quarta-feira, 13 de julho de 2016

De Rosas e Contradições

Se a vida é uma caixinha de surpresas, acho que posso dizer que as pessoas são como aqueles pallhaços de pano que saltam das caixinhas em filmes de terror assustando os jovens excitados que entraram dentro do circo abandonado pra fazer besteirinha e acabaram sendo brutalmente assassinados pelo psicopata com forte senso de humor.

Ok, ja deu pra entender que eu to bem dramático, mas eu gostei de me lembrar dessa expressão, mas gostaria de então, agora num tom mais sério, dizer que na verdade, as pessoas são uma caixinha de surpresas. E como as caixinhas, nem sempre as surpresas que recebemos são boas. E as vezes também, a forma como encaramos as surpresas, é que definem se elas serão ou não boas. Pra tentar explicar então o que eu quero dizer com isso, me uso do exemplo da rosa: Ela pode ser bela e poética se você olhar para as pétalas vermelhas como o sangue, que dão a qualquer poeta inspiração pra muito mais que apenas uma canção... Mas ela também pode ser cruel, se você parar para notar os espinhos que a cercam e tentam impedir que as colhamos. Mas também, da mesma forma como as pétalas, os espinhos também tem o seu potencial poético.

As Rosas são belas, atraem por suas pétalas cor de sangue, por sua beleza mortal, mas quem as toca sem cuidado acaba por se machucar nos seus espinhos. Assim também são as pessoas que nos cercam e com quem nos relacionamos. Por vezes então, somos hipnotizados pela beleza das pétalas que não notamos os espinhos escondidos entre as folhas, e então, quando vamos para puxar as rosas com toda a força, saímos feridos. Culpa da rosa? Não. Culpa de quem tentou arrancar a rosa! A pobrezinha tava quietinha no jardim dela e nós simplemente decidimos que iríamos arrancá-la de lá e levá-la conosco. Não perguntamos a opinião da rosa, se ela estava feliz naquele jardim ou se gostaria de se aventurar por ai sem suas raízes. Muita presunção então de nossa parte querer tirar a pobre rosa de sua morada pra tentar plantá-la a força no nosso próprio jardim.

Temos muito disso, somos egoistas, não costumamos pensar nos outros quando fazemos a escolha de alimentar um sentimento e ainda ficamos chateados quando os espinhos surgem por dentre as folhas, ferindo nossas mãos. Ainda ficamos chateados quando não somos correspondidos em nossos sentimentos. Em nossas paranóias. Chegamos destruindo o jardim do coração alheio e nos desesperamos quando as rosas começam as nos machucar. Quando saímos então do nosso jardim, pra arrancar uma rosa do jardim vizinho, acabamos por abandonar a nossa propriedade e quando voltamos, corremos o risco de encontrar as nossas rosas também pisoteadas. 

A contradição das nossas decepções se encontra justamente aqui: Nos surpreendemos com os espinhos quando eles nos machucam, mas por nossa própria culpa, por nossa própria iniciativa de tentar destruir o jardim do coração alheio. Já disse isso várias e várias vezes e não me canso de repetir que numa decepção, o culpado é sempre aquele que se decepcionou, e não aquele que acusamos, pois depositamos neste, uma expectativa que o mesmo não afirmou possuir. 

Claro, não busco aqui generalizar traições e nem outros problemas, mas apenas aquele caso que tem me afetado nos últimos dias. Numa tentiva desesperada e impensada, acabei por falar demais e acabei por assustar uma pessoa que já vinha se tornando deveras especial pra mim. Havia me encantado com suas pétalas, mas agora que revelou seus espinhos para se proteger de mim, me entristeço ao notar as feridas de minhas mãos. Mas ora, quem tentou invadir o seu jardim fui eu, ele apenas se defendeu. O culpado dessa decepção fui eu. Não minha rosa. Por vezes também, não sabemos como lidar com as decepções, Eu por exemplo: choro, escuto música triste e escrevo bobagens num blog. Mas isso eu faço pra evitar cair na insanidade. Ou talvez isso seja minha própria insanidade. 

Toquei nesse assunto pois me propus hoje a ouvir novamente a ópera Elektra, de Strauss. Nessa obra, a personagem principal, que dá título à obra, ferida pela morte de seu pai, assassinado por sua própria esposa e seu amante, acaba por tramar e levar a cabo a morte da mãe e de seu padrasto, movida pelo desejo de vingança, junto com seu irmão. No fim da obra no entanto, possuída por uma alegria macabra, Elektra dança alegremente a morte de sua mãe ate ela mesma cair morta. Essa obra reflete então com exatidão o estado em que me encontro. Não que eu tenha vontade de planejar a morte de alguém, mas de mortificar esse meu desejo contraditório que me traz tanto deleite e ao mesmo tempo tanta dor. Elektra era apenas uma flor, que maltratada pela vida, deu a ela os seus espinhos. Eu tenho maltratado minha própria vida e recebido em troca seus espinhos. E assim como a personagem da tragédia acabou morta por seus próprio desejo, esse meu desejo também vem me envenenando e me matando lentamente. 

Sabidamente, a simbologia do veneno também é uma de minhas favoritas. O veneno de hoje é aquele produzido em meu próprio sangue, que debilita minha saúde me mantendo num estado permamente de enfermidade. Esse mesmo sangue, em contato com o ar, ou seja, em contato com os outros, também pode ocasionar sua morte. Eu sou tóxico, faço o mal aqueles que amo sem nem perceber e sem conseguir evitar. Meu veneno particular, minha toxina pessoal e mortal, meu próprio sangue, que se derrama de afeição pelas rosas mas acaba por ceifar a vida de todo o jardim, e à mim, que outrora desejei possuir a beleza das flores, me restou apenas as folhas secas no chão estéril. 

Este sou eu então: uma rosa venenosa, que ao aproximar minhas raízes das outras rosas, acabo que por tirar a vida do jardim e termino sozinho, solitário, apenas entre as ervas e pedregulhos. Uma longa, boba e poética descrição da contradição da decepção. 

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