada para a mesma, e o longo caminho acidentado, garante que somente aqueles que tenham retas intenções tenham a coragem suficiente e a forte decisão de chegar até aquelas portas dessa grande cidade possam adentrar os seus umbrais. Uma vez dentro dela, os poucos viajantes são recebidos com grandes banquetes e festas, pois para um povo isolado, os visitantes são sempre bem vindos. E ali, depois de superarem os desafios de uma floresta repleta de grandes armadilhas e uma muralha quase impossível de se atravessar, todos são recebidos como reis e levados até os melhores lugares que a cidade tem a oferecer. 

Significa dizer que, quando alguém alcança nosso coração pelo esforço, esse alguém cria em nós a mais alta honra, pois mostrou-se digno de morar em nossa cidade. Nem sempre falar nessas defesas significa dizer que se trata de superar nosso desinteresse, mas as vezes nossos próprios defeitos, nossos desafetos, nossas próprias caracteristicas ruins constituem essas fortificações. E ai entramos numa segunda forma de ver essas defesas.

Olhando por um outro ângulo, ter uma proteção tão grande ao redor de si pode acabar por impedindo a visita de pessoas bem intecionadas também, não só dos inimigos. E isso pode acabar por tornar a cidade solitária, e mesmo sendo uma grande cidade, se esta não mantém relações com seus vizinhos, acaba que por aniquilar-se, por sufocar-se em si mesma, com o perdão do pleonasmo. Logo, após certo tempo, a cidade seria então esquecida pelo resto do país pois, sendo de difícil acesso, nem mesmo os comerciantes se arriscam a tentar adentrar suas grandes muralhas. Por fim, a proteção acabou por se tornar a própria causa de destruição do seu povo. 

Isso acontece quando não nos damos conta daquelas coisas que fazemos que afastam os outros. Muitas vezes estamos sozinhos por simples teimosia de nossa parte em nos tornarmos pessoas mais agradáveis, ou porque estamos tão decepcionados e desgostosos com aqueles que nos decepcionaram que acabamos por descontar em todos os outros, e o que era pra ser um escudo contra inimigos acaba se tornando também um escudo contra aliados. Ai acabamos por nos fechar em nós mesmos. 

Usando então muito inapropriadamente de uma frase já bem batida, as pessoas deveriam construir pontes, ao invés de muros. Claro, estariamos mais suscetíveis a ataques, no entanto, possuir pontes ao nosso redor também significa dizer que os aliados também tem sua passagem facilitada, e como já disse, uma cidade precisa de se comunicar com suas vizinhas afim de garantir sua sobrevivência.

Falamos então das defesas que criamos dentro de nós, mas muitas vezes nós é que acabamos nos deparando com defesas que foram erguidas justamente para impedir o nosso avanço.

Creio que seja a metáfora que melhor defina o dia que tive hoje: a de estar de frente com uma grande muralha, tentando de toda forma ultrapassar o outro lado. Mas quanto mais tento, mais me dou conta de minha pequenez e de minha fraqueza. Como o grande muro das lamentações que guarda a entrada para os Elíseos e que só pode ser atravessado pelos deuses, ou por aqueles por eles autorizados. Mas a luta tem então de continuar, ainda que as vezes inconformado com o rumo que as coisas acabaram tomando, e muitas vezes tendendo a desistir, superar esses obstáculos é, como eu mesmo já disse, uma condição para estar vivo. 

Retomando então o ponto de partida do post de hoje, o trecho logo ali em cima, muitas coisas não conseguimos dizer por conta desses obstáculos que encontramos a nossa frente. Exemplo disso é a pessoa pra quem eu dizia todos os dias que amava, pessoa essa com quem hoje sequer consigo falar. Não por falta de sentimento, pois ele ainda existe, mas porque agora nos encontramos nos extremos dessa grande muralha que se ergue entre nós, e em se tratando de obstáculos, alguns servem pra nos levar ainda mais longe na vida, outros no entanto, apenas estão ali para nos recordarem constamente de nossa fraqueza. 

Suportemos então com paciência, até o dia que, desviaremos nosso olhar desse objetivo e traçaremos uma nova meta para a vida, ou até o dia que ambas as extremidades dessa muralha lutem para derrubá-la e constuir pontes em seu lugar. Até lá, continuaremos aqui, apenas de frente com essa grande muralha, que apenas afasta os corações, ao invés de permitir que eles adquiram a única proteção de fato eficaz contra os dardos inimigos: o amor!

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