sábado, 30 de julho de 2016

De decisões e esperanças

Deve ser uma grande felicidade para alguém, ao final de sua vida, olhar para sua própria história e ver como suas obras foram grandiosas, e se sentir realizado por tê-las feito. No entanto, se no futuro, nossa história será composta dos fragmentos que hoje vivemos, como será que nos reconheceremos então? Como grandes homens, ou pessoas que apenas passaram pela vida sem deixar nela marca nenhuma?

Particularmente tenho medo de, na minha velhice ver o quanto meus erros superam em números meus acertos. Talvez porque hoje, eu viva mais das consequências de escolhas ruins do que das boas, e por isso o futuro me soe tão aterrorizante. Pensar no que ainda me espera, e principalmente numa longa e reflexiva velhice é algo que me deixa profundamente preocupado e que, em algumas ocasiões, chega até mesmo a me paralizar. 

Sei que a juventude é o momento do aprendizado por excelência, e que não existe uma fórmula perfeita ára crescer e amadurecer, ou os adultos nos obrigariam a segui-la. Sendo assim, as escolhas erradas são tão necessárias e importantes quanto as corretas e nos dão o ensinamento necessário aquele tão almejado crescimento que nos leva à vida adulta. 

Uma coisa é certa e clara pra mim nesse momento: a vida é repleta de caminhos, e as nossas escolhas definem onde chegaremos, e qual caminho tomaremos. Alguns são fáceis, iluminados e a brisa leve do vento nos acompanha em sua travessia. Outros se mostram verdadeiros agrestes escarpados, desertos sombrios e mares revoltos, e a solidão parece ser nossa única companheira na jornada de superá-los. Seja qual for o caminho, nossas decisões nos levaram até ele. E nem sempre é possível voltar atrás e escolher outro caminho. Pra dizer a verdade, na grande maioria das vezes, temos de viver com a escolha que fizemos e assim, percorrer até o fim o caminho que escolhemos. 

Todos sabem que não deveríamos em nenhum hipótese, tomar decisões importantes sob influência de forte tristeza ou alegria, pois ambos desviam nossos sentidos do sentido de realidade. O mesmo se pode dizer de qualquer sentimento que tenha força sobre nós. Sentimentos nesse caso são fraqueza, pois nos cegam e nos desviam do sentido do dever. Portanto sobriedade é obrigatória para uma decisão coerente e consciente. Depois de então tomada, os sentimentos nos servem como alimento nessa jornada. Então afirmo que os sentimenos devem ser então o combustível da caminhada, mas nem sempre o motivo da mesma.

Digo isso hoje, pois, ao olhar pra trás de minha ainda jovem passagem por este mundo, percebo agora o quanto me deixer ser cegado, ofuscado pela rutilante luz dos sentimenos que inflamavam em meu coração. E as decisões mais importantes de minha vida foram tomadas nesses momentos de suspensão da razão. E agora, mais calmo, e já tendo de suportar as consequências dessas decisões, eu vejo o quão imaturo eu fui, e o quanto me deixei ser enganado por minhas próprias criações. 

O amor que achei que ser eterno e recíproco durou poucos meses, e a vida de sonhos que eu tinha abandonado para seguir esse amor desmoronou bem na minha frente, sem que houvesse nada que eu pudesse fazer para recuperá-la. O sentimento que outrora acreditei ser puro e sem mácula, se mostrou a maior fonte de sofrimento e dor que já suportei e onde por diversas vezes eu quase me afoguei, e ainda hoje, admito, ainda me atrai como que com um canto de sereia, que atrai a todos para a morte e que, mesmo sabendo aonde me conduzirá, ainda posso ouvir, e quero, ouvir essa doce melodia da morte, esse acorde noturno poderoso, capaz de me furtar os sentidos e me fazer cair no mais profundo abismo de escuridão, ao invés de me levar aos braços do meu amado, como promete. As folhas daquela grande e frondosa árvore que representa minha vida caíram. Aquelas que um dia brilharam no mais belo dos verdes, hoje estão caídas ao chão, de um triste tom alaranjado, prestes a serem comídas pelos vermes da terra. Assim como os sonhos que um dia alimentaram essa mesma árvore, hoje secos e sem vida, esperando um fim indigno de sua grandeza. 

Esse sentimento tolo e infantil cegou-me a razão e me impediu de tomar as decisões certas no momento em que me foram propostas e agora, calmo e novamente em posse das faculdades mentais, posso dizer que foram as piores decisões possíveis. Mas naquele momento, nenhum conselho fazia sentido e nenhuma voz era ouvida além da minha própria. Bobinho. Era justamente ai que deveria ter sido prudente, sagaz, ter evitado beber desse ópio que é a imaginação e ter sido firme em minha posição de avaliar com a razão aquilo que só o coração insiste em opinar. 

Talvez hoje minha vida fosse completamente outra. Talvez eu estivesse seguindo aquele outro caminho que havia escolhido, e que, quando questionado se nele permaneceria, decidí fugir. Talvez eu também tivesse deixado de viver alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Mas talvez ter considerado viver na certeza que tinha fosse a coisa certa.

Infelizmente o parágrafo anterior contém 'talvez' de mais. Achismo demais. E a vida não é feita apenas de achismos, pelo contrário, é feita de verdade frias e duras que são lançadas contra os telhados de nossa consciência e que, obrigados a tomar uma decisão, podemos escolher ou não agarrá-las ou deixá-las escapar. 

De nada adianta então continuar a me lamentar e a reclamar das consequências que hoje vivo. Suportar firmemente as consequências das próprias decisões é uma das mais importantes características de um homem de verdade. Logo, encarar de frente à realidade que hoje tenho é o meu dever, senão minha única forma de sobreviver. 

Outro fato, somos escravos das decisões que tomamos. A liberdade é pra mim um conceito abstrato demais pra defini-la como algo existente em plenitude ou inexistente. Acredito sempre no equilibrio. E acho que a vida é mais branda com aqueles que tendem a não correr sempre aos extremos, que prefere viver na tênue linha do equilibrio do destino. 

Tenho então o péssimo hábito de fugir de decisões. Caracteristica adquirida após tantas burradas disfarçadas pelas poéticas palavras dos sentimentos. Aprendi que não devo mudar minha vida por alguém pois não tenho como saber se a pessoa pretende mudar também ou apenas diz aquilo por um ou outro motivo passageiro. No entanto, pensar que largou tudo por alguém que logo se esquece de você é devera um bom enredo para uma daquelas óperas trágicas monumentais, dignas de ser incluida no Hall das grandes tragédias. 

Quem sabe um dia então eu não inclua uma versã musical de minha autobiografia ao lado de grandes nomes como Madame Butterfly e Tristão e Isolda? Lembro que peças com um teor trágico são sempre as minhas favoritas, justamente por me identificar tanto com elas. A primeira obra mesmo, umas das mais aclamadas de Puccini, o mesmo compositor de Turandot, minha ópera favorita, que irônicamente tem um desfecho feliz, trata de uma jovem moça que larga tudo em função de seu amor por um lord inglês. E que, mais tarde, mesmo depois de lhe conceber um filho, é por ele abandonada e trocada por outra mulher. A jovem então, tomada de fúria e decepção, comete o suicídio ritual dos guerreiros que falharam em sua missão.

Talvez eu ainda tenha algumas batalhas a lutar nessa grande guerra. Mas é certo dizer que, por hora, estou caído e derrotado, esperando o término da convalescenção para então poder continuar a lutar. Um brilho surge ao longe. Pode ser o reflexo de algo pequeno, ou  luz do sol que poderá um dia voltar a brilhar para mim. Fruto de uma pequena esperança que vem se mostrando à mim. Dessa vez, penso que a razão deva ser aquela que tomará as decisões, mesmo que o coração puxe para si as responsabilidades de viver com elas. 

Claro, essa é ainda uma afirmação ousada. Razão não é bem o meu forte, e faço parte daquele grupo dos que se deixam mover e levar pelo coração. Coração que não conhece os limites do amor, embora já tenha sido cruelmente entregue aos limites da dor, e que ainda tira forças dessa mesma esperança pra continuar sendo capaz de amar. Simplesmente amar. Parece ser esta a única condição a que estou irrevogavelmente preso e que, mesmo ssendo também escravo de minhas decisões, é a essa condição que meus pés pesam por seu julgo pesado. 

Que eu consiga tomar boas decisões, que eu tenha maturidade pra pensar antes de agir e falar, mas que eu também seja homem o suficiente pra viver conforme a decisão que eu tomar. 

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