segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Prefácio


Oh, como as coisas do coração e da alma são tão superiores as do mundo... Com efeito, sempre que recebemos uma elevação maior destes dois, os sentidos do corpo não conseguem compreender e nem se exprimir, e ai, como que através de gemidos, e não mais do que isso, tentamos em vão trazer à tona aquilo que repousa no mais íntimo de nosso interior e que, não pode ser assim compreendido justamente por não fazer parte do leque de coisas que podem ser entedidas e exprimidas pelos sentidos.

O que estou tentando, mais uma vez como um débil mental tentando falar, é dizer que, por mais que tentemos, a linguagem humana é insuficiente para expressar as maiores potências do coração jusamente porque as mesmas são tão imensamente superiores a esta que o resultado final é sempre infantil e tolo.

Acontece que, as potências de nosso coração e nossa alma estão de tal forma adormecidas que, quando as mesmas se despertam, os sentidos não sabem como se expressar, dado o fato de que só podem exprimir o que se refere a si mesmos e ao mundo. Logo, o que conseguimos dizer na mioria das vezes faz referência apenas à alguns desses sentidos que sofreram um aprimoramento, uma iluminação e as vezes podem até conseguir expressar o coração, mas sempre de forma imperfeita. 

Gostaria então de conseguir expressar com mais fidelidade os sentimentos que agora transpassam meu coração, como uma flecha de fogo, que por onde entra deixa um rastro de brasa e inflama a alma de tal modo que ela é elevada as mais altas colinas do efeto, onde já despojada dos sentidos, vive a plenitude do amor. 

Penso eu que, e aqui me aproprio muito indevidamente do panorama visual da Noite Escura de São João da Cruz, os afetos são dividos em degraus, e a medida que vamos subindo essa grande escadaria, vamos refinando os nossos sentidos e até mesmo os abandonando completamente, e ao chegar ao topo, atingimos aquele grau de perfeição no amor incompreensível a maioria dos homens e desconhecido por eles. São João fala do Espírito, no lugar do coração, mas ele se refere ao encontro com Deus, aqui eu tento aplicar o mesmo principio ao amor no sentido humano da palavra, não espiritual.

Essa escada é longa, mas a noite é fresca e a chama ardente do amor aquece a alma no frio e a leva em instantes ao encontro do amado. Quanto mais nos aproximamos do cimo da escada, mais nossos sentidos se tornam supérfluos e mais o coração se torna entendedor dos afetos da alma. Quando então chegamos ao bosque, e nos deparamos com o Amado, o coração consegue compreender o que alma tentava lhe dizer durante todo esse tempo. Penso então que os afetos estão impressos tanto nesse quanto naquele, mas que de maneira diferente eles são entendidos. Aqui eu mesmo me contradigo, ao dizer que o coração percebe os afetos por meio dos sentidos e a alma os percebe em sua plenitude, mas isso significa que estou no caminho certo. Ora, o que seria do amor sem algumas contradições não é mesmo? 

Estou então a despejar asneiras sem tamanho justamente por ainda não ter terminado de passar por minha Noite dos Sentidos, e ainda estando imperfeito no meu estado iniciante, minhas palavras sequer arranham a superfície de minha alma. Creio que nem mesmo se conhecesse todos os idiomas do mundo conseguiria começar a conseguir escrever o que de fato se passa no meu coração e na minha alma, tamanha complexidade e tamanha ineficiência do método. As palavras podem tratar do humano, do sensível. Mas somente o coração pode tratar do que se passa em seu próprio interior. 

Sentimentos confusos então me invadem e me abrasam a alma. Sombras antigas do passado voltam a mostrar seu potencial destrutivo trazendo de volta coisas que já há muito achei ter sepultado. Medos, angustias, esperanças. Uma verdadeira mescla de terror, que me paralisa e me fere, e tendo me ferido, parte em direção a terras desconhecidas, deixando-me a sangrar e a perter a vitalidade pouco a pouco.

Tenho uma prova importante amanhã, e a medicação pra ansiedade já faz efeito no meu sistema nervoso. Pretendia escrever rapidamente, já que ontem o consaço não me permitiu, mas no momento exato que sentei frente ao computado, as ideias pularam para fora de mim como que se tivesse gritado com elas. Agora, já debilitado, tento muito em vão dizer como é a bagunça que jaz dentro de mim.

Estou experimentando uma grande variação de comportamento. Agitado, melindroso. temeroso, confiante. Mas em nenhum momento me sinto constante. A rapidez dessas mudanças então me causa vertigem e as lágrimas correm pela face livremente. Espero que quando essa tempestade passar, consiga dizer do que se tratou, pois imagino que muita coisa boa há de vir daí. 

Post curto e sem sentido, espero que possa ser um prefácio de um longo capítulo. Eis que chegou então o mês de agosto, trazendo novas oportunidades e novas possibilidades. Aguardemos as próximas surpresas do destino. Por hora me recolho e espero o retorno de minha sanidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário