sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Sozinho

Gostaria de começar a postagem dessa noite apática de sexta com dois poemas. O primeiro deles, de Aguinaldo Silva, me trouxe uma visão da solidão mais voltada para aquela cuja causa se encontra na saudade: 

Saudade é solidão acompanhada, 
é quando o amor ainda não foi embora, 
mas o amado já... 

Saudade é amar um passado que ainda não passou, 
é recusar um presente que nos machuca, 
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais... 

Saudade é o inferno dos que perderam, 
é a dor dos que ficaram para trás, 
é o gosto de morte na boca dos que continuam... 

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: 
aquela que nunca amou. 

E esse é o maior dos sofrimentos: 
não ter por quem sentir saudades, 
passar pela vida e não viver. 

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

(Aguinaldo Silva)

Sim, me sinto profundamente sozinho no momento, não só fisicamente, como afetivamente também, mas acho que culpar a saudade por isso seria demasiado injusto, por isso, o segundo poema, de Clarice Lispector, pode me ajudar nas descobertas desse sentimento de angústia que verm ferindo meu coração ultimamente:

...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

(Clarice Lispector)

Bom, decidi usar as duas obras logo no começo pra então conseguir me expressar com mais liberdade, partindo delas, e depois, deixando minha mente vagar mais livremente nesse poço de solidão que essa noite me trouxe, de forma um tanto quanto contida, é verdadem pois o cansaço já cobra de mim uma taxa demasiado pesada pra mim.

Primeiramente, que o homem é uma criatura que teme e evita a solidão a todo custo já é algo mais do que conhecido. É fato que tudo o que construimos gira em torno de evitar essa solidão, inclusive já me demorei muito sobre isso alguns dias atrás em outro texto. No entando, em há ainda alguns aspectos da solidão, mais especificamente, que devem ser abordados. 

Penso eu que, mais do que uma realidade externa, a solidão é uma dimensão interna, que se encontra arraigada no coração do homem. Já disse aqui também, dias atrás, que somos todos tão diferentes uns dos outros que nem mesmo a distãncia entre galáxias inteiras seria suficiente pra expressar essa diferença. Logo, a solidão é algo causada pelo próprio ser, sem ele ao menos perceber, e por isso causa tanta dor. Acontece que, a diferença entre as pessoas é tão grande que elas acabam por, sem querer, se isolando em seus próprios mundinhos particulares, abandonando uns aos outros cada um a própria sorte. E como essa é uma constatação difícil de se fazer. 

Como eu disse, não somos nós quem decidimos nos isolar uns dos outros. Isso tem várias causas. Uma delas pode ser uma causa natural. Fomos concebidos naturalmente semelhantes em apenas uma coisa: em sermos diferentes uns dos outros. No entanto, já não bastasse essa realidade natural, que não podemos mudar, apenas aceitar, existem ainda realidades que nos separam ainda mais uns dos outros.

Ora, se alguém não me oferece nada de edificante, ou pelo contrário, cuja preseça apenas me machuca, eu certamente me afastarei dessa pessoa. Logo, se eu penso assim, e cheguei a essa conclusão de forma tão simples e lógica, imagino que os outros também pensem dessa maneira. Então, aqueles que se afastaram de mim, e agora me vem a mente aquele grande amigo que hoje é apenas um estranho ou até mesmo o homem que um dia eu amei e que hoje sequer consigo lhe olhar nos olhos, assim o fizeram pois, ou perceberam que eu nada tinha a acrescentar a eles, ou porque perceberam que minha presença seria deveras prejudicial a eles.

Não os culpo. De fato reconheço que conviver comigo exige certa dose de paciência. Mas, não consigo deixar de me perguntar constantemente, o que devo mudar pra que as pessoas parem de afastar de mim? Será que minha personalidade é assim tão tóxica que minha presença, minha amizade, minha existência só são toleradas pelo período de tempo em que precisam de mim de alguma forma? O que tem de tão errado assim comigo? 

Pessoas agradáveis atraem outras pessoas. São como uma bela flor, cujo perfume atrai aos insetos e as aves, e assim, tal flor garante a sobrevivência de sua espécia com a polinização. Mas algumas flores são tóxicas, e atraem insetos não para se manterem vivas em outras terras, assim o fazem para tirar-lhes a vida. Será essa a resposta que procuro? De que sou na verdade uma dessas flores que apenas atraem dor e destruição para aqueles que se aproximam de mim? Será que eu sou na verdade aquele jardim de rosas diabólicas que atrai a todos com suas rosas do mais belo vermelho, mas cujo veneno mata a todos que se atrevem a entrar dentro dele? 

Possivelmente a resposta para todas essas perguntas seja um SIM, mas se assim o for, como posso fazer para melhorar e porque isso tem acontecido? Seriam as minhas constantes crises emocionais? Meu pessimismo generalizado? Ou simplesmente todo o conjunto que faz de mim uma pessoa desagradável demais pra ser tolerada por muito tempo?

Logo, a dor da saudade me causa solidão. Essa é a primeira dor. Mas falta de perspectiva também me faz sentir solitário. Como se nunca jamais fosse conseguir me entender com ninguém de fato. Como se a distância que separa a minha galáxia das outras pessoas seja maior que o normal.

Claro, estar sozinho nem sempre é ruim, mas sentir-se sozinho sim. Portanto a pior sensação é de se sentir sozinho mesmo estando rodeado de pessoas. Como se sua presença não fosse a mais importante, na verdade, como se nem sequer chegasse a ser importante. Pensando bem, talvez eu seja uma daquelas pessoas que estão destinadas a sentirem-se sozinhas e assim, conseguir entender, ao menos em parte, um pouco do sofrimento do outro. Mas o problema é esse: sinto como se, se eu desaprecesse nesse exato momento, o mundo de todos ao meu redor continua a girar exatemente da mesma forma, sem nenhuma alteração de sua órbita por minha causa.

O medo de terminar sozinho também é algo aterrorizante. Sim, e é capaz de fazer coisas terríveis com nosso psicológico. Como costumam dizer: a carência faz a gente ver amor onde não existe. E isso é algo deveras brutal de se viver. Digo isso com propriedade de quem destruiu não uma nem duas, mas várias e várias amizades por conta dessa distorção mental. Amizades essas que despertam em mim saudades, que me apertam o coração. Saudades que me matam um poquinho cada vez que imagino os sorrisos que demos juntos hoje sendo usados para sorrir com outras pessoas.

Por outro lado, essa carência afetica extrema também é reflexo de uma auto estima baixíssima. Por mais que diga o contrário publicamente, é nítido que não consigo enxergar em mim mesmo motivos pra ser feliz e nem pra ser considerado uma companhia digna de ninguém; Falta do famoso amor próprio. Mas isso é algo que não creio que conseguirei adquirir de um dia para o outro, logo, me resta aceitar apenas que, algumas pessoas talvez existam para viverem sozinhas. 

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