sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Vazio e conhecimento

Lutando aqui com todas as minhas forças pra não entrar em parafuso... acabei de receber a lista de disciplinas e materiais da minha Pós-Graduação em História da Arte, e confesso, acho que vou precisar de muito Lexotan pra conseguir terminar esse curso. É MUITA COISA!

Essa é na verdade uma reação bem típica minha: ficar atônito frente às exigências. Não sei lidar muito bem com pressão. Me recordo bem que chorei por três dias antes de começar o estágio da faculdade. Nem pelo estágio em si, pois sabia que o contato com os alunos seria bom, mas sim por toda a dor de cabeça que a burocracia me oferecia. Quase enlouqueci. O lado bom é que eu superei, mas dessa vez é diferente, se eu conseguir terminar essa pós sem ser internado com um colapso nervoso, será um milagre.

Agora, quanto a essas coisas de educação, obrigações e etc, eu fiquei pensando: qual o sentido de tudo isso? 

Me acompanhe no meu raciocínio: Passamos vários anos nos bancos da escola, aprendemos dezenas de fórmulas matemáticas, memorizamos um monte de elementos e reações químicaa, entendemos a relação entre um monte de fatos históricos, somos informados que existem 4 formas de se escrever porque. Depois, passamos de 3 a 5 anos numa faculdade, estudando mais uma caralhada de coisa, com o perdão da palavra de baixo calão, pra finalmente conseguir uma graduação. Acabou? de forma alguma, na verdade isso não é nem sequer o começo do fim, muito pelo contrário, talvez seja apenas o fim do começo. Depois vem mais 2 anos de mestrado, 4 de doutorado e ai, se a pessoa ainda tiver capacidade mental pra aguentar a pressão, vai acumulando diplomas nos quadros da sala. Se já estou desanimado por iniciar uma pós numa universidade média aqui do Brasil pela quantidade absurda de conteúdo expremida em tão pouco tempo, que dirá o desepero que não deve ter sentido Bento XVI em qualquer um de seus 10 doutorados nas maiores universidades da Europa. Realmente quem quer estudar, tem de gostar do que faz. 

Não que eu não seja bom no que faço. De fato, se me esforçar, tenho certeza que não será difícil, mas o problema ta na minha auto estima, que me impede de tomar qualquer iniciativa, e me faz querer deitar em posição fetal, depois de meia garrafa de vinho e alguns Lexotan e chorar compulsivamente ao som de Tchaikovsky e Mahler. Sim, essa é minha resposta condicionada pra maioria dos meus problemas. Patético não? Mas até que funciona. Bem, durante a faculdade pelo menos, meus trabalhos sempre receberam nota máxima depois dessas minhas surtadas.

O fato é que todas essas coisas exigem uma estabilidade mental que eu não tenho. E justamente por isso eu ando me questionando: Pra que tudo isso? Afinal de contas, não vamos todos morrer? Porque perdemos tantos anos, tantas noites em claro, tantas horas de nervosismo e ansiedade atrás de pedaços de papéis que digam o que podemos ou não fazer? 

Afinal, o conhecimento adquirido serve de fato pra transformarmos o mundo ou só estamos mais uma vez tentando preencher nossos vazios com palavras numerosas quando na verdade não conseguimos delimitar o que de fato nos faz falta?

Sim, concordo que a educação é a única forma de mudar o mundo e a única esperança que temos como humanidade. Mas me pergunto se o aprendizado humano, em oposição ao acadêmico, científico, não seja mais necessário. Me pergunto se de fato precisamos de tantos doutores, e se na verdade o mundo não esteja carecendo de irmãos. Pessoas que se amem mais, que se escutem mais. De que adianta então, passar anos e anos estudando pra se conquistar uma casa e bens de consumo quando, no fim da vida, não teremos ninguém ao nosso lado? 

Claro, não estou fazendo um manifesto dizendo que todos devemos largar a faculdade e começar a vender arte na praia e ler o mapa astral das pessoas nas praças. Não. Mas me questiono seriamente no que se refere a essa pressão exarcerbada em cima dos acadêmicos pra produzirem um conhecimento que, em sua maioria não vai mudar a vida de ninguém, além de quem o produziu, que se sentirá deveras orgulhoso por um trabalho sem a mínima importância prática. 

Volto a bater na tecla então de que vivemos a procura de coisas que estão bem a nossa frente. E é triste como isso se tornou banal. Livros e mais livros, uma quantidade absurda de informação sendo produzida e processada a cada segundo e tudo isso numa busca incansável. Busca pela educação, pela compreensão disso ou daquilo, pelo aperfeiçoamento de certas coisas, pela solução de certos problemas, sempre uma busca... Sempre tentando preencher esse vazio... 

Nas palavras do mestre Anno:

"Existe um vazio bem no âmago de nossas almas. Uma imperfeição fundamental que tem assombrado todos os seres desde o primeiro pensamento. Em um nível primitivo, o homem sempre esteve ciente da escuridão que mora no núcleo de sua mente. Temos procurado escapar desse vazio e do temor que ele provoca, e o homem procura preencher esse vazio."

Mas no entanto, sempre buscamos esse aperfeiçoamente do forma errada. O homem quer procurar essa resposta no exterior, e ela não está lá, a resposta tem de vir de dentro, e depois de encontrada no interior, ai sim ela se expande e preenche o exterior. De fato, quando conseguirmos alcançar o ápice de nosso interior, como o conseguiram os grandes mestres da humanidade, como Beethoven, Mahler, Anno, Shakespeare... ai sim, conseguiremos, como eles o fizeram, preencher o exterior. É exatamente o inverso do processo a que somos submetidos. 

Existe um potencial imenso dentro de cada um de nós. Muitas vezes não temos consciência disso e por isso costumamos buscar fora várias e várias maneiras de nos tornarmos melhores. Ledo engano o nosso. Nosso verdadeiro potencial jaz adormecido e esquecido no íntimo de nosso subconsciente. Aprendendo então a despertá-lo, podemos ignorar todo o resto que o mundo nos oferece. Atingimos então, tal grau de iluminação que as coisas do mundo não mais fariam inveja e nem despertariam curiosidade aos nossos sentidos, pois o conhecimento que vem de dentro transcende todo e qualquer entendimento que o mundo possa oferecer.

Podemos criar as mais incriveis máquinas, aprimorar os meios de comunicação tanto quanto for possível, escrever centenas de milhares de livros sobre todo e qualquer conhecimento. Mas enquanto não houver compreensão da alma e do coração do homem, e de sua capacidade de amar, de nada vai adiantar essa nossa busca ensandecida pelo conhecimento. 

Que possamos dar valor aquilo que realmente importa. Que saibamos priorizar aquilo que merece de fato nossa atenção, e não permitir que deixemos nossa vida passar enquanto buscamos algo que está tão próximo de nós. 

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