quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Corrente e obsessão

O medo é sempre uma reação de autopreservação frente à uma situação que pode resultar no nosso fim. Normalmente é um reflexo condicionado a tudo o que é desconhecido, e tantas são as formas do medo quanto as coisas que podem nos assustar. 

Particularmente não sou o tipo de pessoa muito corajosa, e penso se assumir isso seja um ato de coragem ou de covardia. Muito me questiono se na verdade não passei toda a vida a fugir das situações complicadas sob o pretexto de não querer me incomodar ou incomodar os outros. Pois de fato, detesto sequer imaginar que sou um incômodo a qualquer um.

Resolvi voltar ainda essa noite por uma breve impressão que tive. Um medo súbito que me tomou de conta e que me paralisou as pernas e mente. Como que num terremoto, fui pego de surpresa por um abalo capaz de lançar ao ar minhas expectativas mais íntimas. Me peguei então pensando nas coisas que deram errado no passado e me perguntando onde errei. 

Onde errei? Será que foi minha atitude superprotetora que fazia com que me preocupasse com cada momento e cada sentimendo do outro? Meus ciúmes exagerados? O medo de perder que me fazia agir como se a cada momento tudo estivesse a ponto de desmoronar? Minha carência e constante necessidade de atenção? Não é dificil de imaginar o quanto eu sufoco as pessoas que me cercam com as minhas neuras constantes e paranóias dignas de Hollywood, ou de um bom psiquiatra... 

Bom, as possibilidades são muitas. Infelizmente admito que minha forma de amar não é a mais saudável e nem de longe a mais agradável. Nem pra mim e nem pro objeto de meu sentimento. Tenho tendência a ser possessivo, carente. Isso afasta, assusta, irrita, e eu não os culpo por isso.

Por isso que, exceto num caso, não culpo a ninguém além de mim pelos fracassos de meus relacionamentos. Na maioria dos casos, eu penso que minha paranóia tenha sido a grande responsável por tudo. Sempre muito afoito em minhas investidas, sempre rápido demais em minhas decisões. Sempre exagerado. Nunca soube amar pouco, sentir pouco e muito menos demonstrar pouco. Sou daquele que beija apaixonadamente todas as vezes. Que gosta de abraço apertado, de mãos dadas e entrelaçadas. Claro, tudo reflexo de uma mente insegura por conta de partidas demais e permanências de menos. Como costumam dizer, o exagero e o ciúme são o medo de perder aquilo que não nos pertence!

Mas é ai que se encontra o problema: mesmo sabendo não ser certo, não ser saudável e que só será motivo de sofrimento, eu continuo a querer amar sem escrúpulos. Penso que todos merecem o amor em sua magnitude, mesmo com minhas obsessões e tudo mais. Ninguém deveria ser amado pela metade, ou amado com reservas. Isso não é amor, é consórcio, pois o amor de verdade é como uma represa que se rompe e preenche todo o espaço que encontra pela frente. É igualmente poderoso como a água no começo de uma paixão, mas assim como a represa, quando passa o momento da inudação e se acomoda, se torna límpida, cristalina e a fonte de vida e energia para aqueles que vivem ao seu redor. 

Dizem que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco, e por isso ela se rompe justamente nesse elo quando uma pressão grande demais é feita em suas extremidades. Com o amor não é diferente. Criamos um laço, uma corrente, mas se um dos dois tem um sentimento mais fraco, a corrente se rompe. Penso que esse tenha sido o grande problema de minha vida até aqui. Amar demais, apaixonadamente. De uma forma que ninguém mais poderia corresponder, e aí, nos momentos de pressão, a corrente sempre se rompia, e eu ficava sozinho.

O erro não estava no outro, no entanto, e sim em mim, que sempre exagerado, acabava por sufocar, e mesmo por matar o amor que criara. Preciso ainda aprender a caminhar devagar, parar de correr. Levar a vida tão lentamente quanto me ocupo em ler ou ouvir musica. Deixar acontecer naturalmente, tranquilamente. Ainda que isso não signifique suprimir o que eu sinto.

Muitos me questionam dos motivos de eu dizer "Eu te amo" como tanta facilidade, se isso não seria reflexo de uma personalidade volúvel que na verdade confunde tudo com amor. Não! Repudio completamente essa acusação, pois penso que digo que amo com relativa frequencia justamente por amar com facilidade. Não somente no tocante à relacionamentos amorosos, mas também com minhas amizades. Eu amo com facilidade porque ainda não aprendi a gostar com trivialidade. Ou gosto muito ou não gosto nenhum pouco, apesar de não ser radical nos outros aspectos da vida e repudiar também qualquer comportamento extremista, eu não sei amar se não for ao extremo. Esse é o motivo por detrás dos meus "Eu te amo." Não são sentimentos superficiais, que nasceram do nada, mas que simplesmente cresceram de forma rápida, e uma prova disso é que, por mais que eu diga eu te amo para alguém que conheço a pouco mais de 15 dias, nunca conseguiria esquecer alguém nesse mesmo período de tempo. De fato, amores passados que duraram não muito mais do que isso, ainda tem cravados no meu peito cicatrizes profundas, ainda que em seus corações eu não seja sequer uma sombra que já tenha passado.

Seja fruto de uma deficiência afetiva mal desenvolvida na infância, ou de uma psicótica necessidade de atenção e carinho, o amor extremo faz parte do meu ser, faz parte de quem eu sou. Daí surgem os sentimentos extremos que o acompanham, como os momentos de explosiva felicidade e contentamento e deleites que nunca acabam, como as noites escuras e frias que me assolam com o terror da separação e do esquecimento.

Como gostaria de ser capaz de me unir a geração do "pega e não se apega", mas infelizmente isso nem sequer se aproxima das minhas possibilidades, Até porque quando "pego" é porque já me apeguei. Claro, sendo esse meu pensamento 1 em 1 milhão, é presumível que o sofrimento seja parte quase permanente dessa vida, mas penso ser essa minha cruz. E justamente por falar em cruz, o sofrimento foi a única recompensa daquele que mais amou de forma apaixonada no mundo. Apaixonada no sentido de doar-se. E o amor doação é a forma mais bela do amor, justamente por não limitar-se ao casal, mas por extender-se aos amigos, família e ate mesmo aos desconhecidos. Pois quem ama de verdade, consegue amar sem ver a quem. Não importa a aparência, ou os defeitos, só se quer amar, o resto é detalhe.

Mas aí vem novamente o medo. Como um cãozinho que, mesmo sendo diariamente maltratado pelo dono, ainda corre alegremente ao seu encontro para recebê-lo depois de um duro dia de trabalho. Mesmo sofrendo em sua mão, passando dor e fome, ele ainda ama, e seu amor é o que o impele a correr e dar o seu amor. Pois cada um dá aquilo que tem de melhor. E como esse cãozinho, isso é tudo o que tenho, o meu nada está em amar, e não ser capaz de fazer nada além disso, simplesmente amar, eis a minha vocação, minha profissão, minha paixão. 

O medo da dor é presente e real. Medo de novamente ir com sentimento demais. Medo de me deparar com mais uma muralha disfarçada. Medo de me machucar ao invés de encontrar a felicidade. Tudo isso porque olhar o passado ainda dói. Ver quanto do meu eu fora jogado ao lixo machuca de uma maneira que me suga todas as energias. Como um câncer que transforma meu próprio corpo num veneno particular feito sob encomenda para mim. Ver as rosas que dediquei serem jogadas na lama,  e os sentimenos que dediquei lançados ao vento dá uma sensação de inutilidade, de vazio sem igual. Como se todo o meu esforço tivesse servido apenas para o riso e o passatempo daqueles a quem me dediquei. Como se todo o meu ser fosse tão pasageiro quanto as folhas que caem no outono para que sejam pisoteadas pelas crianças e absorvidas pela terra, e esquecidas por todos que um dia olharam aquela bela arvore. 

Talvez meu sentimento sirva somente a mim. Talvez de fato o outro não precise de mim. Mas digo isso com talvez, porque não tenho essa certeza. Se eu amo, e preciso do amor do outro, talvez alguém, em algum lugar também precise. Pode ser alguém que eu já conheça. Pode ser o motivo do meu sorriso nas noites, da pessoa que me envia musicas com belas mensagens e que me ajuda a voltar a sorrir e a amar. Pode ser. O fato é que o futuro é um mistério e que cabe a mim apenas continuar amando, e dizendo "Eu te amo" com todo o meu coração, e esperar que o resto se desenrole da forma que Deus preparou pra mim. Quanto ao medo, ele deve continuar aqui, mas quando o medo é demais, a gente finge coragem e vai com medo mesmo. O que não posso fazer é ficar parado, esperando o dia que o medo irá passar, pois quando isso acontecer, pode significar justamente que já é tarde demais. 

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