segunda-feira, 4 de julho de 2016

Os dois leões

E hoje eu fui obrigado a me reencontrar com você. E que encontro difícil. Fiquei horas pensando em mil desculpas pra não ir. Fiquei um tempão parado na porta da sua casa, sem querer bater, sem querer te ver, pois eu sabia que, no momento em que olhasse nos seus olhos, tudo ia voltar.

E voltou. E a intensidade com que voltou, quase me desmontou. Evitei te olhar, principalmente evitei fitar o seu olhar. E você tambem evitou, não foi difícil de notar. Mas quando finalmente cruzamos o olhar, eu achei que fosse me matar. 

Sempre fiquei deslumbrado com sua beleza. Sua pele cor de mel, seus olhos profundos. A forma como seu corpo se desenvolveu rápido, de um menininho mirrado pra um rapaz de feições fortes. Eu sei que não devia te ver com esses olhos, mas não é algo que eu posso controlar. Mas desde o início o que mais me encantava eram seus olhos. De uma profundidade ímpar, eles me arrepiavam e me faziam enlouquecer em querer desvendá-los.  

Hoje, no entanto, assim como das últimas vezes que te vi, estavam frios, gelados. Quando finalmente eu tive coragem de erguer a cabeça e por uma fração de segundos fitar o seu olhar, eu me senti como se tivesse sido jogado num mar revoltoso, cujas águas impetuosas e gélidas me faziam rodopiar descontroladamente, me puxando cada vez mais para lugares misteriosos, de onde eu sabia ser impossível de escapar. Fui salvo quando você rapidamente desviou o olhar. Provavelmente porque sentiu pena ao ver a dor estampada na minha face e que eu debilmente tentava esconder atrás de um sorriso forçado. Naquele momento eu tive duas vontades lutando furiosamente como dois leões dentro de mim.

A primeiro leão queria fugir. O animal mais temido do reino animal sabe reconhecer uma derrota frente um inimigo mais poderoso. Esse leão dentro de mim então só queria fugir, pra longe dali, correr para onde as águas frias do seu olhar não pudessem me alcançar. Gostaria de se refugiar no seu esconderijo seguro e escuro. E ali tentar se recuperar.

O outro leão ainda queria lutar. Mesmo machucado, quase não conseguindo mais andar, ele ainda queria partir pra frente, avançar furiosamente sob a presa de outro predador. Não consegue aceitar o fato de que perdeu, ainda quer tentar. Mal sabe ele que, tentar lutar nessas condições é o mesmo que se matar.

E esses dois leões, travando essa batalha mortal dentro de mim me deixaram paralisado naquele momento. Não conseguia correr. Não conseguia avançar. Só tive forças pra manter o sorriso falso e tentar sobreviver a você. 

Quase não trocamos palavras, não diretamente. Apenas o mínimo pra ninguém mais perceber o que estava rolando. Mas ainda assim, até sua voz, diferente, fria, ainda mantém o efeito avassalador sobre mim. Me arrepia te ouvir. Mas me faz querer mais. Mesmo com você distante assim, eu ainda queria pdoer passar o dia ao seu lado. Passar o dia te ouvindo, te olhando, te tocando. Sinto falta falta do teu abraço, de poder sentir você próximo de mim, de poder segurar sua mão como fiz naquele dia. Foi tão simples, tão puro, mas ao mesmo tempo significou que eu segurava todo meu mundo em minha mão. E como eu gostaria que aquele momento tivesse se perpetuado peara todo o sempre...

Queria também que tivesse permitido ao segundo leão vencer, talvez num ato desesperado ele pudesse ter alguma chance, quem sabe. 

As vezes também eu só me pego desejando que o tempo voltasse. Pra quando você ainda gostava de mim, quando ainda não sabia dessa minha doença. Quando tudo era normal. Mas são só pensamentos, e não tenho mais o poder de fazer tudo voltar ao normal. O mais doloroso é imaginar então, que eu perdi você, pra sempre...

E agora nesse momento, outras duas feras lutam dentro de mim. Enquanto choro pelo amor que se foi, já me tremo em imaginar que o próximo possa ter o mesmo final. E esse embate de agora, é aquele eu dentro de mim que luta por não sentir mais nada, e aquele que não consegue se imaginar parar de lutar. E sinceramente, não vejo um fim tão próximo para essa batalha.

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